“pelo nosso “Júlio Dantas” /ou
qualquer coisa entre tantas /duma antipatia igual”. Aceitemos
pois, já que é pecha antiga o nosso gosto pelos policiais e as deduções à Almada Negreiros, com a virulência ou a
ironia da prática antiga. Veremos como conclui o folhetim Centeno/ Costa/Banco, que Helena Ramos reproduz, com a verve de sempre, fruto de
preocupação e indignação de sempre…
Centeno, Costa e o Banco de Portugal/premium
Vamos viver uma crise sem precedentes.
Por cá não temos dinheiro para um plano de recuperação. Soma-se o inédito
processo de saída do ministro das Finanças que quer ser governador do Banco de
Portugal
HELENA RAMOS OBSERVADOR, 15
jun 2020
A entrevista que Mário Centeno deu à RTP dissipou todas as dúvidas: o ex-ministro das Finanças quer ser
governador do Banco de Portugal e já falou sobre o tema com o primeiro-ministro.
O
que fará António Costa se a esmagadora maioria dos partidos com representação
parlamentar se opuserem à sua nomeação é a grande incógnita. Mas tudo o que se passou nos últimos dias já é motivo
para nos preocuparmos. Parece até que já nos habituámos a que um grupo possa
pôr e dispor do país, sem qualquer respeito pelas regras ou instituições. Já
nem reparamos que nos dizem uma coisa um dia e fazem outra, passados poucos
dias. Temos novos donos disto tudo, sem que isso pareça causar grande
preocupação. A partir desta segunda-feira, 15 de Junho, João
Leão será o novo ministro das Finanças e Mário
Centeno deixa de ser ministro mas, reparem, mantém-se como
presidente do Eurogrupo até dia 13 de Julho, quando o mandato acaba.
Entretanto, Centeno vai regressar ao seu lugar de origem, o Banco de Portugal, onde irá exercer o seu mandato de presidente
do Eurogrupo durante mais um mês.
Temos então que o ministro deixa de
ser ministro sem esperar o fim do seu mandato no Eurogrupo e vai liderar os
ministros das Finanças do euro nas instalações do banco central. Qual é o
problema, dirão? Nenhum, a não ser que a independências das instituições também
se avalia pelos detalhes. Porque
não há um espaço no Ministério das Finanças para Centeno levar o seu mandato
europeu até ao fim? A razão oficial para a saída de Mário Centeno é o
calendário das candidaturas à presidência do Eurogrupo. O actual presidente do Eurogrupo teria de lançar as
candidaturas a novo mandato até dia 11 de Junho e, considerou-se, seria estanho
fazer isso e ao mesmo tempo não ser candidato. Mas, claro, que só se resolveu
meio problema: o Eurogrupo agora tem um presidente que não é ministro
das Finanças e passa a ser gerido a partir do Banco de Portugal.
Mas este é apenas o mais recente
episódio dos sucessivos casos que têm envolvido Mário Centeno.
Ficará também para a história o
inédito processo da sua demissão. O
primeiro-ministro anuncia a sua saída, com um grande elogio, tendo ao seu lado
esquerdo o sucessor. Horas depois, já quase noite, o ainda ministro das
Finanças Mário Centeno faz a conferência de imprensa de apresentação do
orçamento suplementar, que elaborou, mas não vai defender, e pede ao seu
sucessor que fale sobre as questões orçamentais. Nunca tal coisa se tinha
visto. Mas qual é o problema? Nenhum. Primeiro-ministro e Presidente
da República não vêem qualquer problema.
O Presidente da República e o
primeiro-ministro também não identificam nenhum problema em dizerem ao país há menos de um
mês que Mário Centeno fica no Governo, para depois nos dizerem que
afinal não fica – entre 13 de Maio e 10 de Junho foram 28 dias dos 1664 dias
que Centeno contou que foi ministro das Finanças. A realidade é de facto dinâmica. Finalmente
há o desejo de Mário Centeno de ser governador do Banco de Portugal. Um caso
que promete também novos episódios.
Neste momento temos o Parlamento a
fazer uma espécie de “Lei
contra Centeno no Banco de Portugal”, com o PS a prometer que vai arrastar o processo
para que o diploma não seja aprovado antes da decisão de nomeação do novo
governador. Um exemplo
lamentável, ver uns partidos a fazerem uma lei “ad hominem” e o PS a
boicotá-la. O interesse público pouco interessa.
Imagine-se
agora que Mário Centeno consegue o que tanto ambiciona e é o novo governador do
Banco de Portugal. Pelo caminho percorrido, Centeno entrará na Rua do Comércio
em Lisboa fragilizado. E o Banco de Portugal, depois de ter sido violentamente
atacado nos últimos cinco anos, boa parte das vezes pela voz de Centeno, viverá
mais uns anos de fragilização.
Mário Centeno, como quem o apoia, não
vê nenhum problema, nesta sua passagem directa da Praça do Comércio para a Rua
do Comércio. Dois dos
exemplos que dão é o de José da Silva Lopes e
Miguel Beleza. Esquecem-se
que Silva Lopes,
governador entre 1975 e 1980, assumiu essas funções num período muito especial
da nossa história, quando tentávamos afirmar a democracia. E que Miguel Beleza assume o cargo de governador entre 1992 e 1994,
meses depois de ter sido ministro das Finanças – deixou o cargo em Outubro de
1991 quando acabou a primeira legislatura completa de Cavaco Silva. Ou seja,
não foi uma passagem directa, entre uma função e outra até houve eleições.
Além disso, os tempos eram outros,
menos exigentes em matéria de incompatibilidades e o banco central não era
independente – era o Governo que mandava nele. Por outro lado, o banco central está hoje envolvido
numa série de dossiers bancários, sobre os quais Mário Centeno se tem
pronunciado de forma que pode fragilizar a posição do supervisor nos tribunais.
Basta que os advogados dos visados queiram que Mário Centeno, com o chapéu de
governador do Banco de Portugal, explique porque considera que no caso BES se
esteve perante “a mais desastrosa resolução bancária da história”.
Há ainda todo um conjunto de decisões
tomadas pelo ministro das Finanças que podem acabar na mesa do governador. E
Centeno governador irá contra Centeno ministro? Depois há ainda as nomeações
que Centeno fez, nomeadamente para a Comissão de Auditoria: devem ser da
confiança do Governo mas passarão a ser da confiança do governador.
Para além de todos estes aspectos, que
Centeno considera pouco importantes se considerarmos que disse na RTP que a
independência não é uma abstracção, há o próprio peso da instituição. O Banco
de Portugal precisa de um
governador que deixe de estar sob ataque permanente do Parlamento e do Governo,
como aconteceu até agora com os governos de António Costa e especialmente pela
voz de Mário Centeno. Não
temos assim tantas instituições fortes que nos possamos dar ao luxo de
delapidar. Mário Centeno poderia ter o peso político para recuperar esse poder
do Banco de Portugal, mas no caminho para lá chegar pode perder o estatuto que
ganhou. Claro que o pode recuperar, depois, já no cargo. Mas como diz Ana Sá Lopes, Mário pode estar a desfazer o mito
Centeno. Vamos
viver uma crise sem precedentes e temos o ministro das Finanças mais popular da
histórica recente portuguesa a querer ser governador do Banco de Portugal, em
vez de se atirar para vencer o desafio de gerir o Tesouro nestes tempos tão
difíceis. Não é fácil ser ministro das Finanças num país muito pendurado no
Estado, mas é inédito na nossa história ver um ministro sair porque quer outro
cargo.
A
última palavra sobre a sucessão de Carlos Costa no Banco de Portugal será de
António Costa. Nenhum primeiro-ministro pode gostar de perder o seu ministro
das Finanças numa crise económica, muito menos um ministro que
transmitia confiança, factor
tão importante para recuperar desta crise. Costa também não pode ter gostado. Centeno diz que já falou com o primeiro-ministro
sobre a ida para o Banco de Portugal, mas António Costa pode acabar por
considerar que não tem condições políticas para o nomear. Na altura
em que Pedro
Passos Coelho decidiu manter Carlos
Costa no Banco de Portugal, o então líder da oposição António Costa considerou
que devia ter sido ouvido e não foi. Se a maioria dos partidos disser a António
Costa que não, que não considera Centeno uma boa solução, o que fará o
primeiro-ministro?
COMENTÁRIOS
Joaquim Moreira: Esta boa análise de Helena Matos sugere-me várias conclusões. Desde logo, a
de que estamos perante dois excelentes políticos, que são também dois
excelentes aldrabões. Para que fique claro, devo dizer que detesto estes
políticos excelentes, prefiro políticos coerentes, ainda que politicamente
menos competentes. Por uma simples razão: estes, ao contrário daqueles, estão
preocupados com os interesses da nação. E daí, uma outra conclusão: quer num
caso quer noutro, usam a política de uma forma indevida. Ou seja, só estão na
política para subir na vida. E para não ser maçador, o último parágrafo é muito
esclarecedor. Esta gente faz tudo o que for preciso para se manter no poder,
até que esteja garantido o que a seguir querem fazer. Mas também não posso
deixar de dizer, tudo isto é possível, porque há muita gente, no mínimo
sofrível! No fundo, trata-se de gente que apoia os políticos que mentem mais,
até porque, ao dizerem que, “os políticos são todos iguais”, estes só querem
parecer que são melhores que os demais!
J. Carneiro: “Ficará também para a história o
inédito processo da sua demissão” - até pode ser inédito mas que se trata de
uma grande peça de teatro, lá isso trata. O Estado e as instituições da República estão reféns e
a saque. Verdadeiramente isto é uma dança de cadeiras onde o que menos
interessa é Portugal e os Portugueses.
Ping PongYang > J. Carneiro:
É tudo muito mau, mas pelo
menos temos a certeza que o PPCalaceiro
não estará lá para estragar tudo com os seus desvios criminosos, mentiras e
ignorância de alarve... Já é um grande alívio, não acha
? Pedro SilveiraPing PongYang: Explique lá melhor os desvios criminosos, mentiras e
ignorância de alarve (será Algarve..?) do PPC. E já agora, não se esqueça que o
ainda Governador do BdP foi nomeado em 2010 pelo governo Sócrates Ping PongYang: Agora, um pequeno apontamento:
Até ao ano de 2014, havia um proeminente economista cá na
nossa aldeia chamado Dr. Victor Bento,
que tinha SEMPRE opiniões muito
fortes sobre defices, dívidas, mantarrotas e TUDO. Entretanto, o Sr.
Dr. Vitó "perdeu o pio" (e não foi o
único)... Não se poderá aplicar o mesmo método aos outros TODOS?
Pedro Silveira > Ping PongYang: Caro Ping, está enganado, Vítor Bento ainda prestou
declarações na semana passada. Água
O Pensador: Que esperanças que alguém faça qualquer tipo de oposição a Costa. Passámos
a país de partido único. Adeus democracia pluralista. Mario Areias: Cara Helena, não tenha ilusões, o Mário Centeno vai
mesmo para o BP com a bênção do António Costa, do Presidente da República e Rui
Rio. O PSD vai juntar-se à esquerda para o folclore do costume e no fim fica
tudo como combinado entre eles.
Manuel Magalhães: Está bonito está, o “chefe” do governo não tem a mais mínima vergonha na
cara, o ministro que sai, sai na pior altura e no período mais difícil para o
Estado, situação essa que muito se lhe deve por não ter tomado as medidas
necessárias, mais uma vergonha, quanto ao ministro que entra fez uma série
de 5 orçamentos que sabia não poderem ser cumpridos, daí as cativações e ainda
por cima em áreas altamente lesivas para a sociedade portuguesa, agora é
nomeado para ministro pelo seu anterior chefe que o irá controlar a seu belo
prazer e sempre que for preciso tirar a sujidade “debaixo do tapete” que o
Centeno lá deixou, lá estará o governador do BP a puxar lhe as orelhas. Bonito,
bonito...
josé maria: Centeno foi o melhor ministro
das finanças de Portugal, mesmo merecendo algumas críticas pertinentes, no que
respeita às cativações. Porque não haveria de poder ocupar o cargo de
governador do BdP, tanto mais que, antes de ocupar o cargo de ministro das
finanças, já era um alto quadro desse Banco? Costa tem toda a razão: só por
mesquinhez, inveja ou despeito, alguém se pode insurgir contra a nomeação de
Centeno para governador do BdP.
josé maria > josé maria: assim mesmo é que é, quanto ao melhor ministro das
finanças ... talvez o menos mau e mesmo assim tenho dúvidas Pedro
Silveira >josé maria: Caro JM, sempre o mesmo. Mas conhece todos os
anteriores Ministros das Finanças para considerar este embuste o melhor? E acha
que os contextos são os mesmos? E já agora, qualquer alto quadro do BdP poderá
ser nomeado Governador, é assim? Maravilha. Em relação à nomeação, pelos vistos
só o PS é que concorda; todos os outros partidos são, portanto, mesquinhos e
invejosos. Tal como todos os portugueses que entendem que é uma promiscuidade.
Abraço
Pedro Santos da Cunha: Nisto tudo há tramóia! E das Grandes! O que é que eles andam a esconder? Ou a favorecer alguém? Ou vários? Xico
Nhoca: Centeno estava a fazer muita
sombra ao charlatão. Será que este pregou uma rasteira ao Mário Centeno que vai
acabar por ficar sem cabra e sem soga?
Ana Ferreira: Uma vez com o conhecimento, e reconhecimento, nacional e no estrangeiro, da
excelência do desempenho de Centeno, para além de pouco patriótico, não é nada
profissional que uma economista, por questões ideológicas, ponha o interesse do
país em segundo lugar!
S. Nunes: O PS continua a sua captura do Estado e instituições. Quem se mete com o PS
leva! Rio, teve a ousadia e a incúria de contrapor e exprimir a sua opinião (e
a de muitos outros certamente) e, como tal, foi grosseiramente distratado por
palavras ocas. A entourage ri-se
e abana a cabeça em sinal positivo de confirmação. A vida corre-lhes bem com o
beneplácito de... de quem quiser fazer uma reflexão sobre o seu contributo para
este staus quo podre. De vez em
quando é preciso mudar as moscas...
Sergio Coelho: Perfeito! E o povão anestesiado por futeboladas 24h em todas as tv em horário nobre
(paga pelo Desgoverno) feliz da vidinha e cada vez mais na cauda da Europa e
OCDE! Bem feito para os labregos que elegeram este malabarista e chefe do clube
mais obscuro, mafioso e nepotista da Europa.
Carlos Chaves: Cara Helena, muito obrigado pelo seu artigo. Será que ainda vivemos em
democracia? E qual é a posiҫão do maior partido da oposição sobre esta matéria?
Quando dermos conta temos mais uma vez as instituiҫões do estado tomadas de
assalto por esta esquerda desastrosa! Até lá vamos assobiando para o lado!
Domingas Coutinho: Isto é uma ditadura travestida do PS e com a bênção do Presidente. O povo
aplaude.
Ursa Urso: A corte lisboeta... bento
guerra: Parece que
estamos a assistir ao capricho de um malabarista que não foi aceite no
estrangeiro, mas serviu o bando que manda neste rectângulo, cortando em despesa
orçamentada e necessária. Tem a oposição dos outros partidos políticos, mas
quem se mete com o PS, já sabe. República de bananas Adelino Lopes: Na eventualidade de Centeno ser
proposto para o BP, parece-me que o BCE tem ainda uma palavra a dizer. Se o BCE
(Constâncio?) disser que sim o que se pode fazer? Compreender e aceitar a
palhaçada da independência do BP. NunoW Nunow: Centeno desconhecido, saiu pela porta das traseiras do
Banco de Portugal, despeitado por ser preterido em concursos internos e agora
vai entrar pela janela para Governador. Um Ronaldo que abandona a Equipe quando
esta mais precisa dele não merece a promoção.
António Vieira: Tipo Churchill, mas ao contrário. Quando era realmente importante que
colocasse as suas auto proclamadas qualidades ao serviço do pais, ele foge para
ir para o conforto de quem nada tem que decidir e limitar-se a supervisionar o
que ele próprio fez. André Ondine: Será que isto não foi o que
Centeno sempre quis? Regressar ao Banco de Portugal como Governador, já que,
enquanto foi quadro do BdP, não o deixaram ser o que ele queria? E, agora,
Centeno pode fazer a sua vingançazinha....afasta Carlos Costa (e humilha-o,
prática que deve ter aprendido do Habilidoso, que é mestre na humilhação
alheia) e regressa para mandar naqueles que o impediram de ser o que queria,
nos seus tempos do BdP. Mas alguém devia
avisar Centeno que o Habilidoso não é homem de grandes lealdades nem amizades.
Se for preciso deixar cair Centeno, deixa. E com estrondo. E Centeno diz adeus
ao BdP, ao Eurogrupo e ao Governo. E ainda acaba como o mau da fita da nova
crise, tudo em nome da Glória suprema Do Habilidoso. Vitor
Batista > André Ondine:
Habilidoso ou querido
lider?.... Dário Moreno
> André Ondine : E Centeno merece mais? André Ondine > Vitor Batista: Querido Habilidoso, para alguns :) André
Ondine > Dário Moreno:
Acho que não, de facto. Nem a
sua vingança merece, mas parece ser uma obsessão de que não prescindirá....
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