Estamos entendidos, ai de nós. Visibilidade
desta não nos faltará jamais, pois a correcção não é possível. Nem com crónicas
assim, como as de AG, apesar do seu calibre de desmesura e de precisão. Por
falta de leitura, ab initio. E,
naturalmente, de vergonha, saecula
saeculorum.
Covid-19, resumo de um
desastre voluntário /premium
Pode-se acusar as “autoridades” de
falta de competência, não de falta de coerência: desde o princípio que
mantiveram um nível invejável de contradições, negações, recuos e genérica
desorientação.
ALBERTO GONÇALVES,
COLUNISTA DO OBSERVADOR OBSERVADOR,
27 jun 2020,
A coisa aconteceu no ano da graça de 2020. Logo no início, notícias em rodapé mencionaram um
novo vírus nascido na China, similar a outros que iriam dizimar a humanidade e
foram descartados em dois meses. A partir de Fevereiro, as notícias
atingiram dimensão suficiente para inspirar os nossos governantes a
comentá-las. Uma ministra, a da Agricultura, disse que o vírus
favoreceria as exportações portuguesas para o Oriente. Um ministro, o da Economia, disse que o vírus não
afectaria as contas locais, com a eventual excepção de um sector irrelevante
como o turismo. Uma ministra, a da Saúde, disse o que lhe vinha à
cabeça. A senhora
da DGS apresentou-se gloriosamente à nação e, estabelecendo um padrão cómico
que não sofreria abalos, garantiu que o vírus não chegaria cá.
Nos idos de Março, o vírus chegou
e, conforme costuma afirmar a propósito disto e daquilo, o prof.
Marcelo afirmou que “tudo estava a ser feito” para lidar com
o bicho. De seguida, fechou-se em casa a engomar roupa e a
desperdiçar testes de diagnóstico. O dr. Costa exibiu a
capacidade de liderança de uma Bimby e,
receoso dos efeitos do pânico colectivo nas sondagens, acabou por fechar o que
jurara não fechar e por manter aberto o que devia ter sido fechado. Enquanto
a senhora da DGS recomendava
visitas a lares de idosos e o BE explicava
que o vírus era um aviso dos deuses para acabar com o capitalismo, desceu-se
ao “confinamento”, a princípio com as fronteiras abertas para apanharmos ar. À
cautela, decidiu-se espatifar a economia. Durante semanas, o país fechou. Os portugueses, assustados face à gripe e mansos
face ao poder, recolheram aos respectivos lares e os espaços públicos ficaram
desertos a ponto de se ouvirem moscas e, a partir das janelas, os berros dos
inúmeros “bufos” que esta história revelou, a interpelarem com insultos o
ocasional transeunte. Nos espaços privados, ouviam-se as
televisões, que viram na “pandemia” uma panaceia à sua inevitável redundância e
apostaram no fomento da histeria. Alguns “pivots”
acharam natural partilhar desabafos líricos com as audiências. Todos os canais
alinharam na propaganda do Governo e na alucinação de que estávamos, cito, em
guerra – uma guerra onde as trincheiras fossem trocadas pelo sofá da sala e a
artilharia inimiga pelas séries da Netflix. Para não haver
dúvidas, transmitiram-se imagens, fora do tempo ou do contexto, de valas comuns
em Nova Iorque, caixões empilhados em Itália e motins na Inglaterra. Era o
chamado esforço patriótico, que motivou panegíricos também na imprensa ao
desempenho das “autoridades”: os jornais competiram pela capa mais babada com a
senhora da DGS, que gostava de orquídeas,
aconselhava o abastecimento em “hortas de
amigos” e, à época, proibia o uso de máscara.
As crises são uma oportunidade?
Para o PS, com certeza. Ao reparar nas portas que a Covid abriu,
e na docilidade dos cidadãos e das oposições, os socialistas aproveitaram para
reforçar a teia de interesses à luz do dia, para exibir prepotência e
arbitrariedade sobre a ralé, e para lucrar eleitoralmente, sob o extraordinário
pressuposto de que o dr. Costa, que desfilava patranhas e desnorte, chefiava
com brilho e sem alternativa o combate a um inimigo comum. É preciso algum talento para erguer uma
mediocridade partidária ao estatuto de homem providencial. Mas
não se deve desvalorizar a ajuda de um “jornalismo” que definitivamente abdicou
de o ser, de um presidente desesperado por manter a popularidade e, insisto, de
uma população historicamente apreciadora de trela curta. Sob incessantes estados
de emergência, calamidade, alerta e apocalipse, o caldo de embustes foi um
êxito que ninguém contestou – incluindo os que morreram por maleitas inócuas e
que o melhor SNS do mundo largou para se concentrar na Covid.
Na
preparação da “nova normalidade”, afinal a instauração de uma “democracia” sem
escrutínio nem escolha, não se dispensou a “novilíngua”, com os “distanciamentos sociais” e “etiquetas respiratórias” a simular uma aura “técnica” por cima de uma ofensiva
política. Enquanto
se cozinhava por exemplo o assalto ao Banco de Portugal e a conquista de 95%
dos “media” por subvenção, as televisões enchiam-se de “especialistas” em
contágios e nevoeiro, que mostravam curvas estatísticas e asseguravam, mês após
mês, que “as próximas duas semanas serão decisivas”. Nos
intervalos, condenavam-se as carnificinas na América, no Brasil e no Reino
Unido, e não os carnificinas assaz superiores na Espanha, na Bélgica e na
Itália. E nunca o pandemónio português, oficialmente designado por “milagre”.
A
13 de Maio, o “milagre português” não pôde celebrar-se em Fátima. Porém, no dia
1, o PCP pôde arregimentar os serviçais dos “sindicatos” no centro de Lisboa. Há
religiões privilegiadas. Somado à
pândega do 25 de Abril, o Dia do Trabalhador deu o pretexto para o Governo
admitir, sem admitir, que exagerara nas restrições e, entusiasmado com a
subserviência, arriscava afundar o país numa miséria ao estilo venezuelano.
Os portugueses, ou a parte deles que não decidiu
enclausurar-se até 2032, começaram a ter indicações, e às vezes ordens, para
“desconfinar”.
De
repente, o vírus que antes nos mataria a todos tornou-se “uma
realidade com que deveríamos aprender a conviver”,
género um cunhado aborrecido. Em simultâneo, as “autoridades”
passaram a reconhecer que a Covid era suficientemente inócua para nos
esfregarmos por aí e suficientemente perigosa para o fazermos com máscara
“social”, pechisbeque cuja súbita imposição decorreu menos de descobertas
científicas do que de negócios cometidos por “personalidades” do PS. Pode-se
acusar as “autoridades” de falta de competência e de decência, não de falta de
coerência: desde o princípio que mantiveram um nível invejável de contradições,
negações, recuos, discriminações, mentiras, delírios e genérica desorientação.
Ao longo de Junho, as pessoas
regressaram à vidinha, salvo as que perderam o emprego e as que se enfiaram
indefinidamente debaixo da cama. O
número de infectados, que à semelhança do resto da Europa vinha a descer,
desatou a subir, na capital e nos municípios vizinhos. Os
culpados? Obviamente, a quantidade
de testes e duas ou três festas “ilegais”. Obviamente,
o Primeiro de Maio, uma curiosa manifestação “anti-racismo” ou o espectáculo,
com presença do PR e do PM, de um comediante afecto ao regime não permitiriam
tal patifaria. Quando,
num dos momentos mais alucinados do último meio século, o PR, o PM e três ou
quatro apêndices anunciaram a realização de uns jogos da bola (“um prémio aos
profissionais de saúde”), já era nítida a essência do “milagre português”. A acompanhar a ruína económica, surgiu
o embaraço epidemiológico: em matéria de vírus, os portugueses transformaram-se
nos proverbiais sarnosos, proibidos de entrar em diversos países civilizados e
humilhados pela imprensa estrangeira, que o Governo se esqueceu de subornar. A
sucessão de contratempos enervou o gentil dr. Costa que, à míngua de um velhote
para surrar, insultou a ministra da Saúde, desconsiderou o prof. Marcelo e
lançou mais regras aleatórias para arrasar os negócios que sobreviveram à DGS e
à órbita do PS. E
estamos nisto, desprovidos de dinheiro e responsabilidade, de vergonha e
turistas, de prestígio e respeito. Dizia alguém que a comédia é tragédia
mais tempo. Tempo não temos. Tragédia temos em excesso. 2020 é um ano sem graça
nenhuma.
COMENTÁRIOS
Portugal, que Futuro: O grande
vazio que deixa a loucura andar à solta são o PSD e o CDS. Ninguém sabe o que
se passa com eles, de tanto medo de perderem (ainda mais) a popularidade,
arriscam-se a perder a representação na AR. E, pensando bem, o que é que lá
fazem?
MCMCA: AG comenta
com sarcasmo a comédia nacional e mundial que, sobretudo, as democracias
ocidentais, exibiram revelando a incompetência dos que se julgam deuses no
olimpo do poder. Ridículo demais ver que perderam a noção das contradições e a
falta de memória colectiva dos media que sub-repticiamente nos governam. Por cá
a tristeza ainda é maior porque, como sempre, passamos de bestiais a bestas
sempre impreparados para sustentar patamares de alguma qualidade que fugazmente
atingimos. É sina de um povo de mansos que, rasteja como invertebrado por uma
côdea de pão, sujeitando-se ao desdém dos companheiros europeus porque não tem
coluna para escorraçar quem o rouba até ao tutano. Infelizmente, parte deste
povo gostaria também de ter acesso ao saque dos seus concidadãos lidia maria arantes degr
benis: Nunca vi nada tão verruminoso como as
palavras medíocres deste comentador.... Até terá razão algumas vezes mas o ódio
q destila não ajuda a nada. Só destrói sem sequer ver q faz aqui a mesma figura
tola q acusa nos outros jornais.
Portugal, que Futuro > lidia maria arantes degr benis: se a verdade te enraivece, o problema não será teu?
pergunta académica... JB
Dias: Os efeitos económicos e sociais mais
nefastos apenas se irão fazer sentir em pleno lá para o final do Verão ...
nessa altura a culpa será dos "jovens" e das suas "festas
ilegais", do povo "inculto" que não sabe cumprir regras, dos "fascistas"
dos europeus "frugais" e quiçá de Trump e de Passos Coelho! E todos
os media irão repetir à exaustão que seria muito pior não fosse a clarividência
e o rigor das autoridades... e o povo embrutecido vai agradecer a Fátima o
milagre de ter tão fantásticos governantes!
Luis MartinsJB Dias: O povo embrutecido já nem a Fátima pode ir a pedir
milagres sem vir de lá infectados, nestas coisas terrenas não há milagres, milagres
só para alguns com o cérebro completamente contaminados pelo vírus e fanatismo
da religião. Carminho
Sottomayor: O que me dá algum descanso é que a
maioria dos que aqui aplaudem o AG são do calibre do Sr Adelino Lopes, que no
seu comentário apresenta um racio disparate/palavra que quase chega a ser
cómico.
Adelino Lopes: O AG é, graças a Deus, o nosso realista de serviço. Obrigado pela
descrição. Hoje vou ajudar à festa do senhor do “milagre” que tem tido como
resultado sermos barrados de entrar em alguns países Europeus tal como alguns
crentes o foram em Fátima. O caso mais curioso é a nossa vizinha Espanha. Mas,
voltando ao “milagre”, fiquei a saber que nos meses de Abril e Maio foram
inúmeras as pessoas suspeitas (sintomas) de terem contraído a covid-19 que,
necessitando de apoio médico, foram encerradas voluntariamente em casa (a
partir da linha SNS24), sem serem testadas. Mais, pergunto eu: Quantas pessoas
contraíram o vírus antes de se desconfiar que ele já por aí andava? A história
dos 2 primeiros casos encontrados numa enfermaria do Santa Maria responde.
Agora, fazendo testes (não muito fiáveis) aleatoriamente, ficamos muito
surpreendidos com a prevalência do vírus na população? Como diria o outro, só
por muito má-fé … ou ignorância.
Carminho Sottomayor:Se há jornalismo que nunca chegou a sê-lo é o do AG. Felizmente os cidadãos
são bem mais sensatos e inteligentes do que ele gostaria e ligam zero ao que
ele diz, caso contrário aí sim instalar-se-ia confusão e caos (tanto artigo ele
escreveu a incitar ao não cumprimento das medidas da DGS). Mas compreende-se
que AG e muitos que por aqui andam estejam contentinhos a bater palmas agora
que as coisas estão a correr menos bem para Portugal, no fundo no fundo foi o
que sempre desejaram
Von Galen > Carminho Sottomayor: Mas tirando meia dúzia de
hipocondríacos e outra meia de funcionários públicos que vêem aqui uma
oportunidade para fazerem em casa o que faziam no trabalho - nada - alguém anda
com medo do vírus? Eu vejo toda a gente nas ruas, nas lojas, nos restaurantes e
em todo o sítio que este Governo permitiu ficar aberto. O que vai ficar para
trás desta pandemia é um rasto de destruição económica sem precedentes,
resultante da característica arrogância que coloca um cientifismo em tudo o que
mexe e se achou capaz de controlar a pandemia como quem controla a temperatura
do microondas. O que se ficou a saber até agora é que os
"especialistas" pouco ou nada sabiam. E que as medidas foram uma
mistura de pânico com desorientação. Aqui e em todo o lado. O resto foi propaganda
política para papalvos. Papalvos que hoje aplaudem o Governo num exercício de
ignorância que faz envergonhar uma criança com dois neurónios.
Joaquim Santos: Sem palavras,
excelente resumo do comportamento do dr. costa e afins. É preciso viver no
estrangeiro e escutar o que dizem de Portugal. Somos o que somos, temos o que
queremos porque maioria dos portugueses continua adormecida e anestesiada.
Tempo de acordar!
O Pensador: Brilhante como
de costume. Destapa as carecas todas, inclusive a de um povo amedrontado,
adormecido e patético. Carminho
Sottomayor > O Pensador: O Sr lá sabe se se sente desse povo.
Carlos Quartel: Que ninguém
espere brilharetes deste governo. O programa é o apego ao poder, a pequena
manobra, a infiltração e o controle. Tem
sido sempre assim, aliás, desde o 25A, com um ou outro período de alguma
seriedade. Mas, neste
caso, a barafunda começa na OMS, com informação avulsa, contraditória, uma
patente incompetência, que estendeu a todo o mundo. Costa e o PS jogam por instinto e a ordem foi seguir as
instruções, fazendo os tradicionais anúncios de sermos os melhores do mundo,
campanha onde Marcelo colaborou com alegria. A obra saiu miséria, com o consolo de que ninguém
escapou ao disparate. Os nossos 1500 mortos ainda vão ser troféu, comparados
com as razias nas redondezas. O
que este vírus veio destapar é que a democracia não tem ferramentas para lidar
com determinadas situações. As praias cheias, a festa do Liverpool, a história
de Lagos, as bebedeiras por várias cidades, quantas vidas e quanto dinheiro irá
custar tudo isso ?? O regresso do
músculo ??? Susana
Boulin: Excelente artigo. Um prazer esta
leitura. Uma tristeza ter de concordar... Não tem piada mesmo... Bravo,
ALberto. Carlinhos dos
Rissóis: AG, digno sucessor de Vasco Pulido
Valente. Exímio utilizador da Língua Portuguesa. Sempre muito, muito bom. João Sousa: Aguardemos
os copy paste do Zé e a sabedoria da Ana Ferreira. João Silva: Melhor
cronista em Portugal!
Manuel Ferreira: “E estamos nisto, desprovidos de dinheiro e
responsabilidade, de vergonha e turistas, de prestígio e respeito. Dizia alguém
que a comédia é tragédia mais tempo. Tempo não temos. Tragédia temos em
excesso. 2020 é um ano sem graça nenhuma.“ Não há
confinamento que nos salve da fatal “Lei de Murphy”.
Miguel Sanches: Há qualquer
bactéria ou outro vírus que me escapam. Então, com todo este quadro bizarro e
de futuro mais que incerto, as tais sondagens continuam a dar vantagem a esta
rapaziada fandanga? No fundo, no fundo, o AG explica porquê. INCONVENIENTE: Quem escreve assim merece um prémio nobel da
literatura. E não falo no conteúdo... Porque, se a somar à forma, juntarmos o
conteúdo, então o AG teria de ser condecorado! Obrigado por podermos contar
consigo neste país de "gente mansa".
Zacarias Bidon: Pole position!
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