Chuvisca nesta última manhã em Lafões,
em que, da janela de prazer e de insónia - prazer porque se revivem gostos e
paisagens de tempos escoados, insónia porque se extinguiram os motivos desses
gostos - já da infância, com a nossa mãe que acolhera em sua casa a nossa
prima, e menos recuadamente, por imposições da História, com esses primos – a mesma
e o marido – e mais tarde apenas ela – com quem belos passeios demos nesta zona
de Lafões e arredores.
Tudo se foi indo, e chegou a vez dela,
da nossa querida prima, atirada para um lar como sempre temera, que visitamos
anualmente, em viagem longa e dolorosa, ouvindo-a baixinho dizer, no seu
protesto inútil, para a minha irmã: “É tão triste viver assim!”.
Foram três as visitas feitas, instaladas
nós na mesma casa onde dormira a nossa mãe e nós próprias, na terra onde o galo
canta altas horas da noite, e uma paisagem de sonho se avista nas faldas da serra
da Gralheira, esta manhã encoberta, todavia pelo nevoeiro denso da chuva
miudinha, que nos acompanhou no regresso a Lisboa.
Não, inútil suplicar a um Deus de
misericórdia que devolva a minha prima à família, o seu fim está traçado. Como
está o de todos esses sentados nos cadeirões sinistros onde as famílias os despejaram, a quem os afazeres ou as próprias incapacidades físicas forçaram a
lançar para os cadeirões da senilidade ou da inércia anosa.
Inútil suplicar.
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