sexta-feira, 28 de junho de 2019

Um discurso responsável



Gostei do texto de Margarida Mano, que me pareceu sério, apesar de ela se dizer seguidora do Acordo Ortográfico - o que me parece isso, todavia, índice de um desprezo pela sua língua, que constitui, para mim, pecha desfiguradora de um conceito de cidadania que não se coaduna com intenções de respeito pátrio, que o seu texto me parece conter, na sua defesa de um Ensino que acusa de ser adulterado por este Governo. Não me lembrei de que ela sucedeu a Nuno Crato, o que na altura me causou indignação, mas os seus comentadores não o deixaram passar em segredo e condenam-na, juntamente com outros dados acusatórios, o que me fez consultar a sua biografia, a qual me parece bastante preenchida de realizações - pelo que atribuo as críticas, sobretudo, aos motivos mesquinhos de oposição partidária. De resto, o falhanço no Ensino, como em tudo o resto, imputo-o antes aos erros, primitivos e seguintes, de uma democracia libertária acéfala e suicidária, desde o seu início.
OPINIÃO:   O Governo do Engano (também) na Educação
Na Educação, ao fim de quatro anos de legislatura, o que é factual é que o investimento é insignificante, que as condições nas escolas estão degradadas e que existem profundas contradições entre o discurso e a realidade.
MARGARIDA MANO      PÚBLICO, 25 de junho de 2019
Sabemo-lo e olhamos para a situação com a resignação de quem reconhece tratar-se de uma inevitabilidade... “está-lhe no sangue”. Habituámo-nos a ver o primeiro-ministro defender os resultados nas finanças públicas “graças ao fim da austeridade”, ao mesmo tempo que o seu ministro das Finanças tranquiliza o Financial Times dizendo que “não houve uma dramática viragem da austeridade”. Sabemos hoje que as narrativas de propaganda política do Governo coexistem num Portugal, em 2018, com a maior queda da Europa nos rankings de competitividade; com a maior carga fiscal dos últimos 24 anos; com um dos piores crescimentos económicos da União Europeia e com níveis de investimento público inferiores a 2015. Poderíamos voltar a falar do “caso dos professores”, em que a realidade foi, como a UTAO pode confirmar, distorcida até à última consequência da grande ameaça de demissão, de forma a condicionar a liberdade de acção do Parlamento. Essa é uma história que só um Governo sério poderá vir a provar: a de como uma justa recuperação do tempo de serviço, sendo possível, pode ser uma peça relevante nas necessárias reformas da Educação.
Sabemo-lo, o Governo continua a enganar (quase) todos na Educação. Há poucos dias, o chefe de Governo foi inaugurar uma escola requalificada em Arcos de Valdevez: 4,1M€ de investimento; promessas para o futuro e, cereja no topo do bolo, um “tributo aos professores”. Podemos gostar de o ouvir, mas não esqueçamos que estamos a ser enganados: 2,7M€ foram-nos dados pela Europa (a Europa das eleições nas quais muitos não votamos) e 1,2M€ foi investimento do município. O Governo contribuiu para a requalificação com uns quase insultuosos 0,2M€. Estes momentos de campanha não podem fazer-nos esquecer do fundamental: os números do investimento na Educação estão ao nível zero (0,3%), tendo em conta o orçamento do ministério (6000M€). No total, são pouco mais de 20M€, que mal dariam para cobrir o custo médio de uma única intervenção da Parque Escolar. Menos 80% do que o investimento realizado em 2015! Na Educação, ao fim de quatro anos de legislatura, o que é factual é que o investimento é insignificante, que as condições nas escolas estão degradadas e que existem profundas contradições entre o discurso e a realidade, como a contradição chocante entre o discurso de tributo e a prática de desprezo pelos agentes da educação (alunos, famílias, assistentes técnicos, técnicos educativos, professores, inspectores, etc.).
O sistema está enfraquecido num contexto de enormes desafios, não só societais, mas também demográficos. Na última década o sistema perdeu 175.000 alunos, um número que se espera superior nos próximos dez anos. Os dados referentes aos alunos matriculados no ano lectivo 2017/18 confirmam esta tendência. Igualmente preocupante é a contradição entre o discurso (repetido até à exaustão) do Governo na suposta defesa da escola pública e a real escolha das famílias. É um facto indesmentível: pela primeira vez nos últimos anos a escola privada ganhou alunos à escola pública, curiosamente à entrada e à saída da escolaridade obrigatória, ou seja, no 1.º ciclo do ensino básico e no secundário. E isto acontece apesar do encerramento de várias escolas de referência, em particular em territórios de baixa densidade, que, tendo visto os seus contratos (válidos até 2019) desrespeitados pelo Governo no início da legislatura e apesar de todos os esforços, não conseguiram evitar o encerramento. Foi disso mais um terrível exemplo, na passada semana, o CAIC, em Cernache, um marco com 65 anos de exemplo na formação humana integral na região. Se é claro o impacto da natalidade na diminuição global de alunos, os dados mais recentes indicam um novo elemento preocupante: o abandono da escola pública está a ser acompanhado pelo aumento dos alunos nas escolas privadas. A Educação Pública na realidade está em falência.
Do lado dos professores, o cenário não é melhor. Na escola pública, os professores são uma classe profissional envelhecida. Os que conseguem entrar para os quadros têm, em média, 50 anos de idade, alguns quase na idade da reforma. Por sua vez, o número de candidatos para dar aulas tem vindo a diminuir – menos 4000 do que em 2018. A situação é preocupante, uma vez que precisamos dos melhores professores para, em diferenciação pedagógica, estimular cada uma das nossas crianças e jovens a serem cidadãos preparados para o futuro!
Ninguém terá dúvidas do papel da Educação Pública como alicerce de um futuro socialmente justo em Portugal. Sabemos que os recursos públicos são limitados e exige-se uma melhor aplicação dos recursos com que os Portugueses contribuem. Há urgência nas escolhas certas! Naturalmente que estas não passam por cortar o investimento nas escolas, numa legislatura de crescimento económico, ou por fugir dos problemas e das negociações. Também não passam por obras de última hora, ou por falsos tributos de circunstância. As escolhas certas pressupõem governos que falem verdade, que respeitem os órgãos de soberania eleitos, que respeitem o esforço dos contribuintes e que saibam, em concertação social, construir compromissos. A urgência das escolhas certas requer uma visão para o país do futuro que valorize a Educação e a Escola pública, requer o respeito pelo país do presente, assente na transparência e no compromisso e requer coragem para governar de facto, com equilíbrio e sustentabilidade. Infelizmente nenhuma destas três condições parece estar presente na ação deste Governo do Engano (também) na Educação.
Vice-presidente do Grupo Parlamentar do PSD
COMENTÁRIOS:
jafundo, 25.06.2019 Isto vindo de uma senhora que quis suceder a Crato que suspendeu as obras nas escolas e aumentou o número de alunos nas turmas e despediu centenas de professores. Que falta de vergonha! Que desplante! Muita gente pode opinar mas que se calem estas pessoas que quiseram enterrar a educação pública.
viana, Porto 25.06.2019 Depois da cambalhota do PSD no que se refere à sua relação com os professores, ainda há lata para alguém do PSD comentar o estado da Escola Pública? Vão gastar mais dinheiro na Escola Pública, enquanto aumentam de novo o financiamento público de escolas privadas? E os porcos têm asas?... Tomam todos como parvos, ou quê?!!
isabel.dente, 25.06.2019 nem esta mulher nem o jornal têm vergonha e ainda querem subsídios isto não é jornalismo é apenas um sai de lá tu para ir eu.
Francis Delannoy, 25.06.2019 -O Governo do Engano (também) na Educação +++++ quando mentirosos e incompetentes estao no topo do poder é o que da.. a fragilização da sociedade desde as escolas ao emprego.. anda tudo com uma mão na frente e outra atrás..porque sempre fizeram uma politica de austeridade pilhando e gastando a lagardère os recursos do estado deixando as dividas para as gerações que ainda não nasceram e as que estão a nascer. São uns políticos irresponsáveis , da pior espécie porque iludem o povo com competências que não têm..
Alguns dados biográficos:
Margarida Isabel Mano Tavares Simões Lopes (Coimbra, 3 de dezembro de1963) é uma professora portuguesa, tendo sido Ministra da Educação e Ciência do XX Governo Constitucional de Portugal.[1]
Margarida Mano foi eleita deputada da Assembleia da República nas eleições legislativas de 2015. De Março de 2011 a Setembro de 2015 foi Vice-Reitora da Universidade de Coimbra, responsável pelos pelouros do Planeamento Estratégico, Financeiro e da Acção Social.
É doutorada em Gestão pela Universidade de Southampton (Reino Unido), mestre e licenciada em Economia pela Universidade de Coimbra e docente na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra desde 1986, nas áreas de Economia e de Gestão (gestão estratégica, avaliação institucional e gestão da qualidade).
Iniciou a sua carreira profissional na Banca em 1987, tendo depois exercido funções de gestão universitária como Administradora (1996-2009) e Pró-Reitora (2009-2011) da Universidade de Coimbra.
Especialista do European Foundation for Quality Management (EFQM) para o Ensino, tem participado em diversos projectos de benchmarking e redes de cooperação Internacional no âmbito da Administração Pública, em particular do Ensino Superior, no âmbito da European Universities Association, nomeadamente o projecto European Universities Implementing their Modernisation Agenda (EUIMA); Transparent Costing in European Higher Education Institutions (IES/TCE); Define (Governance, Autonomy and Funding) e enquanto Membro do Comité Internacional de Avaliação do Observatório de Boas Práticas em Direcção Estratégica no Ensino Superior da Rede Telescopi. A nível nacional foi responsável por projectos de mudança organizacional, cujo desenvolvimento facilitou práticas colaborativas e de transparência da administração de mérito reconhecido … Desenvolveu ainda colaborações com Escolas enquanto perita externa de Agrupamentos de Escolas, nomeadamente no âmbito do Projecto Educativo Programa de Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP II) – Trabalho, Engenho, Inclusão e Progresso. É membro fundador da Rede dos Administradores Universitários Ibero-Americanos (RAUI), da Heads of University Management and Administrators Network in Europe (Humane) e da Associação Fórum da Gestão do Ensino Superior nos Países e Regiões de Língua Portuguesa (Forges) cuja Direção integra. É também autora de várias publicações (livros e artigos) no âmbito da Gestão do Ensino Superior.  Publicações: ……. Publicações: …….

Nenhum comentário: