Gostei do texto de Margarida Mano, que me pareceu sério, apesar de ela se
dizer seguidora do Acordo Ortográfico - o que me parece isso, todavia, índice
de um desprezo pela sua língua, que constitui, para mim, pecha desfiguradora de
um conceito de cidadania que não se coaduna com intenções de respeito pátrio,
que o seu texto me parece conter, na sua defesa de um Ensino que acusa de ser
adulterado por este Governo. Não me lembrei de que ela sucedeu a Nuno Crato, o que na altura me causou indignação,
mas os seus comentadores não o deixaram passar em segredo e condenam-na,
juntamente com outros dados acusatórios, o que me fez consultar a sua
biografia, a qual me parece bastante preenchida de realizações - pelo que
atribuo as críticas, sobretudo, aos motivos mesquinhos de oposição partidária.
De resto, o falhanço no Ensino, como em tudo o resto, imputo-o antes aos erros,
primitivos e seguintes, de uma democracia libertária acéfala e suicidária,
desde o seu início.
OPINIÃO: O Governo do Engano (também) na Educação
Na Educação, ao fim de quatro anos de
legislatura, o que é factual é que o investimento é insignificante, que as
condições nas escolas estão degradadas e que existem profundas contradições
entre o discurso e a realidade.
MARGARIDA MANO PÚBLICO, 25
de junho de 2019
Sabemo-lo
e olhamos para a situação com a resignação de quem reconhece tratar-se de uma
inevitabilidade... “está-lhe no sangue”. Habituámo-nos a ver o
primeiro-ministro defender os resultados nas finanças públicas “graças ao fim
da austeridade”, ao mesmo tempo que o seu ministro das Finanças tranquiliza
o Financial Times dizendo que “não houve uma
dramática viragem da austeridade”. Sabemos hoje que as narrativas de
propaganda política do Governo coexistem num Portugal, em 2018, com a maior
queda da Europa nos rankings de competitividade; com a maior
carga fiscal dos últimos 24 anos; com um dos piores crescimentos
económicos da União Europeia e com níveis de investimento público inferiores a
2015. Poderíamos voltar a falar do “caso dos professores”, em que a realidade
foi, como a UTAO pode confirmar, distorcida até à última consequência da grande ameaça
de demissão, de forma a condicionar a liberdade de acção do
Parlamento. Essa é uma história que só um Governo sério poderá vir a provar: a
de como uma justa recuperação do tempo de serviço, sendo possível, pode ser uma
peça relevante nas necessárias reformas da Educação.
Sabemo-lo,
o Governo continua a enganar (quase) todos na Educação. Há poucos dias, o chefe
de Governo foi inaugurar uma escola requalificada em Arcos de Valdevez: 4,1M€
de investimento; promessas para o futuro e, cereja no topo do bolo, um “tributo
aos professores”. Podemos gostar de o ouvir, mas não esqueçamos que estamos a
ser enganados: 2,7M€
foram-nos dados pela Europa (a Europa das eleições nas quais muitos não
votamos) e 1,2M€ foi investimento do município. O Governo contribuiu para a
requalificação com uns quase insultuosos 0,2M€. Estes momentos de campanha não podem fazer-nos esquecer
do fundamental: os números do investimento na Educação estão ao nível zero
(0,3%), tendo em conta o orçamento do ministério (6000M€). No total, são pouco
mais de 20M€, que mal dariam para cobrir o custo médio de uma única intervenção da Parque Escolar. Menos
80% do que o investimento realizado em 2015! Na Educação, ao fim de quatro anos de legislatura, o
que é factual é que o investimento é insignificante, que as condições nas
escolas estão degradadas e que existem profundas contradições entre o discurso
e a realidade, como a contradição chocante entre o discurso de tributo e a
prática de desprezo pelos agentes da educação (alunos, famílias, assistentes
técnicos, técnicos educativos, professores, inspectores, etc.).
O
sistema está enfraquecido num contexto de enormes desafios, não só societais,
mas também demográficos. Na última década o sistema perdeu 175.000 alunos,
um número que se espera superior nos próximos dez anos. Os dados referentes
aos alunos matriculados no ano lectivo 2017/18 confirmam esta tendência. Igualmente
preocupante é a contradição entre o discurso (repetido até à exaustão) do
Governo na suposta defesa da escola pública e a real escolha das famílias. É um
facto indesmentível: pela primeira vez nos últimos anos a escola privada ganhou
alunos à escola pública, curiosamente à entrada e à saída da escolaridade
obrigatória, ou seja, no 1.º ciclo do ensino básico e no secundário. E isto
acontece apesar do encerramento de várias escolas de referência, em particular
em territórios de baixa densidade, que, tendo visto os seus contratos (válidos
até 2019) desrespeitados pelo Governo no início da legislatura e apesar de
todos os esforços, não conseguiram evitar o encerramento. Foi disso mais um
terrível exemplo, na passada semana, o CAIC, em Cernache, um marco com 65 anos
de exemplo na formação humana integral na região. Se é claro o impacto da
natalidade na diminuição global de alunos, os dados mais recentes indicam um
novo elemento preocupante: o abandono da escola pública está
a ser acompanhado pelo aumento dos alunos nas escolas privadas. A Educação
Pública na realidade está em falência.
Do lado dos professores, o cenário não
é melhor. Na escola pública, os professores são uma classe profissional
envelhecida. Os que conseguem entrar para os quadros têm, em média, 50 anos de
idade, alguns quase na idade da reforma. Por sua vez, o número de candidatos
para dar aulas tem vindo a diminuir – menos 4000 do que em 2018. A situação é
preocupante, uma vez que precisamos dos melhores professores para, em
diferenciação pedagógica, estimular cada uma das nossas crianças e jovens a
serem cidadãos preparados para o futuro!
Ninguém
terá dúvidas do papel da Educação Pública como alicerce de um futuro
socialmente justo em Portugal. Sabemos que os recursos públicos são limitados e
exige-se uma melhor aplicação dos recursos com que os Portugueses contribuem. Há
urgência nas escolhas certas! Naturalmente que estas não passam por cortar o
investimento nas escolas, numa legislatura de crescimento económico, ou por
fugir dos problemas e das negociações. Também não passam por obras de última
hora, ou por falsos tributos de circunstância. As escolhas certas pressupõem governos que falem
verdade, que respeitem os órgãos de soberania eleitos, que respeitem o esforço
dos contribuintes e que saibam, em concertação social, construir compromissos. A
urgência das escolhas certas requer uma visão para o país do futuro que
valorize a Educação e a Escola pública, requer o respeito pelo país do
presente, assente na transparência e no compromisso e requer coragem para
governar de facto, com equilíbrio e sustentabilidade. Infelizmente nenhuma
destas três condições parece estar presente na ação deste Governo do Engano
(também) na Educação.
Vice-presidente do Grupo
Parlamentar do PSD
COMENTÁRIOS:
jafundo, 25.06.2019 Isto vindo de uma senhora que quis suceder a Crato que
suspendeu as obras nas escolas e aumentou o número de alunos nas turmas e
despediu centenas de professores. Que falta de vergonha! Que desplante! Muita
gente pode opinar mas que se calem estas pessoas que quiseram enterrar a
educação pública.
viana, Porto 25.06.2019
Depois da
cambalhota do PSD no que se refere à sua relação com os professores, ainda há
lata para alguém do PSD comentar o estado da Escola Pública? Vão gastar mais
dinheiro na Escola Pública, enquanto aumentam de novo o financiamento público
de escolas privadas? E os porcos têm asas?... Tomam todos como parvos, ou
quê?!!
isabel.dente, 25.06.2019 nem esta mulher nem o jornal têm vergonha e ainda
querem subsídios isto não é jornalismo é apenas um sai de lá tu para ir eu.
Francis Delannoy, 25.06.2019 -O Governo do Engano (também) na Educação +++++ quando
mentirosos e incompetentes estao no topo do poder é o que da.. a fragilização
da sociedade desde as escolas ao emprego.. anda tudo com uma mão na frente e
outra atrás..porque sempre fizeram uma politica de austeridade pilhando e
gastando a lagardère os recursos do estado deixando as dividas para as gerações
que ainda não nasceram e as que estão a nascer. São uns políticos
irresponsáveis , da pior espécie porque iludem o povo com competências que não
têm..
Alguns
dados biográficos:
Margarida Isabel Mano Tavares Simões
Lopes (Coimbra, 3 de
dezembro de1963)
é uma professora
portuguesa,
tendo sido Ministra da Educação e Ciência do XX Governo Constitucional de
Portugal.[1]
Margarida
Mano foi eleita deputada da Assembleia da República nas eleições legislativas de 2015.
De Março de 2011 a Setembro de 2015 foi Vice-Reitora da Universidade de Coimbra, responsável pelos
pelouros do Planeamento Estratégico, Financeiro e da Acção Social.
É doutorada
em Gestão pela Universidade de Southampton (Reino Unido), mestre e licenciada
em Economia pela Universidade de Coimbra e docente na Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra desde 1986, nas áreas de Economia e de Gestão (gestão
estratégica, avaliação institucional e gestão da qualidade).
Iniciou
a sua carreira profissional na Banca em 1987, tendo depois exercido
funções de gestão universitária como Administradora (1996-2009) e
Pró-Reitora (2009-2011) da Universidade de Coimbra.
Especialista
do European Foundation for Quality Management (EFQM) para o Ensino, tem participado em diversos projectos de benchmarking
e redes de cooperação Internacional no âmbito da Administração Pública, em particular
do Ensino Superior, no âmbito da European Universities Association,
nomeadamente o projecto European Universities Implementing their Modernisation
Agenda (EUIMA); Transparent Costing in European Higher Education Institutions
(IES/TCE); Define (Governance, Autonomy and Funding) e enquanto Membro do
Comité Internacional de Avaliação do Observatório de Boas Práticas em Direcção
Estratégica no Ensino Superior da Rede Telescopi. A nível
nacional foi responsável por projectos de mudança
organizacional, cujo desenvolvimento facilitou práticas colaborativas e de
transparência da administração de mérito reconhecido … Desenvolveu ainda colaborações com Escolas enquanto
perita externa de Agrupamentos de Escolas, nomeadamente no âmbito do Projecto
Educativo Programa de Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP
II) – Trabalho, Engenho, Inclusão e Progresso. É membro
fundador da Rede dos
Administradores Universitários Ibero-Americanos (RAUI), da Heads of University
Management and Administrators Network in Europe (Humane) e da Associação Fórum
da Gestão do Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa (Forges)
cuja Direção integra. É também autora de várias publicações (livros e artigos)
no âmbito da Gestão do Ensino Superior.
Publicações: ……. Publicações:
…….
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