sábado, 1 de junho de 2019

Mas está lançado



Digo, Francisco Guerreiro, o novo herói de um novo partido de reivindicadores da caridadezinha, naturalmente desestabilizadora, sob a sua capa virtuosa, de fraternidade universal que nos encaminha, uma vez mais, para lutas grevistas e outras que tais - não em louvor de Deus, como definiu S. Francisco de Assis no seu “Cantico delle Creature” (Séc. XIII), de afecto real por tudo o que existe, como presentes divinos – mas em “furo” oportunista de luta por um lugar ao sol da realização pessoal.
Uma crónica dos nossos tempos, de Alberto Gonçalves, que é o máximo em termos de realização satírica, de ler e reler, com riso sim. Com lágrimas também. Bem sublinhada pelos seus comentadores admiradores.
Como contraste, e descanso aprazível, releiamos o tal “Cantico delle Creature”, que a “sora Internet” nos fornece – com uma bondade a que seremos sempre gratos - a limpar-nos um pouco destes ares poluídos dos nossos tempos de multiplicidade de diversões e escolhas, tantas vezes descontroladas.

A natureza do PAN/premium
OBSERVADOR, 1/6/19
“Dono de dois gatos e um coelho, quer pôr as alterações climáticas no centro do debate.” Que significa isto? Que se fosse dono de duas osgas e um periquito o Francisco daria atenção ao Médio Oriente?
Até Domingo passado, eu nunca prestara atenção ao PAN, que tomei por um epifenómeno idêntico àquele sr. Sérgio dos reformados e às pulseiras do António Sala. Pelos vistos, 5,1% dos eleitores prestaram a atenção suficiente para votar no partido das Pessoas, dos Animais e da Natureza (na verdade, descontados os votos nulos, os votos em branco e a abstenção, nem sequer 1,3% das pessoas – dos animais e da natureza não sei – escolheram o PAN, do mesmo modo que a “grande vitória” do PS se deveu a 8,2% do eleitorado, a “direita” do costume rondou os 7% e o imparável BE parou nos 2,4%, mas esse é outro assunto).
Sempre ávido de participar nas últimas tendências, comprei um pólo verde acinzentado e li detalhados artigos sobre o eurodeputado do PAN e sobre o PAN. O eurodeputado chama-se (um momento, que estou a procurar o nome… Andava algures… Cá está!) Francisco Guerreiro, é vegan e tem dois gatos e um coelho. Aliás, “O eurodeputado vegan tem dois gatos e um coelho” é exactamente o título do artigo que o “Expresso” dedica ao rapaz. Não é um título particularmente informativo, a menos que consideremos informativos os títulos “O vereador sportinguista tem uma espondilose e quatro sobrinhos”, ou “O anestesista marreco tem um ‘time-sharing’ e o bacalhau de molho”. Enfim, jornalismo moderno.
E a modernidade jornalística prossegue quando se tenta explicar o impacto da fauna (a propósito, é coerente que um defensor dos animais e da natureza detenha a propriedade de bichos – e de arbustos, já agora?) do Francisco nas respectivas convicções: Dono de dois gatos e um coelho, quer pôr as alterações climáticas no centro do debate.O que significa isto? Que se fosse dono de cinco percevejos e três rinocerontes, as aflições do Francisco divergiriam para o conflito no Médio Oriente? E que se mantivesse em cativeiro duas osgas e um periquito o Francisco perderia o sono a pensar no drama da Huawei?
O retrato do Francisco não termina aqui. O Francisco é coerente. O Francisco tem um carro que só usa “quando não tem alternativa”, leia-se para “ir buscar a filha à escola” ou “calcorrear o país”, leia-se sempre que lhe dá jeito, leia-se à semelhança de toda a gente: eu também dispenso o carro para atravessar a rua – sou ambientalista e não sabia. O Francisco, que “tentará pagar um extra para compensar a pegada ecológica”, viajará de avião de e para Bruxelas “quase todas as semanas”, leia-se porque deixa cá a família para, cito, não a prejudicar, leia-se agirá de acordo com as suas conveniências, leia-se à semelhança de toda a gente: excepto os bandalhos que não “tentam” pagar “um extra” para “compensar” a “pegada ecológica”. O Francisco procura comprar roupa “apenas quando precisa”, “e geralmente em segunda mão”. O Francisco “recolhe lixo nos tempos livres”. O Francisco é uma jóia de moço, ou no mínimo convenceu-se disso. E esse é o problema.
Não há mal nenhum em que o Francisco se vista com roupa usada, apanhe lixo, coma relva, acarinhe chinchilas, utilize hipocritamente os transportes poluentes e, se assim o entender, saia à varanda em cuecas (herdadas do avô) para acumular água da chuva em tigelinhas recicláveis. O mal é o Francisco julgar que o seu comportamento é tão espectacular que constitui um exemplo a seguir pela humanidade em peso. Antes do PAN, o dilúvio. Depois do PAN, um cartaz da campanha traduz a modéstia do candidato e da candidatura: “Vamos sentar o planeta no Parlamento Europeu”. Do alto dos inúmeros delírios, o Francisco imagina mesmo que representa a Terra e não 168 mil alminhas.
E quem diz o Francisco diz o PAN em geral, cujas crenças, no sentido religioso do termo, não mereceriam comentário se assumidamente se limitassem aos membros e simpatizantes da seita. Sucede que não limitam. O PAN é livre de abominar os transgénicos e os respectivos benefícios. O PAN é livre de presumir que as “medicinas alternativas” são uma coisa autêntica e não uma impostura do gabarito da tarologia. O PAN é livre de preferir curar a enxaqueca com camomila no lugar de Zomig. O PAN é livre de trocar proteínas animais por alcachofras e tofu. O PAN é livre de não apreciar sacos de plástico e carregar as compras na cabeça. O PAN é livre de sentir cócegas com os combustíveis fósseis. O PAN é livre de acreditar nos méritos, e na viabilidade, de providenciar um salário aos que recusam trabalhar. O PAN é livre de ponderar a saída do euro. O PAN é livre de sonhar com o indicador da Felicidade Interna Bruta. O PAN é livre de, sob o verniz “urbano” e fofinho, ser bruto como as casas.
A chatice, e o perigo, é que o PAN não se satisfaz em passear ignorância sem um remoto vínculo à realidade. O PAN, que é para a ciência (e para a economia) o que o BE é para a economia (e para a ciência) quer, e aos poucos tem ajudado a conseguir, que a ignorância, a crendice e a superstição cheguem à lei. O PAN devia ser livre de tudo, não devia ser livre de interferir na liberdade alheia através de alucinações. A última palavra ao Francisco: “O nosso caderno de encargos é muito exigente”. De facto, exige uma imensa propensão para o atraso de vida.

COMENTÁRIOS
Cipião Numantino: Hoje ao AG deu-lhe para isto. E palavra de honra que quando desatou a falar no Francisco eu até pensei estar ao referir-se ao outro. Estão a ver aquele protector de algumas seitas, comunistas de preferência, falando-lhe do alto da sua sapiência outorgada pelo divino de que os Papas se julgam mensageiros na Terra? Mas não, era um outro Chico. Provavelmente ainda mais convencido e místico do que aquele. Um tenta salvar as almas, o outro, primando ainda mais por uma basófia alucinada, é mais imodesto e pasmem pretende mesmo salvar o Mundo!
Isto vai de mal a pior, meus caros. E desconfio que fui teletransportado, sem me dar conta, para um mundo paralelo onde o ridículo campeia, a alucinação faz competente escol e algumas gentes que me rodeiam parecem haver sido trepanadas convolando-as em permanentes émulos psicológicos de um qualquer Frankenstein.
Já nada me parece fazer sentido. E piamente acredito que a tendência será para piorar.
Conheço algumas fundamentalistas (eu ia a dizer maluquinhas) desta tara psicológica que se dizem protectoras dos animais. Ambas licenciadas (uma delas tem a faculdade de nos pôr a ver o sol aos quadradinhos), ambas exclusivamente comedoras de alfaces e afins e, finalmente, ambas certamente urbano-depressivas como magistralmente catalogou os prosélitos da seita, o controverso Miguel Sousa Tavares. O seu hobby nos fins de semana é irem limpar canis municipais, num fetiche mais que mórbido e difícil de entender. Uma não sei, mas a outra é uma inveterada comuna o que indiciará que muita da proselitagem do PAN beberá ideologicamente do caldo marxista. Entradotas já na idade, desconfio que ambas ficarão para tias já que socialmente entenderão que se sentem melhor a lidar com cães e gatos e terão provavelmente horror a crianças ou mesmo a elementos da peste grisalha.
Certamente que nem todas as pessoas que votaram PAN serão como estas. E haverá seguramente quem vote por compaixão para com o sofrimento real que incide sobre muitos animais. Mas também não posso esquecer que alguns destes votantes exclamarão por aí que confiam mais nos animais do que em pessoas, num sentimento anti-social que além de censurável revelará uma psicopatologia agravada que tornará estas pessoas mais conformes a estagiarem ad eternum num qualquer hospício psiquiátrico.
Há muita gente doente por aí. E maluca, também.
Já não nos bastava a comunada para virar esta poorra de país de pernas para o ar e ainda nos toca em sorte gente de tal calibre fundamentalista que ainda aqui há um par de anos violavam direitos de cidadania, assaltavam propriedades e deitavam mão a bens alheios no efeito e na forma de roubo e sequestro de animais domésticos. Refiro-me obviamente aos Rambos encapuçados do acrónimo IRA, dignos continuadores dos métodos odiosos e asquerosos do Ku-Klux-Klan!
Deus nos livre de tais maluquinhos. E das suas mais que evidentes taradices e maluqueiras!...
Tiago Queirós: Ora... um deleite. A PANdilha exposta para todo o mundo ver.
Liberal Impenitente: Estão na moda em política, as alucinações. Elas são a norma noutro domínio, o das religiões, e até podem ser postas por vezes a bom uso. Já um Estado cujo 'élan' transformador se baseia em alucinações só pode ser visto como um pesadelo. Pouco importa se são as alucinações de um "querido dirigente" ou de uma turba de "salvadores do planeta".

Il Cantico delle Creature o “Cantico di Frate Sole”
San Francesco d’Assisi
(Adaptado ao italiano moderno)
«Altissimo, Onnipotente Buon Signore, tue sono le lodi, la gloria, l'onore e ogni benedizione.
A te solo, Altissimo, si addicono e nessun uomo è degno di menzionarti.
Lodato sii, mio Signore, insieme a tutte le creature, specialmente il fratello sole, il quale è la luce del giorno, e tu tramite lui ci illumini. E lui è bello e raggiante con un grande splendore: simboleggia Altissimo la tua importanza.
Lodato sii o mio Signore, per sorella luna e le stelle: in cielo le hai formate, chiare preziose e belle.
Lodato sii, mio Signore, per fratello vento, e per l'aria e per il cielo; quello nuvoloso e quello sereno, ogni tempo tramite il quale alle creature dai sostentamento.
Lodato sii mio Signore, per sorella acqua, la quale è molto utile e umile, preziosa e pura.
Lodato sii mio Signore, per fratello fuoco, attraverso il quale illumini la notte. È bello, giocondo, robusto e forte.
Lodato sii mio Signore, per nostra sorella madre terra, la quale ci dà nutrimento e ci mantiene: produce diversi frutti variopinti, con fiori ed erba.
Lodato sii mio Signore, per quelli che perdonano in nome del tuo amore, e sopportano malattie e sofferenze.
Beati quelli che sopporteranno ciò serenamente, perché dall'Altissimo saranno premiati.
Lodato sii mio Signore per la nostra sorella morte corporale, dalla quale nessun essere umano può scappare, guai a quelli che moriranno mentre sono in situazione di peccato mortale.
Beati quelli che la troveranno mentre stanno rispettando le tue volontà. La seconda morte, non farà loro alcun male.
Lodate e benedite il mio Signore, ringraziatelo e servitelo con grande umiltà.»



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