quarta-feira, 3 de junho de 2020

Tentativas, frustrações



Pobre do Álvaro de Campos!” E não passamos disto, embora haja pessoas corajosas pelo meio, a rebelar-se. Como Helena Matos e alguns apoiantes.
Contra o novo normal candidato presidencial precisa-se /premium
Alguém tem de representar os que defendem que somos iguais independentemente da nossa ideologia, que o PR tem de ter um programa e não uma táctica e que há vida, difícil, para lá da propaganda.
HELENA MATOS    OBSERVADOR, 31 mai 2020
PS. Dá-se preferência a quem não se ponha em calções ao primeiro sinal de que pode estar a descer nas sondagens.
O novo normal garante que Marcelo é o único sinal dissonante face a uma esquerda que já nem precisa de disfarçar a sua arrogância. O próprio Marcelo participa activamente desta narrativa: “sempre quero ver se eu não me candidatar e ficar tudo nas mãos da esquerda, sim, sempre quero ver…” ouviu-lhe proferir Maria João Avillez .
Digamos que o novo normal tem todo o tacticismo da velha política só que já ninguém se lembra disso: desde que em Fevereiro de 2014 apareceu de surpresa num congresso do PSD, lançando o seu nome para as presidenciais, Marcelo afirma-se precisamente não por congregar mas sim por secar todo o campo político à sua volta, para em seguida se apresentar como a única alternativa possível. O sempre quero ver se eu não me candidatar não é um desabafo de Marcelo perante as oposições, é sim um programa de vitória sobre os seus. É esse o programa de Marcelo: foi assim que em 2016 ganhou a Passos Coelho (Sampaio da Nóvoa era uma segunda figura nos combates que Marcelo então travou). É assim que em 2021 quer ganhar àqueles que não se conformaram com a marcelização da direita.
O novo normal tal como acontecia com a velha normalidade garante que os eleitores de direita devem não só aceitar esta estratégia de Marcelo como cumprir o papel que ele lhes reservou nela. Como? Votando nele.
Marcelo deixou passar as 35 horas na função pública, pactuou com o ataque à PGR, calou-se sobre as cativações… mas isso na tal lista de gestos que terá elaborado para provar a sua fidelidade aos seus princípios junto do eleitorado que o elegeu em 2016 deve equivaler a dois posfácios. Não só aceitou como promoveu a versão da geringonça sobre os governos de Passos Coelho mas o que é isso ao pé dos prefácios que redigiu para umas obras que a direita alegadamente lê?
Ser eleitor de direita será nesta versão o que existe de mais aproximado de coleccionador de textos obscuros e do extinto serviço militar obrigatório: tal como o recruta não escolhia o quartel em que assentava praça também o eleitor de direita está obrigado a no dia das eleições apresentar-se nas urnas de voto e cumprir o seu dever. Acontece que no novo normal tal como no velho os votos não estão garantidos: há que lutar por eles, coisa para que manifestamente Marcelo tem pouca paciência. Marcelo gosta da aclamação não do debate.
Mas acontece também que Portugal precisa urgentemente que abandonemos a retórica dos milagres, das soluções mágicas dos milhões que a Europa vai mandar (quantos impostos vão ser criados?), das falácias sobre a não austeridade. Do quotidiano transformado em absurdo: as crianças não podem ir à escola mas podem ir à praia. A DGS proíbe concentrações de pessoas mas o PCP faz comícios. Por mais que isso incomode Marcelo, as próximas presidenciais são uma oportunidade que não se pode perder para que aconteça uma ruptura neste ilusionismo feito poder. Ou para que pelo menos essa ruptura comece. Afinal o novo normal começou por evidenciar a mediocridade gerada pela velha politização dos quadros técnicos da administração públicaa DGS está longe de ser um caso isoladoe acabou a escancarar as fragilidades do governo: além do primeiro-ministro, dos ministros da Economia, Finanças e Negócios Estrangeiros sobram dezenas de ministros e secretários de quem nem se sabe o nome muito menos o que pensam.
O convite feito no novo normal a Costa e Silva para projectar o programa de recuperação económica do país apenas confirma o que já se sabia: o governo era muito fraco nos tempos da normalidade e muito fraco continua a ser no tempo do novo normal. Como é seu hábito, António Costa rodeou-se de figuras apagadas (ou que se deixam apagar) o que obviamente teve péssimas consequências na gestão da pandemia. O novo normal expôs uma oposição que à esquerda fez do crescimento do aparelho de estado o seu euromilhões e que à direita, no PSD, vive uma espécie de regresso ao passado, àqueles tempos em que criticar um governo era sinónimo de atacar o país.
E depois, claro temos devidamente exponenciado o síndroma André Ventura, essa patologia que se traduz por acreditar que tudo aquilo que André Ventura diz é mau só porque é dito por André Ventura. Esta paradoxo levou a que ao mesmo tempo que aceitamos viver sob agendas absurdas e disparatadas impostas pela esquerda radical (agendas essas que por exemplo nos colocaram a discutir a eutanásia nas semanas que eram preciosas para tratar da segurança dos lares por causa do Covid) toleramos que sejam excluídos da discussão os problemas reais de milhares de pessoas, como é o caso da insegurança, simplesmente porque esse assunto é caro a André Ventura. Ora o que deve distinguir os políticos não são os assuntos que abordam mas sim as soluções que propõem.
Deste síndroma André Ventura também faz parte a convicção que André Ventura tem um apoio de tal forma crescente que qualquer candidato que surja à direita será derrotado por Ventura, à excepção de Marcelo, claro. Percebo que a tese agrade a ambos, a Marcelo e a Ventura, mas isto não é um dilema é uma ratoeira. Ou se quebra esta dicotomia apresentando uma outra candidatura ou os próximos anos serão marcados pelo tacticismo egocêntrico de Marcelo e o crescimento do ascendente político do líder do Chega que na verdade já nem precisa de abrir a boca para ser declarado vencedor dos debates que não travou. À beira da segunda candidatura de Marcelo a direita está a pagar o preço do medo de fazer de política.
À beira da sua segunda candidatura, Marcelo descobriu que as coisas podem ser mais difíceis do que previra. Afinal não é certo que os socialistas se mobilizem para votar nele e à direita sabe que perdeu votos, só não sabe quantos. Acredita que apresentar-se entre os radicalismos de André Ventura e Ana Gomes é o q.b. para que os renitentes se disponham a ir votar Marcelo “apesar de”. Terá razão mas o problema de quem na política vive a fazer contas é que nunca conta com as contas dos outros. Marcelo não é o único fazer contas. E se às parcelas Marcelo, Ana Gomes, André Ventura juntarmos uma candidatura proveniente do centro direita, o resultado pode ser a melhor forma (e também a única que resta) de trazer a realidade para a nova normalidade.
COMENTÁRIOS:
José Ramos: Juntaram-se na mesma legislatura (que promete sequelas) os dois maiores oportunistas políticos da 3ª. República, Estado Novo e, presumo, 1ª. República. Costa e Marcelo. E, no caso do executivo, nunca o compadrio, o nepotismo e a descarada troca de favores estiveram tão em alta nem o "jornalismo" foi tão voluntariamente cooperante. Até, temo-o, a arrogância, a pesporrência, conseguem ser mais obscenas que o "respeitinho" típico dos tempos de Salazar. A este estado de coisas chama-se colaboracionismo, covardia, venalidade a baixo preço, indignidade.
Carlos Almeida: Mais uma excelente análise política de Helena Matos. Água mole em pedra dura...
João Porrete: Entre Ana Gomes e Ventura, Ana Gomes. Entre Marcelo e Ventura, Ventura. Entre Ana Gomes e Marcelo, Ana Gomes. Ass. Um eleitor de Marcelo em 2016.  José Pedro Faria > João Porrete: Entre um mau e outro pior, escolho o pior. Quanto pior, melhor.  José Miranda: O Trump não é um modelo de pessoa, mas é muito melhor que o da postiça Clinton. Em termos de desempenho tem sido bem melhor que o "simpático Obama.   João Porrete > José Miranda: Sem dúvida. Trump encetou uma guerra comercial necessária contra a China, acabou com o Estado Islâmico, foi-se embora do Iraque e está prestes a fazê-lo do Afeganistão, forçou os alemães, portugueses e outros europeus a questionarem se querem ou não gastar dinheiro com defesa, pôs a economia a funcionar para os americanos típicos e, na pandemia, montou um programa gigantesco de apoio a famílias e empresas, pôs a política de imigração dos EUA na ordem, trouxe indústria de volta aos EUA, governando para os seus concidadãos, bloqueou os ímpetos do Partido Comunista Chinês de exportar o seu modelo securitário e totalitarista para outras paragens, etc. Penso que Trump será reeleito à conta da sua política de nacionalismo económico, em especial porque a sua postura antichinesa não é postiça, ao contrário dos democratas, que só agora começam a perceber que andam a fazer o jogo do PCC há décadas.   Frederico Bernardes > José Miranda: É um erro pensar-se só nas questões económicas. Os líderes têm de ser muito mais do que isso. Têm de ser defensores e exemplo de valores de progresso social e civilizacional. Não vejo nada disso no Trump. Pelo contrário, líderes como o Trump, Ventura e Bolsonaro (também os há de esquerda, atenção) tendem a fazer vir à tona e a legitimar o que de pior há nas pessoas.   Belo Miro 0 > João Porrete: Os Democratas sabem muitos bem o que andaram a fazer. A maior parte deles estão no bolso da China. Follow the money!mmHelmarques, Foi buscar exemplos que nada têm a ver com a nossa realidade, nem dos quais estamos minimamente próximos. Portanto, desculpar maus exemplos com outros maus exemplos serve de muito pouco.  Sete Cidades: Há muitos anos que vejo Helena Matos a remar contra a maré, com particulares agudeza de espírito e clareza de expressão. Contudo, o barco vai sendo arrastado e talvez seja tempo de tentar compreender donde vêm essas correntes que nada consegue contrariar. Se for possível… porque ninguém quer ir acordar o mostrengo que habita os fins do mundo. O facto é que ao Povo português se fazem exigências enormes. Tem que trabalhar e produzir durante o dia e estudar ao serão para distinguir as melhores políticas no ensino, nos negócios estrangeiros, na ordem pública, na economia, na preservação da natureza, & etc. E tem que saber quais são os políticos mais habilitados a cumprir as boas políticas. Em cima disso, ainda tem que escolher o presidente dos EUA. É obra a mais para um povo só.    Joaquim Zacarias: Depois de ler inúmeros textos de HM, RR, JMF e de AG, ficamos surpreendidos com o seu posicionamento em relação às presidenciais. Como é possível, depois de tanta critica feita a Marcelo e à esquerda em geral, concluírem que o menos mau é votar no actual PR, ou então, propor alguém do chamado centro direita, seja lá isso o que for. Votar Marcelo, é votar em quem não tem uma idéia, uma bandeira ,um desígnio para o país. O "radical" Ventura ,é o único politico eleito, que dá o nome aos bois, que denuncia os arranjinhos, as artimanhas e os compadrios deste desgoverno, sempre com o apoio deste PR .Estes excelentes cronistas afinal, também sofrem de complexos de esquerda. Lamentavelmente.
Ana Brito: tal como os povos dos EUA e Brasil apoiaram massivamente o candidato que disse o que eles pensavam desde sempre, mas era silenciado pelos média e partidos, também nós, portugueses precisamos de alguém assim, que não se refugie na retórica para se proteger e, antes pelo contrário, exponha a verdade, brutal, nua e crua. Até agora, essa pessoa tem sido Ventura. Terá defeitos, vícios, segundas intenções? não sei, é novo na política. Mas aos outros já os conhecemos de ginjeira e sabemos que não conseguimos contacto com eles. Então, quando chegamos ao ponto em que estamos, o que é que temos a perder?
Fernando Ribeiro: Mas... HM você tem de reconhecer que Portugal e Marcelo fazem um belo par. Estão bem um para o outro.  José Miranda: Pela primeira vez não estou de acordo com a Helena Matos. O PSD tem uma liderança lastimável, o CDS não recupera credibilidade. Não existe na direita uma figura que sobressaia. O melhor é votar Ventura, que se opõe com êxito ao politicamente correto e fará acordar a direita.   José Pedro Faria > José Miranda: Sim, o Ventura tem o típico discurso de tasca (o chamado "sermão do taxista") que pega nas camadas culturalmente e economicamente menos favorecidas. Altero a minha posição se o candidato for Pedro Passos Coelho. O mais provável é não vencer, mas tornar-se-ia o líder indiscutível da direita.
Paulo Gálatas: A América a arder e não há um único artigo de opinião sobre o assunto, publicado neste "jornal". Deixado o alerta para o elefante na sala, a propos das eleições presidenciais, o Marcelo vai ganhar. Já ia ganhar ontem, vai ganhar hoje e vai continuar a ganhar amanhã. É tão óbvio que vai ganhar que qualquer palavra, escrita ou falada sobre o assunto, equivale a jogar fósforos ao mar. Entretanto, os afanosos cronistas do Observador não falam noutra coisa (ou coisas igualmente desinteressantes). Mesmo com a América a arder.
Joaquim Moreira: Devo confessar, para quem não sabe, que votei no candidato presidencial do "novo normal", apesar dos comentários e cenas que fez antes de assumir que ia ser candidato, afinal. Embora tendo várias outras alternativas, mesmo depois das cenas que fez, acabei por votar nele, dessa vez. Agora, depois de assistir ao seu desempenho, e de não estar nada satisfeito, com o que tem dito e feito, tenho a impressão que, quando chegar à altura de votar, vou-me outra vez enganar. Por uma muito simples e pragmática razão: vou ter de o comparar com os que vão concorrer à mesma eleição. E mais, mesmo admitindo que possa aparecer um candidato melhor, o meu voto não chega para alterar a lei de força maior. A velha democracia, que em nome do interesse do povo, o engana com muita sabedoria. Basta ver o que se passou com uma falsa maioria, que foi e deixou de ser como que por magia. Mas concordo muito que era bom que aparecesse um novo candidato presidencial, contra este “novo normal”. Mesmo que no final, ganhe o que põe os calções quando a coisa começa a correr mal!    José Emílio Ribeiro :Um texto interessante e, concordemos, com alguma lucidez. De facto, Portugal, não pode se esgotar numa sucessão de inserções televisivas à la selfie que colam apenas de cernelha com a realidade. Portugal não é um reality show, perdido algures entre os calções azuis do novo rei e a megalomania auto-laudatória dos fregueses dos Paços da república. Portugal tem que ter um programa, uma direcção a médio e a longo prazo que, por própria razão, não coincide com a entropia da fama dos 5 minutos ou do maniqueísmo sobre os bons e dos maus que sustenta o tacho político de tantos dos habitués dos Telejornais. Por isso aplaudo a nomeação do CEO da Partex para desenho de um programa estratégico para o nosso País. E sobre esse plano (ou outro, desde que exista), o país deve ser ouvido e quer a esquerda quer a direita (essa classificação de campo médio, para contar à hora da dormida) têm a responsabilidade de assumir o Poder De Executar essa Estratégia. Esta ou outra desde que exista. De facto Portugal não se termina no presente: é o futuro, sempre o futuro, que lhe irá dar forma. E, por isso, passado.
O Serrano: Concordo inteiramente com Helena Matos, será de grande interesse haver um candidato presidencial de centro-direita, pois Marcelo não merece ir a votos sozinho nessa área, é um traquinas tão inteligente, tão inteligente, que os normais não percebem nem compreendem como se prestou e presta a um papel destes, isto parece mais um circo do que outra coisa qualquer. Mas quem seria esse candidato de centro direita? Um desconhecido dificilmente teria já tempo de se impor num eleitorado como os portugueses, que pouco mais são do que uns marionetes, ignorantes, com enormes dificuldades em perceber o que lêem e até o que ouvem (isto muito acentuado nas gerações até aos 4o anos, fruto da escola que têm tido, do facilitismo e da irresponsabilidade). Claro que, felizmente, temos elites e muito boas, os que conseguiram sair desta massa por razões várias. Se não um desconhecido, teria de ser alguém já com alguma notoriedade, de ideias claras e convincentes, empático, etc, etc? Quem seria essa pessoa? Acho que vai ser muito difícil de encontrar, mas oxalá me engane. Uma pedrada neste pântano nunca foi tão necessária!

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