VPV e a seriedade das suas opiniões,
apoiadas na subjectividade do seu confronto com a vida e na inteligência
crítica das suas incursões na História. Eu também não posso ver e ouvir Ana Gomes
sem um ou mais arrepios. “Temperamento
policial” o dela: um achado metafórico de requinte, quanto a mim.
OPINIÃO
Diário
VASCO PULIDO VALENTE
PÚBLICO, 23/6/19
A opinião pública continua indignada com
Vítor Constâncio. Mas parece
que toda a gente já se esqueceu que ele foi secretário-geral do PS; e que lá
chegou com o apoio do grupúsculo de Jorge Sampaio e do “ex-secretariado”,
que via em Soares o seu inimigo principal.
22 de Junho de 2019: Esta semana, houve uma polémica sobre se Portugal
deve, ou não deve, ter um “desígnio”. É o mundo de pernas para o ar. Portugal
deve ter, e tem, um desígnio. Basta pegar num jornal ou ligar a televisão para
verificar que sim. Todos os portugueses querem fervorosamente viver “como na
Europa”. Um objectivo meritório. Pena que seja impossível.
16 de Junho: Não posso ver Ana Gomes sem um arrepio. Desde Fouché
que a humanidade não produzia um temperamento policial como o dela.
17 de Junho: O PS, o Bloco e o PCP continuam engalfinhados por
causa das PPPs da saúde. É
evidente que o objecto desta querela não tem nada a ver com a saúde. Nem sequer
com a imagem que a esquerda quer dar de si mesma. As PPPs são para o Bloco um
inimigo que tem de ser eliminado na grande marcha do socialismo para o Estado
absoluto. Com um pé na democracia liberal, o Partido Socialista ainda resiste
debilmente a este destino.
18 de Junho: A opinião pública continua indignada com Vítor Constâncio. Mas parece
que toda a gente já se esqueceu que ele foi secretário-geral do PS; e que lá
chegou com o apoio do grupúsculo de Jorge Sampaio e do “ex-secretariado”, que
via em Soares o seu inimigo principal.
Foi
desse miasma que ele saiu, amolgado, e foi esse miasma que o promoveu, passo a
passo, do anonimato a ministro da Finanças, a herdeiro presuntivo de Soares, a
dono do partido e a governador do Banco de Portugal. Quando chegou o momento de
pôr na ordem a CGD, ele já tinha anos de olhar para o lado e de esquecimentos
providenciais. Não se entra no alto funcionalismo português de outra maneira.
Quem o conhece sabe muito bem.
19 de Junho: Donald Trump anunciou a sua recandidatura a presidente. É curioso que a esquerda portuguesa, do Bloco ao
PSD, ande pela televisão a prever que ele vai ganhar. Só agora é que percebeu o
sarilho em que está metida.
Trump
vive da hipocrisia e da má-fé do que ele chama “fake news”. Hoje em dia, não se
consegue ligar a CNN sem cair numa diatribe falsa ou malevolente contra ele. O
instinto é recusar o abuso e ficar do lado contrário. E, sobretudo, contra o
clã engravatado que se acha depositário da suprema sapiência do mundo.
20 de Junho: A propósito do Irão ter abatido um drone americano, Donald
Trump repetiu que nenhuma grande potência se deixa envolver numa guerra
interminável. Está muito enganado. Roma, a maior potência da história do
Ocidente, muito maior do que a América, teve uma guerra interminável com a
Germânia; e a Germânia acabou por vencê-la.
Trump
não tem a vantagem de uma cultura clássica.
21 de Junho: A questão das maternidades revela muita coisa sobre a situação do nosso Estado
Social. Não há médicos, não há anestesistas, não há enfermeiros, não há camas e
não há equipamento. O que, sobretudo, não há são carreiras (as que há já não
servem), facilidade de recrutamento (não se abrem concursos) e, em geral,
dinheiro para pagar a quem trabalha.
Médicos
e enfermeiros recém-formados, ou já com a especialização, preferem ao SNS ir
para o privado ou emigrar, e até ficar em Portugal como tarefeiros (ganham
mais). Mas, perante isto, a esquerda elegante indigna-se porque António Costa
anunciou que pretende dar aumentos “substanciais” aos quadros superiores do
Estado. A mais densa estupidez cobre tudo.
Colunista
COMENTÁRIOS
rafael.guerra.www,
www 23.06.2019: A Ana Gomes
dá-lhe arrepios enquanto que o seu instinto mais básico é de se alinhar com
Donald Trump. A velhice para VPV é verdeiramente um naufrágio.
Espectro, Matosinhos 22.06.2019: Ponto prévio: O dr. Pulido deveria actualizar a
fotografia - não faz sentido colocar uma fotografia com, pelo menos, mais de 40
anos! Quanto ao seu Diário: Tudo como dantes no quartel-general em Abrantes.
Tanto as crónicas do dr. Pulido como os discursos do sr. Jerónimo de Sousa
podem ser reproduzidos pela k7 do primeiro de todos sem correr o risco de os
falsear.LOL
FS, Lisboa 22.06.2019:
Como é verdade: "A opinião pública
continua indignada com Vítor Constâncio. Mas parece que toda a gente já se
esqueceu que ele foi secretário-geral do PS; e que lá chegou com o apoio do
grupúsculo de Jorge Sampaio e do “ex-secretariado”, que via em Soares o seu
inimigo principal. Foi desse miasma que ele saiu, amolgado, e foi esse miasma
que o promoveu, passo a passo, do anonimato a ministro da Finanças, a herdeiro
presuntivo de Soares, a dono do partido e a governador do Banco de Portugal.
Quando chegou o momento de pôr na ordem a CGD, ele já tinha anos de olhar para
o lado e de esquecimentos providenciais. Não se entra no alto funcionalismo português
de outra maneira. Quem o conhece sabe muito bem."
Visitante
da Noite, En un lugar de La Mancha, ou por aí
perto 22.06.2019: VPV é a favor
das PPP's exactamente pela mesma razão que o BE e PCP são contra: questões
dogmáticas.
CARLOS
HORTA, Porto 22.06.2019: Boa
referência a Fouché, o polícia e político da Revolução Francesa, que mudava de
casaco com cada governo e ficava sempre de pé. A sua figura é hoje ainda actual.
Sima
Qian, China 22.06.2019: Comparar
Ana Gomes só mostra erudição. Mais nada. É preciso acautelar-nos de más
informações históricas. Roma não teve uma longa guerra com a Germania, pois
esta não existia. O que existia era a província romana da Germania a quem o
grande historiador romano Tácito dedicou uma obra. Também houve, por outro
lado, muitas lutas / guerras com tribos bárbaras germânicas. Se Roma e o
Imperium Romanum acabou invadida por tribos germânicas, estas eram diversas e
não obedeciam a um plano conjunto.
Visitante da Noite, En un lugar
de La Mancha, ou por aí perto 22.06.2019: E não foram só tribos germânicas
mas também hunas as que derrubaram Roma. Acho que VPV sabe disso. Mas gosta de
provocar. Como quando diz que Trump não tem cultura clássica.
Visitante
da Noite, En un lugar de La Mancha, ou por aí perto 22.06.2019:
E não foram só tribus germânicas mas
também hunas as que derrubaram Roma. Acho que VPV sabe disso. Mas gosta de
provocar. Como quando diz que Trump não tem cultura clássica.
Manuel
Brito, LISBOA 22.06.2019: É a realidade, não é provocação. Aliás não tem qualquer
cultura, nem clássica nem de nenhuma outra espécie. Além de tudo o resto, é um
novo rico grosseiro e ignorante.
cisteina, Porto 22.06.2019:
VPV tem razão, foram os germânicos que
mais deram água pela barba aos romanos. Se leu Tácito (penso que sim, é ele que
escreve melhor sobre esse povo difuso e confuso a que chamamos Germânicos (e
ainda sobrevive, poderia até compará-lo com o outro mais a ocidente, no cabo do
mundo, os lusitanos). Mas leia "A mais breve História da Alemanha",
de James Hawes, saiu em março, vai ver que VPV está certo, "não gosta de
provocar" (Visitante da Noite) ou, se gosta (tem por vezes um humor
verrinoso) não o fez agora, é um historiador.
Sima
Qian, China 22.06.2019 Visitante da noite: os hunos nunca
chegaram a Roma. Cisteina, como eu disse, os romanos lutaram contra tribos e
povos germânicos mas não contra uma entidade nacional chamada Germania, como
VPV afirma, o que leva os leitores ao engodo.
Visitante
da Noite, En un lugar de La Mancha, ou por aí
perto 22.06.2019: Não escrevi
tal coisa. Releia por favor.
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