Francisco Assis também não vai na conversa de António Costa sobre o processo de escolha por portas
travessas de um gestor salvador da economia portuguesa – ACS. Mas quer, contudo, acreditar nele, em ACS, como “personalidade de valor” para o fazer. No fundo,
trata-se do mesmo processo de decisão que levou ao convite do General Carmona a Salazar, em tempos, para que pegasse na pasta das Finanças
para salvar a nação minguada de posses, e em dívida também. Salazar fê-lo, com bastante critério, e pagou a
dívida, mas duvido que a democracia de hoje o permita, em iguais modos de
aperreamento, habituados que estamos cada vez mais a gastar dinheiro alheio no
nosso alimento e farras de longo alcance, que incluem viagens de férias pelo
mundo. Todavia, sempre temos um PR que dá o
exemplo contrário dessas escolhas obscuras antidemocráticas do nosso PM, tomando banhos nas praias, às claras, com
os contactos televisivos talvez dispendiosos, mas inegavelmente amistosos. mostrando
como se gere um país, com a força do exemplo dinâmico, democrático, e de tronco
nu.
OPINIÃO
Excesso de
súbditos e escassez de cidadãos
Não conheço o professor Costa e Silva
mas acredito que tenha assumido esta tarefa por bons e generosos motivos.
Trata-se de uma personalidade de valor com que o país deve contar. O problema,
como procurei evidenciar atrás, é outro.
FRANCISCO ASSIS
PÚBLICO, 6 de
Junho de 2020
A
grande fragilidade da democracia portuguesa reside na pobreza do nosso espaço
público. O problema é velho e revelho, tem origens diversas e manifesta os seus
efeitos dolosos com especial acuidade nos momentos de crise. Nestas ocasiões
notamos mais a falta que nos faz uma imprensa culta e exigente, um conjunto de
vozes livres e inteligentes, uma opinião pública educada e capaz de exercer uma
função crítica séria e fundamentada. É claro que tudo isto existe, só que a
sua dimensão é demasiado exígua para corresponder às necessidades de uma
democracia verdadeiramente amadurecida. Olha-se para um jornal de referência e
constata-se demasiada reverência e insuficiente independência; os programas de
entretenimento das televisões acolhem entusiasticamente governantes dispostos à
exibição despudorada de intimidades diversas; nas redes sociais hordas de
bárbaros incontinentes, devidamente arrebanhados, perseguem todo e qualquer
espírito minimamente livre. Há momentos em que uma certa sensação de
irrealidade parece pairar sobre o país.
Num ambiente destes, agravado pela
angústia inerente ao tempo que atravessamos, a tendência para a queda num certo
desleixo institucional revela-se dificilmente contrariável. Será isso que
explica parcialmente a forma como foi apresentada a decisão tomada pelo
primeiro-ministro de atribuir a um universitário e gestor privado a incumbência
de conceber um projecto de reestruturação da economia portuguesa. Atentemos na peculiar operação político-jornalística
em questão. No sábado passado o jornal Expresso anunciava
oficialmente que, para garantir uma imaginativa e eficaz aplicação dos fundos europeus
destinados a Portugal, o primeiro-ministro decidira criar a original figura
de uma espécie de para-ministro investido de poderes verdadeiramente
excepcionais.
Perante
tão extravagante solução para-institucional seria de esperar que qualquer mente
medianamente instruída em assuntos políticos não deixasse de formular algumas
interrogações básicas. Será esta metodologia correcta ou sequer aceitável?
Não configura esta decisão a emissão de um juízo negativo em relação aos
ministros em funções? Como reagirão os partidos da oposição? Haverá alguma
contradição entre a pretensão de governar com o apoio da extrema-esquerda
parlamentar e a nomeação desta personalidade concreta? O Presidente
da República assistirá passivamente a tudo isto como se nada fosse
com ele? Estou certo que em qualquer outro país europeu, com a provável
excepção húngara, comentadores e analistas não deixariam de elucubrar
prodigamente sobre o assunto. No nosso pais sucedeu precisamente o contrário.
Vejo nisto motivo para séria preocupação cívica.
Coloquemos
uma simples pergunta: faz algum sentido que alguém esteja há quase dois
meses a elaborar a grande proposta de reorientação da economia nacional e ainda
se não tenha reunido uma única vez com o ministro das Finanças e presidente do
Eurogrupo?
A perspectiva do nosso país receber
avultadas verbas de proveniência europeia recomenda a promoção de uma discussão
amplamente participada e aconselha a audição de pessoas e de organizações
excepcionalmente qualificadas em varias áreas cientificas e técnicas. Um processo desta natureza não pode, contudo, ser
confundido com gestos autocráticos inspirados num culto anacrónico do
despotismo iluminado ou na exaltação de um providencialismo tecnocrático. Uma
coisa é discutir democraticamente de forma rigorosa um assunto de relevante
interesse nacional apelando ao contributo de todos, outra, diametralmente
oposta, é a encenação propagandística de uma abertura à sociedade sem qualquer
preocupação de garantir a recolha de verdadeiros contributos plurais. O modo
como o gabinete do primeiro-ministro divulgou este assunto merece severa censura
sob vários pontos de vista. Só não foi entendido pelos ministros como vexatório
porque estes, com raríssimas excepções, não dispõem daquilo que é a condição
indispensável para uma existência politica, que é a de terem voz própria. De
qualquer modo, contribuiu para a desqualificação pública do Governo. Ao mesmo
tempo, representa uma desconsideração pela natureza das funções políticas e uma
desvalorização formal das oposições, pouco consentânea com o imperativo de
diálogo nacional amplamente proclamado. Por fim, traduz uma interpretação
bastante redutora da noção de participação democrática.
Coloquemos
uma simples pergunta: faz algum sentido que alguém esteja há quase dois
meses a elaborar a grande proposta de reorientação da economia nacional e ainda
se não tenha reunido uma única vez com o ministro das Finanças e presidente do
Eurogrupo? Este
simples facto é, só por si, revelador da inconsistência absoluta deste
processo. Numa época tão marcada pela prevalência
dos “spin doctors” este tipo de manobra não é totalmente surpreendente,
embora não deixe de ser lastimável. O que espanta e preocupa é a
conivência da imprensa, a ausência de sentido crítico de comentadores e
analistas, a adesão entusiástica dos mestres da esperteza saloia. Parece que
vivemos num pais onde há excesso de súbditos e escassez de cidadãos. Essa será
mesmo a maior das crises que enfrentamos.
Não conheço o professor Costa e
Silva mas acredito que tenha assumido esta tarefa por bons e generosos motivos.
Não é, obviamente, a sua pessoa que está em causa. Nos
últimos dias ouvi-o com redobrada atenção e nada do que disse me suscitou
qualquer tipo de apreensão. É verdade que não apresentou qualquer novidade,
o que é, de resto, compreensível. Retomou alguns temas que pareciam algo
esquecidos e devem voltar a ser equacionados. Fê-lo até com algum desassombro,
a ponto de alguém me dizer aqui há dias que grande parte das suas ideias
significavam um regresso à fase inicial do chamado socratismo. Trata-se
de uma personalidade de valor com que o país deve contar. O problema, como procurei
evidenciar atrás, é outro. Militante
do PS
COMENTÁRIOS
tecosta
INICIANTE: Excesso de súbitos e escassez de cidadãos e, acrescentaria,
pouquíssimos políticos. Os primeiros gravitam à volta do poder, vivendo uma
aurea mediocritas. Os segundos são atacados, menorizados e desmoralizados de
forma vil. Os últimos são afastados para serem votados ao esquecimento. As
redes facilitaram isto ao facilitarem o opinar de todos sobre tudo, tornando
tangível a imortalidade do homem vulgar. Jugo que se adapta bem ao mau
jornalismo, à má comunicação social, aos maus políticos, aos maus líderes e aos
maus cidadãos. Entendo, que de alguma forma somos todos responsáveis pelo
actual estado de coisas. Momentos houve, ao longo do nosso caminho, em que
permitimos que a sensatez, a honra, os valores, a responsabilidade e a justiça,
pudesse ser temporariamente interrompida. E agora?
INICIANTE: O Xico, é o protótipo de um súbdito que nunca soube ser cidadão,
uma vez que sempre serviu os seus senhores que sempre mandaram na maioria que
lhes prestava vassalagem e colocando sempre de lado todos aqueles que
desmascaravam as sua vilanias e saques. AndradeQB
MODERADOR: É angustiante reconhecer a verdade deste artigo de FA. De facto,
não é a existência de pessoas medíocres ou capazes, mas oportunistas, ou a
existência de pessoas capazes e simultaneamente disponíveis para ter o
desenvolvimento social como seu objectivo pessoal, que distinguem os países. Se
a estatística se cumprir, a distribuição destes tipos de pessoa será igual em
todo o lado, credos ou raças. O que faz com que alguns países se desenvolvam
económica e socialmente, e outros não, é o ambiente ser mais favorável a um
tipo do que a outro. Nos tempos que correm, quem cria o ambiente são os jornais
e televisões e, como se constata, fazem-no muito mal. Perante isso talvez não
fosse disparatado começar a entender as barbaridades das redes sociais também
no que elas têm de libertadoras.
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