terça-feira, 25 de julho de 2023

Um quadro


De democracia no reino animal, com o largo oceano para navegar, a exigir um Padre António Vieira para adenda ao seu sermão, atestando as virtudes dos peixes, de companheirismo e solidariedade hoje, e uma simpática Providência turística nas águas atlânticas próximas do nosso Tejo da ternura lusitana.

Foi avistada uma baleia-comum nas águas de Lisboa mas não vinha sozinha. Nadava com uma centena de golfinhos

Avistada por uma empresa de passeios de observação no Tejo, a baleia nadava junto dos golfinhos numa parceria por busca de comida. Tem cerca de 15 metros e é o segundo maior animal do mundo.

CAROLINA SOBRAL: Texto

OBSERVADOR, 24 jul. 2023

A baleia-comum foi avistada pela empresa SeaEO Tours durante a manhã de domingo, 23 de julho

Lisboa é a única capital europeia onde é possível observar golfinhos em meio selvagem. A presença destes mamíferos nas águas do rio Tejo é comum, no entanto, por vezes também as baleias se juntam a estes. Foi o que aconteceu no domingo, 23 de julho, quando pela manhã a SeaEO Tours, uma empresa que organiza passeios de barco para observação da natureza marinha, teve a surpresa de ver uma baleia-comum (balaenoptera physalus) a nadar entre uma centena de golfinhos.

Rumo a noroeste, o grupo surgiu às portas da cidade, mais concretamente no canhão de Lisboa em frente ao Meco, pelas 11h00. Para os passageiros do barco, esta foi uma manhã de sorte: se o plano era ver os golfinhos no seu habitat, tiveram a oportunidade de encontrar o segundo maior animal do mundo, depois da baleia-azul.

Ao Observador, Sidónio Paes, biólogo marinho e CEO da SeaEO Tours, conta que foi ele quem deu pela presença da baleia. “Vimo-la e depois perdemo-la durante uns 15 minutos. Como da primeira vez que a vi estava a nadar para noroeste, seguimos mais ou menos a trajetória que ela podia ter feito e passado mais ou menos 15, 20 minutos voltámos a encontrá-la e, aí sim, estivemos muito mais tempo com ela”, relatou, sublinhando: “Deu para estarmos mais perto mas sem perturbá-la muito. Na verdade, estamos em casa deles.”

“São animais que têm um ciclo respiratório muito mais superior que os golfinhos e, portanto, podem ficar lá em baixo facilmente 30 minutos. Os golfinhos ficam cinco minutos no máximo e o ciclo respiratório deles é de 20 segundos e já a baleia é de quatro ou cinco minutos mas depois pode fazer mergulhos muito maiores”, explicou ainda.

Além de ser o segundo maior animal do mundo, a baleia-comum é também um dos mamíferos marinhos mais rápidos, podendo atingir uma velocidade de cerca de 40 km/h. Nadam por todos os oceanos mas têm preferência por águas costeiras, frias e pouco profundas, repletas do seu alimento de eleição: o krill [conjunto de espécies de animais invertebrados semelhantes ao camarão].

Baleia-comum, Balaenoptera physalus. Ilustração: João Tiago Tavares

É este alimento a principal razão pela qual a baleias nadam com golfinhos. Como Sidónio Paes classifica, as duas espécies têm uma relação de parceria.

“Estas espécies alimentam-se de krill mas também de cardumes maiores como sardinha, carapau, cavala, etc, e acaba por ser uma espécie de barbas de baleia que se alimenta destes cardumes e que acabam por trazê-los também das zonas mais profundas para zonas menos profundas. Os golfinhos comuns, que são muito frequentes na nossa costa, são também excelentes caçadores e alimentam-se também de grandes cardumes e portanto acaba por ser uma parceria entre as baleias e os golfinhos de poderem conseguir comer o mesmo tipo de alimento e trazer o alimento para a superfície. E sendo que são mamíferos marinhos e precisam de respirar e assim podem respirar e alimentar-se ao mesmo tempo”, explica o biólogo marinho.

Apesar de ser mais frequente avistarem golfinhos durante os passeios pelo Tejo — uma média de cinco avistamentos por semana —, por vezes a a SeaEO Tours tem encontros como o que aconteceu no domingo.

“Nós vemos baleias talvez umas 10 vezes por ano, normalmente os golfinhos são muito mais frequentes. As baleias vemos com menos frequência, no entanto, no mês passado vimos uma baleia de sardinheira que é muito mais rara, normalmente são mais avistadas nos Açores”, contou. Esta, Sidónio revela, foi avistada no início do mês de junho, ao largo do Estoril, e tinha cerca de 10 metros de cumprimento.

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