segunda-feira, 29 de junho de 2020

Sempre impecável



Jaime Nogueira Pinto. Com saber de erudição e de boa formação moral. Exemplo para um país a precisar de ambos.
“A estupidez ao Poder!” /premium
Esta gente é perigosamente lunática, não se sabe se por estupidez, se por puro e maldoso fanatismo. Mas podemos para já estar seguros que estas propostas de perfeição e absoluto vão acabar mal.
JAIME NOGUEIRA PINTO
OBSERVADOR, 26 JUN 2020
Um dos slogans dos estudantes revolucionários parisienses de Maio de 68 de era “A imaginação ao poder”. Não seria grande essa imaginação: à mistura com alguns achados ousados e divertidos, muitos dos grafitti eram bastante banais para não dizer estúpidos.
De qualquer modo tinham alguma coerência e sentido ideológico, embora na realidade o que acabaram de conseguir, na época, foi causar uma reacção popular conservadora e reforçar o poder do General De Gaulle.
Vem isto a propósito da vaga de paranóia iconoclasta que percorre os Estados Unidos e chegou a alguns países europeus. O ponto de partida foi, pode dizer-se, “digno, justo e racional”. A morte de George Floyd, um negro americano, detido por ter tentado passar uma nota duvidosa de vinte dólares, e sufocado até à morte pelo seu captor,o polícia Derek Chauvin (right name to the right person) perante a indiferença de outros três agentes, é um motivo de justa indignação.
A reacção das autoridades foi pronta; o culpado da morte foi suspenso da Polícia e preso; os outros três polícias foram também objecto de sanções.
Mas a tradicional questão do racismo na sociedade americana, voltou à superfície: é uma herança trágica, difícil de conviver: a economia colonial do Sul, num tempo em que a escravatura era uma instituição corrente, trouxe para os Estados Unidos, nos porões dos navios negreiros (e muitas vezes vendidos pelos seus próprios chefes ou capturados pelos “slave hunters” no Continente africano, centenas de milhares de seres humanos – homens, mas também mulheres e crianças.
Quando na Europa, começou a concretizar-se a abolição, a escravatura persistiu nas Américas, ligada a culturas como o café no Brasil e o algodão nos Estados Unidos. Quando os Estados do Sul pretenderam, apelando para a Constituição e os Direitos dos Estados, manter o sistema, e se decidiram depois pela Secessão, Lincoln, combatendo na própria União partidários da escravatura, foi para a Guerra Civil.
Que o Norte venceu por factores que estão analisados pelos historiadores militares, nessa guerra que custou 620 mil baixas militares, ainda hoje mais que a soma de todos os conflitos internacionais em que os Estados Unidos intervieram.
A vitória no terreno do Norte, sob a chefia militar do general Ulysses Grant, que depois viria a ser presidente da República, trouxe a libertação oficial e legal dos negros, mas não a sua emancipação social e política. Também o Sul foi invadido por uma série de aventureiros e oportunistas do Norte, os célebres “Carpetbaggers” que procuraram, no rasto das tropas da ocupação, explorar os vencidos. Eram geralmente do Partido Republicano e alguns misturavam a acção de promoção político-social dos ex-escravos com operações económicas de duvidosa transparência. Este foi o clima da Reconstrução, quando, em defesa clandestina dos brancos se formaram organizações como o Ku-Klux-Klan.
Curiosamente o cinema americano, desde o clássico Birth of a Nation de D. W. Griffith, (1915) passando por E Tudo o Vento Levou e por dezenas de Westerns, mostrou sempre uma certa simpatia por “The Lost Cause”, a causa vencida do Sul, romantizando essa América das mansões coloniais e aristocráticas, e da “douceur de vivre” das famílias de Virgínia e das Carolinas. Foi Quentin Tarantino quem, há poucos anos, com Django Unchained e outas fitas no mesmo sentido quebrou esta linha romantizadora do Sul. O realizador de The Hateful Eight, que não é meigo, comparou mesmo a bandeira da Confederação à Suástica.
Nos anos 50 e 60 as campanhas que culminaram na Lei dos Direitos Civis assinada por Lyndon Johnson, puseram, outra vez oficialmente, fim à segregação. E daí em diante os Presidentes – todos – dos Republicanos, como Nixon ou Reagan, aos Democratas Clinton e Obama, prosseguiram nesta linha integradora. Do lado dos negros americanos também houve duas linhas de luta pela igualdade: uma pacífica, ordeira, religiosa, representada por Martin Luther King; outra violenta, racista, anti-branco, simbolizada por figuras como Malcom X e Angela Davis. O mesmo se verificou, também, entre os brancos.
Voltando à actualidade: na sequência da morte de Floyd surgiram também estas duas linhas: os protestos ordeiros, pacíficos, de luto e contra o que é sentido ainda como uma discriminação para a qual se apontam números como a população carcerária ou os níveis económico-sociais da renda familiar. Já o número de polícias negros cresceu muito nos últimos 50 anos.
Mas logo a seguir surgiu uma minoria violenta de brancos e negros, a vandalizar e apear estátuas, a queimar lojas, a proclamar uma espécie de nova guerra civil. E que além de violenta e revolucionária, parece ser completamente imbecil na escolha de alguns dos seus alvos: porque se se pode ainda entender a sua fúria contra os generais sulistas (que já vinha de trás), como perceber a vandalização dos monumentos a Lincoln, o grande libertador dos negros na Guerra Civil, ou a Grant, que foi o comandante militar que venceu o Sul? E Andrew Jackson, que foi um populista e guerreou os mexicanos? E Colombo, que não foi um mercador de escravos e que cruzou o Atlântico e abriu caminho a uma colonização, sem dúvida com crónicas de violência, mas que destruiu “civilizações” que eram monarquias teocráticas, esclavagistas, que faziam sacrifícios humanos aos seus deuses, ou tribos que praticavam a antropofagiaE porquê perseguir um missionário, canonizado pelo Papa Francisco?
Esta gente é perigosamente lunática, não se sabe se por estupidez, se por puro e maldoso fanatismo. Por estupidez e ignorância, porque não distinguem, politicamente, Lee e Grant, Lincoln e Jefferson Davis, o Padre António Vieira e alguns colonos brutais. Ao olhá-los e ouvi-los, pode admitir-se que sim, têm ar e modos disso. Ou então sabem o que é, e querem deliberadamente destruir a História, “fazer tábua rasa do passado” e construir aquelas utopias supostamente igualitárias em que tudo acabava em massacres e violências piores que os perpetrados pelos anteriores dominadores.
Não sabemos. Mas podemos para já estar seguros que, como em outras circunstâncias históricas, estas propostas de perfeição e absoluto, esta fanática recusa de tudo o que não seja o “politicamente correcto”, vão acabar mal.
Para eles? Para nós?
O pior é que é capaz de ser para todos.
COMENTÁRIOS
João Sousa: E há sempre bom lembrar que este senhor, um “perigoso facho” foi impedido de falar na Faculdade de Ciências sociais , esse pilar dos valores morais inatacáveis. Ainda hoje tive uma discussão com estes lunáticos que se caracterizam por terem só certezas. O caminho deles é o certo porque “é óbvio que é” e não aceitam qualquer discordância. Se não concordar, e a 100 por cento, és o inimigo. Qualquer prova em contrário que apresentes é porque são vendidos. Um diz “só os brancos não são a favor do BLM” e quando outro disse “olha este exemplo de negros” a resposta foi “esses receberam uns coupons”. Impossível discutir com esta gente que não é mais que fanáticos religiosos. A religião é de outro tipo mas os problemas que dela decorrem, a fé cega, são exactamente os mesmos.
Antonio José Almeida: Magistral. MT obrigado!             André Macias: Excelente artigo
aac 666 : Excelente Jaime.             Carminda Damiao: Óptimo artigo.
José Emílio Ribeiro: Um texto certeiro. Denunciando essa gente que usa o passado para proibir o futuro. Uma mistura de ignorância e medo. Medo a um mundo que não compreendem
José Miranda: A estupidez de outro tipo, mas não menos perigosa ,já está no Poder em Portugal e Espanha.
Paulo Silva: O título podia ser a mensagem sublimiar do slogan: «Oprimidos mulher, gay, bom selvagem, cão e gato. Todos ao Poder!» Mas nem isso. Quem vai ao poder são os donos.
O Pensador: Talvez o autor não saiba que quem fundou a Ku Klux Klan foi o partido democrata. Se quer saber a história nefasta deste partido, veja os vídeos de um senhor chamado Dinesh D’Sousa.  Acho que ficaria banzo com o que ele conta sobre a história do mesmo.
José Pedro Faria > O Pensador: O autor não sabe, mas você como é esperto, sabe. Qual é a sua fonte?
José Pedro Faria > O Pensador: Não espalhe desinformação.
Asdefo da silva > José Pedro Faria: O KKK foi formado por apoiantes e membros do partido Democrata sim. Claro que não foi formado pelo Partido democrata.
Sergio Morais > Asdefo da silva: e não esquecer as leis Jim Crow, que segregou os afro-americanos até aos anos 60, essas sim criadas pelo Partido Democrata.
Fernando Almeida: Mais um texto  brilhante de um dos mais lúcidos Intelectuais portugueses. Um autêntico "bálsamo"          Jose Norton: Excelente. Muito obrigado!               Lúcio Cornélio: Como de costume, um artigo excelente. Felizmente há gente lúcida para a qual "saberes" não é um palavrão e "cultura" não representa um bando de saltimbancos sem qualquer talento.          José Ramos: Como de costume, um artigo excelente.
Manuel Magalhães: Como sempre muito bem, claro e instrutivo!!!
Portugal, que Futuro: A utopia socialista comunitária de Fourier, que via os homens como "borboletas, saltitando de flor em flor" deixou inúmeros filhos sem pai. A utopia revolucionária francesa inspirada no iluminismo "liberté, egalité, fraternité" deixou-nos como herança a guilhotina, que decepou, primeiro o rei e a rainha, depois os nobres, depois os burgueses, depois os populares e por fim os próprios revolucionários. A história repete-se, não com os mesmos factos, mas com o mesmo padrão, pois existem relações causais entre os factos históricos. Não estamos a salvo, como não estavam os excelentes gregos e os superiores romanos. Pela degradação da educação e crescimento exponencial da demagogia, quem tem o poder controla as massas, até que, sendo descobertos por estas, sofram o mesmo castigo que lhes tenham infligido. 
José Miranda: Como sempre é uma clareza, uma cultura, raras em Portugal.
Manuel Barradas: Obrigado a JNP por levantar a voz contra a tirania em ascensão do “politicamente correcto”. São necessárias mais vozes, e acções, pela Liberdade e Democracia.
João Pensamentos: Subscrevo a opinião de JNP. Ainda estou para perceber a censura que foi acometida a JNP, por uma Universidade pública, que prima pelo pensamento livre, mas ideologicamente afecta à ideologia mais à esquerda desde a AE ao próprio Director. 
Paulo Chambel: Mais uma aula de história e bom senso. Sinto também a mesma perplexidade quando tento perceber o que se passa nos USA.
Ana Ferreira: JNP, à semelhança dos outros saudosistas ainda que, faça-se-lhe justiça, no seu caso assumidamente salazarista, sente poder endurecer o discurso, afinal a oportunidade está aí, a pandemia fez-lhes o serviço, pelo que há que tomar posições na grelha. Dá-se até ao luxo do uso de vocabulário mais habitual noutro tipo de grunhos. Espere sentado!
MCMCA  > Ana Ferreira: Só tem isto a comentar? Esperava mais de si
luiz branco > Ana Ferreira: Talvez tenhas uma surpresa em breve...LOLLLL
José Emílio Ribeiro > Ana Ferreira: Existe uma lei da natureza em que nos é impossível determinar com absoluta precisão duas quantidades tais como, e por exemplo, a posição e a velocidade de uma partícula. Esta impossibilidade é conhecida como incerteza de Heisenberg. Aplica-se na Natureza mas também,  lato sensu, em situações reais. Não resisto a apontar-lhe um tal exemplo. A comentadora Ana Ferreira não pode ao mesmo tempo ser pessoa inteligente e militante/afecta do PS. Porque se militante/afecta do PS não é inteligente pois com os seus usuais comentários ( e não só este) só consegue, mesmo que o não queira, enxovalhar o PS, por atrair sobre este o opróbio de ser defendido por tais soezes comentários. Mas se não é militante, então é inteligente pelas mesmas razões acima aduzidas As duas coisas é que não pode ser simultaneamente.
Ana Ferreira > José Emílio Ribeiro: Quanto a si, o principio aplica-se na perfeição, escreve muito e não diz nada e não lhe é conhecida ideologia, no caso de JNP não, é ilustre na praça e toda a gente o reconhece salazarista!     Rui Fernandes > Ana Ferreira: Que disparate pegado de comentário. Paupérrimo.
João Sousa > Ana Ferreira: Quando não se tem argumentos chama se facho (neste caso saudosista).
Marie de Montparnasse > Ana Ferreira: Salazar não teve culpa que as capacidades de Jaime Nogueira Pinto fossem acima da média e também não teve culpa da nulidade das suas. Afinal aqui quem é o grunho?
Fernando Prata: Excelente artigo.        Margarida Miranda: Excelente! Obrigada, JNPinto!
Rui Lima: É bom que alguém vá a luta obrigado JNP , deixar ao activíssimo dominante impor a lei é um crime . Ontem havia no DN uma entrevista de um historiador onde lembra os milhões de europeus feitos escravos , afinal nem foram os USA o país com mais escravo foi o Califado de Sokoto, no norte da Nigéria, Porque não há descendentes Desses_escravos porque eles eram castrados , mas ninguém chateia esses países. Entrou na justiça uma ação movida por mestiços contra um país europeu invocando crime contra a humanidade ( se percebo será pelo pai ser branco e a mãe negra ? Mas como eu conheço situação inversa será que estes mestiços vao pedir Marco SilvaRui Lima: Não era preciso ler o DN (que por si só já é um erro), bastava ler a história, que eu próprio já partilho há nos, desde que passei a comentar aqui no Observador, especialmente no que diz respeito à nossa história. Quem alguma vez disse que os "brancos" foram quem mais comercializou escravos, está a mentir. Os "escravos brancos" são bem conhecidos de quem realmente sabe história, ao contrário dos que na actualidade por motivos ideológicos, querem apagar a história. Já fizeram isso quando há umas décadas queimavam livros, agora, a mesma ideologia, quer apagar / re-escrever a história.
A nossa história é um exemplo disso mesmo, de escravatura e sujeitos à barbárie durante séculos por parte dos muçulmanos, que como diz, foram os maiores comerciantes de escravos do mundo...e também os mais cruéis, precisamente pela razão que mencionou, pois os homens escravos eram castrados por estes selvagens. De resto ainda são dos maiores. Há um comércio de escravos gigante na Libia por exemplo. Mas como diz, ninguém ataca estes paises e estas culturas, porque quem quer re-escrever a história, faz parte do mesmo grupo que defende estes paises e estas culturas. É literalmente um ataque à civilização ocidental e muitos "ocidentais" aliam-se a tal causa, o que é por si só, degradante e infeliz.
Rui Lima Rui Lima: Marco tem razão essa gente conta com os imbecis úteis e depois a imprensa faz autocensura. Ninguém fala da zona autónoma do Black Lives Matter em Seattle Esta experiência anarco-libertária , ocupa uma parte da cidade, há zonas proibidas a brancos. Há crimes há mortos mas a polícia não pode investigar Será que está tudo mouco.
Marco Silva > Rui Lima: Sim, e Seatle, para não variar, está sob o controlo do partido democrata, que é a razão pela qual quase não falam do caso. Também não falam da acusação de violação de Joe Biden. Também não falam dos comentários racistas de Joe Biden. Até fiquei espantado como deram a noticia de Oregon, também sob controlo democrata, onde as máscaras só são obrigatórias para "brancos", uma prática incrivelmente racista contra brancos.... Apesar dos maiores problemas estarem em estados democratas, apesar do maior índice de crime e pobreza existir em estados democratas, apesar dos desacatos e falta de governação / autoridade existir quase exclusivamente em estados democratas...a culpa é do Trump. De resto quando Trump mencionou a possibilidade de activar os militares para controlar os desacatos, caiu-lhe tudo em cima. Se quer fazer alguma coisa, não pode. Se faz nada, é incompetente...e os problemas estão praticamente todos nos estados democratas...inclusive o maior número de mortos e infectados pelo coronavírus. Ou seja, não está tudo "mouco". São só os/as da ideologia canhota que querem destruir tudo o que de bom o ocidente tem e para tal não se importam de destruir paises inteiros e como se vê, mesmo nestas secções de comentários, há muitos/as a apoiar os selvagens....
Rui Lima: Só lhe posso dizer é justo o que escreve, mas a maioria dos médias está ao serviço da cultura do politicamente correcto e há uma maioria silenciosa que está em pânico . Podemos perder o emprego ser insultado eu que falava livremente com toda a gente de outras culturas ou cores hoje defendo-me porque tenho medo . Os órgãos da EU os seus presidentes são brancos há queixas , alguém diz é normal a Europa é b..... em África a elite também ê n.... Esses alguém teve problemas é insultado , nada podemos dizer fora do politicamente correcto .
Marco Silva > Rui Lima: É isso mesmo que a esquerda faz. Divide, segrega, censura, demoniza, proíbe. É uma ideologia mortífera que já tem mais de 100 milhões de mortos na sua conta e que nos últimos anos tem crescido como nunca, com cada vez políticas mais radicais e que perseguem as pessoas, em alguns casos para eliminar mesmo. O objectivo é sempre o mesmo: obter poder. Quando não têm poder arrasam tudo tal como terroristas sociais fazendo uma ameaça que se não votarem neles/as, então a destruição vai continuar. Se votarem neles, então há "paz e amor"...Quem segue isto, é insano.
José Paulo C Castro: Preocupa-me mais o contrário: "Poder à estupidez!". É o que certos líderes políticos estão prestes a fazer em nome da salvação dos seus interesses políticos: tentar usar a "estupidez" como cabeça do terror aos adversários. Pode fazer boomerang...
Lourenço de Almeida: Eu acho que é útil lembrar que o KKK foi fundado por membros do Partido Democrático dos Estados do Sul e que as Leis Jim Crow - que permitiram a segregação efectiva até aos anos 60 - foram aprovadas por maiorias do Partido Democrático. É apenas para que não haja a tentação de se pensar que de um lado estão os bonzinhos e do outro uns facínora que só pensam em números...enfim, todos conhecemos a narrativa!
Maria Nunes: Brilhante como sempre. 
NunoW Nunow: Sempre um enorme prazer apreciar o conhecimento e o brilhantismo de JNP. 


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