quarta-feira, 19 de julho de 2023

Por cá


Um anticiclone protector na questão climática. Até ver. Uma crónica elucidativa de VERA NOVAIS que gostámos de ler.

Anticiclone dos Açores está a proteger Portugal da onda de calor daEuropa

Enquanto Espanha, Itália e Grécia enfrentam as massas de ar quente vindas do norte de África, Portugal recebe, graças ao anticiclone dos Açores, ventos e águas mais frescas do Atlântico Norte.

VERA NOVAIS: Texto

OBSERVADOR, 18 jul. 2023, 19:35 1 

Várias regiões do sul da Europa enfrentam temperaturas acima dos 40 ºC

JIM LO SCALZO/EPA

A Sicília está na mira de bater o recorde de temperatura de 11 de agosto de 2021 (48,8 ºC) por estes dias, a Sardenha chegou esta terça-feira aos 45ºC, Roma também bateu o seu máximo de junho de 2022, de 40,7ºC, e alcançou os 41,8ºC e há outras cidades italianas em alerta por causa das temperaturas extremas. Espanha, Grécia e os Balcãs enfrentam a mesma onda de calor, a Cerebrus, nome do monstro na mitologia grega que guarda as portas do inferno. Mas Portugal ficou, desta vez, fora do mapa das temperaturas mais altas. Porquê?

Porque é que as temperaturas se mantém tão altas no sul da Europa?

As temperaturas altas no sul da Europa são resultado das massas de ar quente do norte de África, nomeadamente do Saara. Estas massas de ar viajam até ao Mediterrâneo, e depois mantém-se mais ou menos estáveis, como se ficassem “paradas” sobre a região, impedindo a dissipação do calor. As temperaturas descem pouco durante a noite e voltam a escalar durante o dia, fazendo prolongar as ondas de calor por vários dias e aumentado as temperaturas ao nível do solo, explica ao Observador Bruno Café, meteorologista no Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Porque é que Portugal se escapou a este inferno meteorológico?

Primeiro, porque o anticiclone do norte de África está mais deslocado para este, e isso faz que com que não atinja Portugal, diz Bruno Café. Depois, porque o país está sob a influência da posição do anticiclone dos Açores, que traz os ventos e a água fria do Atlântico Norte. Das quatro ondas de calor consecutivas sofridas no sul da Europa, Portugal só sofreu assim com a primeira.

Estes ventos vindos do Atlântico Norte são normais?

O anticiclone dos Açores está, neste momento, localizado a oeste de Portugal, em pleno oceano Atlântico e tem um ramo sobre o litoral português. Por isso, traz as conhecidas “nortadas” (os ventos de norte que motivam as queixas dos banhistas no final da tarde, o vento frio que arrefece a água do mar e atira areia por todos os lados).

Isto representa uma configuração normal de verão para este sistema, uma situação comum nesta altura do ano em Portugal, confirma ao Observador Susana Vaz, investigadora no Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), da Universidade de Aveiro.

Susana Vaz explica que as massas de ar na atmosfera se movem devido ao aquecimento e à rotação da Terra e que, portanto, os sistemas (como o anticiclone dos Açores) não têm uma posição fixa, são dinâmicos. Ainda assim, comparando com outros momentos, é possível confirmar que o anticiclone dos Açores está dentro do que seria expectável para esta altura do ano. Com isto, cria a tão desejada proteção contra as massas de ar quente e impede a escalada descontrolada das temperaturas.

O anticiclone dos Açores traz sempre ventos frios?

No ano passado, ao contrário do que se passa agora, o anticiclone dos Açores ajudou a ondas de calor em Portugal e Espanha. Nessa altura, a sua extensão sobre a Península Ibérica — e os seus ventos, que circulam no sentido dos ponteiros do relógio — traziam massas de ar quente do centro de Espanha e norte de África faziam as temperaturas nacionais subir.

Portugal já teve ondas de calor este ano?

Portugal já teve, este ano, três ondas de calor em abril e outra no final de junho (lembrando que uma vaga de calor implica que durante cinco dias consecutivos, pelo menos, tenhamos a temperatura máxima acima do percentil 90%). Fora isso, tivemos pontualmente alguns dias com temperaturas muito altas, mas sem chegar aos cinco dias seguidos, informa o meteorologista Bruno Café.

Massas de ar quente ou de ar frio que se deslocam de um lado para o outro, um anticiclone que ora provoca nortadas ou nos faz torrar, são características dos sistemas atmosféricos dinâmicos.Fazem parte da variabilidade do sistema”, diz Susana Vaz. Até as ondas de calor são, em si, um fenómeno normal. O que não é normal é a frequência cada vez maior e o aumento da intensidade dessas ondas de calor, esclarece a investigadora. Isto é consequência das alterações climáticas.

Que máximos de temperatura já foram atingidos na Europa?

Às 17h30, a BBC fazia uma actualização das temperaturas mais altas da Europa, descartando a possibilidade de se ultrapassar o recorde europeu. Ainda assim, a Sicília (Itália) já tinha chegado aos 46,3 ºC. Também a Catalunha, tal como previsto esta manhã, chegou aos 45,2 ºC — tendo, à partida, batido o recorde na região — e todas as estações ultrapassaram os 43 ºC.

Mas não são só as máximas que devem preocupar, alerta John Nairn, conselheiro na Organização Mundial de Meteorologia, na rádio 4 da BBC. Quando as pessoas suportam temperaturas consistentemente altas, mesmo nos períodos em que devia haver uma maior descida da temperatura — como durante a noite —, torna-se mais difícil suportarem os máximos de temperatura que se atingem durante o dia. E tem havido noites no sul da Europa com 30ºC.

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COMENTÁRIOS:

Liberales Semper Erexitque: Isto representa uma configuração normal de verão para este sistema,uma situação comum nesta altura do ano em Portugal E não é só em Portugal que a situação é comum, a massa de ar vinda do Sahara sobre o Mediterrâneo também é comum. Bastará uma pequena deslocação do anticiclone dos Açores para que essa massa de ar nos venha visitar, com vento de leste (por alguma razão dizemos que de Espanha, nem bom vento, nem bom casamento). Eu chamo-lhe "o bafo do deserto". Pode acontecer nos próximos dias ou semanas. É uma situação comum, embora em Agosto de 2018 tenham sido 3 dias mais violentos do que o habitual.

 

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