4/6/1989: Uma data a fixar. O “massacre de Tiananmen”, em diferentes versões acusadoras, maneira de recordar o que por nós passou, em grande escândalo nessa altura, agora burilado em ilações de maior sabedoria ainda, de natural condenação, sem ralação chinesa, todavia, que vai avançando impassível e segura, pelo resto do mundo, suavemente se impondo. No capítulo económico, por enquanto.
I - O homem e o tanque
Deng, que dera a ordem para reprimir os
manifestantes de Tiananmen, anunciou que isso queria dizer o contrário do que
muitos chegaram a admitir: que as reformas económicas continuariam.
TERESA DE SOUSA
PÚBLICO, 4 de Junho de 2019
1 - No
final do dia 3 de Junho de 1989, o fotógrafo da AP Jeff Widener pedalava o mais
depressa que podia ao longo da ampla Avenida Changan em direcção ao centro dos
acontecimentos. Tinha-lhe cabido em sorte fazer o “turno da noite” na Praça
Tiananmen. Na sede da agência, em Pequim, sabia-se que alguma coisa estava para
acontecer. A cidade estava cercada por forças militares. Os rumores
espalhavam-se como o vento. Pouco depois da meia-noite, Widener vislumbrou um
carro de combate a avançar pela mesma avenida a toda a velocidade. Um outro
aproximou-se envolto em chamas. Começou a ouvir fortes explosões e o som de
rajadas de balas cortando o ar. O caos instalou-se rapidamente, enquanto os
manifestantes resistiam. Continuou. Aproximou-se. Disparou, disparou, disparou,
sem sequer prestar muita atenção, toda esta concentrada na luz vermelha
intermitente da máquina fotográfica que dava o pior dos sinais: bateria fraca.
Continuou a disparar. Uma explosão derrubou-o e atirou a máquina para longe.
Estava quase desfeita. Regressou à agência já de manhã, sem saber se o rolo
estaria a salvo. Os contornos da fotografia que haveria de percorrer o mundo
desenhavam-se nítidos no líquido da revelação. Um homem de camisa branca e um
saco numa das mãos ergue-se, minúsculo e, ao mesmo tempo, um gigante, diante do
primeiro de uma longa fila de blindados. Já era dia nesse fatídico 4 de
Junho de 1989. O embaixador britânico enviou para Londres um telegrama a dizer
que calculava dez mil mortos. Até hoje, ninguém sabe quantos morreram. Deng
Xiaoping punha um fim brutal à contestação ao regime comunista.
As manifestações tinham começado em
finais de Abril na gigantesca praça de Pequim, mobilizando os estudantes das
universidades da capital chinesa, para se estenderem rapidamente à população e
contagiar o país inteiro. À data do massacre, havia protestos em 400 cidades
chinesas.
2. Poucas
semanas antes do massacre, Mikhaïl Gorbatchov visitara Pequim para
restabelecer as relações entre a União Soviética e a China, congeladas desde o
cisma sino-soviético de 1960. O Presidente soviético já começara a descongelar
o mundo. Em 1989, as praças de Praga, Budapeste, Leipzig ou Varsóvia já estavam
repletas de gente, reivindicando dia e noite a democracia e a liberdade. Faltavam
apenas cinco meses para a queda do Muro de Berlim.
Deng
viu-se obrigado a cancelar a cerimónia prevista para o centro da Praça
Tiananmen, onde Gorbatchov deveria depositar uma coroa de flores — no mesmo
sítio era visível uma imitação da Estátua da Liberdade. Os estudantes olhavam para o líder soviético como uma
referência. A universidade de Pequim convidou-o para uma palestra sobre a
Perestroika e a Glasnost, que não aceitou. A visita do líder soviético a
Pequim foi uma verdadeira dor de cabeça para as autoridades chinesas: mudanças
de itinerários ou cancelamentos de última hora, tudo o que fosse preciso para
que o líder soviético nunca se cruzasse com os protestos.
Em
1979, Deng dera início às profundas reformas que haveriam de libertar as forças
económicas da China. “É glorioso enriquecer.” Não disse que era glorioso ser
livre. O Partido Comunista nunca correria o risco de pôr em causa o seu
controlo férreo sobre a sociedade chinesa. Era, aliás, a primeira das lições
que retirava das reformas que Gorbatchov lançara em 1986. O Presidente russo
evitou qualquer referência directa aos protestos. Estava lá para apertar a mão
a Deng e pôr fim ao diferendo sino-soviético. No banquete oficial deixou uma
mensagem nas entrelinhas, apelando a um “novo equilíbrio entre gerações — a
energia da gente nova capaz de falar alto contra o conservadorismo e a sabedoria
das gerações mais velhas”.
Gorbatchov viu “uma revolução a
acontecer”, como confidenciou ao seu braço direito, mas também lhe disse que
não queria ver nada de semelhante na Praça Vermelha. Durante o
golpe Agosto de 1991, a derradeira tentativa da ala dura do Partido Comunista e
das forças de elites soviéticas para depor Gorbatchov, Pequim
apoiou os golpistas. Nessa altura, a
tremenda luta entre reformadores e conservadores já estava resolvida dentro do
comité central do Partido Comunista Chinês. Deng, que dera a ordem para reprimir os
manifestantes de Tiananmen, anunciou que isso queria dizer o contrário do que
muitos chegaram a admitir: que as reformas económicas continuariam. A China
continuou a enriquecer. A contestação foi reprimida. Trinta anos depois, é o
extraordinário sucesso das reformas de Deng que permite à China ambicionar o
estatuto de única potência capaz de rivalizar com os Estados Unidos no mundo.
Os chineses contentam-se com o seu próprio enriquecimento. Enquanto
durar, pouca atenção prestarão à democracia e à liberdade. Tiananmen? O que
foi?
Resta
a memória dos que conseguiram fugir e hoje vivem, amargurados e impotentes, em
Paris ou em Washington num exílio só aparentemente feliz. A cada ano que passa
sobre o massacre, a imprensa americana e europeia volta a dar-lhes atenção. A
China soma e segue. A Praça Tiananmen voltou a receber os visitantes ilustres,
muitos deles líderes ocidentais. Eles já nada têm a acrescentar.
COMENTÁRIO:
cisteina, Porto 04.06.2019 : É verdade o que
aconteceu, há mártires a quem devemos muito, estes jovens fazem parte dos
muitos milhares que, ao longo dos séculos tombaram pelas suas ideias que, lá no
fundo, eram as nossas, mais liberdade, melhor distribuição da riqueza. É assim
na Europa, na China, nos países árabes, são os revolucionários,
fundamentalistas, leninistas, os proletários de todo o mundo lutando por uma
vida melhor. Mas recuemos a Tiananmen, a 1989, quando o muro de Berlim também
ruiu e reflictamos (já tivemos tempo): se Deng Xiaoping não mandasse avançar os
tanques para a praça e sufocasse a revolta, num país de muitos milhões, o que
aconteceria? E o que aconteceria à Europa e ao mundo todo? Uma nova guerra, a
III. Como assim, ainda esperamos por ela. Se é bom ou mau, logo saberemos, mas
julgo que não é.
II - CHINA:
Três décadas depois, Tiananmen é um “não-acontecimento” para os jovens chineses
O massacre dos manifestantes em Pequim,
em 1989, é objecto de uma censura fortíssima por parte do Estado chinês. Mas o
cinismo das gerações que viveram os anos do crescimento económico também ajuda
a esquecer.
JOÃO RUELA RIBEIRO PÚBLICO,
4 de Junho de 2019
Todos
os anos, no início de Junho, o Estado chinês mobiliza policias e recursos do
seu vasto aparelho de segurança para vigiar de perto Ding Zilin, uma professora
aposentada que quase não sai da sua casa em Pequim. Este ano, os cuidados são
redobrados. Mas que ameaça pode suscitar uma octogenária solitária para o
poderoso regime chinês?
Há
30 anos, Ding viu o filho de 17 anos, Jiang Jielian, e o marido, Jiang Pekun,
serem mortos no mesmo dia durante a repressão do Exército aos manifestantes na
Praça de Tiananmen, em Pequim. Decidiu fundar a organização Mães de
Tiananmen para juntar familiares de manifestantes mortos durante os protestos,
tornando-se num empecilho para o Partido Comunista Chinês (PCC) na sua missão
de apagar qualquer réstia da memória dos acontecimentos de 4 de Junho de 1989.
Há
três anos, o New York Times dizia que a linha telefónica da casa de Ding tinha
sido cortada durante o aniversário dos protestos e que o Gabinete de Segurança
Pública lhe tinha fornecido um telemóvel com três números apenas, incluindo o
de emergência médica nacional.
Não
há menção que passe despercebida ao aparelho de segurança. Este ano, um homem
foi detido na província de Sichuan depois de ter publicado no Twitter uma
fotografia de uma garrafa de vinho com a inscrição “Em memória de 1989”, em
referência à data do massacre em Tiananmen. De acordo com o site China Change,
que compila notícias sobre violações de direitos humanos no país, outras quatro
pessoas foram presas durante três anos pelo mesmo motivo.
O
aparelho repressivo do regime chinês intensifica a sua actuação todos os anos à
medida que se aproxima o aniversário dos protestos de Tiananmen. Qualquer
comemoração é proibida e mesmo comentários nas redes sociais são vigiados ao
milímetro pelos censores. Há muitos assuntos que os chineses estão impedidos de
discutir – as estimativas apontam para o bloqueio de 26 mil termos de pesquisa
no Google e de 880 páginas na Wikipédia –, mas os acontecimentos de Junho de
1989 estão especialmente vedados.
“As
autoridades chinesas têm receio de acções colectivas contra o Governo”,
explicou à Al-Jazira o autor do livro The Great Firewall of China: How to
Build and Control na Alternate Version of the Internet, James Griffith.
Primavera
em Pequim
No final dos anos 1980, a China
atravessava um período acelerado de reformas modernizadoras, promovidas por
Deng Xiaoping. A era de Mao Tsetung tinha sido oficialmente enterrada, e Deng
conseguiu finalmente espaço de manobra para abrir a China às reformas,
aproximando-a das economias de mercado. Foi nesta altura que foram inauguradas
as primeiras zonas económicas especiais – que hoje são as grandes metrópoles no
litoral do país.
Ao
mesmo tempo, havia uma grande expectativa de que, tal como estava a acontecer
na União Soviética com Mikhaïl Gorbatchev, o regime de partido único
estivesse na disposição de promover reformas política internas – uma espécie
de “perestroika” chinesa. A 15 de Abril, a morte do ex-secretário geral
do PCC, Hu Yaobang, considerado um reformista, serviu de pretexto para que
milhares de estudantes se concentrassem em Tiananmen para pedir maior abertura
política, mas também denunciando as práticas corruptas da elite partidária.
“Em
1989, a pobreza asfixiava o país de cima a baixo, e nas zonas rurais, onde a
maioria das pessoas ainda vivia, a mera subsistência era a norma”, recorda a
analista Bonnie Girard, que na altura vivia em Pequim, num artigo na
revista The Diplomat. “A China estava na iminência de qualquer coisa mais
do que apenas uma explosão económica, algo cuja magnitude poucos previam, mas
que todos aguardavam calmamente.”
Ao
longo das semanas, mais gente se juntava aos estudantes em Tiananmen, e os
protestos alastravam a outras cidades. Um mês depois do início dos protestos, a
China recebia Gorbatchov numa visita de Estado, com o objectivo não declarado
de mostrar ao líder soviético a unidade e estabilidade do regime. O timing não
podia ser pior. A cerimónia de boas-vindas foi cancelada e a agenda da visita
sofreu várias alterações, embaraçando o PCC.
A
liderança chinesa que até aí se encontrava dividida, entre os que mostravam
disponibilidade para negociar o fim dos protestos e aqueles que defendiam uma
resposta dura, decidiu declarar a lei marcial, abrindo caminho a uma
intervenção do Exército do Povo. Após semanas de impasse, na noite de 3 para 4
de Junho, os militares abriram fogo sobre os manifestantes, e os tanques
ocuparam Tiananmen. O número de mortos causados pela repressão continua a ser,
30 anos depois, objecto de discussão. O Governo recusa divulgar qualquer
informação sobre os acontecimentos, e as estimativas variam entre poucas
centenas e dez mil vítimas, segundo um antigo embaixador britânico.
Memória
apagada A China
continuou o seu caminho de reformas económicas, tornando-se na potência mundial
que é hoje. Mas o massacre de Tiananmen permanece na sombra para a maioria dos
chineses. As gerações mais novas pouco ou nada sabem sobre o que se passou a 4
de Junho.
Para o regime, recordar que houve um
movimento que contestou a hegemonia do PCC é um anátema. “A principal lição que a liderança partidária aprendeu
foi a de que não iria tolerar divisões, sobretudo publicamente, uma vez que
isso iria permitir levantamentos populares e o caos”, observa o analista do Instituto Brookings, Jeffrey
Bader, que no final dos anos 1980 pertencia ao Departamento de Estado dos EUA.
O
jornal de Hong Kong South China Morning Post recordava recentemente uma
história que demonstra a lacuna na memória da população chinesa sobre o 4 de
Junho. Em 2007, um jornal de Chengdu publicou um anúncio que prestava homenagem
às mães que perderam filhos durante os protestos. A recepcionista responsável
pela aprovação da publicidade nunca tinha ouvido falar de Tiananmen, e julgava
tratar-se de um acidente numa mina.
A censura promovida contra qualquer
comemoração ou discussão sobre o massacre de Tiananmen é frequentemente
apontada como a razão para que os mais jovens pouco ou nada saibam sobre o
episódio. Mas há quem note igualmente a mudança geracional ocorrida na China,
onde as gerações que nasceram no período do crescimento económico, aliado à
estabilidade fornecida pela consolidação do poder do PCC, dão hoje prioridade a
questões materiais.
“Os
chineses podem ser muito influenciados pelo Estado, mas esta propaganda
funciona em conjugação com a realidade empírica do enorme crescimento de ganhos
materiais, dos quais toda a população (urbana e rural) beneficiou
directamente”, nota o professor do Colégio de Defesa Nacional dos Emirados
Árabes Unidos, Christopher Colley, num artigo no The Diplomat. “O
Ocidente precisa de perceber que as realidades sociais e económicas na China
fazem deste aniversário um não-acontecimento para a maioria dos chineses.”
III- O massacre de Tiananmen está a ganhar à
queda do Muro
Neste ano de 2019 é possível fazer
diferente. Se não do outro lado do mundo, na China, pelo menos do lado de cá,
na Europa. É preciso voltar a dar prioridade à política.
RUI TAVARES PÚBLICO; 5 de Junho de 2019
É
impossível ter-se estado desperto para as coisas que acontecem à nossa volta na
minha geração e não se ter sido marcado pelo duplo ato do massacre da
Praça Tiananmen, naquela primavera-quase-verão de há 30 anos, e da
queda do Muro de Berlim nesse mesmo ano, num outono-quase-inverno. A queda
do muro substituiu na nossa consciência política o massacre de Tiananmen,
porque na nossa geração democrática — formada em Portugal pela Revolução do 25
de Abril, no Brasil pelas Diretas Já!, e por aí adiante — queríamos acreditar
que era possível ao povo vencer, se possível sem sangue, e substituir uma
ditadura por uma democracia. Isso era, acima de tudo, política — no que a política
tem de maior que nós mesmos.
Mas
havia, em paralelo, outra “teoria da história”. Essa era económica mais do que
política, e rezava assim: o mais importante, na ordem de precedências, é que
uma sociedade chegue à economia de mercado. Depois de chegar à economia de
mercado, essa sociedade tornar-se-á naturalmente pluralista e o povo acabará
por evoluir para a democracia sem precisar de revoluções políticas. No seu
mecanicismo, esta teoria da história — em geral associada à doutrina económica
do neoliberalismo — era muito parecida com a doutrina marxista ortodoxa à
qual pretendia opor-se radicalmente: ambas as doutrinas punham a evolução
económica à frente da consciencialização política como “motor da história”.
Havia muitas razões para não acreditar em nenhum dos determinismos económicos —
do lado
marxista, pelo falhanço das previsões sobre a evolução dos países do
“socialismo real”; do lado neoliberal, pela existência de regimes autoritários
alicerçados em economias de mercado radicalmente privatizadas, como o Chile de
Pinochet — mas os espíritos doutrinários têm dificuldade em abandonar este tipo
de grelhas de explicação em que o mais simples (supostamente, a economia) é
usado para mascarar a nossa dificuldade em reduzir o mais complicado (a
política e a cultura).
Havia
outra boa razão para a balança do poder pender nessa época para a “teoria da
história” economicista: dava lucro, ao mesmo tempo que permitia não encarar a
tragédia política que se desenrolava à frente dos nossos olhos. E assim muita
gente em lugares de poder optou por menorizar o que tinha acontecido em
Tiananmen, de consciências aquietadas pela crença de que se a China se tornasse
uma economia de mercado, enriquecesse e acedesse à globalização através da
Organização Mundial do Comércio, de alguma maneira a democracia acabaria por
ali aparecer “naturalmente”. Ora bem, não só a democracia não apareceu ali
“naturalmente”, como os últimos desenvolvimentos não espantarão ninguém que
tenha olhado com desconfiança para a teoria da história neoliberal: quanto mais
capitalista se torna a China, mais autoritário é o seu regime. E a ironia da
história é que o regime chinês se tornou agora autoritário numa clave
hipertecnológica, hipereficiente e, portanto, hiperexportável. Ao invés do capitalismo chinês ter
importado consigo a democracia, está a ser o autoritarismo chinês que se está a
exportar com a globalização.
Poderia
ter sido de outra forma? Não sei. Mas poderiam ao menos as democracias não ter
sido tão institucionalmente ingénuas — se é que de ingenuidade se trata,
mas enfim — em relação à forma como as coisas se passaram. Entretanto, do
outro lado da massa continental eurasiática, o mesmo economicismo mandava fazer
transições radicais para o capitalismo e privatizações generalizadas que
serviram acima de tudo para criar Estados-máfia e enriquecer oligarquias
predatórias que impedem o Estado de direito de ganhar raízes nos países
pós-soviéticos e da Europa de Leste e, nos casos nos quais ganharam algumas
raízes, permitiram também as essas oligarquias dominar a máquina do Estado para
as arrancar. Menosprezar o poder da política em favor do poder da economia
acaba sempre por dar uma política dominada pela oligarquias.
O
resultado é que, 30 anos depois, o massacre de Tiananmen está na prática, a
ganhar à queda do Muro. O autoritarismo oligárquico e o capitalismo de Estado
estão a ganhar às democracias constitucionais e às sociedades civis
pluralistas.
Mas mesmo neste ano de 2019 é
possível fazer diferente. Se não do outro lado do mundo, na China, pelo menos
do lado de cá, na Europa. É preciso voltar a dar prioridade à política: à
democracia, ao Estado de direito e aos direitos fundamentais. E é preciso
fazê-lo à escala continental, através da União Europeia e do Conselho da
Europa. Não é tarde para reforçar a independência dos sistemas judiciários na
Europa, apoiar o pluralismo nos media e na sociedade, dar aos
cidadãos mais capacidade de recurso internacional para defender os seus
direitos fundamentais. Se não o fizermos, o destino do duplo autoritarismo
chinês — capitalismo desregrado e autoritarismo de hipervigilância tecnológica
— poderá, um dia, ser o de muitos europeus.
Historiador;
fundador do Livre
COMENTÁRIOS
OldVic, Música do dia: "Man Like
You" (Lashing Dogs) Liberdade para a Venezuela! 05.06.2019: O Chile de Pinochet de que fala não é exemplo de
capitalismo autoritário que se perpetua, já que fez uma transição exemplar para
a democracia. O problema chinês não é o capitalismo, é a tradição cultural
autoritária que desvaloriza o indivíduo em favor do colectivo. Essa fraqueza
civilizacional esteve presente em todos os regimes chineses que conheço, e
continua a ser a base do contrato social chinês.
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