Salles da Fonseca explica, a
propósito das vandalizações estatuárias em curso, sobre o trotskismo do foro intelectual,
gramsciano, e o comunismo de raiz – este, mais virado untuosamente para os
trabalhadores operários, mais castigados fisicamente, a merecer o discurso
sério e triste de Jerónimo de
Sousa, que não descarta uma vírgula do que foi dito antes, desde a sua
fundação; o nosso BE pertencendo aos primeiros, com um Louçã espumante,
primeiramente, seguido de uma Catarina
Martins toda suavidade - mas músculo também, de autêntica cavaleira andante que
não se coíbe nos esforços – substituindo o espumante Louçã com doce eficácia junto do seu povo. E assim
se vai divertindo o Dr. Salles, e
ensinando, revendo a nossa panorâmica de companheirismo iconoclástico, que
ameaça consequências graves. Mas eu não estou tão certa disso.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 20.06.20
Resulta
claro do texto anterior que o nome do «Bloco de Esquerda» não nasceu das salsas
ervas nem por acaso: para além de significar a amálgama em bloco de uns quantos
movimentos políticos de esquerda, corresponde por certo ao conceito
gramsciano de «bloco hegemónico».
É
também do texto anterior que resulta a diferença abissal entre os Partidos
Comunistas tradicionais assentes na manipulação da classe proletária e o
pensamento de António Gramsci que assenta na motivação da classe intelectual.
Os
Partidos tradicionais tanto podem ser stalinistas como trotskistas sendo a diferença entre eles apenas de estratégia uma
vez que, na teoria, são praticamente o mesmo. Mas com
uma ideia tão vinculada de que são diferentes, não se toleram. Todos comunistas, todos inimigos e todos ambicionando
o tal protagonismo que matou Trotsky, todos pela destruição do Ocidente.
Eis por que o Doutor Louçã, trotskista, nada quer com o Sr. Jerónimo
de Sousa, stalinista.
O
vice-versa também se aplica. Poucos, muitos ou assim-assim, os
trotskistas portugueses [Frente
da Esquerda Revolucionária; Liga Comunista Internacionalista (Portugal);
Movimento Alternativa Socialista; Partido Operário de Unidade Socialista;
Partido Revolucionário dos Trabalhadores (Portugal); Partido Socialista
Revolucionário (Portugal) e outros mais que eu possa estar
involuntariamente a esquecer] tiveram que se associar a outras vertentes da
esquerda pois que, isolados, nada conseguiriam na nossa democracia. E, depois
de voltas e mais voltas, aí os temos no BE – Bloco
de Esquerda. Pela
dinâmica da História, a substituição do Doutor Louçã na liderança da «salada de
esquerda» era só uma questão de tempo. A ascensão do gramscianismo tem um
rosto, o de Catarina Martins.
E vai daí que, estava a Senhora a
discutir temas sublimes no doce remanso parlamentar, um polícia americano
estrangula um preto e desaba o mundo aos gritos do racismo negro contra os
brancos, racistas ou não.
Fogo
posto nas almas, decapitam-se os símbolos do Ocidente imperialista, racista,
capitalista e mais não sei quê… numa voragem desenfreada de Londres a
Christchurch passando por Otawa e pelo nosso «Largo da Palmatória» pintando
de vermelho aquele que em vida foi um verdadeiro progressista para os padrões
da sua época. No nosso caso, vergonhosa ignorância dos revolucionários que
vieram destabilizar o confortável sossego da actriz Catarina. E lá teve a
Senhora que descer a terreiro bradando aos ventos televisivos afirmando que
concordava com os valores da contestação em curso, a do «Black Lives
Matter». E, das duas, uma: ou o movimento é
composto por gente exógena ao BE e a Senhora legitimou-os com os ventos que
semeou ou essa gente vem de dentro do BE, a Senhora foi apanhada desprevenida e
falou numa tentativa de não perder o «comboio» que partira antes dela apitar a
corneta de Chefe de Estação. Se se tratar de um movimento exógeno, é mau
que a Senhora o tenha legitimado pois, eventualmente, os protestantes não
reconhecem legitimidade a quem pactua com os Valores parlamentares ocidentais;
se se trata de algo que surgiu de dentro do BE, então a Senhora que se prepare
para ser apeada ou para ter que fazer uma purga stalinista o que, para além de
ser uma vergonha doutrinária para uma gramsciana convicta, é penalizável no
âmbito do quadro legal em vigor. Em qualquer das hipóteses, um evidente sinal
de fragilidade – e se um sistema rígido como um bloco abre fissuras, parte e
esfarela-se.
Duvido
seriamente que a Senhora esteja em condições de tomar o controle do «BLM» quer
porque não o consegue fazer quer porque não o queira - «deixá-los escaqueirar
tudo que é isso mesmo que eu quero». Então, daqui lhe sugiro que pergunte à sua
antecessora na diatribe revolucionária, Dolores Ibarruri, o que acontece a quem semeia tempestades.
Finalmente,
pergunto ao Senhor Dr. Costa se põe ordem nos desacatos ou se fica à espera que
alguém tenha a ventura de o fazer por conta própria. É que, se assim acontecer,
será muito mau para quase todos – menos para quem se fique a rir ao ver os
inimigos esfacelarem-se mutuamente.
Péssimo
cenário. Prefiro o discurso de Emmanuel Macron no passado dia 14 de Junho:
(…)
la République n’effacera aucune trace ni aucun nom de son Histoire.
La République ne déboulonnera pas de statues. Nous
devons plutôt lucidement regarder ensemble toute notre Histoire, toutes nos
mémoires, notre rapport à l’Afrique en particulier, pour bâtir un présent et un
avenir possible, d’une rive à l’autre de la Méditerranée avec une volonté de
vérité en aucun cas de revisiter ou de nier ce que nous sommes (…)
FIM
Junho de 2020
Henrique Salles da Fonseca
Tags: "política
portuguesa"
COMENTÁRIOS:
Henrique Salles da
Fonseca 21.06.2020: Por razão
internética para mim misteriosa, não aparece a seguinte nota de pé de página
relativa à diferença de estratégias entre Stalin e Trotski:
- Trotski preconizava a mundialização imediata da revolução proletária; Stalin optou pela consolidação da revolução na URSS naquela fase e só numa fase posterior se faria a exportação do inferno. Tudo bluff, cada um deles queria o monopólio do protagonismo. Troski fugiu e, na dúvida, Stalin mandou matá-lo.
- Trotski preconizava a mundialização imediata da revolução proletária; Stalin optou pela consolidação da revolução na URSS naquela fase e só numa fase posterior se faria a exportação do inferno. Tudo bluff, cada um deles queria o monopólio do protagonismo. Troski fugiu e, na dúvida, Stalin mandou matá-lo.
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