Que dá eternidade a Lisboa e que nos
ecoa na memória pela voz de Amália
Rodrigues, além da resposta de Santo
António ao Menino Jesus no seu colo,
segundo o recitativo de João Villaret, o Menino
interrogando sobre um beijo de amor que ouvira, o Santo desejando proteger os
namorados e a inocência do Menino: “Se o
Menino Jesus pergunta mais, faço queixa a sua Mãe, Nossa Senhora”.
Uma bonita homenagem de Salles da Fonseca a Santo
António,
que protege a nossa Lisboa e é santo casamenteiro. Mas Salles da Fonseca prefere o
discurso do rigor às graças da tradição, no seu apontamento de dados mais
verídicos e enaltecedores das virtudes de modéstia do Santo, nascido por cá e
que Vieira igualmente usou no tal sermão aos peixes, obra-prima imorredoira de expressão
oratória e satírica. Mas ouçamos também Amália:
Noite de Santo António
Cá vai a
marcha, mais o meu par
Se eu não o trouxesse, quem o havia de aturar?
Não digas sim, não me digas não
Negócios de amor são sempre o que são
Já não há praça dos bailaricos
Tronos de luxo num altar de manjericos
Mas sem a praça que foi da Figueira
A gente cá vai quer queira ou não queira
Se eu não o trouxesse, quem o havia de aturar?
Não digas sim, não me digas não
Negócios de amor são sempre o que são
Já não há praça dos bailaricos
Tronos de luxo num altar de manjericos
Mas sem a praça que foi da Figueira
A gente cá vai quer queira ou não queira
Ó noite de
Santo António
Ó Lisboa de encantar
De alcachofras a florir
De foguetes a estoirar
Enquanto os bairros cantarem
Enquanto houver arraiais
Enquanto houver Santo António
Lisboa não morre mais
Ó Lisboa de encantar
De alcachofras a florir
De foguetes a estoirar
Enquanto os bairros cantarem
Enquanto houver arraiais
Enquanto houver Santo António
Lisboa não morre mais
Lisboa é
sempre namoradeira
Tantos derriços que até já fazem fileira
Não digas sim, não me digas não
Amar é destino, cantar é condão
Uma cantiga, uma aguarela
Um cravo aberto debruçado da janela
Lisboa linda do meu bairro antigo
Dá-me o teu bracinho
Vem bailar comigo
Tantos derriços que até já fazem fileira
Não digas sim, não me digas não
Amar é destino, cantar é condão
Uma cantiga, uma aguarela
Um cravo aberto debruçado da janela
Lisboa linda do meu bairro antigo
Dá-me o teu bracinho
Vem bailar comigo
Composição: Norberto Araújo / Raul Ferrão
HENRIQUE SALLES DA FONSECA A
BEM DA NAÇÃO, 13.06.20
Nascido
em Lisboa no ano de 1195, morreu em Vercelli no dia 13 de Junho de 1231;
baptizado Fernão, ficou na História para nós, portugueses, como Santo António
de Lisboa e de Pádua para os italianos.
FOTO: Santo António pregando aos peixes - mural de azulejos,
Guimarães
Historiadores
do séc. XV admitiram a possibilidade de o seu pai, Martim de Bulhões, ser descendente de Godofredo de Bulhão, comandante da Primeira Cruzada e a sua mãe, Teresa Taveira, descendente de Fruela I, quarto
rei das Astúrias e Leão que
governou entre 757 e 768. Contudo, a
genealogia completa ainda é incerta; tudo o que se sabe é que os seus pais
eram nobres, ricos e tementes a Deus. Fernão
nasceu rico numa casa próxima da Sé de Lisboa, com pais relativamente jovens.
Educado na escola da Sé, ingressou em
1210, aos 15 anos, no convento
de Lisboa da Ordem de Santo Agostinho, o de S. Vicente. Dois anos depois e para evitar as frequentes visitas
de amigos e familiares, pediu e obteve dos seus superiores a transferência
para o Convento de Santa Cruz em Coimbra
onde permaneceu oito anos. Muito estudioso e dotado de grande
inteligência e excelente memória, cedo obteve um grande conhecimento das
Sagradas Escrituras.
Em
1220, assistindo na Igreja de Santa Cruz aos actos fúnebres dos
primeiros mártires Franciscanos mortos em Marrocos em 16 de Janeiro desse mesmo
ano, optou pela via do sacrifício e eventual martírio e decidiu tornar-se Frade
Menor de modo a pregar a Fé aos sarracenos. Tendo confidenciado as suas
intenções a alguns membros do Convento dos Olivais, então arrabaldes de
Coimbra, recebeu deles o hábito franciscano. Assim foi como Fernão
deixou a Ordem dos Cónegos Regulares de Santo Agostinho para ingressar na Ordem
dos Frades Menores, Franciscanos, onde tomou o nome de António. Este, o
nome que o Convento dos Olivais viria em sua memória a adoptar também.
Pouco depois do seu ingresso na Ordem
Franciscana, António seguiu para Marrocos mas adoeceu gravemente durante todo o
Inverno e foi obrigado a regressar a Portugal na Primavera de 1221. Contudo, o barco em que navegava foi apanhado por
forte tempestade e acostou involuntariamente à Sicília onde António
permaneceu o tempo suficiente para se recompor dos problemas de saúde.
Tendo entretanto ouvido dizer que um Capítulo Geral se reuniria em Assis a
30 de Maio, para lá se dirigiu a tempo de participar nos trabalhos. Concluída a
reunião, António permaneceu no silêncio sem que mais se tenha ouvido falar
dele.“Não disse uma palavra sobre os seus estudos”,
escreveu um dos seus primeiros biógrafos, “nem sobre os serviços que já
prestara; o seu único desejo consistindo em seguir Jesus Cristo até um eventual
martírio”. Assim,
pediu para ser colocado num lugar em que pudesse viver em isolamento e
penitência com vista a entrar mais profundamente no espírito e disciplina da
vida franciscana. Foi então colocado no Eremitério de Montepaolo
(próximo de Forli) onde
passou a celebrar Missa para os irmãos leigos ali residentes.
Certo
dia reuniram-se em Forli inúmeros frades franciscanos e dominicanos para
receberem a ordenação sendo que António estava presente apenas como
acompanhante do seu Provincial. A certo momento, concluiu-se que ninguém fora
indigitado para fazer a Homilia e
o Provincial Franciscano convidou o Superior Dominicano ali presente para
indigitar algum dos seus para fazer a prática. Contudo, todos declinaram dizendo que não estavam
devidamente preparados. Na emergência, coube a indigitação a António a quem
todos julgavam apenas capaz de ler o Missal e o Breviário. Foi-lhe assim
ordenado que dissesse o que o Espírito de Deus pusesse na sua boca.
Compelido pelo voto de obediência a
que estava obrigado, António começou por falar lenta e timidamente mas depressa
se entusiasmou e passou a explicar os mais recônditos significados das Santas
Escrituras com tal erudição, profundidade e de tão sublime doutrina que todos
os presentes se encheram de espanto. Aquele, o momento em que começou a
carreira pública de António.
Informado
da ocorrência, o futuro São Francisco de Assis dirigiu-lhe a seguinte carta:
Ao
Irmão António, meu Bispo (i.e. Professor de Ciências Sagradas),o Irmão
Francisco envia as suas saudações. Será do meu agrado que vós ensineis Teologia
à nossa irmandade considerando, contudo, que o espírito de oração e devoção não
se extinga. Adeus. (1224) Seguiu-se o ensino em Bolonha, Montpellier e
Toulouse. No entanto, foi sobretudo como orador – mais do que como Professor – que António fez a sua
grande colheita. Num grau
perfeitamente eminente, possuía todas as qualidades de um pregador eloquente:
voz forte e clara, porte de ganhador, memória
prodigiosa e os mais profundos e amplos conhecimentos da Doutrina. A estas características há a acrescentar o
espírito profético e um extraordinário dom miraculoso. Com o zelo de um apóstolo, iniciou uma reforma da moralidade
então vigente combatendo especialmente os vícios da luxúria,
avareza e tirania.
Distinguiu-se igualmente no combate aos hereges mais importantes naquela época, os Cátaros e os Patarinos
que «infestavam» o centro e norte de Itália e os Albigenses no sul de França.
Dentre os
muitos milagres que lhe são atribuídos, os mais referidos pelos seus biógrafos
são:
.O de um cavalo em Rimini que não comia havia já três
dias recusando qualquer comida que lhe pusessem à frente, até que se ajoelhou
em adoração perante as Sagradas Escrituras que Santo António lhe colocou à
frente comendo então umas avelãs que lhe apresentaram;
• O
da comida envenenada que uns heréticos italianos lhe apresentaram e que
ele, com o sinal da cruz, transformou em inofensiva;
• O
do famoso sermão aos peixes que ele proferiu nas margens do rio Brenta,
próximo de Pádua.
Eis por que tanto o zelo no combate às
heresias como as inúmeras conversões que fez lhe renderam o glorioso título de Malleus
hereticorum, o Martelo dos Heréticos.
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