Para os entusiasmos expressos por Álvaro de
Campos na sua ODE TRIUNFAL, em tempos de criação, na arte poética, de temas de um futurismo
histérico que redundaria, um século depois, na “vil tristeza” de uma pandemia domesticadora e ruinosa.
Em todo o caso, haja quem responda aos
desafios propostos por Salles da Fonseca em termos não de um poético e filosófico “futurismo”,
mas puramente de um prosaico “futuro”
para os que depois de nós virão, e mesmo, a médio prazo, para os que ainda estão…
«………….Fraternidade
com todas as dinâmicas!, Promíscua fúria de ser parte-agente
Do rodar
férreo e cosmopolita
Dos comboios
estrénuos,
Da faina
transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro
lúbrico e lento dos guindastes,
E do
quase-silêncio ciciante e monótono das correias de transmissão!
Horas
europeias, produtoras, entaladas
Entre
maquinismos e afazeres úteis!
Grandes
cidades paradas nos cafés,
Nos cafés —
oásis de inutilidades ruidosas
Onde se
cristalizam e se precipitam
Os rumores e
os gestos do Útil
E as rodas, e
as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo!
Nova Minerva
sem-alma dos cais e das gares!
Novos
entusiasmos de estatura do Momento!
Quilhas de
chapas de ferro sorrindo encostadas às docas,
Ou a seco,
erguidas, nos planos-inclinados dos portos!
Actividade
internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e
febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis,
Nos
Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E
Piccadillies e Avenues de L’Opéra que entram
Pela
minh’alma dentro!
……………………………….
Fraternidade
com todas as dinâmicas!
Promíscua
fúria de ser parte-agente
Do rodar
férreo e cosmopolita
Dos comboios
estrénuos,
Da faina
transportadora-de-cargas dos navios,
Do giro
lúbrico e lento dos guindastes,
Do tumulto
disciplinado das fábricas,
E do quase-silêncio
ciciante e monótono das correias de transmissão!
Horas
europeias, produtoras, entaladas
Entre
maquinismos e afazeres úteis!
Grandes
cidades paradas nos cafés,
Nos cafés —
oásis de inutilidades ruidosas
Onde se
cristalizam e se precipitam
Os rumores e
os gestos do Útil
E as rodas, e
as rodas-dentadas e as chumaceiras do Progressivo!
Nova Minerva
sem-alma dos cais e das gares!
Novos
entusiasmos de estatura do Momento!
Quilhas de
chapas de ferro sorrindo encostadas às docas,
Ou a seco, erguidas,
nos planos-inclinados dos portos!
Actividade
internacional, transatlântica, Canadian-Pacific!
Luzes e
febris perdas de tempo nos bares, nos hotéis,
Nos
Longchamps e nos Derbies e nos Ascots,
E
Piccadillies e Avenues de L’Opéra que entram
Pela minh’alma
dentro!
………………………………….
Eia! e os
rails e as casas de máquinas e a Europa!
Eia e hurrah
por mim-tudo e tudo, máquinas a trabalhar, eia!
Galgar com
tudo por cima de tudo! Hup-lá!
Hup-lá,
hup-lá, hup-lá-hô, hup-lá!
Hé-la! He-hô!
H-o-o-o-o!
Z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z-z!
Ah não ser eu
toda a gente e toda a parte!
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO,
10.06.20
10
DE JUNHO D 2020
Na Festa Nacional, é suposto referir
temas estruturais da Nação mas desta vez quase apetece perguntarmo-nos se a
pandemia em curso pode ser citada como mera ocorrência conjuntural ou se, tendo
efeitos tão profundos e muito mais perenes do que uma «simples gripezinha» ou
se, pelo contrário, deve ser considerada um factor estrutural.
Deixando-me
de discussões académicas de importância nula, tenho a
pandemia como tema que não pode ser ignorado na nossa Festa Nacional. E peço a todos que leiam estas linhas que dirijam
um pensamento a favor de todas as pessoas que o COVID 19 já vitimou.
Muitos óbitos, imprescindível
confinamento, economia em colapso, é claro que se trata de ocorrência de
efeitos perenes. Mas a
causa da crise é totalmente exógena ao modelo económico que funcionava antes do
desastre mundial. Ou seja, logo que esse efeito externo seja
neutralizado, o modelo pode retomar o funcionamento sem necessidade de
correcções estruturais. Daqui resulta que a economia pode retomar plenamente
tão rapidamente quanto se liberte dos condicionamentos sanitários. Este um pensamento positivo que aqui deixo
nesta dia de festa.
Contudo,
esta paragem forçada é uma boa oportunidade para revermos o modelo naquilo em
que o devemos melhorar e isso, creio, passa pelo retorno ao Ocidente das
empresas que ao longo dos anos foram sendo deslocalizadas para a China na ânsia
do aproveitamento da mão de obra barata e da exploração daquele mercado
potencialmente imenso.
E a pergunta é: - Como fazer esse retorno se as empresas são
privadas e as políticas públicas não mandam nelas?
A resposta vem nos livros: -
Direitos aduaneiros sobre as importações com origem na
causadora da pandemia, a China, bem como irrecusáveis incentivos ao
investimento no processo de retorno.
O Ocidente tem necessariamente que regressar à produção de bens
transaccionáveis. Ou seja, o futuro do Ocidente está nas suas próprias mãos e,
nesse enquadramento, o de Portugal. Assim
tenhamos vontade para assentarmos num conceito de bem-comum que o seja efectivamente
e não como estes ensaios carnavalescos e folclórico-demagógicos de base
leninisto-gramsciana que nos têm sucessivamente conduzido à bancarrota.
10 de Junho de 2020
Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS
Anónimo 10.06.2020: Tenho dúvidas, Henrique, que passado o efeito da variável
exógena, o modelo funcione como anteriormente à pandemia, pois a perturbação
foi (e é) de tal magnitude que duvido que possamos ver o modelo a comportar-se
como anteriormente, sem ter de se intervir estruturalmente sobre ele, pese
embora os milhares de milhões de euros provenientes da EU. Aliás, o Presidente da República, no seu
discurso de hoje, 10 de Junho, nos
Jerónimos, um tanto esfingicamente, disse
que as soluções de ontem não podem ser as de amanhã, e que estamos perante uma
oportunidade única para mudar o que é preciso mudar, mas não com remendos (leia-se,
não com soluções a pensar no curto prazo, mas sim no médio e longo prazos; não
no conjuntural e no superficial, mas sim no estrutural e no cerne dos problemas). A “discussão” destes temas levaria muito longe, mas
este não é o sítio, nem o momento. Tu lanças uma dica, e bem, do
retorno para o Ocidente das empresas que se deslocalizaram para o Oriente. Focando no caso português, o tema é ainda mais
complexo. Para além da deslocalização de algumas, o que assistimos foi
também ao incentivo do encerramento de muitas, ou do seu
downsize, ou da alienação do seu capital a centros de poder e de decisão
externos ao País, nuns e noutros casos com perda de know-how, de independência
económica e, algumas vezes, de pulverização de capitais. Tenho visto, sentados em frente de uma bica,
numa pastelaria da Praça de Londres, homens que fizeram ou dinamizaram o Parque
de Sines, a Mague, a Sorefame, a Equimetal, a Construtora Moderna, a Siderurgia
Nacional, a Compal, e tantas outras. Onde está o conhecimento que permitiu
fazer centrais térmicos ou hídricas, que permitiu fazer carruagens e wagons,
que permitiu fazer meios de elevação, como pórticos, que permitiu fazer
superpetroleiros e tantos outros produtos? Só agora é que sentimos a
necessidade de reindustrializar o País? O que dizer da sorte que a Cimpor teve?
Já vimos serem tiradas ilações da destruição da empresa, como ela existia,
tendo sido esta, talvez, no seu tempo áureo, a mais internacionalizada e
lucrativa empresa portuguesa? Das
várias medidas previstas do Plano governamental, dos Planos das oposições e dos
Planos avulsos, espero que alguém concilie, num todo coerente, as medidas
seleccionadas e que, pelo menos, tente avaliar os efeitos no desejado
desenvolvimento económico, na competitividade, no emprego e na balança externa. Devo dizer-te, Henrique, agora que se fala de
novo, dentro dessas medidas, do Banco de Fomento (parece um submarino – emerge
e imerge, consoante os governos e as conjunturas), que no genuíno Banco de
Fomento, com fundos provenientes, após 1976, do Banco Mundial, do Banco Europeu
de Investimento, do Fundo EFTA e do banco alemão de desenvolvimento KFW, os
projectos de investimento empresariais, que aqueles fundos refinanciavam, eram
analisados também segundo aquelas ópticas. Será que a Banca actual
está disponível, ou terá mesmo expertise, para assegurar esse tipo de análise e
aprovar ou reprovar os pedidos de financiamento, consoante esses resultados, ou
estará mais (ou apenas) preocupada com a viabilidade do projecto em termos de
recuperação dos fundos emprestados? Por aqui me
fico, Henrique, e desculpa a extensão do comentário, mas, como sabes, é algo
recorrente em mim. Abraço. Carlos Traguelho
Miguel Magalhaes10.06.2020: Henrique,
Totalmente de acordo contigo. Miguel Allegro
Anónimo, 10.06.2020: Querido
Henrique, há anos que assisto com assombro ao suicídio económico do
ocidente, em que a ganância e as vistas curtas de empresários e
políticos .precipitaram a economia ocidental num abismo de desemprego,
corrupção, fuga de capitais etc, etc coisa que até os economistas chineses têm
comentado com igual espanto, e para grande proveito dos mesmos, esses chineses
que sem estados de alma, aproveitaram o que os ocidentais literalmente lhes
ofereceram!!! Vou-te
enviar um email da cidade Wuhan que tem mais gente que Portugal, para se poder
compreender o quão distraídos andámos (ou não )!!! Abraço V v Z
Anónimo 10.06.2020: Henrique Salles da
Fonseca 11.06.2020: Henrique,
gosto em saber de ti. Espero que estejas bem de saúde. Como vai a vista? Falas
e muito bem de assuntos pertinentes e de grande importância. Eu não contesto
que o vírus tenha originado na China, mas parece-me óbvio que o ocidente não só
sabia da fabricação como até ajudou com "know how" e financiamento
que o miserável Dr Anthony Fauci encaminhou para o laboratório chinês. Financiamento
aparte, porque podem argumentar que não sabiam como foi usado, como se explica
o evento 201? Henrique, a economia não vai retomar assim tão facilmente. O
remédio que receitaram para o vírus vai matar e trazer mais miséria que a
doença. As indústrias não caíram só pela ganância das grandes corporações,
houve uma vontade forte que causou também a vontade politica a ir por esses
caminhos. Enfim, espero estar enganado, porque acho este estado presente
deprimente, e se eu estiver enganado tudo voltará ao normal. Os cavalos têm
sido o meu grande apoio e motivação. Bem hajam. Abraço e continuação de saúde. João
Correia Mendes
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