Maneira cálida e graciosa de recontar os
feitos, neste episódio de hoje de Salles da Fonseca, como conto infantil para
manutenção do nosso optimismo. Será que resulta?
Mas os ventos que nos vão vindo fluem virtuosamente
– bovinamente às vezes – sobre as nossas ânsias de diferente fluido, mais
racional e mais nobre. Sem esperança, sequer, de mudança para uma
verosimilhança condigna com tal ânsia, e, pelo contrário, mais próxima de um “Finis
Patriae” - em pecado sem remissão.
NÓS, OS
FILHOS DOS VENTOS CÁLIDOS – 8
A PORTA DOS FUNDOS
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 03.06.19
Foi
com a implantação da democracia que respirámos fundo e nos dedicámos à
construção do novo velho Portugal. Mas ainda sob a tutela do Conselho da Revolução, esse órgão espúrio que só por
existir nos passava a todos os civis um atestado de menoridade e ao país um
carácter terceiro-mundista, uma vergonha, um quisto purulento no tecido da
civilização ocidental.
A
segunda prova da nossa sabedoria burguesa e cosmopolita foi a de fazermos saber
ao Conselho
da Revolução que ninguém, cá dentro ou lá fora, lhe reconhecia qualquer
papel de garante absolutamente de nada, que estarem ali ou se dissolverem era
precisamente o mesmo para a legitimidade legislativa da Assembleia
da República, essa sim, democraticamente eleita. Não «comprámos» uma guerra
inútil, deixámo-lo cair faisandé como se diria no meu liceu.
Na
saída, garantimos-lhes que não os iríamos levar a Juízo pelas tropelias que
tinham feito à democracia de que diziam ser garantes.
-
Vão-se embora, desapareçam das nossas vistas, fiquem com as vossas pensões de
reforma e não voltem a incomodar-nos.
Saídos
os militares pela porta dos fundos, consolidou-se a democracia pluri-partidária
por que nós, os filhos dos ventos cálidos, há muito assumíramos como o único
modelo político que nos convinha.
E
como a nossa filosofia assenta na liberdade de pensamento, lógico foi que não
integrássemos apenas um Partido e nos espalhássemos ao longo do leque de opções
que tinha aparecido logo em 1974, leque esse que se manteve como matriz até
hoje, salvo algumas oscilações comandadas por modas, pessoas mais ou menos
carismáticas ou circunstâncias mais ou menos conjunturais. Mas a estrutura
tem-se revelado sólida.
Problemas?
Sim,
muitos mas a democracia constrói-se diariamente, é um modelo dinâmico. Como se
diz que Churchill disse, «a democracia é o pior dos sistemas políticos com
excepção de todos os outros».
(continua)
Junho de 2019
Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS
Henrique Salles da Fonseca 03.06.2019:
Estamos a ficar ligeiramente adormecidos
e distraidos para a democracia e seremos "quiça" engolidos pelo voto
das armas! Um abraço agradecido Manuel Henriques
Francisco G. de
Amorim 03.06.2019 :Democracia
leva tempo. É verdade. Terá começado na Grécia há uns milhares de anos e parece
que em vez de se apurar se vai esfrangalhando! Evolução?
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