sábado, 27 de junho de 2020

Esclarecimento



Estamos entendidos, ai de nós. Visibilidade desta não nos faltará jamais, pois a correcção não é possível. Nem com crónicas assim, como as de AG, apesar do seu calibre de desmesura e de precisão. Por falta de leitura, ab initio. E, naturalmente, de vergonha, saecula saeculorum.
Covid-19, resumo de um desastre voluntário /premium
Pode-se acusar as “autoridades” de falta de competência, não de falta de coerência: desde o princípio que mantiveram um nível invejável de contradições, negações, recuos e genérica desorientação.
ALBERTO GONÇALVES, COLUNISTA DO OBSERVADOR           OBSERVADOR, 27 jun 2020,
A coisa aconteceu no ano da graça de 2020. Logo no início, notícias em rodapé mencionaram um novo vírus nascido na China, similar a outros que iriam dizimar a humanidade e foram descartados em dois meses. A partir de Fevereiro, as notícias atingiram dimensão suficiente para inspirar os nossos governantes a comentá-las. Uma ministra, a da Agricultura, disse que o vírus favoreceria as exportações portuguesas para o Oriente. Um ministro, o da Economia, disse que o vírus não afectaria as contas locais, com a eventual excepção de um sector irrelevante como o turismo. Uma ministra, a da Saúde, disse o que lhe vinha à cabeça. A senhora da DGS apresentou-se gloriosamente à nação e, estabelecendo um padrão cómico que não sofreria abalos, garantiu que o vírus não chegaria cá.
Nos idos de Março, o vírus chegou e, conforme costuma afirmar a propósito disto e daquilo, o prof. Marcelo afirmou que “tudo estava a ser feito” para lidar com o bicho. De seguida, fechou-se em casa a engomar roupa e a desperdiçar testes de diagnóstico. O dr. Costa exibiu a capacidade de liderança de uma Bimby e, receoso dos efeitos do pânico colectivo nas sondagens, acabou por fechar o que jurara não fechar e por manter aberto o que devia ter sido fechado. Enquanto a senhora da DGS recomendava visitas a lares de idosos e o BE explicava que o vírus era um aviso dos deuses para acabar com o capitalismo, desceu-se ao “confinamento”, a princípio com as fronteiras abertas para apanharmos ar. À cautela, decidiu-se espatifar a economia. Durante semanas, o país fechou. Os portugueses, assustados face à gripe e mansos face ao poder, recolheram aos respectivos lares e os espaços públicos ficaram desertos a ponto de se ouvirem moscas e, a partir das janelas, os berros dos inúmeros “bufos” que esta história revelou, a interpelarem com insultos o ocasional transeunte. Nos espaços privados, ouviam-se as televisões, que viram na “pandemia” uma panaceia à sua inevitável redundância e apostaram no fomento da histeria. Alguns “pivots” acharam natural partilhar desabafos líricos com as audiências. Todos os canais alinharam na propaganda do Governo e na alucinação de que estávamos, cito, em guerra – uma guerra onde as trincheiras fossem trocadas pelo sofá da sala e a artilharia inimiga pelas séries da Netflix. Para não haver dúvidas, transmitiram-se imagens, fora do tempo ou do contexto, de valas comuns em Nova Iorque, caixões empilhados em Itália e motins na Inglaterra. Era o chamado esforço patriótico, que motivou panegíricos também na imprensa ao desempenho das “autoridades”: os jornais competiram pela capa mais babada com a senhora da DGS, que gostava de orquídeas, aconselhava o abastecimento em “hortas de amigos” e, à época, proibia o uso de máscara.
As crises são uma oportunidade? Para o PS, com certeza. Ao reparar nas portas que a Covid abriu, e na docilidade dos cidadãos e das oposições, os socialistas aproveitaram para reforçar a teia de interesses à luz do dia, para exibir prepotência e arbitrariedade sobre a ralé, e para lucrar eleitoralmente, sob o extraordinário pressuposto de que o dr. Costa, que desfilava patranhas e desnorte, chefiava com brilho e sem alternativa o combate a um inimigo comum. É preciso algum talento para erguer uma mediocridade partidária ao estatuto de homem providencial. Mas não se deve desvalorizar a ajuda de um “jornalismo” que definitivamente abdicou de o ser, de um presidente desesperado por manter a popularidade e, insisto, de uma população historicamente apreciadora de trela curta. Sob incessantes estados de emergência, calamidade, alerta e apocalipse, o caldo de embustes foi um êxito que ninguém contestou – incluindo os que morreram por maleitas inócuas e que o melhor SNS do mundo largou para se concentrar na Covid.
Na preparação da “nova normalidade”, afinal a instauração de uma “democracia” sem escrutínio nem escolha, não se dispensou a “novilíngua”, com os “distanciamentos sociais” e “etiquetas respiratóriasa simular uma aura “técnica” por cima de uma ofensiva política. Enquanto se cozinhava por exemplo o assalto ao Banco de Portugal e a conquista de 95% dos “media” por subvenção, as televisões enchiam-se de “especialistas” em contágios e nevoeiro, que mostravam curvas estatísticas e asseguravam, mês após mês, que “as próximas duas semanas serão decisivas”. Nos intervalos, condenavam-se as carnificinas na América, no Brasil e no Reino Unido, e não os carnificinas assaz superiores na Espanha, na Bélgica e na Itália. E nunca o pandemónio português, oficialmente designado por “milagre”.
A 13 de Maio, o “milagre português” não pôde celebrar-se em Fátima. Porém, no dia 1, o PCP pôde arregimentar os serviçais dos “sindicatos” no centro de Lisboa. Há religiões privilegiadas. Somado à pândega do 25 de Abril, o Dia do Trabalhador deu o pretexto para o Governo admitir, sem admitir, que exagerara nas restrições e, entusiasmado com a subserviência, arriscava afundar o país numa miséria ao estilo venezuelano. Os portugueses, ou a parte deles que não decidiu enclausurar-se até 2032, começaram a ter indicações, e às vezes ordens, para “desconfinar”.
De repente, o vírus que antes nos mataria a todos tornou-se “uma realidade com que deveríamos aprender a conviver”, género um cunhado aborrecido. Em simultâneo, as “autoridades” passaram a reconhecer que a Covid era suficientemente inócua para nos esfregarmos por aí e suficientemente perigosa para o fazermos com máscara “social”, pechisbeque cuja súbita imposição decorreu menos de descobertas científicas do que de negócios cometidos por “personalidades” do PS. Pode-se acusar as “autoridades” de falta de competência e de decência, não de falta de coerência: desde o princípio que mantiveram um nível invejável de contradições, negações, recuos, discriminações, mentiras, delírios e genérica desorientação.
Ao longo de Junho, as pessoas regressaram à vidinha, salvo as que perderam o emprego e as que se enfiaram indefinidamente debaixo da cama. O número de infectados, que à semelhança do resto da Europa vinha a descer, desatou a subir, na capital e nos municípios vizinhos. Os culpados? Obviamente, a quantidade de testes e duas ou três festas “ilegais”. Obviamente, o Primeiro de Maio, uma curiosa manifestação “anti-racismo” ou o espectáculo, com presença do PR e do PM, de um comediante afecto ao regime não permitiriam tal patifaria. Quando, num dos momentos mais alucinados do último meio século, o PR, o PM e três ou quatro apêndices anunciaram a realização de uns jogos da bola (“um prémio aos profissionais de saúde”), já era nítida a essência do “milagre português”. A acompanhar a ruína económica, surgiu o embaraço epidemiológico: em matéria de vírus, os portugueses transformaram-se nos proverbiais sarnosos, proibidos de entrar em diversos países civilizados e humilhados pela imprensa estrangeira, que o Governo se esqueceu de subornar. A sucessão de contratempos enervou o gentil dr. Costa que, à míngua de um velhote para surrar, insultou a ministra da Saúde, desconsiderou o prof. Marcelo e lançou mais regras aleatórias para arrasar os negócios que sobreviveram à DGS e à órbita do PS. E estamos nisto, desprovidos de dinheiro e responsabilidade, de vergonha e turistas, de prestígio e respeito. Dizia alguém que a comédia é tragédia mais tempo. Tempo não temos. Tragédia temos em excesso. 2020 é um ano sem graça nenhuma.
COMENTÁRIOS
Portugal, que Futuro: O grande vazio que deixa a loucura andar à solta são o PSD e o CDS. Ninguém sabe o que se passa com eles, de tanto medo de perderem (ainda mais) a popularidade, arriscam-se a perder a representação na AR. E, pensando bem, o que é que lá fazem?
MCMCA: AG comenta com sarcasmo a comédia nacional e mundial que, sobretudo, as democracias ocidentais, exibiram revelando a incompetência dos que se julgam deuses no olimpo do poder. Ridículo demais ver que perderam a noção das contradições e a falta de memória colectiva dos media que sub-repticiamente nos governam. Por cá a tristeza ainda é maior porque, como sempre, passamos de bestiais a bestas sempre impreparados para sustentar patamares de alguma qualidade que fugazmente atingimos. É sina de um povo de mansos que, rasteja como invertebrado por uma côdea de pão, sujeitando-se ao desdém dos companheiros europeus porque não tem coluna para escorraçar quem o rouba até ao tutano. Infelizmente, parte deste povo gostaria também de ter acesso ao saque dos seus concidadãos    lidia maria arantes degr benis: Nunca vi nada tão verruminoso como as palavras medíocres deste comentador.... Até terá razão algumas vezes mas o ódio q destila não ajuda a nada. Só destrói sem sequer ver q faz aqui a mesma figura tola q acusa nos outros jornais.
Portugal, que Futuro > lidia maria arantes degr benis: se a verdade te enraivece, o problema não será teu? pergunta académica...   JB Dias: Os efeitos económicos e sociais mais nefastos apenas se irão fazer sentir em pleno lá para o final do Verão ... nessa altura a culpa será dos "jovens" e das suas "festas ilegais", do povo "inculto" que não sabe cumprir regras, dos "fascistas" dos europeus "frugais" e quiçá de Trump e de Passos Coelho! E todos os media irão repetir à exaustão que seria muito pior não fosse a clarividência e o rigor das autoridades... e o povo embrutecido vai agradecer a Fátima o milagre de ter tão fantásticos governantes!
Luis MartinsJB Dias: O povo embrutecido já nem a Fátima pode ir a pedir milagres sem vir de lá infectados, nestas coisas terrenas não há milagres, milagres só para alguns com o cérebro completamente contaminados pelo vírus e fanatismo da religião.   Carminho Sottomayor: O que me dá algum descanso é que a maioria dos que aqui aplaudem o AG são do calibre do Sr Adelino Lopes, que no seu comentário apresenta um racio disparate/palavra que quase chega a ser cómico.
Adelino Lopes: O AG é, graças a Deus, o nosso realista de serviço. Obrigado pela descrição. Hoje vou ajudar à festa do senhor do “milagre” que tem tido como resultado sermos barrados de entrar em alguns países Europeus tal como alguns crentes o foram em Fátima. O caso mais curioso é a nossa vizinha Espanha. Mas, voltando ao “milagre”, fiquei a saber que nos meses de Abril e Maio foram inúmeras as pessoas suspeitas (sintomas) de terem contraído a covid-19 que, necessitando de apoio médico, foram encerradas voluntariamente em casa (a partir da linha SNS24), sem serem testadas. Mais, pergunto eu: Quantas pessoas contraíram o vírus antes de se desconfiar que ele já por aí andava? A história dos 2 primeiros casos encontrados numa enfermaria do Santa Maria responde. Agora, fazendo testes (não muito fiáveis) aleatoriamente, ficamos muito surpreendidos com a prevalência do vírus na população? Como diria o outro, só por muito má-fé … ou ignorância.
Carminho Sottomayor:Se há jornalismo que nunca chegou a sê-lo é o do AG. Felizmente os cidadãos são bem mais sensatos e inteligentes do que ele gostaria e ligam zero ao que ele diz, caso contrário aí sim instalar-se-ia confusão e caos (tanto artigo ele escreveu a incitar ao não cumprimento das medidas da DGS). Mas compreende-se que AG e muitos que por aqui andam estejam contentinhos a bater palmas agora que as coisas estão a correr menos bem para Portugal, no fundo no fundo foi o que sempre desejaram
Von Galen > Carminho Sottomayor: Mas tirando meia dúzia de hipocondríacos e outra meia de funcionários públicos que vêem aqui uma oportunidade para fazerem em casa o que faziam no trabalho - nada - alguém anda com medo do vírus? Eu vejo toda a gente nas ruas, nas lojas, nos restaurantes e em todo o sítio que este Governo permitiu ficar aberto. O que vai ficar para trás desta pandemia é um rasto de destruição económica sem precedentes, resultante da característica arrogância que coloca um cientifismo em tudo o que mexe e se achou capaz de controlar a pandemia como quem controla a temperatura do microondas. O que se ficou a saber até agora é que os "especialistas" pouco ou nada sabiam. E que as medidas foram uma mistura de pânico com desorientação. Aqui e em todo o lado. O resto foi propaganda política para papalvos. Papalvos que hoje aplaudem o Governo num exercício de ignorância que faz envergonhar uma criança com dois neurónios.
Joaquim Santos: Sem palavras, excelente resumo do comportamento do dr. costa e afins. É preciso viver no estrangeiro e escutar o que dizem de Portugal. Somos o que somos, temos o que queremos porque maioria dos portugueses continua adormecida e anestesiada. Tempo de acordar!
O Pensador: Brilhante como de costume. Destapa as carecas todas, inclusive a de um povo amedrontado, adormecido e patético.    Carminho Sottomayor > O Pensador: O Sr lá sabe se se sente desse povo.
Carlos Quartel: Que ninguém espere brilharetes deste governo. O programa é o apego ao poder, a pequena manobra, a infiltração e o controle. Tem sido sempre assim, aliás, desde o 25A, com um ou outro período de alguma seriedade. Mas, neste caso, a barafunda começa na OMS, com informação avulsa, contraditória, uma patente incompetência, que estendeu a todo o mundo. Costa e o PS jogam por instinto e a ordem foi seguir as instruções, fazendo os tradicionais anúncios de sermos os melhores do mundo, campanha onde Marcelo colaborou com alegria. A obra saiu miséria, com o consolo de que ninguém escapou ao disparate. Os nossos 1500 mortos ainda vão ser troféu, comparados com as razias nas redondezas. O que este vírus veio destapar é que a democracia não tem ferramentas para lidar com determinadas situações. As praias cheias, a festa do Liverpool, a história de Lagos, as bebedeiras por várias cidades, quantas vidas e quanto dinheiro irá custar tudo isso ?? O regresso do músculo ???    Susana Boulin: Excelente artigo. Um prazer esta leitura. Uma tristeza ter de concordar... Não tem piada mesmo... Bravo, ALberto.      Carlinhos dos Rissóis: AG, digno sucessor de Vasco Pulido Valente. Exímio utilizador da Língua Portuguesa. Sempre muito, muito bom.   João Sousa: Aguardemos os copy paste do Zé e a sabedoria da Ana Ferreira.    João Silva: Melhor cronista em Portugal!
O Pensador >  João Silva: agora Pelo menos, um dos mais corajosos.
Manuel Ferreira:  E estamos nisto, desprovidos de dinheiro e responsabilidade, de vergonha e turistas, de prestígio e respeito. Dizia alguém que a comédia é tragédia mais tempo. Tempo não temos. Tragédia temos em excesso. 2020 é um ano sem graça nenhuma.“ Não há confinamento que nos salve da fatal “Lei de Murphy”.
Miguel Sanches: Há qualquer bactéria ou outro vírus que me escapam. Então, com todo este quadro bizarro e de futuro mais que incerto, as tais sondagens continuam a dar vantagem a esta rapaziada fandanga? No fundo, no fundo, o AG explica porquê. INCONVENIENTE: Quem escreve assim merece um prémio nobel da literatura. E não falo no conteúdo... Porque, se a somar à forma, juntarmos o conteúdo, então o AG teria de ser condecorado! Obrigado por podermos contar consigo neste país de "gente mansa".
Zacarias Bidon: Pole position!

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