Um anticiclone protector na questão climática. Até ver. Uma crónica elucidativa
de VERA
NOVAIS que
gostámos de ler.
Anticiclone dos Açores está a proteger Portugal da onda de calor daEuropa
Enquanto
Espanha, Itália e Grécia enfrentam as massas de ar quente vindas do norte de
África, Portugal recebe, graças ao anticiclone dos Açores, ventos e águas mais frescas
do Atlântico Norte.
OBSERVADOR, 18 jul. 2023, 19:35 1
▲Várias
regiões do sul da Europa enfrentam temperaturas acima dos 40 ºC
JIM LO SCALZO/EPA
A Sicília está na
mira de bater o recorde de temperatura de 11 de agosto de 2021 (48,8 ºC) por
estes dias, a Sardenha chegou
esta terça-feira aos 45ºC, Roma também
bateu o seu máximo de junho de 2022, de 40,7ºC, e alcançou os 41,8ºC e há outras
cidades italianas em alerta por causa das temperaturas extremas. Espanha,
Grécia e os Balcãs enfrentam a mesma onda de calor, a Cerebrus, nome do
monstro na mitologia grega que guarda as portas do inferno. Mas
Portugal ficou, desta vez, fora do mapa das temperaturas mais altas. Porquê?
Porque é que as temperaturas se
mantém tão altas no sul da Europa?
As
temperaturas
altas no sul da Europa são
resultado das massas de ar quente do norte de África, nomeadamente do Saara. Estas massas de ar viajam até ao Mediterrâneo, e
depois mantém-se mais ou menos estáveis, como se ficassem
“paradas” sobre a região, impedindo a dissipação do calor. As temperaturas descem pouco durante a noite e
voltam a escalar durante o dia, fazendo prolongar as ondas de calor por vários
dias e aumentado as temperaturas ao nível do solo, explica ao Observador Bruno Café, meteorologista no
Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Porque é que Portugal se escapou a
este inferno meteorológico?
Primeiro,
porque o anticiclone do norte de África está mais deslocado para este, e isso
faz que com que não atinja Portugal, diz Bruno Café. Depois,
porque o país está sob a influência da posição do anticiclone dos
Açores, que traz os ventos e a água fria do Atlântico Norte. Das quatro ondas de calor consecutivas
sofridas no sul da Europa, Portugal só sofreu assim com a primeira.
Estes ventos vindos do Atlântico
Norte são normais?
O
anticiclone dos Açores está, neste momento, localizado a oeste de Portugal, em
pleno oceano Atlântico e tem um ramo sobre o litoral português. Por isso, traz
as conhecidas “nortadas” (os ventos de norte que motivam as queixas dos
banhistas no final da tarde, o vento frio que arrefece a água do mar e atira
areia por todos os lados).
Isto representa uma configuração normal
de verão para este sistema, uma situação comum nesta altura do ano em Portugal,
confirma ao Observador Susana
Vaz, investigadora no Centro de Estudos
do Ambiente e do Mar (CESAM), da Universidade de Aveiro.
Susana Vaz explica que
as massas de ar na atmosfera se movem devido ao aquecimento e à rotação da
Terra e que, portanto, os sistemas (como o anticiclone dos Açores) não têm uma
posição fixa, são dinâmicos. Ainda
assim, comparando com outros momentos, é possível confirmar que o anticiclone
dos Açores está dentro do que seria expectável para esta altura do ano. Com
isto, cria a tão desejada proteção contra as massas de ar quente e impede a
escalada descontrolada das temperaturas.
O anticiclone dos Açores traz sempre
ventos frios?
No ano passado, ao contrário do que
se passa agora, o anticiclone dos Açores ajudou a ondas de calor em Portugal e
Espanha. Nessa altura, a sua extensão sobre a Península Ibérica — e os seus
ventos, que circulam no sentido dos ponteiros do relógio — traziam massas de ar
quente do centro de Espanha e norte de África faziam as temperaturas nacionais
subir.
Portugal já teve ondas de calor este
ano?
Portugal
já teve, este ano, três ondas de calor em abril e outra no final de junho (lembrando que uma vaga de calor implica que durante
cinco dias consecutivos, pelo menos, tenhamos a temperatura máxima acima do
percentil 90%). Fora
isso, tivemos pontualmente alguns dias com temperaturas muito altas, mas sem
chegar aos cinco dias seguidos, informa o meteorologista Bruno Café.
Massas de ar quente ou de ar frio que
se deslocam de um lado para o outro, um anticiclone que ora provoca nortadas ou
nos faz torrar, são características dos sistemas atmosféricos dinâmicos. “Fazem parte da variabilidade do sistema”,
diz Susana Vaz. Até as ondas de calor são, em si, um fenómeno normal. O
que não é normal é a frequência cada vez maior e o aumento da intensidade
dessas ondas de calor, esclarece a investigadora. Isto é consequência das
alterações climáticas.
Que máximos de temperatura já foram
atingidos na Europa?
Às 17h30, a BBC fazia uma actualização das temperaturas mais altas
da Europa, descartando
a possibilidade de se ultrapassar o
recorde europeu. Ainda
assim, a Sicília (Itália) já tinha chegado aos 46,3 ºC. Também a Catalunha, tal
como previsto esta manhã, chegou aos 45,2 ºC — tendo, à partida, batido o
recorde na região — e todas as estações ultrapassaram os 43 ºC.
Mas não são só as máximas que devem
preocupar, alerta John Nairn, conselheiro na Organização Mundial de Meteorologia,
na rádio 4 da BBC. Quando as pessoas suportam temperaturas
consistentemente altas, mesmo nos períodos em que devia haver uma maior descida
da temperatura — como durante a noite —, torna-se mais difícil suportarem os
máximos de temperatura que se atingem durante o dia. E tem havido noites no sul
da Europa com 30ºC.
METEOROLOGIA CIÊNCIA ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS CLIMA AMBIENTE
COMENTÁRIOS:
Liberales Semper Erexitque: Isto
representa uma configuração normal de verão para este sistema,uma situação
comum nesta altura do ano em Portugal E não é só em Portugal que a situação é
comum, a massa de ar vinda do Sahara sobre o Mediterrâneo também é comum. Bastará
uma pequena deslocação do anticiclone dos Açores para que essa massa de ar nos
venha visitar, com vento de leste (por alguma razão dizemos que de Espanha, nem bom vento, nem bom casamento). Eu chamo-lhe "o
bafo do deserto". Pode acontecer nos próximos dias ou semanas. É uma
situação comum, embora em Agosto de 2018 tenham sido 3 dias mais violentos do
que o habitual.
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