terça-feira, 4 de julho de 2023

Impagável


Intolerável, tal tese de orgulho e frustração, resultante de um amor pátrio da velha guarda, porque só talvez esse nos reste, dos que não menosprezaram a pátria dos avós, por ela lutando, quando poderiam, talvez, passar-se, “a salto” ou com armas e bagagens extorquidas aos papás coniventes e capazes - economicamente dizendo - para fronteiras alheias, como tantos fizeram, que depois voltaram, a apoiar os camaradas da revolução, com o seu saber, bem conotados por cá, vindos dos sítios estrangeiros da desenvoltura e erudição. Extraordinário Dr. Salles da Fonseca, que não se coíbe de ironizar, contra a degradação e simultaneamente manifestar o seu orgulho nacional por um povo que, apesar de tudo, ainda persiste, aparentemente, em ser espinho, numa península que foi, é certo, um todo ibérico, pelo menos de nome e que, contra os mouros ocupantes resistiu até à Granada final, e onde o primo atlântico foi dando mostras de ser aguerrido, apesar de várias vezes pretendido e atacado - ele próprio lutando contra mouros e castelhanos, por vezes, é certo, com auxílio alheio. Mas o nosso Afonso IV também foi dos que ajudou o castelhano, na conquista do Salado, e por isso se cognominou de Bravo, que naquela altura os reis participavam, sem lavagem de mãos, por vezes com resultados catastróficos, como se provou com o D. Sebastião, que virou mito, todavia, para a nossa pobre camisa esfiapada, apesar das terras protectoras descobertas. Até mesmo hoje – sobretudo hoje - chegados que somos à terceira penada que o dr. Salles da Fonseca bem descreve, como gente que resulta da gente da segunda penada desmanteladora, definitivamente, ao que parece, sem que se preveja uma quarta penada reabilitadora – pedimos a D. Sebastião que nos valha – em alma, que em corpo não. Sem esperança nisso, é claro. Acreditamos mais em gente como o Dr. Salles, que Deus conserve muitos anos por cá ainda, claros e lúcidos e frontais.

 

A CAMISA DO POBRE - 1

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO 03.07.23

Em três penadas, a «coisa» foi, é, e poderá vir a ser assim:

1ª penada – Desde o bafordo do Vez, Portugal é um espinho encravado na garganta de Castela e, quanto por menos seja pela via da inveja, nas gargantas das demais Espanhas;

2ª penadaPerdido o Império que durante séculos foi o garante da nossa soberania contra a cobiça espanhola, rapidamente colapsou o quase mercantilismo em que vivíamos e logo houve quem se entretivesse a desmantelar ou a vender a estrangeiros o que por cá era tido por indústria pesada; a demagogia encarregou-se de elevar o consumo a motor do desenvolvimento e bancarrotas já vão quatro entre 1974 e 2023 com a banca a passar para controlo estrangeiro;

3ª penada – E agora? Agora, aqui chegados, resta-nos reconhecer que pouco mais temos do que «as ruas para passear», mas envergando camisas que pareçam sujas para não despertarmos a cobiça alheia.

(continua)

Julho de 2023

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

II – Notas explicativas:

BAFORDO

Henrique Salles da Fonseca

18.05.10

Do Dicionário Torrinha, edição de 1947, extraio que baforda é o nome atribuído a uma espécie de lança podendo também significar injúria. Não lhe conheço a etimologia mas confesso que, para meu gosto, é das palavras portuguesas foneticamente mais feias de que me lembro.

E de significado em significado, lá fiquei também a saber que bafordo era o nome por que eram conhecidos os torneios medievais no norte de Portugal, na Galiza, em Leão, etc. A esta palavra já lhe podemos reconhecer a etimologia mas não é pelo facto de mudar de género que deixa de ser do mais feio que aos meus ouvidos alguma vez soou na nossa doce língua.

Ambas soam a insulto. E dos piores! Mais ainda que hipotenusa.

E quando em 1140 os Exércitos de Afonso Henriques e de seu primo Afonso VII de Leão e Castela se encontraram em Valdevez para decidirem da vassalagem que deveria ou não ser prestada pelo português ao castelhano, conseguiram os eclesiásticos diplomatas em presença convencer os monarcas de que a Decisão Divina poderia ser a causa de um bafordo que substituísse batalha laica, desgastante e por certo aviltante para uma das partes.

Bafordo de Valdevez

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Assim se fez e o resultado foi divinamente favorável a Portugal cujo Exército era bem menor que o seu contrário. Ficou Afonso Henriques dispensado de vassalagem e terá sido então que Afonso VII decidiu pôr fim ao uso do título de Imperador. E essa decisão terá sido de tal modo convicta que por morte deixou o Reino de Castela a seu filho primogénito Sancho – que viria a ser o III desse nome – e o Reino de Leão a seu filho Fernando, o II desse nome.

Mais: passados anos o Rei de Leão reconheceu ao Rei de Portugal a nobreza e o estatuto suficientes para tomar a sua filha Urraca em casamento.

Não terá sido por uma questão fonética que Fernando II rejeitou Urraca dando o casamento por findo mas sim porque o Papa assim o determinou com base no argumento de que eram parentes muito próximos (filhos de dois primos direitos) apesar de já terem um filho que viria a ser Rei de Leão com o nome de Afonso IX, o Baboso – lindo cognome…

Teias duma Nação nascente, a portuguesa.

Maio de 2010

Henrique Salles da Fonseca

 

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