E a revisão da História, e o simbolismo
das construções e o das respectivas destruições, ao longo da História, estas
últimas, quantas vezes, produto das perversões ideológicas demolidoras. Paulo Tunhas faz uma bela resenha histórica, com
condenação irónica da indiferença das nossas chefias perante os vandalismos
perpetrados, quantas vezes pela sanha de uma bestialidade conduzida por
doutrinação de aparência virtuosa.
Como, por cá, o Padre António Vieira foi um dos
eleitos para a nossa demonstração de acompanhamento democraticamente internacional anti-racista,
transcrevo o excerto, de todos conhecido, sobre a forma como se esculpe uma
estátua, símbolo de esculturas humanas, como essas dos índios a quem Vieira
transmitiu saber e fé. Mas duvido que tal trecho de rigor e precisão literária tivesse
algum efeito sobre quem lhe derrubou a estátua, ou mesmo sobre as nossas
chefias, que outros interesses servem:
«Arranca o estatuário uma pedra
destas montanhas, tosca, bruta, dura, informe; e depois que desbastou o mais
grosso, toma o maço e o cinzel na mão e começa a formar um homem: primeiro,
membro a membro e, depois, feição por feição, até à mais miúda. Ondeia-lhe os
cabelos, alisa-lhe a testa, rasga-lhe os olhos, afila-lhe o nariz, abre-lhe a
boca, torneia-lhe o pescoço, estende-lhe os braços, espalma-lhe as mãos,
divide-lhe os dedos, lança-lhe os vestidos. Aqui desprega, ali arruga, acolá
recama. E fica um homem perfeito, e talvez um santo que se pode pôr no altar.
O mesmo será cá, se a vossa
indústria não faltar à graça divina. É uma pedra, como dizeis, esse índio rude?
Pois trabalhai e continuai com ele (que nada se faz sem trabalho e
perseverança), aplicai o cinzel um dia e outro dia, daí uma martelada e outra martelada,
e vós vereis como dessa pedra tosca e informe fazeis, não só um homem, senão um
cristão, e pode ser que um santo.»
Padre António
Vieira, (s.XVII), pregando em defesa dos índios brasileiros – in Sermão do
Espírito Santo
Muita memória, pouca história /premium
Como é que o golpe mortal dado no
”racismo sistémico” ao cortar a cabeça de Colombo não produziu ainda o almejado
objectivo de nos tornar todos criaturas infinitamente amantes umas das outras? Mistério.
PAULO TUNHAS
OBSERVADOR, 18 jun
2020
Enquanto
Marcelo Rebelo de Sousa volta às aulas, na telescola, movido por irreprimíveis
desejos de comunicar afectos, e celebra a vinda da Liga dos Campeões a Portugal
como um feito nacional (mesmo com a covid, “somos os maiores”); enquanto
António Costa tenta pôr um seu ex-ministro à frente do Banco de Portugal, a ser
fiscalizado por um conselho por ele mesmo nomeado enquanto ministro; enquanto a
ministra da Justiça escolhe para seu conselheiro um magistrado punido no
passado por pressionar procuradores que investigavam Sócrates; enquanto
Bernardo Ferrão, no Polígrafo da SIC, se aplica a mostrar que é falsa a notícia
posta a correr nas “redes sociais” segundo a qual Catarina Martins foi
teletransportada de Marte, com as proverbiais antenazinhas disfarçadas, para
subjugar o planeta – enquanto tudo isto se passa, à beira do
abismo, com uma deprimente regularidade toda portuguesa, o mundo continua a
mover-se. Não forçosamente da melhor maneira, é
verdade. Como declarou Michel Houellebecq numa entrevista recente, o “novo
normal” será muito parecido com o “velho normal” – só que pior.
Uma
das formas que o mundo tem adoptado para manifestar o seu movimento é através
do derrube e da vandalização de estátuas. As televisões e vários comentadores entusiasmam-se
com o feito, vendo nele um símbolo maior do progresso da consciência humana
que um dia derrubará o “fascismo” e o “racismo sistémico” que são a triste lei
neste nosso planeta. O mínimo que se pode dizer é que é uma luta
que vem de há muito tempo. E não, não
estou apenas a referir-me à destruição dos Budas de Bamiyan pelos simpáticos talibãs, esses grandes humanistas, ou à eliminação de Palmira pelo Estado
Islâmico. Os primeiros cristãos em
posição de algum poder
dedicaram-se também com afinco à destruição das estátuas dos deuses pagãos (não, parece, por serem falsos deuses, mas por serem
deuses maléficos, isto é dotados de uma acção real). Os protestantes
ingleses também apreciavam o desporto, como ainda hoje se pode ver, por
exemplo, na Catedral de Ely. E a revolução francesa não se limitou, como
se sabe, a derrubar a Bastilha, onde, ao que consta, se encontravam apenas
oito residentes, que não viram com bons olhos o transtorno dos seus hábitos
quotidianos: vandalizou igualmente, entre muitas outras coisas, os túmulos
dos reis de França em Saint-Denis. Mais tarde, a Comuna de Paris derrubou a
coluna da Place Vendôme (a que se vê agora é uma reconstrução), anunciando,
de acordo com a loucura da época: “A comuna de Paris, considerando que a Coluna
de Vendôme é um monumento bárbaro, símbolo da força bruta e da falsa glória,
uma afirmação do militarismo, a negação do direito internacional, um
permanente insulto dos vencedores aos vencidos, um perpétuo ataque a um dos
três grandes princípios da República Francesa, a fraternidade, decreta – artigo
único: A coluna de Vendôme será demolida“.
Mesmo
deixando de lado os casos das estátuas de ditadores (Lenine,
Estaline, Hitler, Saddam) derrubadas
aquando de revoluções ou de alterações violentas de poder, casos
que, apesar de tudo, relevam de uma lógica diferente, a lista do parágrafo anterior poderia naturalmente
prolongar-se num número extensíssimo e indefinido de volumes numa biblioteca. O golpe
mortal dado ao ”racismo sistémico” representado pelo cortar a cabeça de
Colombo, ou, mais modestamente, pela vandalização da estátua do Padre António
Vieira em Lisboa, repetiu-se vezes sem conta. A única surpresa é: como é que um processo tão
simples, justo e eficaz não produziu ainda o almejado
objectivo de nos tornar a todos criaturas angélicas e infinitamente amantes
umas das outras? Mistério.
É claro que a arte pública, a que é
exibida nas ruas e não nos museus, contém em si virtualmente uma possibilidade
de violência estética ou simbólica.
E o “culto moderno dos monumentos” e dos “lugares de memória”, com o seu
conjunto de comemorações, aumenta essa possibilidade. Lembrem-se da escultura
de Pedro Cabrita Reis
em Leça da Palmeira. Ou, para dar
um exemplo que tenho praticamente em frente à minha casa, o monumento aos
Heróis da Guerra Peninsular (começado em 1909 e só concluído em 1952!), na
Rotunda da Boavista (mais exactamente: Praça Mouzinho de Albuquerque), no Porto.
Há muitos anos, os pais de um amigo francês resolveram fazer uma viagem por
Portugal e uma tarde contaram-me que tinham passado por um monumento muito
feio, nem mais nem menos o da Rotunda da Boavista. Não pretendo que ele
seja de uma beleza excessiva, mas algo me diz que a figura no seu topo – o leão
inglês subjugando a águia francesa (“o leão a galar a águia”, como já ouvi) –
lhes tenha inconscientemente ferido o orgulho nacional gaulês.
De
qualquer maneira, o ódio ritual aos monumentos, agora de vento em
popa, tem a sua origem última, creio, numa colossal falta de sentimento da
história e numa correspondente exorbitação da memória. Há questões filosóficas internas à história que não
relevam propriamente de uma filosofia da história. São as mais interessantes. Uma delas é a da relação
entre história e memória. Qualquer
que seja a posição que se adopte – a memória é a matriz da
história, ou a memória (individual ou colectiva) é um dos objectos da história: elas não são, de resto, inconciliáveis -, a
diferença entre ambas persiste. A memória é egocêntrica e
define a identidade dos indivíduos ou dos grupos. A história, por sua vez, conduz ao descentramento
e à distância, nomeadamente à distância para com o passado, visto
como um objecto independente de nós.
Volto à Praça Mouzinho de Albuquerque. Viver aqui não me inspira –
por contiguidade, poder-se-ia dizer – qualquer sentimento de afinidade com
o militar português que, no Chaimite de Jorge Brum do Canto, se dirige ao
régulo Gungunhana com o célebre “Senta-te, preto!”. É
exactamente o contrário que se passa nas cidades: as figuras que as ornam
dão-nos a ver a distância que nos separa delas e são-nos utilíssimas para isso.
À sua maneira, são uma condição de progresso e de autonomia dos indivíduos,
impedem-nos de viver no interior do mito, com a sua ilusória inteligibilidade e
a sua heteronomia. Simultaneamente, permitem-nos pensar o futuro, imaginar o
futuro.
Em contrapartida, a redução da
história à memória conduz à alucinação do passado no presente, isto é,
desrealiza o passado enquanto passado.
A partir daqui tudo é possível. Passa-se da história para o mito. Passamos a ver tudo sem distância, como numa espécie
de reality show permanente. Se a
história traz distância, autonomia e libertação para o futuro, a redução da
história à memória, nomeadamente à memória de certos grupos sociais, acarreta a
heteronomia e a impossibilidade de nos colocarmos no lugar do outro, tanto para
o tentar compreender como para medirmos a distância (histórica) que dele nos
separa. Sem tal distância, encontramo-nos um pouco na situação daquele francês
que vai a Londres e que, depois de um passeio pela cidade, chega a Trafalgar
Square, reflectindo: “Os ingleses são malucos! A quem é que lembraria
dar nomes de grandes derrotas militares às principais praças de uma cidade?”.
O actual vandalismo, com a sua
desesperada tentativa de obliteração do passado, que é também obliteração do
futuro, sempre existiu, entre as mais diversas culturas. Até a crença numa eficácia mágica causal das estátuas
é ainda discernível. As damnationes memoriae não são de hoje, como se viu.
Mas, por mais que o saibamos, há algo que assusta particularmente: é
a inexistência de um princípio interno de limitação. De facto, o que é que legitimamente impede os
presentes descendentes dos bravos dácios de, picareta na mão, destruírem a
coluna de Trajano? Ou os derrotados da batalha de Hastings de pegarem fogo à
tapeçaria de Bayeux? De acordo com a maneira de pensar em voga, que
entusiasma a nossa esquerda, nada. Pouca história e muita memória dão
nisto. O nosso Mamadou Ba, bem como uma extensa legião de copiões que
copiam as suas cópias, pôs entre nós em voga a expressão “sujeitos
racializados”. Sugiro que os adeptos da presente vaga de destruição das
estátuas – estátuas que são, repito, um poderoso elemento, por mais
involuntário que seja, da consciência da nossa autonomia por relação ao passado
– passem a ser designados por “sujeitos auto – ou hetero – idiotizados”.
COMENTÁRIOS:
José Miranda: O Paulo Tunhas é assumidamente ateu. Tem muita companhia aqui no
Observador. Eu, assumidamente católico, leio-os com gosto e merecem o meu respeito. Sou um
leitor assíduo do Observador e não tenho nada a ver com as opções religiosas de
cada um. Já alguns dos comentadeiros não perdem uma oportunidade de atacar
raivosamente a Igreja e os católicos. Que Deus lhes perdoe porque não sabem o que dizem.
Jacinto Pereira:
Texto brilhante -
mas que induz a uma certa melancolia histórica/civilizacional, decorrente de
uma visão ainda eurocêntrica (ocidental) do mundo. Isso acabou , definitivamente.
Uma (não)
provocação: face ao processo uniformemente acelerado de desunião em curso nos
"States", será excessivo afirmar que os Russos já estão no Cabo da
Roca - e sem necessidade de saírem do sítio onde se encontram ?...
Eduardo Abreu: Excelente texto. Os idiotas de
serviço responderam de imediato!
Contra Ponto: Todos os dias milhões de católicos entram nos templos da ICAR e veneram
homens que andaram a destruir e a vandalizar estátuas, obras de arte e templos
pagãos. Que tal uma estátua a glorificar os muçulmanos que queimaram vivo um piloto
sírio? A Igreja Católica tem estátuas de santos que mandaram pessoas para a
fogueira. E não faltam pessoas a venerar estes vândalos. E veneram todos os dias!
Perante a cumplicidade e a passividade generalizadas.
Francisco
Carvalho: Boa crónica de PAULO
TUNHAS ! Entristece-me a popularidade de MARCELO não por ele mas por este povo
!
José Paulo e Castro: A maior parte dos que reduzem a história à memória não têm memória sequer
dos que podiam ainda ter memória. Também não têm história pois baseiam as suas
crenças em livros actuais e teorias actuais que não vão beber a nenhuns
documentos históricos relevantes produzidos na época, vulgarmente designados
fontes, mas a uma teorização baseada em estudos posteriores e sucessivamente
reciclada a partir de factos históricos isolados. Não buscam a verdade
histórica mas a oficialização da teoria construída actualmente sobre a
história. O fim sobrepõe-se ao conteúdo histórico, daí serem selectivos nas
suas visões. Por exemplo, ainda não propuseram a destruição dos monumentos
aztecas de escravizantes e sacrificiais sociedades que o corte da cabeça de
Colombo veio 'restaurar' como dignos... Digam o que disserem, eles não têm
memória, nem têm história porque a instrumentalizam. Têm auto-idiotia
contagiosa, sim. O afastamento face ao período permite-lhes focar no que
pretendem deste período. O resto é manipulação de idiotias diversas e um
mal-estar generalizado. Só como exemplo da falta de profundidade: eles acham
que o abolicionismo veio da revolta dos escravos mas eu tenho para mim que veio
mais dos engenheiros que deram início à Revolução Industrial e assim tornaram a
mão-de-obra prescindível. Eles tornam isto uma questão social quando pode ter
sido tecnológica (e as suas implicações) e estas inovações é que permitiram que
a sociedade ocidental fosse a primeira a pensar em abolir o trabalho escravo.
Mas esta versão não lhes dá jeito...
Contra Ponto > José Paulo C Castro: Olha, olha, um declarado
católico e anti-marxista a explicar um fenómeno económico e moral (a
escravatura) à luz de explicações marxistas: são os fundamentos económicos e
materiais que explicam o facto de uma sociedade adoptar ou abolir a
escravatura. LOL Para além de económica, a escravatura é, acima de tudo, uma questão ética.
Por isso, só mesmo de um católico a desculpabilização da escravatura à luz de
lógicas marxistas / economicistas / materialistas. Ou, dito de outra forma, se os
engenheiros da Revolução Industrial não tivessem tornado prescindível a
mão-de-obra, a escravatura seria uma coisa moralmente aceitável. Ora, não estamos a discutir os
factores que puseram fim à escravatura mas sim a natureza moral da mesma. Por
isso, a discussão sobre a Revolução Industrial só serve para distrair os
distraídos: independentemente da Revolução Industrial, a escravatura é uma
imoralidade e não deveria existir em sociedades orientadas pelos "grandes
valores" cristãos. V. Exa. tem o desplante de apontar o dedo à
civilização azteca que praticava sacrifícios humanos, como se a sua Igreja, na
mesma época, não "sacrificasse" na fogueira, outros seres humanos. V.
Ex.a já foi confrontado com o repto e sempre fugiu ao dito cujo: se fosse
condenado à morte e lhe dessem a escolher, preferia a morte perpetrada num
templo azteca ou a morte na "santa" fogueira? Já sei o que o seu
silêncio quer dizer.
José Paulo C Castro > Contra Ponto: Eu nunca disse que Marx estava errado na análise. Digo
que Marx está errado na solução. E os marxistas modernos, camaleónicos, andam
apenas a fazer variações sobre o mesmo erro. Sim, a escravatura é moralmente
errada mas era o que acontecia aos vencidos na guerra perante a alternativa que
era a morte por motivos de impedir o regresso da guerra. Foi por aqui começou a
escravatura. Depois, há formas suaves de servidão e outras instituições que
disfarçaram esse ponto crucial da natureza humana. De resto, o seu raciocínio está
pejado dos mesmos erros que aponto: análise de contextos históricos
transpostos para o presente, apego a casos isolados como prova e, por fim, o
erro mais comum da esquerda que é raciocinar em função do alvo a atingir e não
da realidade. Em pleno século XX, marxistas russos e chineses condenaram milhões de
pessoas a trabalhos forçados em condições ainda mais cruéis e degradantes do
que aquelas que foram impostas aos escravos. Um pouco de vergonha na cara
ficava-lhe bem.
Euro de Eos > José Paulo C Castro: Correcto: Marx está certo no
diagnóstico (na teoria económica e da História, com algumas correcções
necessárias, como em qualquer ciência) mas receitou os comprimidos errados: foi
pior a cura do que a doença.
Contra Ponto > Euro de Eos: Nada disso! Ao contrário de si, não dou o meu apoio a
organizações que exaltam terroristas.
José Paulo C Castro > Euro de Eos: Eu, pessoalmente, duvido da análise dele sobre a
História. Não vejo sentido único na mesma, antes um movimento cíclico. Acho que
ele passou a achar-se profético. Acima de tudo, acho que não concebeu que a
'exploração' surge sempre, seja fruto da liberdade económica, do uso da força
ou das condições naturais. A que garante a liberdade económica é, apesar de
tudo, a menos má.
Euro de Eos > José Paulo C Castro: O maior erro que vejo em Marx
foi o seu profetismo, que aliás julgava ser uma conclusão científica,
objectiva, baseada nas leis da História. Erro colossal que todavia não invalida
ter sido o maior teórico da História (real), mesmo que a sua teoria tenha alguns
erros. Pátria
e Futuro A coesão social sempre foi condição primordial para a subsistência de
qualquer reino ou país. Essa construía-se pelo passado comum e pela
identidade, os pilares que estão agora a ser derrubados. Só com a coesão e unidade se
tornou possível construir em conjunto, ultrapassar crises, sobreviver entre
ciclos de crise e prosperidade. De repente o Estado começou a funcionar de forma
estranha, omitindo-se na defesa do que é em favor da unidade e das maiorias e
reagindo fortemente contra o que é a favor da tradição e dos valores nacionais,
cujo dever é preservar e defender. Quando temos um clube, onde é admitido quem apresente
determinados requisitos e, de repente, retiramos as condições, podendo entrar
toda a gente, usufruir de tudo quanto existe sem contrapartidas, a não ser,
defender quem esteja na Direcção, sabemos que esse clube rapidamente se
transformará num motel de estrada, onde só o topo permanecerá defendido e o
resto desaparecerá, deixando despojados, desiludidos e desesperados.
Sem passado, sem
identidade, sem coesão, sem cooperação, sem valores comuns nem objectivos
partilhados, não haverá futuro.
Adelino Lopes: Mais um brilhante artigo. Mas hoje quero suscitar um outro tema; no fundo a
continuidade. Nós sabemos (aceitamos) como retirar um título a quem o ganhou;
por exemplo nas competições desportivas por motivo de doping. Normalmente isso
é feito em vida do ganhador. Também se pode “abater” uma estátua em vida do
próprio, se para isso existirem razões? No contexto das leis a que o próprio
deveria obedecer, acho que sim. E se o próprio não estiver vivo, mas os que com
ele privaram estiverem vivos? Bom, aí não sei. Por exemplo, seria justo retirar
o prémio Nobel ao Saramago, sabendo hoje o que se sabe acerca do estalinismo
que ele tanto defendeu? Sim, porque essa ideologia contribui para a escrita
dele, e portanto para o prémio Nobel. Não sei responder. Esta é a minha linha
de fronteira. Para trás (no tempo), tudo deve ser preservado. Mais, faltam
estátuas que contribuam para a redução da ignorância. Proponho a construção de
um museu “comunista” que mostre as realidades desses regimes socialistas.
Carlos Quartel: Reflexões interessantes, sobre o desassossego, que significa incómodo e que
significa também tentativa de correcção. Pena que tudo isto se mova pela
irracionalidade e pela violência gratuita, pelo apelo à imbecilidade e à
bestialidade. Não que as sociedades não necessitem alguns abanões e alguns
alertas. Sufocar gente com um joelho no pescoço não é tarefa para polícias. O
mal não está na denúncia, o mal está no aproveitamento .....
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