Ao que parece, vão. Se o 25 de Abril
significou, para os portugueses. o repúdio dessa guerra que as manhas
doutrinárias de outros povos mais poderosos determinaram, em nome da fraternidade,
adoptadas cavilosamente - mas gloriosamente - pelos que aqui as seguiam - mais por
cobardia e conveniência próprias - como se pode hoje impor que ali voltem, aos
maus tratos e às fardas da camuflagem antiga, depois de escorraçados sem glória,
como se viu? Esse povo moçambicano foi, na realidade, há muito por nós
abandonado, para que os seus problemas nos comovam, excepto os aquosos, das
inundações, menos arriscados e mais vistosos, no foro do espectáculo
internacional. Dão-nos mais prestígio e são mais rentáveis, talvez, as missões
das várias outras alianças citadas no artigo de Mário Cunha Reis, que têm, aparentemente, mais nomeada a nível
internacional. E sobretudo nacional, com recepções e festas no regresso, com
lágrimas de afectividades televisionadas.
O que é Moçambique no mapa
internacional? Para alguns dos que lá viveram e amaram, na paz e no trabalho de
uma construção à nossa medida portuguesa, significa ainda saudade. Mas para a
maioria, mesmo a da fraternidade democrática – sobretudo essa, de resto - tudo
isso é palha. O povo de Moçambique que se amanhe. Ou peça ajuda aos russos. Num
ápice terão o seu caso resolvido, com o poder das armas russas. E das ambições russas
igualmente. Que as riquezas moçambicanas, os russos poderão explorá-las melhor,
e assim receberem o pagamento da sua intervenção contra o Daesh. Ali, em Cabo Delgado.
Portugal e as missões de manutenção de
paz
Confesso ter dificuldade em
compreender que, estando o povo de Moçambique a sofrer ataques terroristas, o
Governo considere mais prioritárias missões em países com os quais temos
remotas relações.
MÁRIO CUNHA REIS, Membro da
Comissão Política Nacional do CDS-PP e da Comissão Executiva e Porta-Voz da
TEM/CDS
OBSERVADOR, 18 jun
2020,
As Forças Armadas Portuguesas
participaram, em 2019, em 29 missões internacionais da NATO, da ONU, da União
Europeia, ou de carácter bilateral e multilateral, para as quais mobilizaram
2362 militantes.
Não
obstante os limitados meios humanos e financeiros de que dispõe, as Forças
Armadas Portuguesas têm tido nestas missões uma acção exemplar,
demonstrando capacidade e profissionalismo, internacionalmente reconhecidos e
elogiados.
As
missões internacionais, nomeadamente as de manutenção de paz, são atribuídas
pelo Governo de Portugal, que no quadro das relações internacionais, das
alianças e da cooperação militar, define as suas prioridades. “Neste momento estão em curso
missões, no âmbito destas alianças, na República Centro-Africana, Iraque, Afeganistão,
Kosovo, Somália, Mali, Roménia, Colômbia e São Tomé e Príncipe“,
segundo o gabinete de imprensa do EMGFA.
Confesso
ter bastante dificuldade em compreender que, estando o povo de Moçambique,
na província de Cabo Delgado, na região norte do país, a sofrer violentos
ataques terroristas, por grupos radicais islâmicos associados ao Daesh desde
2017, o Governo português considere mais prioritárias outras missões em países
com os quais temos remotas relações e que, salvo melhor opinião, não estão na
esfera de influência e dos interesses estratégicos de Portugal, nomeadamente no
âmbito da Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP). Segundo Bispo
de Pemba, D. Luiz Fernando Lisboa, os
ataques, executados com extrema violência, causaram mais de 1100 mortos e
200 mil deslocados. Desde os primeiros ataques, o padrão é o
mesmo: “Queimar casas, matar pessoas e decepar as cabeças”.
Perante
esta perturbadora realidade, apelo aos partidos com assento parlamentar que
solicitem ao Governo português explicações quanto às prioridades das missões
militares portuguesas, e que recomendem que seja estudada, com o Governo de
Moçambique, uma missão de cooperação militar em defesa das populações
do norte de Moçambique.
Que
no âmbito da diplomacia e das relações internacionais, Portugal
procure, juntamente com os países da CPLP, sensibilizar os membros da ONU para
a necessidade de prestar apoio militar e humanitário a Moçambique.
É
nas horas difíceis que se estreitam relações, em particular com os países
irmãos da Portugalidade, com os quais temos inúmeras afinidades, laços de
sangue, uma História e uma cultura em comum.
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