Se a “peça” de Alberto Gonçalves me parece
de superior calibre estrutural e analítico, com os condimentos habituais de um
humor incomparável, reparo que os comentadores se atiram com arreganho a JMT, quase ignorando o texto de AG, só tendo
esperado o seu sinal de partida para esfrangalharem aquele na sua “sabujice” de
crítica e bajulação simultâneas, que lhes não escaparam como meio oportunista
de ascensão pessoal. Tenho pena que assim seja. De facto, a satisfação infantil
das referências pessoais cozinhadas com os argumentos democráticos da virtude,
exigente de comedimento governativo, impróprios da solenidade do acto, e os
demais motivos que AG salienta na sua crónica, retiram a JMT muito daquele
prestígio de pessoa bem formada que nos apraz ler por vezes. No fundo, no
fundo, a voz baixa em que o seu discurso foi proferido, denotaram alguma insegurança,
no seu jogar à defesa e ao ataque, como ponto de partida, talvez, para novos
desempenhos na sua carreira. Em todo o caso, pareceu ingenuidade, se não
fatuidade.
Um discurso sobre a união do Estado /premium
OBSERVADOR, 15/6/2019
Não
tenho a certeza de que proferir umas verdades na cara da “casta”, a convite
desta, sirva para incomodá-la ou avalizá-la. Ignoro se a ligeira heresia de JMT
ajudou a legitimar um regime medíocre.
Excepto
por um almoço com vários comensais, há uma dúzia de anos, não conheço João
Miguel Tavares (JMT). Sei quem é, e leio-o com frequência. Suponho que ele
saiba quem sou. Para o caso, não importa. O caso é o discurso que JMT proferiu
no Dez de Junho, a cuja comissão organizadora presidiu. Entre
parêntesis, noto que, desde a origem, a data propicia sucessivos velórios
institucionais que pretendem celebrar os “valores” da “pátria”. De acordo com
as tutelas, os “valores” mudam. A “pátria”, cerimoniosa e balofa, é o que se
arranja. Em 2019 não foi diferente.
Diferente
foi o discurso, que por uma vez – que me recorde – suscitou resmas de
comentários exaltados por esse país afora. E por uma vez – estou seguro – levou
a que eu o ouvisse. A esquerda detestou o discurso e naturalmente concluiu que
JMT é fascista. A “direita” dividiu-se nas apreciações e iniciou um fascinante
debate sobre se JMT é um liberal sincero ou um socialista infiltrado. E eu
achei o seguinte.
Em primeiro lugar, as coisas de que
discordo de JMT. Discordo de
JMT quando declara uma “honra” ser “o primeiro filho da democracia a
presidir às comemorações do Dez de Junho”: no máximo, é um facto – até por
aquilo que JMT acrescenta de seguida, não é uma “honra”. Discordo de JMT quando
atribui a uma imaginária competência caseira o inegável desenvolvimento das últimas
quatro décadas: em parte porque esse desenvolvimento já leva umas cinco
décadas, em parte porque o dito apenas saiu da cepa torta, se saiu, a expensas
do contribuinte alemão. Discordo de JMT quando afirma que “os
portugueses” lutaram pela liberdade em 1974, e pela democracia em 1975, e pela
integração na CEE, e pela “moeda única”: se alguns lutaram por essas
maravilhas, demasiados lutaram, e continuam a lutar, contra elas. Discordo
de JMT quando inverte a ordem dos factores e trata os seus compatriotas como
vítimas de uma situação que os próprios alimentam: a apatia da população não é
o resultado inocente de um “sistema” perverso, mas a subscrição activa, talvez
entusiástica, do “sistema”, e o combustível necessário à perversão.
Discordo de JMT quando afirma que “os portugueses são capazes de coisas
extraordinárias desde que sintam que estão a fazê-las por um bem maior”: salvo
em períodos ou culturas de fanatismo, ou a troco de boa remuneração, ninguém,
nem os portugueses nem os suecos nem os micronésios, faz seja o que for de
extraordinário por razões que transcendam a dimensão individual ou, em sentido
lato, familiar. E discordo profundamente de JMT quando pede aos
políticos que a) nos proponham um caminho; b) “nos dêem alguma coisa em que
acreditar” e c) “ofereçam um objectivo claro à comunidade que lideram”: 300 mil
caracteres não chegariam para enumerar as minhas objecções à dependência de
políticos, para proporem caminhos ou estrelarem um ovo.
Em
segundo lugar, as coisas com que concordo com JMT, no fundo as decisivas. JMT lembra as três bancarrotas historicamente
recentes, a corrupção, o compadrio, os privilégios, a rigidez “laboral” e a
redução do cidadão a um pagador de impostos. É notável, e pouco comum, que o
lembre naquele contexto.
Em
terceiro lugar, as coisas de que não tenho a certeza. Não tenho a certeza de
que proferir umas verdades na cara da “casta”, a convite desta, sirva para
incomodá-la ou avalizá-la. Por outras palavras: o discurso de JMT provocou uma
pequenina e agradável tremura na “casta” ou contribuiu para a ilusão de uma
pluralidade que o regime é sofrível a simular e péssimo a garantir? As criaturas que mandam nisto, e que JMT toma
apressadamente por “elites”, não possuem muitas habilidades. Possuem,
porém, a habilidade de prevenir engulhos inconvenientes e suprimir argumentos
que não lhes convêm, leia-se se as criaturas não quisessem o discurso e o
autor, o discurso e o autor não aconteceriam. Enquanto denunciava
vergonhas, de resto, JMT apresentou-se a título de exemplo de alguém que “subiu
na vida” e “chegou até aqui”, ou ali, a partilhar o palco com os representantes
supremos das vergonhas denunciadas. Ignoro se a ligeira heresia de JMT ajudou a
legitimar um regime medíocre. Na opinião de JMT, o regime medíocre parece legitimar
JMT.
Por
fim, as coisas de que tenho a certeza. Tenho a certeza de que nunca me fariam
um convite assim. Tenho a certeza de que, se o fizessem, eu não o aceitaria.
Tenho a certeza de que, se o aceitasse, os meus familiares próximos
estranhariam tanto que me internariam numa ala psiquiátrica. Tenho a certeza de
que, internado, o futuro lá dentro se mostraria mais prometedor do que cá fora,
em Portalegre, onde na segunda-feira uma gente sem predicados se abrigou do sol
para homenagear o país que conquistou graças à nossa abdicação. Tenho a certeza
de que “eles” não merecem o convívio de pessoas civilizadas e “nós”, que não os
evitamos o suficiente, os merecemos a “eles”.
COMENTÁRIOS
Stra. Anabela Faísca: Todos os escândalos do atual governo seriam insuportáveis para os portugueses. Agora, dão-lhe a liderança nas sondagens. Manipulação? Adesão acrítica à esquerda e suas políticas kafkianas? Ou a perda da esperança e submissão? Perdemos uma oportunidade para retirar definitivamente do poder quem o sequestrou desde o 25 de Abril e em castas familiares e partidárias o controla cada vez mais. Quando penso que as reformas que PPC estava corajosamente a realizar no país, nos tiravam progressivamente do atraso crónico e davam efectivamente oportunidades a quem tinha capacidade para criar empresas, inovar, competir e uma maioria de portugueses votou à esquerda porque acharam que algumas perdas em salários e regalias no presente mereciam vingança, embora o crescimento económico deixasse entrever que no futuro iriam recuperar rendimento e surgiriam mais oportunidades de emprego e melhores salários, penso que de facto a maioria dos portugueses pensa pequenino, fala mal dos políticos mas não tem a dimensão moral para aceitar perdas no presente em troca de benefícios no futuro. Nem com as bancarrotas aprende.
Stra. Anabela Faísca: Todos os escândalos do atual governo seriam insuportáveis para os portugueses. Agora, dão-lhe a liderança nas sondagens. Manipulação? Adesão acrítica à esquerda e suas políticas kafkianas? Ou a perda da esperança e submissão? Perdemos uma oportunidade para retirar definitivamente do poder quem o sequestrou desde o 25 de Abril e em castas familiares e partidárias o controla cada vez mais. Quando penso que as reformas que PPC estava corajosamente a realizar no país, nos tiravam progressivamente do atraso crónico e davam efectivamente oportunidades a quem tinha capacidade para criar empresas, inovar, competir e uma maioria de portugueses votou à esquerda porque acharam que algumas perdas em salários e regalias no presente mereciam vingança, embora o crescimento económico deixasse entrever que no futuro iriam recuperar rendimento e surgiriam mais oportunidades de emprego e melhores salários, penso que de facto a maioria dos portugueses pensa pequenino, fala mal dos políticos mas não tem a dimensão moral para aceitar perdas no presente em troca de benefícios no futuro. Nem com as bancarrotas aprende.
: ...ó
AG....assim não.....isto não se faz nem ao "melhor"
amigo.....então agora estás com os "azeites"......?!.......por favor
deixa o "rapaz" em paz......ainda não reparaste que o JMT
também anda à "cata".....da
"lata-de-chouriços"....?!.......vê lá.....cuidadinho com a
"careca".......!!!!
Mosava Ickx: Em primeiro lugar? Em primeiro lugar, basta
lembrar-se do Marcelo Caetano, e está tudo dito a esse respeito.
Em
segundo lugar, o que está à vista, inegável, notável e pouco comum naquele
contexto, mas...
Mas
em terceiro lugar, não tenho a certeza que o autor e o discurso não tinham sido
previamente estudados, dissecados e aprovados pela casta em mais um jogo
de propaganda eleitoral retorcida afim de provar a "boa qualidade" de
uma "verdadeira democracia", em que podemos confiar e dizer tudo a
todos sem consequência!
Aproveitem,
que isso vai ser cada vez mais raro.
Zacarias Pançudo: Vai ser preciso criar uma
página de desambiguação na Wikipédia para " Rafeiro Alentejano", com
duas hiperligações, uma que direccione para uma raça de cães, outra que
direccione para JMT.
Ahfan Neca: Gostei, para não variar. E concordo com o "acho bem que nos
evitemos" do AG em relação à cambada política.
Aquela do JMT pedir a estes trastes que nos dêem uma razão de ser, um
destino, uma vontade mobilizadora é mesmo para rir do incauto ou chorar do
ingénuo.
Zacarias Pançudo > Ahfan Neca: JMT é o sabujo por antonomásia.
Ladra, ladra, mas vai comer à mão do dono e dá a patinha.
Ruik Krull: CASTA, eu prefiro chamar-lhes
Suinicultura Súcia-Lista
Zacarias Pançudo: Dizia o biltre que precisamos
de menos Lusíadas. É isso possível? Hoje em dia ninguém sabe o que são os
Lusíadas! O que precisamos é de Lusíadas de
manhã, à tarde, à noite e a cada ida à retrete; precisamos de redescobrir a
identidade portuguesa forjada na luta contra os sarracenos da Errada Seita. CONTRA
O ISLÃO, LUSÍADAS, CHOURIÇA E GARRAFÃO! VIVA PORTUGAL!
JMT é um crítico homeopático. Critica em pequenas doses para reforçar a
imunidade dos donos que lhe dão de comer. Já quando se trata do cidadão de
base, ferra com os dentes todos, a matar. Por isso é que ele quer introduzir o
ensino do crioulo, para disromper de vez o pouco que resta da língua
portuguesa, língua que, de resto, nem ele nem os donos dele falam. Esses só
falam globish. Pole position!
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