Salles da Fonseca termina em
grande, neste seu propósito de esclarecer a res publica da
actualidade, recuando aos seus inícios nietzchianos, de nihilismo e
manipulação, que breve descambou em guerras de prepotência e governos de
ditadura – nazismo, fascismo, comunismo, aparentemente para benefício dos povos,
mas retirando-lhes valores imutáveis de dignificação humana, como Camus faria
sentir a Sartre, condenando o existencialismo sem preconceito (e sem Deus)
deste último, que causou o arrefecimento de relações entre eles. Sim, talvez se
esteja a criar uma sociedade de prepotência governativa, o povo deixando-se
manipular, no engodo dos aumentos e outras resoluções aparentemente reais, enganado
por protestos de sinceridade que não contêm senão hipocrisia, falsidade e ambição
de poder, deste “homem novo”, liberto do preconceito de honestidade, como demonstrara,
ao apoderar-se, em tempos, do governo pela fraude.
Salles da Fonseca adverte, e
traduz, do inglês, obra sábia, para melhor esclarecimento nosso. O nosso
reconhecimento pela riqueza da sua informação, que poderia, de facto,
tornar-nos mais conscientes, caso não se sobrepusessem, em nós, outros
interesses, que a esquerda, unida ou não, mostra defender, está visto que por
interesse nas migalhas com que Costa a aliciou. Salles da Fonseca sente-se ainda com garra para defender o seu país, se
este descambar para uma ditadura de esquerda, mas seria um homem só, acomodados
que somos, de longa data a vergar a cerviz…
HENRIQUE SALLES DA FONSECA A BEM DA NAÇÃO, 07.06.19
IN FINE
Eu
às vezes temo ...
Eu
às vezes temo que as pessoas pensem que o fascismo chega em trajes
extravagantes usados por personagens grotescas e monstros como actores em peças
teatrais nazis. O fascismo chega como se fosse um amigo, dizendo que restaurará
a honra, fará sentirmo-nos orgulhosos, protegerá as nossas casas, dará
empregos, limpará a vizinhança, lembrar-nos-á de quão grandes já fomos,
escorraçará os corruptos, removerá qualquer coisa que nos incomode. Mas
certamente não dirá que "O nosso programa significa milícias, prisões em
massa, deslocação de populações, guerra”. 23 de Abril de 2014
Michael Rosen. Minha tradução a partir do
original inglês em https://michaelrosenblog.blogspot.com/2014/04/i-sometimes-fear.html * * * «Uma vez que o velho Deus
abdicou, governarei o mundo doravante» - assim apregoava Nietzsche,
o pai do niilismo.
*
* *A era niilista manifestou-se muito antes do que o filósofo
imaginara: catorze anos depois da sua morte iniciou-se a Primeira Guerra
Mundial e depois dela a Europa ficou nas garras do fascismo, do comunismo e do
nazismo. E pouco tempo depois da primeira, sofreu outra guerra pior ainda que a
anterior. Desprezada
a Civilização no que ela continha de valores perenes dando corpo à dignidade
humana, a violência triunfou sobre a verdade e sobre a bondade. Dezenas de
milhões de vidas foram aniquiladas sob o aplauso de dezenas de milhões de
admiradores da violência. Sim, porque o niilismo só pode conduzir à ditadura, à
violência e à aniquilação.
E como começou ele?
Perante o igualitarismo, todos
têm razão, a ninguém é reconhecido o estatuto de sábio e tudo o que se apresente
difícil é considerado antidemocrático; morto o conceito de que «o peso material
determina o valor do oiro e o peso moral determina o valor do homem», a matéria
reina e o dinheiro é a divindade suprema. Moral? A cada um, a sua.
- O que é
bom para o oiro é bom para ti! Comercializa-te, adapta-te! Tudo o que te torna
mais rico é útil; o que não for divertido é inútil e pode desaparecer.
Cada um que se valha a si
próprio e os outros que «se virem» se conseguirem e, se não, tanto melhor pois
mais fica para o vencedor entesourar.
Eis
um conjunto de indivíduos que tudo fazem para vingar individualmente em
prejuízo do próximo. A inveja ganha adeptos.
Só que isto não é uma sociedade e muito menos uma Civilização. E onde não há
coesão social, todos se sentem desamparados. Mas o desamparo é desconfortável.
O desconforto gera a queixa e sempre acaba por conduzir à busca de soluções
para se regressar a alguma situação assemelhável a conforto.
Assim se reúnem os ingredientes
suficientes para que apareça um caudilho com promessas cujos méritos os
desamparados não querem sequer questionar. E a ditadura, sempre radical, gera a
violência e esta é a destruição.
Foi depois de muita desgraça
que na tarde de 29 de Outubro de 1946, Albert Camus perguntou ao anfitrião
André Malraux e ao grupo de outros convidados em que se destacava Jean-Paul
Sartre – todos nascidos no niilismo e no
materialismo histórico - se não achavam serem eles próprios, naquela sala,
os maiores responsáveis pela falta de valores na Europa ocidental e se não
estaria na hora de declararem abertamente que estavam errados, que os valores
morais existem realmente e que doravante tudo fariam para restabelecer e
clarificar esses princípios perenes e quiçá eternos. «Não acham que seria o
princípio para o regresso de alguma esperança?»
E hoje?
Ah!,
hoje, a História é a mesma que há muito Camus descreveu, a do triunfo do
niilismo a que muito provavelmente se poderá seguir o fascismo. E isso, nós, os
filhos dos ventos cálidos, não queremos. Cumpre-nos evitá-lo meditando…
*
* *
Com
a História aprende-se, mas é preciso conhecê-la; quem não conhece a História,
corre o risco de repetir os erros do passado em vez de os evitar.
E o que nos conta a História?
Conta-nos
que à amoralidade se segue a brutalidade, à lassidão se segue o aperto, ao
esbanjamento se segue a austeridade, à autocracia se segue a volúpia populista.
E
se de todos estes parâmetros já temos que baste, atentemos nas soluções que
se impõem:
Reponhamos a formação política como
missão essencial dos Partidos democráticos se não quisermos cair no fascismo;
Ponhamos
à prova o que cada Partido (democrático) entende ser o bem-comum se não
quisermos continuar a entediar os cidadãos e a engrossar a abstenção;
Reponhamos
a ética da compaixão nas relações individuais e a de sentido de Estado nas
relações colectivas se não quisermos cair nalguma sharia que nos seja
imposta por estranhos radicais;
Criemos uma democracia muito mais
directa nos Partidos do arco democrático se não quisermos dar força ao
populismo. * * *
Nós, os filhos dos ventos
cálidos, nascidos na paz e criados no sonho, não estamos preparados para a
queda de mais um ideal e já não temos idade para nos envolvermos directamente
nas cenas de estalada brava se aí vier o fascismo, mas…
TENHO DITO!
(por enquanto…)
Junho de 2019
Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS:
Henrique Salles da Fonseca, 07.06.2019: E
disse VEXA muito bem. António Palhinha Mahado
Henrique Salles da Fonseca 07.06.2019: Parabéns
pelo seu excelente texto. António Souza Cardozo
Manuel Menezes, 07.06.2019: Bem
pensado e bem dito, Henrique. Um abraço. M
Francisco G. de Amorim 07.06.2019: Estou em crer que já houve alguém, há muito tempo que
disse algo parecido. Seria Thomas More? E mudou para melhor ou isto vai de
"vento em proa", d'arrecuas para trás?
Henrique Salles da Fonseca 07.06.2019: As considerações de um apolítico são o diário de
Thomas Mann durante a primeira guerra de mundo. Pela primeira vez, ele se
comprometeu na luta ideológica para exaltar os valores que lhe pareciam
ameaçados. Thomas Mann defende aqui uma "certa ideia da Alemanha"
que segurou fortemente no coração. Ele vai para os lugares virtuosos
comuns da propaganda dos aliados, campeões da democracia, e ele afirma que há
uma oposição irredutível entre a cultura como ele ouve e a
"civilização" de seus adversários. A cultura
cuida da alma, é específica do país e atende ao indivíduo. A civilização,
preocupada com o progresso material e técnico, é internacional e só está
interessada nas massas. Ela nos leva
directo ao reinado do cupizeiro. Este panfleto antidemocrático às vezes se transforma
em uma defesa altamente questionável do nacionalismo alemão, mas também contém
um elogio de ironia e páginas impressionantes sobre filósofos como Schopenhauer
e Nietzsche, músicos como Wagner e Bizet, escritores como Tolstoi, Dostoievsky,
Flaubert, Claudel, Romain Rolland - e sobre Thomas Mann ele mesmo, que
confidenciou suas intenções escrevendo o Buddenbrook, Tonio Kröger, Alteza real
e Morte em Veneza. No total, um livro que se presta a discussão e protesto,
um documento crucial sobre uma crise da civilização.
Francisco Gomes de Amorim
Francisco Gomes de Amorim
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