“Cozinha
Tradicional Portuguesa” de Maria de
Lurdes Modesto, que emprestei e nunca mais vi, com muita pena minha.
Era um livro de capa sugestiva, com o retrato de pratos e caçarolas num armário
antigo, e, no seu interior, com imagens e receitas de cozinhados portugueses,
simples e saborosos que muitas vezes lia, no gosto dessas imagens poderosas que
faziam crescer a água na boca, e o prazer na alma.
É por isso que concordo plenamente com o
texto de Miguel Esteves Cardoso
de
vibrante homenagem a uma MULHER que ele descreve com uma energia de grande admirador, conquanto,
estranhamente, no nosso país de glutões, apenas tenha merecido um comentário –
a evocar, todavia, uma outra figura de Panteão e não a da simpatia de MEC. E embora discorde da grosseria inaceitável
da frase referente ao 10 de Junho e a tudo o
que ela implica de irreverência e infantilidade para com um Camões intemporal – “Ao pé da data dela o 10 de Junho parece um barrigudo” – não posso
deixar de concordar com a linda frase, que reponho, sobre Maria de Lurdes Modesto:
«Maria de Lourdes Modesto: deveria haver um panteão especial
para estas pessoas que tudo dão e nada pedem.»
Mas como pessoa simples que sempre foi, ela
não faz parte do escol que se pretende politicamente soberbo ou da elite, e JEC bem o faz sentir, desta vez com
maturidade.
CRÓNICA
Maria de Lourdes
Maria de Lourdes Modesto: deveria
haver um panteão especial para estas pessoas que tudo dão e nada pedem.
MIGUEL ESTEVES CARDOSO
PÚBLICO, 4 de Junho de 2020
No
deve e haver da vida de cada um deveríamos (ou havíamos de) escrever de um lado
os nomes das pessoas que mais contribuíram para a nossa felicidade, tal qual é,
por muito pequena que possa ser, e, do outro, uma estimativa daquilo que nos
custaram em tempo, carinho, nervos, desgostos, desilusões e – porque não? –
dinheiro.
No
topo da minha boa contabilidade estaria o nome de Maria de Lourdes Modesto. E nisto estou bem acompanhado, por
milhões de portugueses, por centenas de milhões de boas refeições,
gargalhadas, lições, ideias e horas de leitura divertida.
E
o meu custo? Desgraçadamente zero. Só me custou uns poucos eurinhos. Deveria
haver um panteão especial para estas pessoas que tudo dão e nada pedem. Não
para dar o exemplo porque é impossível seguir-lhes os passos mas apenas para
nos lembrarmos que são verdadeiramente excepcionais: já é uma sorte estarmos
vivos enquanto elas também estão.
Conheça
ou não conheça a obra maravilhosa da Maria de Lourdes, o melhor sítio por onde
começar é a excelente biografia que Mauro Gonçalves escreveu para o Observador
para celebrar o nonagésimo aniversário dela no dia 1 de Junho. Meu Deus, até
a fazer anos se sente a grácil inteligência dela a funcionar. Ao pé da data
dela o 10 de Junho parece um barrigudo.
Esperemos
que a Imprensa Nacional leve pouco tempo a publicar as Obras Completas de Maria
de Lourdes Modesto que tanta falta fazem nas estantes do futuro e do presente.
E do passado: o grande Leite de Vasconcelos teria aprovado a urgência e
elegância desta edição.
COMENTÁRIO
Armando Heleno EXPERIENTE: Pelo meu lado, proporia o Prof José Hermano Saraiva, por tudo o que nos mostrou do nosso
país e ainda por ter sido - malgré salaire- o "descodificador" dos
Lusíadas completos, que saíram no Expresso. Apesar da sua popularidade, dentro
de pouquíssimos anos, estará já esquecida - com a miserável e ingrata ajuda de
políticos e nem só - esta enormíssima figura e tudo o que fez vir ao de cima
sobre a nossa terra. Vi poucos da sua categoria e postura. Para terminar,
também ele recorreu um dia ao sábio José Leite de Vasconcelos.
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