sexta-feira, 19 de junho de 2020

Estátuas



E a revisão da História, e o simbolismo das construções e o das respectivas destruições, ao longo da História, estas últimas, quantas vezes, produto das perversões ideológicas demolidoras. Paulo Tunhas faz uma bela resenha histórica, com condenação irónica da indiferença das nossas chefias perante os vandalismos perpetrados, quantas vezes pela sanha de uma bestialidade conduzida por doutrinação de aparência virtuosa.
Como, por cá, o Padre António Vieira foi um dos eleitos para a nossa demonstração de acompanhamento  democraticamente internacional anti-racista, transcrevo o excerto, de todos conhecido, sobre a forma como se esculpe uma estátua, símbolo de esculturas humanas, como essas dos índios a quem Vieira transmitiu saber e fé. Mas duvido que tal trecho de rigor e precisão literária tivesse algum efeito sobre quem lhe derrubou a estátua, ou mesmo sobre as nossas chefias, que outros interesses servem:

«Arranca o estatuário uma pedra destas montanhas, tosca, bruta, dura, informe; e depois que desbastou o mais grosso, toma o maço e o cinzel na mão e começa a formar um homem: primeiro, membro a membro e, depois, feição por feição, até à mais miúda. Ondeia-lhe os cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, afila-lhe o nariz, abre-lhe a boca, torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos, divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos. Aqui desprega, ali arruga, acolá recama. E fica um homem perfeito, e talvez um santo que se pode pôr no altar.
O mesmo será cá, se a vossa indústria não faltar à graça divina. É uma pedra, como dizeis, esse índio rude? Pois trabalhai e continuai com ele (que nada se faz sem trabalho e perseverança), aplicai o cinzel um dia e outro dia, daí uma martelada e outra martelada, e vós vereis como dessa pedra tosca e informe fazeis, não só um homem, senão um cristão, e pode ser que um santo.»
Padre António Vieira, (s.XVII), pregando em defesa dos índios brasileiros – in Sermão do Espírito Santo

Muita memória, pouca história /premium
Como é que o golpe mortal dado no ”racismo sistémico” ao cortar a cabeça de Colombo não produziu ainda o almejado objectivo de nos tornar todos criaturas infinitamente amantes umas das outras? Mistério.
PAULO TUNHAS
OBSERVADOR, 18 jun 2020
Enquanto Marcelo Rebelo de Sousa volta às aulas, na telescola, movido por irreprimíveis desejos de comunicar afectos, e celebra a vinda da Liga dos Campeões a Portugal como um feito nacional (mesmo com a covid, “somos os maiores”); enquanto António Costa tenta pôr um seu ex-ministro à frente do Banco de Portugal, a ser fiscalizado por um conselho por ele mesmo nomeado enquanto ministro; enquanto a ministra da Justiça escolhe para seu conselheiro um magistrado punido no passado por pressionar procuradores que investigavam Sócrates; enquanto Bernardo Ferrão, no Polígrafo da SIC, se aplica a mostrar que é falsa a notícia posta a correr nas “redes sociais” segundo a qual Catarina Martins foi teletransportada de Marte, com as proverbiais antenazinhas disfarçadas, para subjugar o planeta – enquanto tudo isto se passa, à beira do abismo, com uma deprimente regularidade toda portuguesa, o mundo continua a mover-se. Não forçosamente da melhor maneira, é verdade. Como declarou Michel Houellebecq numa entrevista recente, o “novo normal” será muito parecido com o “velho normal” – só que pior.
Uma das formas que o mundo tem adoptado para manifestar o seu movimento é através do derrube e da vandalização de estátuas. As televisões e vários comentadores entusiasmam-se com o feito, vendo nele um símbolo maior do progresso da consciência humana que um dia derrubará o “fascismo” e o “racismo sistémico” que são a triste lei neste nosso planeta. O mínimo que se pode dizer é que é uma luta que vem de há muito tempo. E não, não estou apenas a referir-me à destruição dos Budas de Bamiyan pelos simpáticos talibãs, esses grandes humanistas, ou à eliminação de Palmira pelo Estado Islâmico. Os primeiros cristãos em posição de algum poder dedicaram-se também com afinco à destruição das estátuas dos deuses pagãos (não, parece, por serem falsos deuses, mas por serem deuses maléficos, isto é dotados de uma acção real). Os protestantes ingleses também apreciavam o desporto, como ainda hoje se pode ver, por exemplo, na Catedral de Ely. E a revolução francesa não se limitou, como se sabe, a derrubar a Bastilha, onde, ao que consta, se encontravam apenas oito residentes, que não viram com bons olhos o transtorno dos seus hábitos quotidianos: vandalizou igualmente, entre muitas outras coisas, os túmulos dos reis de França em Saint-Denis. Mais tarde, a Comuna de Paris derrubou a coluna da Place Vendôme (a que se vê agora é uma reconstrução), anunciando, de acordo com a loucura da época: “A comuna de Paris, considerando que a Coluna de Vendôme é um monumento bárbaro, símbolo da força bruta e da falsa glória, uma afirmação do militarismo, a negação do direito internacional, um permanente insulto dos vencedores aos vencidos, um perpétuo ataque a um dos três grandes princípios da República Francesa, a fraternidade, decreta – artigo único: A coluna de Vendôme será demolida“.
Mesmo deixando de lado os casos das estátuas de ditadores (Lenine, Estaline, Hitler, Saddam) derrubadas aquando de revoluções ou de alterações violentas de poder, casos que, apesar de tudo, relevam de uma lógica diferente, a lista do parágrafo anterior poderia naturalmente prolongar-se num número extensíssimo e indefinido de volumes numa biblioteca. O golpe mortal dado ao ”racismo sistémico” representado pelo cortar a cabeça de Colombo, ou, mais modestamente, pela vandalização da estátua do Padre António Vieira em Lisboa, repetiu-se vezes sem conta. A única surpresa é: como é que um processo tão simples, justo e eficaz não produziu ainda o almejado objectivo de nos tornar a todos criaturas angélicas e infinitamente amantes umas das outras? Mistério.
É claro que a arte pública, a que é exibida nas ruas e não nos museus, contém em si virtualmente uma possibilidade de violência estética ou simbólica. E o “culto moderno dos monumentos” e dos “lugares de memória”, com o seu conjunto de comemorações, aumenta essa possibilidade. Lembrem-se da escultura de Pedro Cabrita Reis em Leça da Palmeira. Ou, para dar um exemplo que tenho praticamente em frente à minha casa, o monumento aos Heróis da Guerra Peninsular (começado em 1909 e só concluído em 1952!), na Rotunda da Boavista (mais exactamente: Praça Mouzinho de Albuquerque), no Porto. Há muitos anos, os pais de um amigo francês resolveram fazer uma viagem por Portugal e uma tarde contaram-me que tinham passado por um monumento muito feio, nem mais nem menos o da Rotunda da Boavista. Não pretendo que ele seja de uma beleza excessiva, mas algo me diz que a figura no seu topo – o leão inglês subjugando a águia francesa (“o leão a galar a águia”, como já ouvi) – lhes tenha inconscientemente ferido o orgulho nacional gaulês.
De qualquer maneira, o ódio ritual aos monumentos, agora de vento em popa, tem a sua origem última, creio, numa colossal falta de sentimento da história e numa correspondente exorbitação da memória. Há questões filosóficas internas à história que não relevam propriamente de uma filosofia da história. São as mais interessantes. Uma delas é a da relação entre história e memória. Qualquer que seja a posição que se adopte – a memória é a matriz da história, ou a memória (individual ou colectiva) é um dos objectos da história: elas não são, de resto, inconciliáveis -, a diferença entre ambas persiste. A memória é egocêntrica e define a identidade dos indivíduos ou dos grupos. A história, por sua vez, conduz ao descentramento e à distância, nomeadamente à distância para com o passado, visto como um objecto independente de nós. Volto à Praça Mouzinho de Albuquerque. Viver aqui não me inspira – por contiguidade, poder-se-ia dizer – qualquer sentimento de afinidade com o militar português que, no Chaimite de Jorge Brum do Canto, se dirige ao régulo Gungunhana com o célebre “Senta-te, preto!”. É exactamente o contrário que se passa nas cidades: as figuras que as ornam dão-nos a ver a distância que nos separa delas e são-nos utilíssimas para isso. À sua maneira, são uma condição de progresso e de autonomia dos indivíduos, impedem-nos de viver no interior do mito, com a sua ilusória inteligibilidade e a sua heteronomia. Simultaneamente, permitem-nos pensar o futuro, imaginar o futuro.
Em contrapartida, a redução da história à memória conduz à alucinação do passado no presente, isto é, desrealiza o passado enquanto passado. A partir daqui tudo é possível. Passa-se da história para o mito. Passamos a ver tudo sem distância, como numa espécie de reality show permanente. Se a história traz distância, autonomia e libertação para o futuro, a redução da história à memória, nomeadamente à memória de certos grupos sociais, acarreta a heteronomia e a impossibilidade de nos colocarmos no lugar do outro, tanto para o tentar compreender como para medirmos a distância (histórica) que dele nos separa. Sem tal distância, encontramo-nos um pouco na situação daquele francês que vai a Londres e que, depois de um passeio pela cidade, chega a Trafalgar Square, reflectindo: “Os ingleses são malucos! A quem é que lembraria dar nomes de grandes derrotas militares às principais praças de uma cidade?”.
O actual vandalismo, com a sua desesperada tentativa de obliteração do passado, que é também obliteração do futuro, sempre existiu, entre as mais diversas culturas. Até a crença numa eficácia mágica causal das estátuas é ainda discernível. As damnationes memoriae não são de hoje, como se viu. Mas, por mais que o saibamos, há algo que assusta particularmente: é a inexistência de um princípio interno de limitação. De facto, o que é que legitimamente impede os presentes descendentes dos bravos dácios de, picareta na mão, destruírem a coluna de Trajano? Ou os derrotados da batalha de Hastings de pegarem fogo à tapeçaria de Bayeux? De acordo com a maneira de pensar em voga, que entusiasma a nossa esquerda, nada. Pouca história e muita memória dão nisto. O nosso Mamadou Ba, bem como uma extensa legião de copiões que copiam as suas cópias, pôs entre nós em voga a expressão “sujeitos racializados”. Sugiro que os adeptos da presente vaga de destruição das estátuas – estátuas que são, repito, um poderoso elemento, por mais involuntário que seja, da consciência da nossa autonomia por relação ao passado – passem a ser designados por “sujeitos auto – ou hetero – idiotizados”.
COMENTÁRIOS:
José Miranda: O Paulo Tunhas é assumidamente ateu. Tem muita companhia aqui no Observador. Eu, assumidamente católico, leio-os com gosto e merecem o meu respeito. Sou um leitor assíduo do Observador e não tenho nada a ver com as opções religiosas de cada um. Já alguns dos comentadeiros não perdem uma oportunidade de atacar raivosamente a Igreja e os católicos. Que Deus lhes perdoe porque não sabem o que dizem.
Jacinto Pereira: Texto brilhante - mas que induz a uma certa melancolia histórica/civilizacional, decorrente de uma visão ainda eurocêntrica (ocidental) do mundo. Isso acabou , definitivamente. Uma (não) provocação: face ao processo uniformemente acelerado de desunião em curso nos "States", será excessivo afirmar que os Russos já estão no Cabo da Roca - e sem necessidade de saírem do sítio onde se encontram ?...
Eduardo Abreu: Excelente texto. Os idiotas de serviço responderam de imediato!
Contra Ponto: Todos os dias milhões de católicos entram nos templos da ICAR e veneram homens que andaram a destruir e a vandalizar estátuas, obras de arte e templos pagãos. Que tal uma estátua a glorificar os muçulmanos que queimaram vivo um piloto sírio? A Igreja Católica tem estátuas de santos que mandaram pessoas para a fogueira. E não faltam pessoas a venerar estes vândalos. E veneram todos os dias! Perante a cumplicidade e a passividade generalizadas. 
Francisco Carvalho: Boa crónica de PAULO TUNHAS ! Entristece-me a popularidade de MARCELO não por ele mas por este povo !
José Paulo e Castro: A maior parte dos que reduzem a história à memória não têm memória sequer dos que podiam ainda ter memória. Também não têm história pois baseiam as suas crenças em livros actuais e teorias actuais que não vão beber a nenhuns documentos históricos relevantes produzidos na época, vulgarmente designados fontes, mas a uma teorização baseada em estudos posteriores e sucessivamente reciclada a partir de factos históricos isolados. Não buscam a verdade histórica mas a oficialização da teoria construída actualmente sobre a história. O fim sobrepõe-se ao conteúdo histórico, daí serem selectivos nas suas visões. Por exemplo, ainda não propuseram a destruição dos monumentos aztecas de escravizantes e sacrificiais sociedades que o corte da cabeça de Colombo veio 'restaurar' como dignos... Digam o que disserem, eles não têm memória, nem têm história porque a instrumentalizam. Têm auto-idiotia contagiosa, sim. O afastamento face ao período permite-lhes focar no que pretendem deste período. O resto é manipulação de idiotias diversas e um mal-estar generalizado. Só como exemplo da falta de profundidade: eles acham que o abolicionismo veio da revolta dos escravos mas eu tenho para mim que veio mais dos engenheiros que deram início à Revolução Industrial e assim tornaram a mão-de-obra prescindível. Eles tornam isto uma questão social quando pode ter sido tecnológica (e as suas implicações) e estas inovações é que permitiram que a sociedade ocidental fosse a primeira a pensar em abolir o trabalho escravo. Mas esta versão não lhes dá jeito...
Contra Ponto > José Paulo C Castro: Olha, olha, um declarado católico e anti-marxista a explicar um fenómeno económico e moral (a escravatura) à luz de explicações marxistas: são os fundamentos económicos e materiais que explicam o facto de uma sociedade adoptar ou abolir a escravatura. LOL Para além de económica, a escravatura é, acima de tudo, uma questão ética. Por isso, só mesmo de um católico a desculpabilização da escravatura à luz de lógicas marxistas / economicistas / materialistas. Ou, dito de outra forma, se os engenheiros da Revolução Industrial não tivessem tornado prescindível a mão-de-obra, a escravatura seria uma coisa moralmente aceitável. Ora, não estamos a discutir os factores que puseram fim à escravatura mas sim a natureza moral da mesma. Por isso, a discussão sobre a Revolução Industrial só serve para distrair os distraídos: independentemente da Revolução Industrial, a escravatura é uma imoralidade e não deveria existir em sociedades orientadas pelos "grandes valores" cristãos. V. Exa. tem o desplante de apontar o dedo à civilização azteca que praticava sacrifícios humanos, como se a sua Igreja, na mesma época, não "sacrificasse" na fogueira, outros seres humanos. V. Ex.a já foi confrontado com o repto e sempre fugiu ao dito cujo: se fosse condenado à morte e lhe dessem a escolher, preferia a morte perpetrada num templo azteca ou a morte na "santa" fogueira? Já sei o que o seu silêncio quer dizer. 
José Paulo C Castro > Contra Ponto: Eu nunca disse que Marx estava errado na análise. Digo que Marx está errado na solução. E os marxistas modernos, camaleónicos, andam apenas a fazer variações sobre o mesmo erro. Sim, a escravatura é moralmente errada mas era o que acontecia aos vencidos na guerra perante a alternativa que era a morte por motivos de impedir o regresso da guerra. Foi por aqui começou a escravatura. Depois, há formas suaves de servidão e outras instituições que disfarçaram esse ponto crucial da natureza humana. De resto, o seu raciocínio está pejado dos mesmos erros que aponto: análise de contextos históricos transpostos para o presente, apego a casos isolados como prova e, por fim, o erro mais comum da esquerda que é raciocinar em função do alvo a atingir e não da realidade. Em pleno século XX, marxistas russos e chineses condenaram milhões de pessoas a trabalhos forçados em condições ainda mais cruéis e degradantes do que aquelas que foram impostas aos escravos. Um pouco de vergonha na cara ficava-lhe bem.
Euro de Eos > José Paulo C Castro: Correcto: Marx está certo no diagnóstico (na teoria económica e da História, com algumas correcções necessárias, como em qualquer ciência) mas receitou os comprimidos errados: foi pior a cura do que a doença.
Euro de Eos > Contra Ponto: Você tem toda a pinta de amante de soluções drásticas.
Contra Ponto > Euro de Eos: Nada disso! Ao contrário de si, não dou o meu apoio a organizações que exaltam terroristas. 
José Paulo C Castro > Euro de Eos: Eu, pessoalmente, duvido da análise dele sobre a História. Não vejo sentido único na mesma, antes um movimento cíclico. Acho que ele passou a achar-se profético. Acima de tudo, acho que não concebeu que a 'exploração' surge sempre, seja fruto da liberdade económica, do uso da força ou das condições naturais. A que garante a liberdade económica é, apesar de tudo, a menos má.
Euro de Eos > José Paulo C Castro: O maior erro que vejo em Marx foi o seu profetismo, que aliás julgava ser uma conclusão científica, objectiva, baseada nas leis da História. Erro colossal que todavia não invalida ter sido o maior teórico da História (real), mesmo que a sua teoria tenha alguns erros. Pátria e Futuro A coesão social sempre foi condição primordial para a subsistência de qualquer reino ou país. Essa construía-se pelo passado comum e pela identidade, os pilares que estão agora a ser derrubados. Só com a coesão e unidade se tornou possível construir em conjunto, ultrapassar crises, sobreviver entre ciclos de crise e prosperidade. De repente o Estado começou a funcionar de forma estranha, omitindo-se na defesa do que é em favor da unidade e das maiorias e reagindo fortemente contra o que é a favor da tradição e dos valores nacionais, cujo dever é preservar e defender. Quando temos um clube, onde é admitido quem apresente determinados requisitos e, de repente, retiramos as condições, podendo entrar toda a gente, usufruir de tudo quanto existe sem contrapartidas, a não ser, defender quem esteja na Direcção, sabemos que esse clube rapidamente se transformará num motel de estrada, onde só o topo permanecerá defendido e o resto desaparecerá, deixando despojados, desiludidos e desesperados. Sem passado, sem identidade, sem coesão, sem cooperação, sem valores comuns nem objectivos partilhados, não haverá futuro.
Adelino Lopes: Mais um brilhante artigo. Mas hoje quero suscitar um outro tema; no fundo a continuidade. Nós sabemos (aceitamos) como retirar um título a quem o ganhou; por exemplo nas competições desportivas por motivo de doping. Normalmente isso é feito em vida do ganhador. Também se pode “abater” uma estátua em vida do próprio, se para isso existirem razões? No contexto das leis a que o próprio deveria obedecer, acho que sim. E se o próprio não estiver vivo, mas os que com ele privaram estiverem vivos? Bom, aí não sei. Por exemplo, seria justo retirar o prémio Nobel ao Saramago, sabendo hoje o que se sabe acerca do estalinismo que ele tanto defendeu? Sim, porque essa ideologia contribui para a escrita dele, e portanto para o prémio Nobel. Não sei responder. Esta é a minha linha de fronteira. Para trás (no tempo), tudo deve ser preservado. Mais, faltam estátuas que contribuam para a redução da ignorância. Proponho a construção de um museu “comunista” que mostre as realidades desses regimes socialistas.
Carlos Quartel: Reflexões interessantes, sobre o desassossego, que significa incómodo e que significa também tentativa de correcção. Pena que tudo isto se mova pela irracionalidade e pela violência gratuita, pelo apelo à imbecilidade e à bestialidade. Não que as sociedades não necessitem alguns abanões e alguns alertas. Sufocar gente com um joelho no pescoço não é tarefa para polícias. O mal não está na denúncia, o mal está no aproveitamento .....


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