Por Salles da Fonseca, para uma melhor
percepção das nossas realidades nacionais, de destruição progressiva de equilíbrio
social, responsabilizando Herbert Marcuse pelas
convulsões que um Bloco de Esquerda,
sobretudo, vai perpetrando entre nós, o que é ironizado pelos seus
comentadores, que não reconhecem a esse Bloco tão douta capacidade de reflexão.
Umas notas de apoio acrescento, para leigos como eu, seguidas de um segundo texto de Salles
da Fonseca sobre a comunicação jornalística tantas vezes vazia de conteúdo,
prestada apenas por apetites de evidência social, apelativa de atenção - profissional
ou mundana.
O PAI DO BLOCO
HENRIQUE SALLES DA FONSECA A
BEM DA NAÇÃO, 23
ELES ANDAM POR AÍ
Foi
Raymond Aron que, a págs. 91 da edição portuguesa das suas “Memórias”,
me chamou a atenção para o facto de a prevalência histórica do
capitalismo sobre o determinismo histórico marxista ter esvaziado a Europa
ocidental da revolução proletária, o que conduziu Herbert Marcuse – que viria a ser considerado o
principal ideólogo do Maio de 68 - a
virar-se para os contestatários que prevaleciam, mesmo que numa sociedade em
permanente mutação, isto é, os que rejeitavam os apelos do consumo e a
integração na sociedade capitalista moderna.
(FOTO: Herbert Marcuse (1898-1979))
E
a partir desta chamada de atenção, procurei alguma informação mais e fiquei a
saber que Marcuse viu, ainda que com certa cautela, naquele “substrato
de párias e estranhos, de explorados e perseguidos”, que se somavam aos guerrilheiros
do terceiro-mundo, uma possível esperança do sistema capaz de atenuar o seu
pessimismo revolucionário.”
Contentes
ou não, pareciam-lhe os únicos capazes de tirar os jovens da acomodação, de
sacudirem a sua falsa consciência social. Eram uma força elementar que violava
as regras do jogo e ocupava o papel de povo eleito no novo messianismo
libertário.
O
filósofo pugnou por um novo princípio da realidade assente noutras formas produtivas [1] que não aquelas que então
imperavam nos EUA e defendeu que a progressiva liberdade sexual
dos anos 60 era uma artimanha capitalista para tornar a juventude conformista e
acomodada com a vida. O sexo, assim como era entendido naquela época, era o
ópio da juventude. Marcuse parecia ter chegado
a acreditar ser possível chegar-se à utopia.
Não alcançada a utopia, a tecnologia trazia, pela exigência
excessiva de racionalidade, um enorme potencial totalitário. O avanço tecnologico, mesmo que pervertido
pelos sucessivos Governos para gerar desperdício, consumo conspícuo e
armamentos, poderia ser resgatado para a construção de uma nova utopia, a de
uma sociedade harmoniosa habitada por gente feliz, saudável, libertada
das opressões viciosas que a cercavam. Este, o seu horizonte histórico, a sua
utopia.
Passados
muitos anos dessas profecias e “utopias” e desde a sua morte em 1979,
Marcuse, tido por “pai da nova
esquerda", desapareceu dos fora académicos e dos internacionais. Mas…
… eles andam por aí, «bloqueados»,
por muito que seja o irrealismo das utopias.
Com a diferença de que os
nossos marcusianos actuais não são aquele substrato de párias, estranhos,
explorados e perseguidos que se somam aos guerrilheiros do terceiro-mundo. Os
nossos bloquistas são intelectuais maduros mas claramente adeptos da «grande
recusa», são potencialmente destrutivos e seguramente utópicos.
É uma pena haver tantos outros,
não-bloquistas, a darem-lhes argumentos morais, éticos e legais para a sanha
destruidora que os move. Enfim, uns e outros, empenhados na destruição
da nossa sociedade, também ela harmónica e não rancorosa, democrática e não
dogmática, solidária e não leonina, de liberdade e sem espartilhos ideológicos
que nós, os vulgares, afanosamente tentamos tecer. É que, afinal, o «Bloco de Esquerda» existe por culpa dos maus
exemplos de quem se serve do Estado em vez de servir a Nação.
Aturemo-los…
mas urge dar uma volta à democracia portuguesa.
Junho de 2019 Henrique Salles da Fonseca
BIBLIOGRAFIA:
Voltaire
Schilling - «Marcuse , o apóstolo da Grande Recusa»
https://www.terra.com.br/noticias/educação/historia/
COMENTÁRIOS:
Francisco G. de Amorim 23.06.2019:
A fórmula será um NOVO homem - e mulher -
mas só após a total destruição da humanidade como ela é e caminha hoje.
Henrique Salles da Fonseca, 23.06.2019: Eu acho
que é mais Mortágua porque Marcuse, ainda eles não tinham nascido. António
Barros
Adriano Lima, 23.06.2019: Gostei de ler este contraponto ideológico entre
Raymond Aron e Herbert Marcuse.
Começo por dizer que, em minha opinião, o Bloco de Esquerda se alimenta mais das disfunções do actual sistema capitalista do que daqueles que se prostituem nos cargos públicos que desempenham. Até porque existe uma relação de causa-efeito entre as duas situações, e de tal modo que a acção dos governos tende a ser quase amorfa ou improfícua, facilmente ultrapassados pelos problemas da banca. A prova disso são os vários casos ocorridos no sistema bancário, obrigando a que sejam os cidadãos a pagar os ressarcimentos com os seus impostos.
Começo por dizer que, em minha opinião, o Bloco de Esquerda se alimenta mais das disfunções do actual sistema capitalista do que daqueles que se prostituem nos cargos públicos que desempenham. Até porque existe uma relação de causa-efeito entre as duas situações, e de tal modo que a acção dos governos tende a ser quase amorfa ou improfícua, facilmente ultrapassados pelos problemas da banca. A prova disso são os vários casos ocorridos no sistema bancário, obrigando a que sejam os cidadãos a pagar os ressarcimentos com os seus impostos.
Portanto, direi que o Bloco de
Esquerda, partido de protesto e não comprometido com coisa nenhuma, limita-se
a encontrar razões e pretextos para alimentar a sua utopia, acreditando que
assim presta um serviço ao país, o que, em boa verdade, é a raiz da sua utopia.
Pode ter tido um relativo sucesso nas últimas eleições, mas nem sempre vai
conseguir fazer crer (ao pequeno segmento que conquistou) que haverá sempre
chuva no nabal e sol na eira. Mas
o que considero também digno de atenção é que o CDS enveredou pelo mesmo estilo patético de protesto
permanente, como se quisesse disputar com o Bloco a primazia do discurso
demagogo e populista. E até penso que o
ultrapassou em irrelevância e patetice, sofrendo consequências eleitorais e
arriscando a acomodar-se ao espaço interior de um táxi. Penso que para dar uma volta à democracia de pouco
valerão iniciativas individuais, ou seja, assumidas exclusivamente no âmbito
nacional. Creio que há uma ligação sistémica e generalizada entre os entorses e
vícios dos sistemas democráticos. Basta olhar para o que se passa na maior
parte dos países europeus, com o Reino
Unido a necessitar de se deitar num divã de
psiquiatra, o que era inimaginável.
Notas extraídas da Wikipédia
No livro Ideologia
da Sociedade Industrial, Marcuse repete a crítica ao
racionalismo da sociedade moderna, e tenta ao mesmo tempo esboçar o caminho que
poderá afastar-nos dele. O caminho será, por um aspecto, a contestação da
sociedade pelos marginais que a sociedade desprezou ou não conseguiu beneficiar.
Será por outro aspecto o desenvolvimento extremo da tecnologia, que deverá ter, segundo Marx e Marcuse,
efeitos revolucionários. Quais são estes efeitos? O problema da
sociedade moderna é a invasão da mentalidade
mercantilista e quantificadora a todos os domínios do pensamento. Essa
mentalidade representa-se economicamente pelo valor de troca, ligado de modo
íntimo aos processos de alienação do homem. E, segundo Marx, com o
desenvolvimento extremo da tecnologia "a forma de produção assente no
valor de troca sucumbirá". A sociedade moderna, sentindo que a sua
base - a tecnologia - contém o seu rompimento, age repressivamente para evitar
este avanço extremo. Marcuse tinha esperança de que não.
II - BOM
VERÃO!
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 23
Será que a comunicação é viciante?
Já
tive mais certezas negativas sobre essa hipótese; há tempos negaria a pés
juntos que o fosse; hoje, estou em crer que a comunicação é algo mais do que um
gosto ou mesmo mais do que um hábito (virtuoso, claro). Mas admito que possa
criar dependência e, em consequência, deixar de olhar para a qualidade dos
conteúdos e passar para a preocupação de assegurar uma visibilidade constante.
Só que isso pode arrastar o comunicador para aquilo a que vulgarmente se chama
«encher chouriços», ou seja, publicar «coisas» só para não perder o «tempo de
antena», mesmo que nada de especial tenha para dizer.
São
vários os políticos que parece assim agirem no pressuposto de que «o
fundamental é aparecer» para que o eleitor os não esqueçam. Sofisma, claro.
Aparecer por aparecer só para não ser esquecido pode muito naturalmente levar à
criação da ideia de que esse tal comunicador não passa de um «fala barato», de
alguém que «não interessa nem ao Menino Jesus».
É,
pois, evidente o prejuízo que a ânsia da comunicação pode provocar a quem não
se sabe conter, a quem padece de verborreia ou de excesso de ego.
Até
porque «quem muito fala pouco acerta»,
«pela boca morre o peixe» e ao abrir
muito a boca «ou entra mosca ou sai asneira». Portanto, na mente senso, na
língua tento.
Votos de bom Verão para quem me lê!
No
dia do Solstício de Verão de 2019
Henrique
Salles da Fonseca
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