Muitos são os críticos do status quo, espécies de cavaleiros andantes buscando, anelantes, “o palácio encantado da ventura”, ou
seja um status que transporte para o
povo, que o suporta e se ilude, uma pedra filosofal transformadora do lodaçal
em ouro, ou mais propriamente, da mesquinhez das nossas vivências de submissão,
em outras de maior zelo, vigor e amor próprio. Vasco Pulido Valente é um dos tais cavaleiros cultos – (como o era “D. Quixote”) – que encontra ventura numa
crítica de superioridade muitas vezes ofensiva, à tal inércia e falta de visão
da “populaça” de um país de “funcionários”
invejosa do mérito, e assim também o próprio país, que, segundo um Nobel da
Economia, “não inova, copia”. O zelo reformista
de VPV insere-se, pois, mais num âmbito de
altivez contundente mas remansosa, quando, desde há muito, poderia talvez ter pegado
num projecto de reforma, que por comodismo ou desprezo, jamais se atreveu a
assumir. Quanto a Salles da
Fonseca, não é esse maquiavelismo, sob uma capa
benemérita, o seu intuito reconstrutor, pois há muito lhe reconhecemos a
seriedade e rigor, no seu didactismo orientador, em lições de politização e
ética, lembrando o passado, como prevenção do futuro, cavaleiro andante em
busca da ventura para o seu país. Mas, o que era preciso fazer, era industriar
o país, agarrando o touro pelos cornos, com decisão e dinamismo reconstrutor,
fundando Ligas de esclarecimento e vontade de elevar esse país, impondo as
ideias de trabalho e não inércia ou parasitismo, responsabilidade no trabalho e
não indiferença, conhecimento dos deveres e dos direitos e discutindo-os… Todo
um grupo de reais amantes da sua
pátria alertando, criando estruturas, lembrando a noção de «pátria» e concorrendo nas eleições, sem se
limitarem apenas às prosas elegantes da sua preocupação, que é, afinal, a de quase
todos nós.
I -OPINIÃO: Diário
Não deve admirar ninguém a neutralidade
cúmplice com que Vítor Constâncio sempre se
adaptou à ortodoxia do momento e deixou medrar criaturas como Oliveira e Costa e Joe Berardo. Vítor Constâncio não é daqueles que partem a louça.
VASCO PULIDO
VALENTE, PÚBLICO, 15 de Junho de
2019
O
que em Portugal passa por opinião pública resolveu julgar Vítor Constâncio.
Falei algumas vezes com ele, quando ele era secretário-geral do PS e pensava
que iria ser primeiro-ministro dentro de poucos dias, com o apoio do PRD.
Achei a personagem escorregadia, matreira, com uma grande presunção e o
pavor das responsabilidades.
Como
se sabe, as coisas não lhe correram bem e acabou por fugir para o círculo
apertado dos maiorais da economia. O resto da carreira deste mandarim,
calado e prudente, não deve admirar ninguém. Como não deve admirar ninguém a
neutralidade cúmplice com que sempre se adaptou à ortodoxia do momento e deixou
medrar criaturas como Oliveira e Costa e Joe Berardo. Vítor Constâncio não é daqueles que partem a louça.
9 de Junho: Edmund Phelps, Nobel da Economia, aterrou em Lisboa e
compreendeu imediatamente o nosso problema. “Portugal”,
disse ele, “não inova, copia”.
10 de Junho: Depois dos portuenses terem cantado saudavelmente “nós
somos campeões”, as cerimónias do Dia de Portugal (um conceito em si próprio ridículo) distinguiram-se pelas suas grandes dúvidas sobre a integridade das
instituições. Segundo
nos querem persuadir, há um grande abismo entre os representantes e os
representados, o indivíduo e o cidadão.
Isto, peço desculpa de
lembrar, são as objecções românticas à democracia e a origem do corporativismo
de Estado. Espero que a nossa estúpida direita não vá por aí.
11 de Junho: Morreu
Ruben Tristão de Carvalho. Conheci-o em 63 ou 64 no Instituto Superior
Técnico, onde ele fazia parte da semi-secreta RIP (Reunião Inter Propagandas).
O Ruben era, nessa altura, de extrema-esquerda e ferozmente anti-comunista.
Ficámos amigos.
Em
67, pediu-me para escrever os editoriais de um jornal clandestino
chamado 24 de Março, supostamente o órgão de um putativo “Movimento
Sindical Estudantil”. Em serviço desse jornal, aceitei algumas funções não
propriamente literárias. Em 68,
estava eu a uns meses de ir para Oxford, quando o Ruben foi preso. Se ele
“falasse” teria sido um desastre. Não
falou, apesar da tortura do sono que, para um asmático como ele, era um perigo
de vida. Hoje soube pela televisão que o Ruben morreu. O que lhe devo é incalculável.
13 de Junho: A TAP foi
um produto do império português, que só o império e a guerra colonial
justificavam. Estranhamente, depois do 25 de Abril, tornou-se um símbolo
nacional, que a esquerda adoptou, sem perceber muito bem o que fazia.
A
TAP tem este efeito nos portugueses: provoca neles os sentimentos mais
primários e as políticas mais evidentemente idiotas.
A
situação actual da companhia reflecte este equívoco básico. Metade é do Estado,
porque António Costa a comprou, e a outra metade de um grupo privado pouco
recomendável. Agora, quando a parte privada decidiu dar um prémio a 180
empregados, apesar de assombrosos prejuízos, o público revoltou-se. Num
país de funcionários, nada indigna mais a populaça do que ouvir falar de mérito
e de meritocracia. Esta noite Daniel Oliveira quase sufocava a berrar
contra os gestores da TAP que, na opinião dele, só estão ali para “sugar” o que
podem; sem saber, ressuscitava a primeira injúria da plebe revolucionária
contra os “ricos” – “sanguessugas”.
COMENTÁRIOS
Jonas
Almeida, Stony Brook NY, Marialva Beira Alta: Vítor Constâncio sem dúvida o exacto tipo de fuinha que
o regime europeista precisa como mandarim. O BCE é perfeito para ele, e ele
para o BCE.
José
Manuel Martins, Évora: de
vez em quando, vpv ressuscita - e, quando isso acontece, é um filme 'everybody
[else] dies'. Refrescante e vibrante, como dizem lá pelos arredores de oxford
(que não no cromlech sacral dos Colégios). O único que não morreu aqui foi o
defunto mais consensual dos últimos tempos. Enfim, uma crónica irrepreensível.
DCM,
charneca de Caparica: Subscrevo
inteiramente, mas não resisto a fazer uma pergunta inconveniente. Deduzindo
que o "desastre" seria o VPV não ter ido para Oxford por ter sido
preso pela PIDE. Não fosse a
firmeza de carácter de Ruben de Carvalho teríamos hoje porventura um VPV mais
plebeu a escrever as suas crónicas no Avante?
José Manuel Martins:
Évora: exacto: julgo que o inconsciente de vpv se refere a esse segundo
desastre.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA A
BEM DA AÇÃO, 15.06.19
Era
Napoleão que dizia algo como «os espíritos superiores discutem ideias, os
medíocres discutem factos e os menores discutem pessoas».
Colhe
assim a pergunta sobre o que por cá abordam actualmente as discussões
políticas. Triste resposta… geralmente,
são as pessoas que centram as discussões que conduzem à citação de factos, mas
as ideias que se discutem têm quase sempre a ver com as intenções dos citados,
ou seja, os ilícitos denunciados; ideias de substância, das que geram
políticas, quase nunca são referidas. Então,
como chegámos a uma situação em que a política é uniforme para todos os
Partidos do arco democrático, nada há a discutir porque, entre eles, só mudam
as pessoas, as suas pertenças e seus interesses clubistas.
E
os eleitores sentem-se marginalizados na discussão sobre a partilha de
interesses que não lhes respeitam, desmotivam-se, metem todos os políticos no
mesmo «saco de gatos assanhados», no dia das eleições vão para a praia e dão a
vitória ao maior Partido português, o da abstenção.
Todavia, há muito que discutir ou, pelo menos, recordar aos
eleitores como sejam as alternativas ao que cada Partido político entende por bem-comum.
E essa, sim, seria por certo uma remotivação do eleitorado.
Por
exemplo, apenas na perspectiva económica, a proposta
comunista em que tudo pertence ao
Estado, a dos socialistas em que os sectores estratégicos são necessariamente públicos, a dos
sociais democratas em que a propriedade dos meios de produção é privada mas o interesse
público é ressarcido por forte tributação, a dos democrata
cristãos que preferem a economia
privada mas com grandes preocupações sociais.
Se
os eleitores fossem confrontados com alternativas ideológicas, fariam opções
conscientes, não lhes seria indiferente votar neste ou naquele, num qualquer
«gato assanhado» que apenas por ali ande a defender o próprio «tacho».
Para remotivar o eleitor não o
deixando continuar de costas voltadas para a democracia, é fundamental salvar o regime trazendo para a
discussão pública o que cada Partido entende ser o bem-comum até porque não
podemos ser obrigados a uma única política definida em Bruxelas.
COMENTÁRIOS
Francisco G. de
Amorim, 15.06.2019: São Francisco pregava aos peixes. Isto de pregar ao
"eleitor" que nem sequer "está para chatices" de ir votar,
é masoquismo.
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