quinta-feira, 11 de junho de 2020

Falta-nos o nervo

Para os entusiasmos expressos por Álvaro de Campos na sua ODE TRIUNFAL, em tempos de criação, na arte poética, de temas de um futurismo histérico que redundaria, um século depois, na “vil tristeza” de uma pandemia domesticadora e ruinosa.
Em todo o caso, haja quem responda aos desafios propostos por Salles da Fonseca em termos não de um poético e filosófico “futurismo”, mas puramente de um prosaico “futuro” para os que depois de nós virão, e mesmo, a médio prazo, para os que ainda estão…

«………….Fraternidade com todas as dinâmicas!, Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!

Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés — oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos de estatura do Momento!
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas,
Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos portos!
Actividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis,
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E Piccadillies e Avenues de L’Opéra que entram
Pela minh’alma dentro!
 ……………………………….
Fraternidade com todas as dinâmicas!
Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar férreo e cosmopolita
Dos comboios estrénuos,
Da faina transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!

Horas europeias, produtoras, entaladas
Entre maquinismos e afazeres úteis!
Grandes cidades paradas nos cafés,
Nos cafés — oásis de inutilidades ruidosas
Onde se cristalizam e se precipitam
Os rumores e os gestos do Útil
E as rodas, e as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo!
Nova Minerva sem-alma dos cais e das gares!
Novos entusiasmos de estatura do Momento!
Quilhas de chapas de ferro sorrindo encostadas às docas,
Ou a seco, erguidas, nos planos-inclinados dos portos!
Actividade internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis,
Nos Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E Piccadillies e Avenues de L’Opéra que entram
Pela minh’alma dentro!
………………………………….
Eia! e os rails e as casas de máquinas e a Europa!
Eia e hurrah por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!

Galgar com tudo por cima de tudo! Hup-lá!

Hup-lá, hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!
Hé-la! He-hô! H-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!

Ah não ser eu toda a gente e toda a parte!

HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 10.06.20

10 DE JUNHO D 2020
Na Festa Nacional, é suposto referir temas estruturais da Nação mas desta vez quase apetece perguntarmo-nos se a pandemia em curso pode ser citada como mera ocorrência conjuntural ou se, tendo efeitos tão profundos e muito mais perenes do que uma «simples gripezinha» ou se, pelo contrário, deve ser considerada um factor estrutural.
Deixando-me de discussões académicas de importância nula, tenho a pandemia como tema que não pode ser ignorado na nossa Festa Nacional. E peço a todos que leiam estas linhas que dirijam um pensamento a favor de todas as pessoas que o COVID 19 já vitimou.
Muitos óbitos, imprescindível confinamento, economia em colapso, é claro que se trata de ocorrência de efeitos perenes. Mas a causa da crise é totalmente exógena ao modelo económico que funcionava antes do desastre mundial. Ou seja, logo que esse efeito externo seja neutralizado, o modelo pode retomar o funcionamento sem necessidade de correcções estruturais. Daqui resulta que a economia pode retomar plenamente tão rapidamente quanto se liberte dos condicionamentos sanitários. Este um pensamento positivo que aqui deixo nesta dia de festa.
Contudo, esta paragem forçada é uma boa oportunidade para revermos o modelo naquilo em que o devemos melhorar e isso, creio, passa pelo retorno ao Ocidente das empresas que ao longo dos anos foram sendo deslocalizadas para a China na ânsia do aproveitamento da mão de obra barata e da exploração daquele mercado potencialmente imenso.
E a pergunta é: - Como fazer esse retorno se as empresas são privadas e as políticas públicas não mandam nelas?
A resposta vem nos livros: - Direitos aduaneiros sobre as importações com origem na causadora da pandemia, a China, bem como irrecusáveis incentivos ao investimento no processo de retorno.
O Ocidente tem necessariamente que regressar à produção de bens transaccionáveis. Ou seja, o futuro do Ocidente está nas suas próprias mãos e, nesse enquadramento, o de Portugal. Assim tenhamos vontade para assentarmos num conceito de bem-comum que o seja efectivamente e não como estes ensaios carnavalescos e folclórico-demagógicos de base leninisto-gramsciana que nos têm sucessivamente conduzido à bancarrota.
10 de Junho de 2020
Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS
Anónimo 10.06.2020: Tenho dúvidas, Henrique, que passado o efeito da variável exógena, o modelo funcione como anteriormente à pandemia, pois a perturbação foi (e é) de tal magnitude que duvido que possamos ver o modelo a comportar-se como anteriormente, sem ter de se intervir estruturalmente sobre ele, pese embora os milhares de milhões de euros provenientes da EU. Aliás, o Presidente da República, no seu discurso de hoje, 10 de Junho, nos Jerónimos, um tanto esfingicamente, disse que as soluções de ontem não podem ser as de amanhã, e que estamos perante uma oportunidade única para mudar o que é preciso mudar, mas não com remendos (leia-se, não com soluções a pensar no curto prazo, mas sim no médio e longo prazos; não no conjuntural e no superficial, mas sim no estrutural e no cerne dos problemas). A “discussão” destes temas levaria muito longe, mas este não é o sítio, nem o momento. Tu lanças uma dica, e bem, do retorno para o Ocidente das empresas que se deslocalizaram para o Oriente. Focando no caso português, o tema é ainda mais complexo. Para além da deslocalização de algumas, o que assistimos foi também ao incentivo do encerramento de muitas, ou do seu downsize, ou da alienação do seu capital a centros de poder e de decisão externos ao País, nuns e noutros casos com perda de know-how, de independência económica e, algumas vezes, de pulverização de capitais. Tenho visto, sentados em frente de uma bica, numa pastelaria da Praça de Londres, homens que fizeram ou dinamizaram o Parque de Sines, a Mague, a Sorefame, a Equimetal, a Construtora Moderna, a Siderurgia Nacional, a Compal, e tantas outras. Onde está o conhecimento que permitiu fazer centrais térmicos ou hídricas, que permitiu fazer carruagens e wagons, que permitiu fazer meios de elevação, como pórticos, que permitiu fazer superpetroleiros e tantos outros produtos? Só agora é que sentimos a necessidade de reindustrializar o País? O que dizer da sorte que a Cimpor teve? Já vimos serem tiradas ilações da destruição da empresa, como ela existia, tendo sido esta, talvez, no seu tempo áureo, a mais internacionalizada e lucrativa empresa portuguesa? Das várias medidas previstas do Plano governamental, dos Planos das oposições e dos Planos avulsos, espero que alguém concilie, num todo coerente, as medidas seleccionadas e que, pelo menos, tente avaliar os efeitos no desejado desenvolvimento económico, na competitividade, no emprego e na balança externa. Devo dizer-te, Henrique, agora que se fala de novo, dentro dessas medidas, do Banco de Fomento (parece um submarino – emerge e imerge, consoante os governos e as conjunturas), que no genuíno Banco de Fomento, com fundos provenientes, após 1976, do Banco Mundial, do Banco Europeu de Investimento, do Fundo EFTA e do banco alemão de desenvolvimento KFW, os projectos de investimento empresariais, que aqueles fundos refinanciavam, eram analisados também segundo aquelas ópticas. Será que a Banca actual está disponível, ou terá mesmo expertise, para assegurar esse tipo de análise e aprovar ou reprovar os pedidos de financiamento, consoante esses resultados, ou estará mais (ou apenas) preocupada com a viabilidade do projecto em termos de recuperação dos fundos emprestados? Por aqui me fico, Henrique, e desculpa a extensão do comentário, mas, como sabes, é algo recorrente em mim. Abraço. Carlos Traguelho

Miguel Magalhaes10.06.2020: Henrique, Totalmente de acordo contigo. Miguel Allegro

Anónimo, 10.06.2020: Querido Henrique, há anos que assisto com assombro ao suicídio económico do ocidente, em que a ganância e as vistas curtas de empresários e políticos .precipitaram a economia ocidental num abismo de desemprego, corrupção, fuga de capitais etc, etc coisa que até os economistas chineses têm comentado com igual espanto, e para grande proveito dos mesmos, esses chineses que sem estados de alma, aproveitaram o que os ocidentais literalmente lhes ofereceram!!! Vou-te enviar um email da cidade Wuhan que tem mais gente que Portugal, para se poder compreender o quão distraídos andámos (ou não )!!! Abraço V v Z


Anónimo 10.06.2020: Henrique Salles da Fonseca  11.06.2020: Henrique, gosto em saber de ti. Espero que estejas bem de saúde. Como vai a vista? Falas e muito bem de assuntos pertinentes e de grande importância. Eu não contesto que o vírus tenha originado na China, mas parece-me óbvio que o ocidente não só sabia da fabricação como até ajudou com "know how" e financiamento que o miserável Dr Anthony Fauci encaminhou para o laboratório chinês. Financiamento aparte, porque podem argumentar que não sabiam como foi usado, como se explica o evento 201? Henrique, a economia não vai retomar assim tão facilmente. O remédio que receitaram para o vírus vai matar e trazer mais miséria que a doença. As indústrias não caíram só pela ganância das grandes corporações, houve uma vontade forte que causou também a vontade politica a ir por esses caminhos. Enfim, espero estar enganado, porque acho este estado presente deprimente, e se eu estiver enganado tudo voltará ao normal. Os cavalos têm sido o meu grande apoio e motivação. Bem hajam. Abraço e continuação de saúde. João Correia Mendes



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