Extraordinário este recuo no tempo,
perpetrado por Salles da Fonseca, que começa
por um sussurrar macio de evocações autobiográficas reivindicativas de
responsabilidade na criação do “homem novo”, mais aberto à Humanidade e aos
conceitos de igualdade e fraternidade que a cultura ocidental há muito que
protagonizava, e que com bravura e severidade de uma lógica simples e directa,
vai revelando criticamente como, não fora o volte face que alguns corajosos
entenderam, por bem, estabelecer, seríamos hoje um pobre país violentado pela
ditadura comunista. Salles da Fonseca atribui o mérito a Mário Soares, talvez tenha razão. Eu não esqueço o papel de Ramalho Eanes, para mim, o verdadeiro
salvador da pátria, o homem certo na hora certa. Vejo Mário Soares como espécie de Príncipe Feliz, rodeado de glória
cortesã, que colheu os primeiros frutos – e os últimos, afinal, pois que
rapidamente foram esbanjados os que pertenciam ao país da ditadura, os seguintes
sendo retirados dos empréstimos que uma Europa Unida nos abonou, a dar a mão até
ver. O certo é que já não temos um Eanes (na reforma), que impeça o resvalar
para os arranjinhos de esquerda, em que António Costa se não importaria de nos
fazer mergulhar, não fora a necessidade da esmola ocidental. Até ver.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 02.06.19
Sabedoria - característica de uma
pessoa sábia, com um conhecimento extenso de várias coisas, instruída, que tem
senso comum e se comporta conformemente ao que a sociedade dela espera. [i] * * *
Da vulgata dos ditos populares,
extraio que «viver não custa, o que custa é saber viver».
Mais rebuscadamente, diz-se que, quando não se
pode discutir uma situação, a sabedoria aconselha a extrair dela o melhor
partido possível. * * *
Era
a débâcle, chegara a hora de mostrarmos se éramos dignos do epíteto grego,
era agora ou nunca que mostraríamos se tínhamos ou não sabedoria e se ela
serviria ao cenário da sovietização de Lisboa. Ainda a palavra não estava no
nosso léxico mas o stress já por cá andava aos gritos
dos funcionários do Partido Comunista trajando à proletária, ao sequestro da Assembleia
da República lembrando o incêndio do Reichstag e
equivalente significado político, a ditadura, a reivindicação da unicidade
sindical, as nacionalizações sequentes as inventonas sobre inventonas, o
aviltamento dos valores burgueses, a glória dos do proletariado, o nivelamento
por baixo naquilo a que só os comunistas chamam «democracia». Tudo, com o apoio duma facção militar em que uns tantos não
queriam reconhecer que tinham cavado a tumba da Nação e por outros que estavam
mesmo convencidos da validade da traição. Os dessa facção ainda hoje,
passados 40 e tal anos, continuam a não perceber que a alternativa era a de se
considerarem traidores ou marionetas - mas é claro que ainda estão a tempo de
fazerem a opção que melhor lhes sirva. E não venham para cá com a
desculpa de que tinham que assumir a missão que cabia aos políticos encontrando
uma solução para o problema colonial porque era sabido que essa discussão
estava em curso à escala nacional dentro e fora dos círculos oficiais. Simplesmente,
o golpe de Estado comunista não era compatível com essa espera, havia que
precipitar os acontecimentos e foi isso que essa facção fez. E não venham
também com essas loas da «liberdade, liberdade» porque ao 25 de Abril de 1974 a
liberdade conquistada foi a que os comunistas adquiriram para poderem mandar
prender quem se lhes opunha.
A
liberdade, essa sim, é um conceito unicitário mas só chegou a Portugal em 25 de
Novambro de 1975 depois da facção dos traidores ter sido neutralizada por
militares não traidores nem imbecis e depois de nós, os burgueses cosmopolitas,
termos assumido que não nos competia temer.
Este
avanço para a luta política foi a primeira prova da nossa sabedoria não olhando
a pormenores e juntando-nos todos do lado ocidental da barricada da Democracia;
os detalhes ficariam para quando Portugal estivesse a salvo da garra soviética.
E foi em torno de Mário Soares que fizemos frente à opressão e a vencemos.
Mário
Soares poderá ter tido muitos pontos de vista diferentes de muitos de nós mas
que ninguém lhe negue esta «paternidade da Democracia» em Portugal. Nós demos a
presença do corpo mas foi ele que deu a cara.
Mesmo
assim, a sabedoria continuaria à prova…
(continua)
Maio de 2019
Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS
Francisco G.
de Amorim 02.06.2019:Parece que
agora, em Portugal, a Liberdade é para roubar o erário público! Vamos de mal a
pior, por toda a parte.
Henrique Salles da Fonseca, 02.06.2019:Henrique, é um grande gosto e prazer chegarmos aqui
aos 74 anos e trocar ideias e prosseguir e contribuir para a história do mundo.
Tu fazes isso. Gosto muito de ler os textos escritos resultantes de muitas
experiências. Isabel O'Sullivan Lopes da Silva
Adriano Lima, 02.06.2019: Gostei
de ler e em particular registo a referência ao Mário Soares como o "pai da
democracia". Há quem pense, por mera questão partidária, que essa
paternidade deve ser partilhada com Sá Carneiro. Mas essa pretensão não tem
qualquer fundamento.
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