Sempre o dinheiro, o poder económico,
foi motivo de rixas no mundo e a própria Bíblia conta como primeiro crime entre
humanos, na Terra, o assassínio de Abel às mãos de Caim por uma questão de
herança. É Topaze, de Marcel Pagnol, uma comédia de fino humor
que mostra a transformação gradual de um apagado e honesto professor primário num
elegante e prevaricador homem de negócios, servilmente medalhado, no
reconhecimento do seu zelo, quando deixara de o ter, ao entrar nos esquemas de
corrupção que dantes abominara.
Tenho um livro – “Arte de Furtar” – hoje atribuído ao Padre Manuel da Costa, que nunca
li na totalidade, apesar da admiração que sempre me causaram as passagens da
sua crítica, lembrando Vieira, e sirvo-me,
por comodidade, de transcrições da Internet para lhe definir o conteúdo:
Origem: Wikipédia, a enciclopédia
livre:.«Na sua História da Literatura Portuguesa, António José Saraiva e Óscar
Lopes destacam, na “Arte de Furtar", a graça literária" e o alto "valor
informativo", de que, segundo eles, só a Fastigímia de Tomé Pinheiro da Veiga se aproximaria no século
XVII. A obra de Manuel da Costa, cuja autoria aceitam e corroboram, é para Saraiva
e Lopes um depoimento literário muito completo da realidade
social do tempo de D. João IV, em que "se espelham ao vivo todos os
principais problemas em que se debatia a administração interna e todo o jogo
das forças sociais" (idem). Destacam, ao lado da dimensão
panfletária e crítica da obra, o "aspecto apologético, de claro apoio ao
rei". Segundo eles, o livro conteria capítulos que "são
autênticas súmulas para uso régio" (idem). Ao nível da descrição dos
factos isolados e dos comportamentos sociais típicos, Saraiva e Lopes
acham que o realismo
da Arte de
Furtar é
imbatível, superando de muito o melhor dos Apólogos Dialogais (de Francisco Manuel de Melo), e acrescentam: "Possivelmente, nenhum
panfleto da nossa literatura o iguala"
(idem).»
Um
excerto de “A ARTE DE FURTAR”(Wikipédia):
Sobre
A POLÍTICA:
«Todos
falam na política, muitos compõem livros dela, e no cabo nenhum a viu, nem sabe
de que cor é. E atrevo-me a afirmar isto assim, porque, com eu ter poucos
conhecimentos dela, sei que é uma má peça, e que a estimam e aplaudem, como se
fora boa; o que não fariam bons entendimentos, se a conheceram de pais e avós,
tais, que quem lhos souber, mal poderá ter por bom o fruto que nasceu de tão
más plantas. E para que não nos detenhamos em coisa trilhada, é de saber que no
tempo em que Herodes matou os inocentes, deu um catarro tão grande no Diabo,
que o fez vomitar peçonha; e desta se gerou um monstro, assim como nascem
ratos ex materia putridi, ao qual chamaram os críticos Razão de Estado. E
esta senhora saiu tão presumida, que tratou de casar, e seu pai a desposou com
um mancebo robusto e de más manhas, que havia por nome Amor Próprio, filho
bastardo da primeira desobediência. De ambos nasceu uma filha a que chamaram
Dona Política. Dotaram-na de sagacidade hereditária e modéstia postiça.
Criou-se nas cortes de grandes príncipes, embrulhou-os a todos. Teve por aios o
Maquiavelo, Pelágio, Calvino, Lutero e outros doutores desta qualidade, com
cuja doutrina se fez tão viciosa, que dela nasceram todas as seitas e heresias
que hoje abrasam o mundo. E eis aqui quem é a senhora Dona Política».
Transcrevo igualmente
alguns expressivos títulos de capítulos, que parecem abrir portas à curiosidade
dos leitores:
Capítulo I – Como para furtar há arte, que é ciência
verdadeira; II – Como a arte
de furtar é muito nobre…. IV – Como os
maiores ladrões são os que têm por ofício livrar-nos de outros ladrões. LIV… – Dos que furtam com unhas invisíveis….
LIX – Dos que furtam com unhas corteses…..Capítulo
LXX: Desengano geral a todas as unhas… CONCLUSÂO FINAL e Remate do Desengano Verdadeiro
Muito há, neste livro curioso, que nos
poderia servir de apoio justificativo da ira saliente nos breves capítulos onde
Salles da Fonseca nos vai descobrindo a gradativa transformação da
sociedade em que confiadamente acreditou, e cuja alternância de sucessivos governos
no poder, se traduziu, nos tempos que passam, por um verdadeiro descalabro pela
transparência de casos de corrupção, originadora do conceito de generalização a
todos os membros de saliência no poder, do colectivo “corja”, que é, certamente, falso, mas que já Camilo e Eça descreviam, embora em diferentes perspectivas,
de azedume ou troça.
O TEXTO DE S. F:
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÂO, 06.06.19
QUEM
ANDA AÍ?
Depois de tanta manipulação de opiniões e de tantos actos sujeitos
à investigação policial, a questão agora é a de saber como se pode confiar num
político profissional. E a resposta é:
- Não pode!
Culpemos
o pós-modernismo, o agnosticismo, o hedonismo, o que cada um por aí mais
encontrar nas prateleiras da erudição mas não se esqueça o Caro Leitor de
também apontar o dedo à ganância dos gatunos.
Contudo, eu creio que a maioria da classe
política é constituída por gente honrada mas basta uma nódoa para podermos
dizer que o pano está sujo. E quando a comunicação social empola as notícias,
nós, os eleitores consumidores da informação, somos induzidos à generalização
da tragédia da corrupção e para nos convencermos de que político é corrupto por
definição e que político sério é excepção.
E não faltam aqueles imbecis proto-gatunos (ou amigos de gatunos encartados) a
dizer estupidezes tão horríveis como «Ele rouba mas faz obra, voto nele».
E quem diz uma barbaridade destas, continua a não ter o seu direito ao voto
sacado sine die por incrível que pareça.
Assim,
se eu estou pessoalmente convencido da honradez da generalidade dos políticos,
o Sr. Zé da Rua que vê telejornais, garante a pés juntos que a realidade é
negativa. E o meu frio positivismo derrete-se perante o calor da refrega contra
o establishment. O que eu penso não interessa; o que interessa é a opinião do Sr.
Zé da Rua.
Estará
alguém por trás da comunicação social a manipular a informação para que o
eleitor seja conduzido ao descrédito no sistema democrático?
Estará
alguém por trás de não sei que bastidores a manipular não sei o quê para que a
liberdade da imprensa seja questionada?
Estará
alguém a tentar convencer-nos de que não temos maturidade para nos governarmos
soberanamente pois somos uma corja de gatunos?
Meditemos…
(continua)
Junho
de 2019
Henrique
Salles da Fonseca
COMENTÁRIO:
Maria Botelho
06.06.: O meu acordo completo a que a
desonestidade e as obras feitas são realidades impossíveis de emparelhar.
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