O País ainda não morreu! Há muita gente
que sabe que o problema é esse da aceitação do status por comodidade, António Costa explorando bem a inércia de um
povo que escolheu o facilitismo proteccionista com que ele e os seus sequazes
vão acobertando e iludindo. Mas o país foi pátria de gente corajosa, tenhamos
fé que um dia… Hoje é o Dia de Camões...
À atenção da direita /premium
OBSERVADOR, 5/6/2019
Espantei-me
que não se espantasse mais com o estado de saúde das direitas em Portugal: que
país normalmente constituído e com um regime democrático sobrevive com metade
da democracia a funcionar?
1.
Há dias almoçando com um amigo que há muito não via, apercebi-me com
surpresa de uma preocupação de que não o julgava capaz (sabendo-o alguém
ocupado a tratar de coisas sérias) e que era a “direita do Observador”: podia
eu explicar melhor? Espantei-me que ele não se espantasse mais com o deplorável
estado de saúde das direitas em Portugal, mas não ia infantilizá-lo lembrando
que nenhum país normalmente constituído onde vigore um regime democrático
sobrevive só com metade da democracia a funcionar. Não havia assim muito
para explicar. À noite – nunca há coincidências – encontro outro um amigo muito
próximo que quase se enfurece com a “radicalidade” do Observador.
Resolvi levar aquilo a sério e espremi o tema: fiz perguntas, pedi
esclarecimentos, revi a matéria, sugeri exemplos muito, muito, concretos: saiu
pouco sumo. Era escassa a uva. Mas farta a parra, sob a forma de indignações
postiças, exageros intencionais, alguma dosezinha de má fé. Clichés.
Mas
isso foi o menos. O mais foi ter percebido, e logo ao almoço e ao jantar do
mesmo dia, que gente adulta e séria ainda admite com estranheza — ou deveria
dizer com um tédio bem pensante? — que as direitas tenham voz e se exprimam no
espaço público e não apenas no reduto partidário, onde são de “centro”. E que
ao fim de quase quarenta anos, os mesmos olhem com despropositada “preocupação”
um meio comunicacional que representa como pode quem, justamente — muito pouco
e muito intermitentemente –. se sentiu representado, durante anos e anos, na
comunicação social. Ou seja, falo do óbvio. Tão prosaicamente banal é o que
digo que seria até levada a evocar La Palice se os meus interlocutores — o do
almoço e o do jantar — tivessem humor mas depois lembrei-me que talvez não
pudessem tê-lo: então e o ar do tempo? O ar do tempo nunca os convidaria para a
maçada de terem de destoar daquilo que as tais quatro décadas semearam no país:
uma espécie de transfiguração das direitas, etiquetadas, desde o alvor da
democracia, como “centro” ou quando muito “centro-direita”; e tudo o que levanta
a cabeça para fora deste consentido perímetro é expeditamente radical,
fascista, suspeito, extremista (e quem sabe, na melhor das hipóteses, serão
mesmo estagiários dos Steve Banon deste mundo e, na pior, pagos por ele).
Os meus amigos têm boas maneiras — não os ouvi chamarem-me fascista — mas
também têm pena: para eles é como se subitamente me tivesse aventurado por
duvidosos caminhos, optando por uma inesperada mas fatal má vida (que até ao
momento nenhum soube porém definir ou concretizar).
2.
Sucede que a constatação que acima sugiro, mesmo que tingida por uma amiga
ironia face aos comensais de um mesmo dia, interessa bem menos que as
observações que me suscitam as esquerdas à esquerda do PS. Como o
(incessantemente) prometido irromper da “extrema direita” em Portugal não tem
irrompido, o Observador vai-lhes miseravelmente servindo (?) de pretexto. Coisa
pouca ética já se vê e, sobretudo, um tremendo mas muito conveniente abuso de
interpretação.
A
extrema esquerda radical — muito extremista e nada democrática, mais
desconstrutora que construtora, mais hipócrita que séria, mais oportunista que
convicta e vejam-se a “Europa”, a dívida, o euro, a Nato e tutti quanti –,
primeiro espantou-se (com o Observador), depois desconfiou, agora zangou-se. Agora
há só zanga e ódio sob a forma de atoardas patéticas que os vão entretendo mas
de todo preparando para um combate cultural e político que veio para ficar e os
apanhou na curva da sua própria surpresa. Talvez seja natural: há anos que
cultural e civilizacionalmente se embriagaram com uma overdose deles mesmos —
achando que “isto” é deles. Ei-los em galope veloz sobre temas
preferencialmente fracturantes no parlamento; com mão pesada e presente na
Educação (parece estar em curso a substituição da disciplina de História por
duvidosas pastilhas de “cidadania”, a deles, naturalmente); exímios praticantes
da ditadura do pensamento único e com nojo do pensar alheio; produtores de
ambiguidades várias; omnipresentes nos ecrans. Eles sorrirão com desprezo, eu
refiro apenas algumas alíneas da grande captura pela esquerda radical da outra
metade da democracia.
Diante
desta tela feia e mal pintada, tem porém vindo a surgir outra gente.
Desinstalada. Vindos uns do mais rotineiro e envelhecido perímetro partidário
do PSD e do CDS, outros ainda sem morada política. E sem fantasmas mas
definitivamente mais preocupados com as questões prévias do que com a espuma
dos dias, que o mesmo é dizer mais interpelados pelo país e menos em fazer
cerimónia com os protagonistas do costume: com Marcelo-empresário-de-si-mesmo (uma espécie de Senhor França, do Coliseu, de si
próprio); com os políticos do costume, com os algozes do costume. Gente nova,
outra gente. Não conheço nenhum (sei um ou outro nome, apenas de os ler), não
sei se estão preparados para uma empreitada difícil e longuíssima ou prontos
para um combate cultural. Sei o que é preciso: que estão aí.
3. Por
motivos profissionais andei mergulhada em textos e papéis sobre Francisco
Sá Carneiro. Foi quase brutal lembrar-me que
tinha apenas trinta e cinco anos quando em 1969 entrou na então Assembleia
Nacional e se sentou nas cadeiras destinadas à Ala Liberal, movimento que
previamente lhe exigira vontade política, fôlego e determinação para o fundar,
com alguns outros portugueses.
Em
1985 quatro rapazes dotados – José Miguel Júdice, José Manuel Durão
Barroso, Pedro Santana Lopes, Marcelo Rebelo de Sousa – eram novíssimos quando inventaram uma tendência no
PSD — onde todos militavam — chamada “Nova Esperança”. Uns tinham 27 anos, outros estavam muito longe dos
quarenta. Mas o interessante nesta história foi o que não os demoveu da
aventura: de cada vez que na altura se contavam espingardas o quarteto
contava apenas com 3% de votos. Três por cento em simpatia, ou no aparelho, ou
nas intenções de voto, fosse onde fosse. Nenhum se importou, continuaram. E a
Nova Esperança foi útil, chegou a ser indispensável nalgumas votações cruciais,
e serviu para muito. Não, não estou distraída nem esquecida dos erros onde
possam ter tropeçado ao longo dos trinta anos seguintes (e sabe Deus o que
sobre eles escrevi). Julgo simplesmente – e racionalmente – que o exemplo da
Nova Esperança – pelo que sinalizou de empenho e simbolizou de convicção — tem
de ser lembrado. Hoje, mais.
4.
Evocar os trinta e cinco anos de Francisco Sá Carneiro — no regime
autoritaríssimo de Marcelo Caetano — ou lembrar a velocidade ousada da Nova
Esperança amplia-me implacavelmente a pena que sinto neste momento: face à
anemia do país, à abulia da sociedade civil, à demisão das elites (?)
nacionais, ao deplorável comportamento da CIP e outras modestas cips. À mansa
quietude de uma misteriosa entrega à maior ficção portuguesa rodada desde Abril
de 74: esta, onde vivemos hoje. Só não se sabe ainda o que
pagaremos mais caro, se o argumento, se a produção.
E claro, pena pelo estarrecedor
estado das direitas baptizadas e já crescidinhas, PSD e CDS. O país zangou-se
com o modus faciendi da recente campanha eleitoral quando a campanha apenas
radicalizou o falhanço que vinha de trás, ao torná-lo transparente,
contabilizável. Indisfarçável, portanto. E trágico, claro.
Tirando
Lázaro não me ocorre muito mais gente que tenha ressuscitado das suas próprias
cinzas.
E
se daqui a quatro, cinco, seis meses se optar por mais do mesmo – tudo o indica
– a opção é suicidária.
Só
virão melhores dias se o espaço à direita do PS se juntar. Todo o espaço.
Para crescer, voltar a ser gente, repensar a vida, o país, o futuro, o que
andamos aqui a fazer. Que o mesmo é dizer, tratar da política. (E só assim se
trava, impede e seca os indesejáveis que podem ter a mesma ideia.)
COMENTÁRIOS
Natália Guerreiro Coinstâncio Fernandes: Boa
crónica que espelha bem o país por estes dias tenebrosos, em que a democracia
está adiada. Quase toda a comunicação social está refém de um governo com
tendências pouco democráticas e pouco transparentes. Essa é a razão por que a
direita está amordaçada e não porque haja crise nas direitas. Simplesmente
porque não tem voz! Costa tem tudo muito bem arquitectado e a comunicação
social no bolso! Se não fosse por isso, o estado lastimoso em que se encontra o
país, seria devidamente noticiado e a verdade vinha à tona! Assim, só quando
não puderem mesmo esconder, é que este povo anestesiado vai acordar do sono
induzido!
maria leonor Bettencourt: Sou
assinante do Observador, adoro ler as suas crónicas e de outras pessoas que
também as fazem, porque de resto não consigo ler nem ouvir as "chamadas
notícias das esquerdas" que por aí andam, que País triste e anestesiado.
chints CHINTS: A direita
ainda está complexada e encolhida. O melhor mesmo é o Costa ter uma vitória
estrondosa, ele e as bes. Rápidamente todos sentirão pobreza e fome. Precisam
de um jejum para aclararem ideias sobre a validade política de qualquer
esquerda.
Manuel Elias: Um artigo de
excelência. Vou já renovar a assinatura. Destaco: "deplorável
comportamento da CIP e outras modestas cips". As associações empresariais
venderam-se por umas migalhas que são distribuídas pelas grandes empresas. Já
aqui escrevi várias vezes, o pior legado deste governo vai ser o estado em que
vai deixar os pequenos empresários sobretudo do interior. Quem nos defende?
quem nos acode?
Marco Silva: Mas qual
direita ? Irra que é preciso viver num mundo à parte, para constantemente
chamar a partidos do centro e centro esquerda, de "direita"
NÃO
EXISTE DIREITA EM PORTUGAL! Comecem a viver na realidade e deixem o mundo da
fantasia criado pela esquerda, que através do controlo que tem dos media,
perpetua esta mentira e activamente demoniza a "direita" como se do
bicho papão se tratasse. Como já demonstrei várias vezes nestas secções de
comentários, a generalidade das pessoas nem sabe o que são politicas de
direita, no entanto criticam-nas. Já as politicas de esquerda, que nos trazem
bancarrotas, pobreza e miséria, recebem votos. É o que dá 45 anos de
doutrinação das esquerdas neste país. Se eu tivesse um cêntimo por cada vez que
nos jornais ou na TV, se referem ao centro e centro esquerda, como
"direita"....Apenas mostra quão radicais são as esquerdas, pois tudo
o que não seja radical como eles/as, é de "direita"... E o mais
extraordinário e demonstrativo da loucura das esquerdas neste país, é que
sociais democratas de outros paises são de facto centro esquerda...mas os
sociais democratas de portugal, devido à demência dos esquerdalhas, são de
"direita"
Paulo Silva > Marco Silva: Há uma crise porque o Regime uma vez aqui chegado, após
três bancarrotas, não tem mais para oferecer aos portugueses que o espectro
real de uma das maiores dívidas públicas do mundo… criada e alimentada ao longo
destes 45 anos a “abrir o caminho para uma sociedade socialista”. Passos
tentou ‘Mudar’ alguma coisa numa conjuntura aparentemente favorável, mas ao
mesmo tempo muito complicada, e a Esquerda instalada quis manter o paradigma do
Estado redistribuidor, um Estado que a todos dá o que tem, e o que não tem, ao
sabor das campanhas eleitorais (com todos dele a tudo quererem). Daí a espiral
de endividamento. E a crise é da Direita para as cabecitas...
A prioridade do Estado, a seguir à
Defesa e Segurança dos cidadãos, deveria ser a Criação da Riqueza… em vez da
sua redistribuição (justificada pelos dogmas da injustiça social): incentivar
quem cria, quem produz. Mas enquanto coisas como o ‘empreendedorismo’ e a
‘iniciativa privada’ forem abastardadas pelas donos do regime, nada feito.
Distribuição da riqueza acaba sempre em distribuição da pobreza. O modelo
político chinês não é flor que se cheire, mas esse foi o segredo para a 2ª
economia mundial. Deng Xiaoping começou por descolectivizar o campo, e assim o
empresarialismo rural floresceu...
Paulo Silva: Por mais que
os publicitários do pretenso ‘arco da Constituição’ tentem esconder, Rui Rio
está certo, a crise é mesmo do Regime como um todo, e veio definitivamente para
ficar com a inauguração da geringonça fracturando o ‘Centro’.... Em 2009 e 2011
para o PS era “quem ganha governa!”, mas em 2015 a liderança do partido
resolveu mudar de opinião e quebrar a tradição sem dar cavaco... até à noite
eleitoral. ‘Foice assim’ um importante pacto de regime...
Daí
cresceu a crise ao ‘Centro’, crise do Regime. Porque, como até Adão e Silva já
percebeu, as franjas aumentaram e, por ora, uma grande parte estará escondida
na abstenção. Há 20 anos PS e PSD tinham juntos 75%; hoje têm 55%, e esses são
os partidos do Regime, disse. A ‘vitória’ das Esquerdas (des)unidas num
contexto de grande abstenção, em que uma Direita assumida ainda não se chegou à
frente, deixa-lhes um sabor agri-doce que não as pode deixar tranquilas.
Percebem-se as hipócritas cautelas com que as Esquerdas estão a lidar com as
pouco protocolares declarações do sr. Presidente. Não por isso, mas por
perigosas de escorregadias…
Cara jornalista Maria João Avillez, pergunto. Alguém de Direita que se preze se revê numa ‘direita’ onda pontuam ditos como, “prefiro pior resultado eleitoral do PSD, a ficar com o rótulo de Direita”, ou “se não fosse por Sá Carneiro estaria no PS”?!… Estaremos de regresso ao PREC, ou quê?… Certamente que para os seus amigos uma ‘direita’ adormecida assim seria melhor… mas com o PS a açambarcar o Centro, com a ajuda da extrema-esquerda...
Cara jornalista Maria João Avillez, pergunto. Alguém de Direita que se preze se revê numa ‘direita’ onda pontuam ditos como, “prefiro pior resultado eleitoral do PSD, a ficar com o rótulo de Direita”, ou “se não fosse por Sá Carneiro estaria no PS”?!… Estaremos de regresso ao PREC, ou quê?… Certamente que para os seus amigos uma ‘direita’ adormecida assim seria melhor… mas com o PS a açambarcar o Centro, com a ajuda da extrema-esquerda...
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