De democracia no reino animal, com o largo oceano para navegar, a exigir um
Padre António Vieira para adenda ao seu sermão, atestando as virtudes dos peixes, de companheirismo e
solidariedade hoje, e uma simpática Providência turística nas águas atlânticas próximas
do nosso Tejo da ternura lusitana.
Foi avistada uma baleia-comum nas águas de Lisboa mas não vinha sozinha.
Nadava com uma centena de golfinhos
Avistada por
uma empresa de passeios de observação no Tejo, a baleia nadava junto dos
golfinhos numa parceria por busca de comida. Tem cerca de 15 metros e é o
segundo maior animal do mundo.
OBSERVADOR, 24
jul. 2023
▲A baleia-comum foi avistada pela
empresa SeaEO Tours durante a manhã de domingo, 23 de julho
Lisboa é a única capital europeia
onde é possível observar golfinhos em meio selvagem. A presença
destes mamíferos nas águas do rio Tejo é comum, no entanto, por vezes também as
baleias se juntam a estes. Foi o que aconteceu no domingo, 23 de
julho, quando pela manhã a SeaEO Tours, uma empresa que organiza passeios
de barco para observação da natureza marinha, teve a surpresa de ver uma
baleia-comum (balaenoptera
physalus) a nadar entre uma centena de golfinhos.
Rumo a noroeste, o grupo surgiu às portas da cidade, mais concretamente
no canhão de Lisboa em frente ao Meco, pelas 11h00. Para os
passageiros do barco, esta foi uma manhã de sorte: se o plano era ver os golfinhos no seu habitat, tiveram a
oportunidade de encontrar o segundo maior animal do mundo, depois da
baleia-azul.
Ao Observador, Sidónio Paes, biólogo marinho e CEO da SeaEO Tours, conta que
foi ele quem deu pela presença da baleia. “Vimo-la e depois perdemo-la durante uns 15 minutos. Como da primeira
vez que a vi estava a nadar para noroeste, seguimos mais ou menos a trajetória
que ela podia ter feito e passado mais ou menos 15, 20 minutos voltámos a
encontrá-la e, aí sim, estivemos muito mais tempo com ela”, relatou,
sublinhando: “Deu para estarmos
mais perto mas sem perturbá-la muito. Na verdade, estamos em casa deles.”
“São animais que têm um ciclo
respiratório muito mais superior que os golfinhos e, portanto, podem ficar lá
em baixo facilmente 30 minutos. Os golfinhos ficam cinco minutos no máximo e o
ciclo respiratório deles é de 20 segundos e já a baleia é de quatro ou cinco
minutos mas depois pode fazer mergulhos muito maiores”, explicou
ainda.
Além de ser o segundo maior animal do mundo, a baleia-comum é também
um dos mamíferos marinhos mais rápidos, podendo atingir uma velocidade de cerca
de 40 km/h. Nadam por todos os oceanos mas têm preferência por águas costeiras,
frias e pouco profundas, repletas do seu alimento de eleição: o krill [conjunto
de espécies de animais invertebrados semelhantes ao camarão].
Baleia-comum, Balaenoptera physalus.
Ilustração: João Tiago Tavares
É este alimento a principal
razão pela qual a baleias nadam com golfinhos. Como Sidónio Paes classifica, as
duas espécies têm uma relação de parceria.
“Estas espécies alimentam-se de
krill mas também de cardumes maiores como sardinha, carapau, cavala, etc, e
acaba por ser uma espécie de barbas de baleia que se alimenta destes cardumes e
que acabam por trazê-los também das zonas mais profundas para zonas menos
profundas. Os golfinhos comuns, que são muito frequentes na nossa costa, são
também excelentes caçadores e alimentam-se também de grandes cardumes e
portanto acaba por ser uma parceria entre as baleias e os golfinhos de poderem
conseguir comer o mesmo tipo de alimento e trazer o alimento para a superfície.
E sendo que são mamíferos marinhos e precisam de respirar e assim podem
respirar e alimentar-se ao mesmo tempo”, explica o biólogo marinho.
Apesar de ser mais frequente avistarem golfinhos durante os passeios
pelo Tejo — uma média de cinco avistamentos por semana —, por vezes a a SeaEO
Tours tem encontros como o que aconteceu no domingo.
“Nós vemos baleias talvez umas
10 vezes por ano, normalmente os golfinhos são muito mais frequentes. As
baleias vemos com menos frequência, no entanto, no mês passado vimos uma baleia
de sardinheira que é muito mais rara, normalmente são mais avistadas nos
Açores”, contou. Esta, Sidónio revela, foi avistada no início do mês de junho,
ao largo do Estoril, e tinha cerca de 10 metros de cumprimento.
OCEANOS NATUREZA AMBIENTE CIÊNCIA LISBOA PAÍS
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