sábado, 20 de junho de 2020

«Sempre uma coisa tão inútil como a outra»


Factos passados, factos presentes e uma Terra que vive em Revolução permanente – quer da Natureza inanimada quer da Natureza animada, com o Homem no topo da animação, ou seja, da Revolução permanente. Rui Ramos mostra o porquê disso, em termos de disputa pelo poder, ao longo dos tempos, e hoje, especialmente. Os comentadores bem artilhados nas suas análises – um prazer de leitura.

A quem serve a revolução cultural em curso? /premium
A esquerda radical só conta porque há uma esquerda que se diz “moderada”, mas que usa os radicais para cercar e intimidar os seus adversários. É o que temos visto nas últimas manifestações no Ocidente
RUI RAMOS  Colunista do Observador
OBSERVADOR, 19 jun 2020
De um lado, é o padre Vieira, talvez porque a sua estátua não esteja num pedestal e seja mais fácil de alcançar; do outro lado, J. K. Rowling, “cancelada” pela sua crença na mulher biológica. É muito fácil indignarmo-nos, e achar que esta é a batalha final entre a civilização e a “loucura”. Também é muito fácil encolher os ombros e rir da ignorância dos activistas. Ou ser filosófico, e reflectir que não há iconoclastia mais severa do que a do tempo que, como no poema, levará o dono da Tabacaria, a tabuleta da loja, a rua, e a língua em que os versos estão escritos. Sim, podemos indignar-nos, rir ou fazer filosofia. Mas seriam apenas modos de ingenuidade. A revolução cultural em curso não é a irrupção de uma qualquer lava subterrânea de subversão. É mais um dos jogos apocalípticos através dos quais as oligarquias políticas ocidentais têm andado a disputar o poder.
Há uns meses, as manifestações eram por causa do “aquecimento global”. Há uns anos, eram contra o “capital financeiro”. Agora, são contra o “racismo”. Todas tiveram em comum duas coisas. Por um lado, assentaram no mesmo activismo de rua e de rede social da velha extrema-esquerda, como ficou agora à mostra na “zona autónoma” de Seattle (uma “comuna” à maneira parisiense do século XIX). Por outro lado, só tiveram a dimensão que tiveram porque foram apoiadas e ampliadas pelos media, pelas celebridades do espectáculo, e por uma grande parte da oligarquia política e empresarial, a começar por aqueles que gozam as suas reformas na ONU e em outras ONG. Os temas variaram, mas o método foi sempre o mesmo: denunciar a democracia, atacar a economia de mercado e lamentar a influência ocidental no mundo, como se tudo – democracia, mercado, influência ocidental – fossem simples mecanismos de discriminação racial, destruição ecológica, ou desigualdade social.
Sim, estes movimentos arrastam por vezes preocupações genuínas e propostas legítimas. A herança da segregação nos EUA, por exemplo, ainda assombra muitas relações. Mas para os activistas, o “problema” — seja qual for — interessa menos do que a sua utilidade para atacar o “capitalismo”. Reparem na total indiferença em relação a negros mortos por outros negros, ou em relação a brancos mortos pela polícia, como Tony Timpa, asfixiado em 2016 da mesma maneira que George Floyd. A brutalidade policial ou a morte de negros não os inquietam, tal como a poluição, se não puderem ser instrumentalizadas para definir o “sistema” como “racista”. Nem um “negro” é, para eles, necessariamente um “negro”. Para o  secretário do BLM em Nova Iorque, Hawk Newsome, um negro que é polícia já não é negro. O candidato Democrata Joe Biden tem a mesma opinião: um negro que vota Trump também não é negro. Só quando renunciam ao estatuto de indivíduos autónomos, para se diluírem numa massa sem vontade própria de “vítimas” sob tutela dos activistas, é que os negros são negros. Se isto não é racismo, o que é o racismo?
O objectivo da campanha não é, de modo algum, melhorar a condição da população afro-americana. É explorar os sentimentos de culpa da maioria branca. É levá-la, como nas religiões em que é preciso renegar “o mundo” para salvar a alma, a rejeitar a história, os valores, e as instituições que são os alicerces da vida livre no Ocidente, a pretexto de que tudo está contaminado por “racismo”. Para já, o resultado do movimento é o medoo medo instalado nas universidades, nos meios de comunicação social, nas grandes empresas, onde qualquer empregado vive aterrorizado pela ideia de poder ser acusados de “racista”, e perder tudo. A comparação com a revolução cultural maoísta de 1966 faz algum sentido, mas não é só pelo vandalismo e pelas praxes violentas. É também pelo modo como a agitação é cinicamente fomentada e usada pela oligarquia política. Em 1966, na China, Mao manipulou os “guardas vermelhos” para destruir o governo e voltar ao poder. Em 2020, na América, os Democratas tentam fazer o mesmo com a sua versão dos “guarda vermelhos”.
Não, a esquerda radical não vai tomar o poder, refazer a sociedade ou rever a história. A esquerda radical falhou. Nos EUA, o candidato Democrata é Biden, não é Sanders. Mas o ambiente que a esquerda radical criou nas universidades, na indústria da cultura, nas redes sociais e nas ruas serve aos jogos de poder da oligarquia. Nos EUA, é muito claro. O actual movimento, tal como os anteriores, nunca teria atingido a actual dimensão sem a cobertura que lhe deu a direcção do Partido Democrata, que até se fez fotografar de joelho em terra no Capitólio. A esquerda radical só conta porque há uma esquerda que se diz “moderada”, mas  que a usa para cercar e intimidar os seus adversários.
Por vezes, alguém da oligarquia bem pensante, como J.K. Rowling, é salpicado. Dá então ideia de que a “loucura” atinge todos. Não atinge. Veja-se o caso do “MeToo”. Contra Brett Kavanaugh, o juiz nomeado por Trump, valeu tudo. Mas eis que as alegações de assédio sexual atingem Joe Biden, o candidato Democrata. Nesse dia, o MeToo morreu. Por mais justificados que até sejam, os protestos só têm oxigénio quando podem servir à elite Democrata na sua guerra contra Trump. Inconformados com os resultados eleitorais de 2016, os Democratas recorreram a tudo para apear o presidente: investigações judiciais, processos legislativos. Agora, açulam os radicais na rua. É uma espécie de chantagem: trata-se de fazer sentir aos americanos, através da polarização e do confronto violento, que não haverá sossego nem civilização enquanto os Democratas não regressarem ao poder. Basta ler o New York Times ou ver a CNN, para perceber que, se for preciso deitar fogo à casa, eles deitam.
Não, não estamos perante uma maré da história. Estamos perante uma especulação política, de quem julga que, atingidos os objectivos, será fácil meter outra vez o tigre na jaula. Há uns tempos, João Miguel Tavares pedia à direita: olhem para Trump: valeu a pena votar nele só para deitar a língua de fora ao politicamente correcto? É tempo de também perguntar à esquerda: olhem para o antitrumpismo: valeu a pena destruir o espaço público das democracias, só para tornar difícil a reeleição de Trump? Nem lhes ocorreu que isso poderia ajudar Trump?

COMENTÁRIOS
Maria Narciso: Livre mercado  - É difícil encontrar até hoje uma economia que não demande a interferência do Governo, há sempre a mão invisível do Estado, pois o capital tem sempre uma única resposta : Não está satisfeito com o seu salário, aprenda algo novo e melhore a renda. Estamos num modelo Socialista, a iniciativa pública tem de ser predominante. O protagonismo não pode recair sobre o privado, sob pena de a competição se tornar nociva.
aac 666: Rui Ramos um dos melhores a escrever no Observador
Contra Ponto > Euro de Eos: 1º Facto: A escravatura NÃO foi abolida pelo cristianismo e continuou a ser uma prática corrente ao longo dos milénios. Os actos falam mais alto do que discursos hipócritas como esse que cita de Paulo. 2º Facto: O que Paulo diz nessa passagem refere-se ao além; no paraíso os escravos poderiam aspirar a uma alegada igualdade. Na Terra, pelo contrário, os escravos tinham de baixar a bolinha e manter a sua condição de escravos. E foi o mesmo Paulo que declarou isso. 3º Facto: As palavras de Paulo eram tão claras, tão claras que, imagine-se, os Papas, a Igreja, os príncipes da Igreja, os representantes da Igreja, as ordens religiosas e os cristãos, continuaram a ser donos de escravos e continuaram a traficar escravos até ao fim da escravatura. 4º Facto: Quando foi decretada a abolição da escravatura, a Igreja Católica só demorou dois anos, para além da data limite imposta legalmente para a libertação dos escravos, a libertar aqueles que tinha na sua posse. Dois anos para além do prazo! 5º Facto: Em pleno século XX, a Igreja usou e abusou do trabalho escravo e de trabalhos forçados. Teve de chegar ao início do século XXI para pagar umas irrisórias indemnizações aos cerca de 10% dos escravos que ainda estavam vivos.
Aqui tem o que a bíblia diz sobre a escravatura:

a) Deus abençoou Abraão dando-lhe muitos escravos. [Gn 24:35]

b) Deus abençoou Isac (assim como seu pai Abraão) com muitos escravos. [Gn 26:12-14]

c) Deus declara, no 10º mandamento, que não devemos cobiçar a mulher do próximo, nem a casa, o jumento ou o boi do próximo, nem o escravo ou a escrava do próximo; ou seja, é errado cobiçar os bens alheios mas, entre os legítimos bens alheios, quem é que está? Os escravos!!! [Ex 20:17]

d) Deus dita as regras relativo a escravos hebreus. Você pode comprar um, mas terá que deixá-lo livre no sétimo ano. Mas se você lhe deu uma esposa e ele teve filhos, então você pode manter a esposa e as crianças. Se ele se recusar em deixar a sua família depois dos sete anos, então lhe furarão a orelha e ele o servirá para sempre. [Ex 21:2-6]

e) A escravidão é aprovada por Deus, e aqueles que roubam escravos devem ser mortos. [Ex 21:16]

f) É correcto para Deus que você bata em seus escravos. Afinal de contas, eles são seu dinheiro. [Ex 21:20-21]

g) Deus diz para os israelitas que façam escravos os seus vizinhos. Os "pagãos" e "forasteiros" serão sempre sua possessão. [Lv 25:44-46]

h) Deus amaldiçoa os gibeonitas a serem escravos dos judeus para sempre. [Js 9:21-27]

i) Se você pedir para Deus, ele forçará os pagãos a serem seus escravos. [Sl 2:8]

j) Jesus passa pela Terra numa época em que a escravatura é o maior crime contra a humanidade e quantas vezes abre ele a boca para criticar esse crime? Zero!

k) Jesus diz que Deus é como um senhor que castiga seus escravos "com muitos açoites." [Lc 12:46-47]

l) Escravos não deveriam desejar a liberdade. [I Co 7:21]

m) Paulo, que não vê nada de errado com a escravidão, dá ordens para que obedeçam aos seus senhores "em tudo." [Cl 3:22]

n) Paulo que aparentemente aprova a escravidão, dá ordens aos servos para que obedeçam ao seu senhor, "como a Cristo." [Ef 6:5]

o) Paulo não vê nada errado com a escravidão e previne os escravos para que "estimem a seus senhores por dignos de toda a honra." [I Tm 6:1]

p) Paulo diz para os escravos obedecerem seus senhores e agradar-lhes em todas as coisas... "mostrando toda a lealdade." [Tt 2:9-10]

q)Paulo devolve o escravo fugitivo, unésimo, para seu "legítimo dono", Filemom. Esta era uma grande oportunidade para Paulo (e Deus) condenar a escravidão, mas ele não faz nada, ao contrário, devolve o escravo ao seu dono sem uma palavra sequer contra a escravidão. [Fm 1:12]

r) "Porém todo servo de qualquer, comprado por dinheiro..." Uma vez mais, Deus mostra sua aprovação da escravidão. [Ex 12:44]

s) Na parábola do servo irreconciliável, o rei ameaça escravizar um homem e a família inteira dele para pagar uma dívida. Esta prática que era na ocasião comum, parece não ter aborrecido muito a Jesus. [Mt 18:25]

t) Paulo que aparentemente aprova a escravidão, dá ordens aos servos para que obedeçam ao seu senhor, "como a Cristo." [Ef 6:5]

u) David mata dois terços dos moabitas e escraviza o resto. [II Sm 8:2-4]

v) O salmista e os santos exaltam a Deus por matarem e escravizarem "os pagãos." [Sl 149:5-8]

w) Bata à vontade nos seus escravos, como se eles fossem suas crianças. [Pv 29:19]

x) Vós, escravos, sujeitai-vos com todo o temor aos senhores, não somente aos bons e humanos, mas também aos maus. [1 Pedro: 2-18]

y) Ensine os escravos a submeterem-se em tudo a seus senhores, a procurarem agradar-lhes, a não serem respondões e a não roubá-los, mas a mostrarem que são inteiramente dignos de confiança, para que assim tornem atraente, em tudo, o ensino de Deus, nosso Salvador. [Tito 2:9-10]

z) Paulo afirma que o escravo que se revolte será castigado: "Sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis. Mas quem fizer agravo receberá o agravo que fizer; pois não há acepção de pessoas." [Co 3:24-25]
Carlos Sena > Contra Ponto

A escravatura não foi abolida pela esquerda Marxista. Foi a consequência do pensamento de homens e mulheres de pensamento livre,  muitos dos quais capitalistas e rendeiros. Quanto muito, as esquerdas criaram uma nova escravatura, a escravatura ao estado centralizado e centralizador. 
Contra Ponto > Carlos Sena Não estou a discutir o marxismo. O assunto em debate é outro: esclavagismo e cristianismo. Que tal não apresentar respostas falaciosas?
Carlos Sena > Contra Ponto: Não estou a discutir o passado. Estou a discutir o presente e o futuro. Se quer falar da Bíblia, um livro escrito a várias mãos,  durante décadas, há passagens para todos os gostos e todos temos passagens preferidas. Sugiro a leitura dos Salmos, nomeadamente: Salmos 37:1-2. 
Contra Ponto > Carlos Sena: Sugiro que não faça as selecções que lhe interessam e que veja a coisa de forma alargada. Sugiro também que não se meta nas conversas dos demais com tretas falaciosas que visam desviar o assunto em debate. Sugiro igualmente que não apresente desculpas esfarrapadas para um livro que dizem ter sido inspirado por Deus e onde o dito cujo declara explicitamente o seu apoio à escravatura.
Sugiro ainda que aplique a deus e aos que agem em nome dele o referido salmo.
Carlos Sena > Contra Ponto: A falácia começa quando não se reconhecem os princípios básicos de uma realidade. E a realidade é que na bíblia há citações para todos os gostos. O Deus bíblico é castigador e endoutrinante Cristo trouxe um Deus compassivo e amoroso, já para não falar do Espírito Santo. Só quis transmitir isso sem querer ser extensivo. Afinal, o objectivo primordial era discutir a Escravatura, que vai muito além de um só livro. Fiz um desvio e zangou-se. É o que acontece quando somos doutrinados sempre na mesma direcção.  Liberte-se dos arreios. Aprecie a vida com todas as suas nuances. 
Carlos Sena > Contra Ponto: À semelhança das Revoluções Culturais protagonizadas pela esquerda: Queimem-se as Bíblias; destruam-se as estátuas.  Com isso, enviem-me para um campo de reeducação ou para o Gulag. Sou ateu, mas reconheço a bondade onde a leio, mesmo que seja na bíblia.  As partes menos bondosas tomo-as como cálices de realidade. Há de tudo para todos os gostos! Não seja unidireccional, ou acaba numa realidade muito dolorosa. E, digo isto com todo o respeito porque vejo a a Bondade que há em si, o Cristo Redentor, vejo também o Deus irado e castigador do Velhíssimo testamento... liberte-se do passado. Boa definição do que é ... a extrema esquerda ! Dá-me muito gozo ver a estupefacção da esquerda, quando vê a direita usar os seus métodos. Força Maria Augusta!
Carlos Quartel: Assunto complicado, com várias vertentes. Penso  que tudo começa com uma revolução de costumes, casamentos do mesmo sexo, louvor à homossexualidade, ensinada nas escolas, passa depois pela novela do acesso sexual e agora veio cair no racismo.
Saber a razão de tanta raiva não é fácil. Para mim é, fundamentalmente, um feminismo radical (uma professora espanhola diz mesmo que os rapazes deviam ser capados), um grupo numeroso de gente traumatizada, que escolheu o caminho da destruição, pelo destruição.
Cabe aos pensadores puxarem dos galões e denunciarem a fraude, para essa gente nada está bem, cada cedência exige  outra. 
A leninista táctica do salame, em pleno funcionamento......
Jose Miguel Pereira: Concordo com muito do que escreve Rui Ramos, mas se a Direita civilizada não fosse tão frequentemente negacionista ou, no mínimo, negligente quanto a causas como as alterações climáticas e outros problemas ambientais, que entrega de mão beijada à Esquerda, estaria em muito melhor posição para travar as suas tentativa de hegemonização cultural
Adelino Lopes: Eu também abomino a revolução cultural em curso. E nunca entrarei nessas manifestações como as recentes do anti-racismo porque sei qual é o propósito; juntar carneiros à carneirada. Não é o anti-racismo. Querem um exemplo? Recordam-se dos anti-muro do Trump? Muito antes do Trump ser presidente? A questão fulcral (muro bom ou muro mau) não interessa. Os ignorantes (incluindo os jornalistas da causa) nem se aperceberam que já existiam partes do muro. Uma tristeza quando fugiram com a viola no saco. E será sempre assim em todas essas manifestações dos anti-qualquer-coisa.
eduardo oliveira: Rui Ramos parece que ainda não percebeu que Trump  é uma ameaça para a democracia e o mundo ocidental. Como sabemos é um narcisista mentiroso compulsivo - em média publica ou diz mais de 20 mentiras por dia - pelo que é imperioso que perca as eleições. Sou de direita e não tenho medo de o afirmar  neste país onde isso é confundido propositadamente com fascismo. No entanto e apesar de não gostar do Joe Biden, se fosse americano até votaria Rato Mickey para derrotar o Trump 
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