terça-feira, 25 de junho de 2019

Quem sabe sabe



VPV e a seriedade das suas opiniões, apoiadas na subjectividade do seu confronto com a vida e na inteligência crítica das suas incursões na História. Eu também não posso ver e ouvir Ana Gomes sem um ou mais arrepios. “Temperamento policial” o dela: um achado metafórico de requinte, quanto a mim.
OPINIÃO
Diário
VASCO PULIDO VALENTE
PÚBLICO, 23/6/19
A opinião pública continua indignada com Vítor Constâncio. Mas parece que toda a gente já se esqueceu que ele foi secretário-geral do PS; e que lá chegou com o apoio do grupúsculo de Jorge Sampaio e do “ex-secretariado”, que via em Soares o seu inimigo principal.
22 de Junho de 2019: Esta semana, houve uma polémica sobre se Portugal deve, ou não deve, ter um “desígnio”. É o mundo de pernas para o ar. Portugal deve ter, e tem, um desígnio. Basta pegar num jornal ou ligar a televisão para verificar que sim. Todos os portugueses querem fervorosamente viver “como na Europa”. Um objectivo meritório. Pena que seja impossível.
16 de Junho: Não posso ver Ana Gomes sem um arrepio. Desde Fouché que a humanidade não produzia um temperamento policial como o dela.
17 de Junho: O PS, o Bloco e o PCP continuam engalfinhados por causa das PPPs da saúde. É evidente que o objecto desta querela não tem nada a ver com a saúde. Nem sequer com a imagem que a esquerda quer dar de si mesma. As PPPs são para o Bloco um inimigo que tem de ser eliminado na grande marcha do socialismo para o Estado absoluto. Com um pé na democracia liberal, o Partido Socialista ainda resiste debilmente a este destino.
18 de Junho: A opinião pública continua indignada com Vítor Constâncio. Mas parece que toda a gente já se esqueceu que ele foi secretário-geral do PS; e que lá chegou com o apoio do grupúsculo de Jorge Sampaio e do “ex-secretariado”, que via em Soares o seu inimigo principal.
Foi desse miasma que ele saiu, amolgado, e foi esse miasma que o promoveu, passo a passo, do anonimato a ministro da Finanças, a herdeiro presuntivo de Soares, a dono do partido e a governador do Banco de Portugal. Quando chegou o momento de pôr na ordem a CGD, ele já tinha anos de olhar para o lado e de esquecimentos providenciais. Não se entra no alto funcionalismo português de outra maneira. Quem o conhece sabe muito bem.
19 de Junho: Donald Trump anunciou a sua recandidatura a presidente. É curioso que a esquerda portuguesa, do Bloco ao PSD, ande pela televisão a prever que ele vai ganhar. Só agora é que percebeu o sarilho em que está metida.
Trump vive da hipocrisia e da má-fé do que ele chama “fake news”. Hoje em dia, não se consegue ligar a CNN sem cair numa diatribe falsa ou malevolente contra ele. O instinto é recusar o abuso e ficar do lado contrário. E, sobretudo, contra o clã engravatado que se acha depositário da suprema sapiência do mundo.
20 de Junho: A propósito do Irão ter abatido um drone americano, Donald Trump repetiu que nenhuma grande potência se deixa envolver numa guerra interminável. Está muito enganado. Roma, a maior potência da história do Ocidente, muito maior do que a América, teve uma guerra interminável com a Germânia; e a Germânia acabou por vencê-la.
Trump não tem a vantagem de uma cultura clássica.
21 de Junho: A questão das maternidades revela muita coisa sobre a situação do nosso Estado Social. Não há médicos, não há anestesistas, não há enfermeiros, não há camas e não há equipamento. O que, sobretudo, não há são carreiras (as que há já não servem), facilidade de recrutamento (não se abrem concursos) e, em geral, dinheiro para pagar a quem trabalha.
Médicos e enfermeiros recém-formados, ou já com a especialização, preferem ao SNS ir para o privado ou emigrar, e até ficar em Portugal como tarefeiros (ganham mais). Mas, perante isto, a esquerda elegante indigna-se porque António Costa anunciou que pretende dar aumentos “substanciais” aos quadros superiores do Estado. A mais densa estupidez cobre tudo.
Colunista
COMENTÁRIOS
rafael.guerra.www, www 23.06.2019: A Ana Gomes dá-lhe arrepios enquanto que o seu instinto mais básico é de se alinhar com Donald Trump. A velhice para VPV é verdeiramente um naufrágio.
Espectro, Matosinhos 22.06.2019: Ponto prévio: O dr. Pulido deveria actualizar a fotografia - não faz sentido colocar uma fotografia com, pelo menos, mais de 40 anos! Quanto ao seu Diário: Tudo como dantes no quartel-general em Abrantes. Tanto as crónicas do dr. Pulido como os discursos do sr. Jerónimo de Sousa podem ser reproduzidos pela k7 do primeiro de todos sem correr o risco de os falsear.LOL
FS, Lisboa 22.06.2019: Como é verdade: "A opinião pública continua indignada com Vítor Constâncio. Mas parece que toda a gente já se esqueceu que ele foi secretário-geral do PS; e que lá chegou com o apoio do grupúsculo de Jorge Sampaio e do “ex-secretariado”, que via em Soares o seu inimigo principal. Foi desse miasma que ele saiu, amolgado, e foi esse miasma que o promoveu, passo a passo, do anonimato a ministro da Finanças, a herdeiro presuntivo de Soares, a dono do partido e a governador do Banco de Portugal. Quando chegou o momento de pôr na ordem a CGD, ele já tinha anos de olhar para o lado e de esquecimentos providenciais. Não se entra no alto funcionalismo português de outra maneira. Quem o conhece sabe muito bem."
Visitante da Noite, En un lugar de La Mancha, ou por aí perto 22.06.2019: VPV é a favor das PPP's exactamente pela mesma razão que o BE e PCP são contra: questões dogmáticas.
CARLOS HORTA, Porto 22.06.2019: Boa referência a Fouché, o polícia e político da Revolução Francesa, que mudava de casaco com cada governo e ficava sempre de pé. A sua figura é hoje ainda actual.
Sima Qian, China 22.06.2019: Comparar Ana Gomes só mostra erudição. Mais nada. É preciso acautelar-nos de más informações históricas. Roma não teve uma longa guerra com a Germania, pois esta não existia. O que existia era a província romana da Germania a quem o grande historiador romano Tácito dedicou uma obra. Também houve, por outro lado, muitas lutas / guerras com tribos bárbaras germânicas. Se Roma e o Imperium Romanum acabou invadida por tribos germânicas, estas eram diversas e não obedeciam a um plano conjunto.
Visitante da Noite, En un lugar de La Mancha, ou por aí perto 22.06.2019: E não foram só tribos germânicas mas também hunas as que derrubaram Roma. Acho que VPV sabe disso. Mas gosta de provocar. Como quando diz que Trump não tem cultura clássica.
Visitante da Noite, En un lugar de La Mancha, ou por aí perto 22.06.2019: E não foram só tribus germânicas mas também hunas as que derrubaram Roma. Acho que VPV sabe disso. Mas gosta de provocar. Como quando diz que Trump não tem cultura clássica.
Manuel Brito, LISBOA 22.06.2019: É a realidade, não é provocação. Aliás não tem qualquer cultura, nem clássica nem de nenhuma outra espécie. Além de tudo o resto, é um novo rico grosseiro e ignorante.
cisteina, Porto 22.06.2019: VPV tem razão, foram os germânicos que mais deram água pela barba aos romanos. Se leu Tácito (penso que sim, é ele que escreve melhor sobre esse povo difuso e confuso a que chamamos Germânicos (e ainda sobrevive, poderia até compará-lo com o outro mais a ocidente, no cabo do mundo, os lusitanos). Mas leia "A mais breve História da Alemanha", de James Hawes, saiu em março, vai ver que VPV está certo, "não gosta de provocar" (Visitante da Noite) ou, se gosta (tem por vezes um humor verrinoso) não o fez agora, é um historiador.
Sima Qian, China 22.06.2019 Visitante da noite:  os hunos nunca chegaram a Roma. Cisteina, como eu disse, os romanos lutaram contra tribos e povos germânicos mas não contra uma entidade nacional chamada Germania, como VPV afirma, o que leva os leitores ao engodo.
Visitante da Noite, En un lugar de La Mancha, ou por aí perto 22.06.2019: Não escrevi tal coisa. Releia por favor.


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