Helena
Ramos analisa. Uma sua comentadora – Amélia Reis – entre os cerca de 200, grande parte
interagindo em disputas mais ou menos exibicionistas dos seus talentos ou dos
seus protestos – comenta, com previsão e eficácia, a extrema qualidade da
cronista, como observadora crítica e boa psicóloga das habilidades governativas
dirigidas a uma populaça sua admiradora embasbacada, e acrescentando as perspectivas
de todos estes bailados de incertezas e passa-culpas, acompanhados da
costumeira falta de transparência, que muito enganam a quem pouco sabe. Ouçamos,
para distrair, a canção cantada por Andrea
Boccelli e uma sua companheira, descontextualizando, é certo - o desespero em
causa própria:
Y así
pasan los días Y yo, desesperando Y tú, tú contestando: Quizás, quizás, quizás
(Quizás, quizás, quizás) Quizás, quizás, quizás...
Os putos: primeiro divertiram-se. Depois montaram um
show ilusionista. Agora estão aterrados./premium
António Costa quis “deixar
claro” que, se algo falhar, a culpa não será sua. Em seguida abandonou a
reunião. O Presidente mostrava-se incrédulo. O show ilusionista de Marcelo
& Costa demoronou-se.
HELENA RAMOS,
Colunista do Observador
OBSERVADOR, 28 jun 2020
Há
momentos assim. Inesperados. Aparentemente simples. E contudo acabam a
avisar-nos das grandes mudanças. São eles que marcam o antes e o depois. Um desses momentos aconteceu esta semana quando o primeiro-ministro
abandonou a reunião no Infarmed depois de ter querido “deixar claro” que, se
algo falhar no combate à pandemia, a culpa não será sua. Não sei o
que é mais trágico se num momento tão grave para o país, a preocupação do
primeiro-ministro ser “deixar claro” que, se algo falhar no combate à pandemia,
a culpa não será sua (isso quer dizer que se algo correr bem os louros serão de
quem?), se o facto de António Costa acreditar que tal é possível.
Seja como for, o show ilusionista de
Marcelo & Costa acabou. E os protagonistas ficaram subitamente expostos: o
encontro com a realidade que contornaram nos incêndios de 2017, no assalto ao
paiol de Tancos, na degradação do SNS que aconteceu muito antes da chegada do
Covid, no processo tortuoso que usaram para afastar Joana Marques Vidal da PGR,
esse encontro estava agora ali à sua frente, naquela reunião no Infarmed.
O
primeiro-ministro agarra-se agora às palavras com o desespero detalhista de
quem sente escapar-lhe a abordagem global. Ter-se-á irritado com a, por assim
dizer, errática ministra da Saúde que teve o azar de proferir a palavra
confinamento durante a sua intervenção na reunião do Infarmed. Entende agora
António Costa que o país não esteve confinado porque houve sectores que
continuaram sempre a trabalhar. Mas então estivemos o quê? E se fizermos como Marta Temido,
aceitando o puxão de orelhas do senhor primeiro-ministro e passarmos
a dizer que o país esteve a brincar às escondidas, qual é a diferença dessa
mudança de terminologia para o país, além da notória figura de parvos que
aceitamos desempenhar?
Obviamente
Marta Temido foi apenas o alvo mais fácil e também o alvo possível para a
irritação de António Costa que na verdade não podia reagir da mesma forma às
intervenções dos técnicos do Instituto Ricardo Jorge e da DGS. Intervenções
essas que não corroboravam a tese que António Costa e o Presidente da República
têm veiculado de que o crescimento do número de infectados resulta do facto de
se estar a testar mais e também dos comportamentos de risco dos jovens.
Aos ouvidos de António Costa, aqueles
números e aquelas opiniões dos especialistas não são números nem opiniões de
especialistas: são críticas a si e ao seu governo. A tendência de Costa para ver como um ataque
pessoal o que são críticas políticas não é de agora. De agora é a própria
realidade ter passado a ser vista pelo primeiro-ministro como um ataque a si
mesmo.
De repente todos aqueles truques que
funcionavam sempre estraçalham-se diante de todos: declarar que a Champions em
Portugal é um “prémio merecido aos profissionais de saúde” foi visto como uma
ofensa. Costa não percebeu a ofensa. E percebe-se o
porquê: há alguns meses todos teriam achado graça e louvado o seu instinto
político. Mas isso era no tempo do show ilusionista de Marcelo & Costa. Tudo eram milagres e excepções, todos os dias éramos
os melhores do mundo. O ministro das Finanças era um mago que
arranjara a receita miraculosa para não haver cortes nem austeridade. Do lado de fora do show o dia a dia ia
ficando cada vez mais duro: as
cativações degradavam o SNS e os transportes públicos. Mas lá vinha logo mais uma
foto do Presidente em calções e um panegírico ao animal político inigualável
que é António Costa. O
intervencionismo estatal asfixiava as empresas e o poder político avançava no
seu controlo do aparelho de Estado mas lá ia o senhor Presidente para mais uma
fila de supermercado e lá era lançado mais um programa governamental dito para
combater as desigualdades, igual a tantos outros que mais não fazem que
engrossar o número de dependentes do Estado e as milícias dos activismos.
Até que chegou Junho de 2020 e a
realidade emboscou-os. Como
querem culpar as festas dos jovens nas praias quando eles mesmos vão para
espectáculos no Campo Pequeno? Como se pode multar alguém por conversar num
grupo na rua à noite e no dia seguinte aceitar que essa mesma pessoa viaje em
comboios, metros e autocarros apinhados? É absolutamente
inexplicável o não reforço da oferta nos transportes públicos aquando do fim do
confinamento (ou daquele período de 2020 de que não se pode dizer o nome).
Estes anos de ilusionismo criaram uma
enorme distância entre a realidade e o poder: este embevece-se com as teleconsultas
mas a realidade são milhares de velhos e doentes sem consultas nos seus
médicos. Fala com entusiasmo de telescola mas esquece que a telescola original
tinha sala de aulas e acompanhamento por professor. Faz a apologia dos
transportes públicos mas nunca os utiliza…
Os próximos tempos serão difíceis: nenhum país tem uma solução
perfeita para esta crise nem se registam milagres. Mas tudo fica ainda mais
difícil quando quem governa recusa a realidade. O show ilusionista de Marcelo
& Costa desmoronou-se. Ou melhor dizendo sofre uma interrupção. Será que
segue dentro de momentos? Talvez mas com menos brilho. Mais decadente.
Entretanto o que foi outrora o centro-direita mantém-se politicamente
confinado. E o Chega desce a avenida da Liberdade.
PS. Por
fim, mas não por último, quando abandonou intempestivamente a reunião no
Infarmed, António Costa ainda teve tempo para dizer a um Marcelo incrédulo
perante o descontrolo do PM: “Senhor
Presidente, voltamos a reunir-nos daqui a 15 dias…” Marcelo como todas as
pessoas que sobrestima a sua inteligência deve acreditar que pode tirar partido
desta situação. Por exemplo, reforçando-se face a um primeiro ministro de
cabeça perdida. Mas
quer Costa quer Marcelo têm de perceber que Portugal e as suas instituições
continuam para lá deles. Logo nem o primeiro-ministro pode tratar assim o
Presidente da República nem este pode tolerar ou banalizar o que aconteceu na
reunião do Infarmed: o primeiro-ministro não pode tratar assim o Presidente da
República.
POLÍTICA MARCELO
REBELO DE SOUSA PRESIDENTE DA
REPÚBLICA ANTÓNIO COSTA CORONAVÍRUS SAÚDE PÚBLICA SAÚDE
COMENTÁRIOS
Amélia Reis: Texto notável. Só faltou acrescentar como será, daqui a um par de meses,
quando ao frio do Inverno se vier a juntar a fome dos milhares e milhares de
desempregados, sem qualquer possibilidade de arranjar um emprego ou sequer de
fugir daqui para fora pela porta da emigração, que estará fechada por todo o
ocidente civilizado. Para mais tendo que competir, sempre para baixo Amélia
Reis –Amélia Reis -na escala da miséria, por qualquer recurso eventualmente
existente, com as toneladas de miséria terceiro-mundista, que esta gentalha tem
vindo a importar livremente, para lhes assegurar a eles o poder e à oligarquia
económica-social o continuado enriquecimento e boa vida à custa dos portugueses
pobres, condenados a ser cada vez mais pobres. Que fará o Estado mais
inchado e incapaz de toda a Civilização, capturado pela corrupção e nepotismo
socialista e vergado a uma dívida, essa sim, em crescimento exponêncial, a
caminhar para os 130%, que nos lega o fabuloso 'ronaldo das finanças', por cima
dos serviços públicos arruinados, enquanto ele próprio se instala, cantando e
rindo, no topo dos 16 mil por mês, e igual pensão, na risota do Banco de
Portugal? E que dirão os ilusionistas calção, que destruiu a dignidade da
instituição PR, e o crápula derrotado que assaltou o poder, mais os seus
serventuários amestrados na corrupta comunicação social? Estou certo de que,
tal como o bispo anacleto, também ele alambuzado no BP, no Conselho de Estado e
nas obscenas reformas milionárias do estado, mais a sua rafeira actriz e a
comunista Camarinha, dirão que a culpa é do "fascismo" da direita, da
sua "austeridade" e, claro está, do senhor presidente da América!
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