quinta-feira, 18 de junho de 2020

Um apelo



Ao que parece, vão. Se o 25 de Abril significou, para os portugueses. o repúdio dessa guerra que as manhas doutrinárias de outros povos mais poderosos determinaram, em nome da fraternidade, adoptadas cavilosamente - mas gloriosamente - pelos que aqui as seguiam - mais por cobardia e conveniência próprias - como se pode hoje impor que ali voltem, aos maus tratos e às fardas da camuflagem antiga, depois de escorraçados sem glória, como se viu? Esse povo moçambicano foi, na realidade, há muito por nós abandonado, para que os seus problemas nos comovam, excepto os aquosos, das inundações, menos arriscados e mais vistosos, no foro do espectáculo internacional. Dão-nos mais prestígio e são mais rentáveis, talvez, as missões das várias outras alianças citadas no artigo de Mário Cunha Reis, que têm, aparentemente, mais nomeada a nível internacional. E sobretudo nacional, com recepções e festas no regresso, com lágrimas de afectividades televisionadas.
O que é Moçambique no mapa internacional? Para alguns dos que lá viveram e amaram, na paz e no trabalho de uma construção à nossa medida portuguesa, significa ainda saudade. Mas para a maioria, mesmo a da fraternidade democrática – sobretudo essa, de resto - tudo isso é palha. O povo de Moçambique que se amanhe. Ou peça ajuda aos russos. Num ápice terão o seu caso resolvido, com o poder das armas russas. E das ambições russas igualmente. Que as riquezas moçambicanas, os russos poderão explorá-las melhor, e assim receberem o pagamento da sua intervenção contra o Daesh. Ali, em Cabo Delgado.
Portugal e as missões de manutenção de paz
Confesso ter dificuldade em compreender que, estando o povo de Moçambique a sofrer ataques terroristas, o Governo considere mais prioritárias missões em países com os quais temos remotas relações.
MÁRIO CUNHA REIS, Membro da Comissão Política Nacional do CDS-PP e da Comissão Executiva e Porta-Voz da TEM/CDS
OBSERVADOR, 18 jun 2020,
As Forças Armadas Portuguesas participaram, em 2019, em 29 missões internacionais da NATO, da ONU, da União Europeia, ou de carácter bilateral e multilateral, para as quais mobilizaram 2362 militantes.
Não obstante os limitados meios humanos e financeiros de que dispõe, as Forças Armadas Portuguesas têm tido nestas missões uma acção exemplar, demonstrando capacidade e profissionalismo, internacionalmente reconhecidos e elogiados.
As missões internacionais, nomeadamente as de manutenção de paz, são atribuídas pelo Governo de Portugal, que no quadro das relações internacionais, das alianças e da cooperação militar, define as suas prioridades. Neste momento estão em curso missões, no âmbito destas alianças, na República Centro-Africana, Iraque, Afeganistão, Kosovo, Somália, Mali, Roménia, Colômbia e São Tomé e Príncipe“, segundo o gabinete de imprensa do EMGFA.
Confesso ter bastante dificuldade em compreender que, estando o povo de Moçambique, na província de Cabo Delgado, na região norte do país, a sofrer violentos ataques terroristas, por grupos radicais islâmicos associados ao Daesh desde 2017, o Governo português considere mais prioritárias outras missões em países com os quais temos remotas relações e que, salvo melhor opinião, não estão na esfera de influência e dos interesses estratégicos de Portugal, nomeadamente no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa (CPLP). Segundo Bispo de Pemba, D. Luiz Fernando Lisboa, os ataques, executados com extrema violência, causaram mais de 1100 mortos e 200 mil deslocados. Desde os primeiros ataques, o padrão é o mesmo: “Queimar casas, matar pessoas e decepar as cabeças”.
Perante esta perturbadora realidade, apelo aos partidos com assento parlamentar que solicitem ao Governo português explicações quanto às prioridades das missões militares portuguesas, e que recomendem que seja estudada, com o Governo de Moçambique, uma missão de cooperação militar em defesa das populações do norte de Moçambique.
Que no âmbito da diplomacia e das relações internacionais, Portugal procure, juntamente com os países da CPLP, sensibilizar os membros da ONU para a necessidade de prestar apoio militar e humanitário a Moçambique.
É nas horas difíceis que se estreitam relações, em particular com os países irmãos da Portugalidade, com os quais temos inúmeras afinidades, laços de sangue, uma História e uma cultura em comum.

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