domingo, 9 de junho de 2019

Sem mais palavras



O desassombro forte de quem sempre foi fiel a um pensamento de lealdade a valores sem temores, que o estudo honesto sempre fez prevalecer, sem a necessidade de um “e pur si muove”de retratação, que, apesar de tudo, os poderes que o imporiam foram rechaçados a tempo, pesem embora certos resquícios ostracizantes, de tipo inquisitorial, ainda – ou cada vez mais – de visibilidade e transparência. O acompanhamento dos muitos que hoje já se permitem comentar, com afecto e veneração, esse pensamento sempre  desassombrado de Jaime Nogueira Pinto.
10 de junho :  O 10 de Junho dos Combatentes
JAIME NOGUEIRA PINTO         OBSERVADOR, 8/6/2019
A cerimónia transcende ideologias e não pretende rever o que a História decidiu, antes não retirar aos mortos dos 14 anos de guerra, e a todos que na defesa da pátria tombaram, o seu lugar na História.
As comunidades vivem de mitos e ritos. Isto é verdade quer para uma comunidade histórico-cultural, como a nação, quer para uma comunidade desportiva, como um clube de futebol.
A celebração dos mitos e a continuidade dos ritos é o que, numa demonstração externa, pública e estética, corporiza o espírito, a memória e a História. A nação portuguesa, com quase mil anos de história independente e com fronteiras centenárias na Europa, é uma construção de longa duração: obra da vontade de autonomia dos barões de Entre Douro e Minho e da vontade política do seu fundador, Afonso Henriques, obra da vontade nacional colectiva, agarrada pelo refundador, Nun’Álvares, obra da vontade e da necessidade de projecção marítima e imperial de navegadores, conquistadores, aventureiros.
Luís de Camões deu-lhe expressão narrativa, precisamente no tempo em que a Nação entrava numa espécie de Cativeiro da Babilónia, um cativeiro legal e dinástico mas um cativeiro, e sempre assim visto e sentido.
A independência foi restaurada 60 anos depois, resistindo em quase trinta anos de guerra da Restauração à tentativa anexionista da Casa da Áustria. E nos princípios do século XIX, por um levantamento popular e patriótico, voltou a resistir ao poder de Napoleão. Nos finais do século XIX aguentou a corrida a África das grandes potências europeias. E depois, contra as vagas e forças da História, resistiu a 14 anos de guerra.
Os que passámos por esta guerra, ao lembrá-la e celebrá-la, não o fazemos animados por nostalgias imperiais e muito menos imperialistas. Respeitamos os que nos combateram de armas na mão em nome dos seus Estados nascentes; e, sabendo que os que então nos combateram nos respeitam, queremos ser também aqui respeitados e não tratados como marionetas de regimes ou serventuários de causas suspeitas.
Por isso, há 25 anos, um núcleo de antigos combatentes lançou a ideia do Monumento aos Combatentes do Ultramar. E, a partir daí, todos os anos, junto ao monumento de Belém, onde estão inscritos os nomes de todos os militares que morreram nessas últimas campanhas de África e da Índia – bem como os que depois morreram ao serviço de Portugal em missões internacionais – alguns milhares de nós lembramos os nossos camaradas mortos ou desaparecidos em combate, cujos nomes ficaram gravados nos muros do monumento.
A cerimónia transcende ideologias – sobretudo ideologias partidárias de que o povo português está cada vez mais distante – e não pretende rever o que a História decidiu. Pretende sim não retirar aos mortos desses 14 anos de guerra, e aos outros que na defesa da pátria foram mortos, o seu lugar na História.
E lembrar que a Pátria, a terra da pátria e os mortos pela pátria, são o património agregador da comunidade e a verdadeira garantia da Liberdade dos portugueses. Uma liberdade que não vem de Bruxelas nem das Nações Unidas, que nunca poderá ser alienada a organismos supranacionais, a federalismos utópicos, a mecanismos de submissão discreta de povos e culturas, ao abrigo de facilidades financeiras e simpatias baratas.
O 10 de Junho dos Combatentes é, e continuará a ser, uma afirmação do patriotismo português, um rito celebrativo da nossa identidade e unidade, numa Europa que hoje também parece despertar para a sua verdadeira natureza e sentido, uma Europa das Pátrias, de Estados Nacionais, soberanos, que voltam a lembrar um passado histórico que tem de ser integrado, tal como também o Cristianismo incorporou as heranças da Grécia e de Roma e criou uma civilização onde a identidade e a independência são condição da Liberdade e das liberdades.
Foi isto que Camões entendeu e registou e que outro poeta maior de Portugal, Fernando Pessoa, veio lembrar e reintegrar no século passado. E os grandes poetas são os melhores intérpretes do espírito do povo, aqueles que, como os antigos arúspices, sabem ler nas entranhas do passado e nos ventos do presente a memória do futuro.
COMENTÁRIOS
S S: "Os mortos falam, para que os vivos possam continuar. Para mal de nós todos, em pouco tempo passou-se do
Dia de Camões, de Portugal e da Raça, para a actual bandalheira.
William Smith: Quem  sou eu para contradizer J. N. Pinto, mas sempre pensei que tínhamos resistido aos generais de Napoleão devido à ajuda dos Ingleses (enquadramento das nossas tropas no seu exército) e não por um levantamento patriótico. O Cipião é que me poderia esclarecer num dos seus comentários pois é uma época pela qual não sinto nenhuma curiosidade.
Dr. Feelgood > William Smith: The wonder in you is: ----> nunca percebes nada sobre o que escreves, mas escreves. Esta data e efeméride NADA tem a ver com " Napoleão e seus 100 soldados  " ( buscar por Ney Matogrosso no album " sujeito estranho "... ) mas sim sobre os Heróis tombados na Guerra Colonial. Se soubesses LER e acima de tudo instruir-te não fazias tristes figuras que nos envergonham perante cerca de 100 MILHÕES de leitores "anónimos " que nos acompanham.
Jacinta Marques: Concordo plenamente com tudo o que escreveu...Lembrar apenas que ainda existem muitos ex combatentes, ou melhor, ex prisioneiros quando da ocupação indiana, e que se queixam do esquecimento a que foram votados... Conheço alguns e as suas histórias, que me foram relatadas na primeira pessoa , sempre com muita emoção e tristeza...Tenho até um caderno onde uma dessas pessoas pôs em verso, quando regressou, todo o seu drama...Honra aos que caíram, aos que passaram pela guerra e sobreviveram, muitos com problemas físicos e psicológicos...Que não sejam nunca esquecidos!
Stra. Anabela Faísca: Um grande artigo nascido do patriotismo e da verdade.
António Hermínio Quadros Silva: Como diria Julius Evola são esses Homens, os antigos combatentes vivos ou mortos, que permanecerão de pé no meio das ruínas do nosso Portugal desfeito  
josé Maria: A cerimónia transcende ideologias JNP, seja honesto, você não é tolo, mas está a fazer-se de tolo. Como homem culto e inteligente, que é, sabe que não há narrativas políticas ideologicamente neutras.
Stra. Anabela Faísca > josé maria: Conversa de comuna . Debitam clichês como se tivessem estudado.
josé mariaStra. > Anabela Faísca: Há narrativas políticas ideologicamente neutras, ó boçal ?
José Ramos: É de saudar esta lembrança de Jaime Nogueira Pinto. Era tarde para deixar África, segundo os ventos da História, tendo Portugal sido o primeiro a chegar e o último a partir, com os dramas que se conhecem. No entanto, a História, a História profunda, revela-nos hoje à saciedade que foi cedo demais. O Continente Africano é hoje uma terra devastada por lutas assassinas, miséria, corrupção e estados falhados.
Stra. Anabela Faísca > José Ramos: O primeiro crime da ONU 
Conde do Cruzeiro: Dez de Junho, o dia dos Combatentes pela Liberdade.
Ana Ferreira: Parece que o avanço da idade e as agruras da vida fizeram o seu trabalho sobre este homem. Mais vale tarde que nunca!
Manuel Magalhães: Como sempre muito bem Jaime, é exactamente o lembrarmos estes factos e este espírito que neste momento os portugueses precisam de ouvir para não esquecermos a razão e o porquê do que somos e continuamos a querer ser.
Jose Neto: Excelente artigo. Sóbrio, historicamente informado e comprometido com os nossos melhores valores. "Fora da caixa", sim, mas é mesmo disso que estamos carentes, nestes tempos de demagogia e ruído. Tempos, também, de auto-negação, por cá e por toda essa Europa.
MCMCA: Muito Obrigada JNP por nos lembrar que a comunidade se cimenta nos que morreram em defesa da sua causa comum algo que, infelizmente, parecem querer reduzir à barriga tresmalhando os seres humanos em animais que vivem somente em função da ração diária e sexo. Por isso, assiste-se ao desmantelar do ritual da lembrança dos que caíram por todos nós porque somente assim os povos se tornarão massas informes animalizadas pelos “realities shows” e malgas de comida, perdendo o ânimo e submetendo-se ao mundo Orweliano 
Carlos Sousa: Deveria ser amplamente divulgado o estado de abandono do mural de memória junto à Torre de Belém. Mais de 90% dos nomes dos que tombaram não se vêem. Pior que ser ignorado é ser lembrado e depois abandonado sem qualquer dignidade ou respeito. Sr. Presidente da República se ler isto, intervenha por favor.
MCMCA > Carlos Sousa: Duvido que ti Celito por uma causa politicamente incorrecta mova um dedo. Teme que a sua popularidade baixe e a sua reeleição assim exige. A sua auto estima assim o exige
Stra. Anabela Faísca > Carlos Sousa: Está no Jamaica a tirar selfies.
Pedro Santos da Cunha: Obrigado Jaime! Forte Abraço Amigo!
victor guerra: Os mortos fazem parte do património, das pátrias e das famílias. Quantos tiros terá dado este combatente?
Pedro Santos da Cunha > victor guerra: Os necessários!
Maria Nunes:  Excelente. Actualmente ser patriota é quase um crime. Honra e respeito para todos os combatentes da guerra colonial.
Hugo: Sr Jaime Nogueira Pinto que tanto prestígio o seu pensamento tem fora da box. Longa vida prós Mortos que caminham a nosso lado. Por todo esse mundo, Português caminha desamparado. Longa vida pra pátria do Espírito Santo.
S S: Nada disso interessa a socialistas, comunistas e demais traidores. Por agora, é essa tropa fandanga quem mais ordena, nas ruínas de Portugal.
Dr. Feelgood: Impecável de argúcia e patriotismo como sempre.
Manuel Marques: Obviamente certo.

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