Não resisto a reescrever o comentário de
Américo
Silva, síntese perfeita de um texto impecável no rigor do seu humor crítico
- o de HELENA MATOS:
AMÉRICO SILVA: Se existisse um MoMOp, Museum of Modern Opinion pieces, esta crónica deveria lá estar, não tanto pelo que diz, mais pelo que reflecte duma modernidade cínica, hipócrita, prepotente, elitista, despropositada e antissocial. Parabéns à autora. O problema é transnacional com variantes regionais, e sem solução à vista
I - Querido nómada digital leva-me para o
teu Portugal
Para esse
Portugal dos regimes fiscais especiais, das pessoas sempre a sorrir e em que os
lucros extraordinários não são das nefandas grandes empresas mas sim dos
unicórnios. Unicornizar é o segredo
HELENA MATOS Colunista do Observador
OBSERVADOR; 06 nov 2022, 00:4450
No palco é tudo luz, tudo palco, tudo
sorrisos. É o mundo virtual da Web Summit. Lá fora, são apedrejados autocarros. Primeiro foi na Ajuda. Depois em Camarate. Porquê?
Não se sabe. Por quem? Isso não interessa nada. Aqui,
neste outro Portugal, os nómadas chamam-se imigrantes, os contribuintes são
mais vigiados que os ladrões e o lucro indigna mais que o roubo.
Na Web Summit, os nossos políticos gastam o nosso dinheiro a tentar
que venham para Portugal unicórnios,
ou seja empresas que se espera venham a ter em pouco tempo lucros
extraordinaríssimos. Fora
da Web Summit os mesmos políticos promovem um discurso contra os lucros
extraordinários, milionários, grandes ou nem tanto.
Mesmo que não se consiga mais receita, como provavelmente vai acontecer com a
tributação dos lucros extraordinários dos grupos do sector alimentar, há que
dar um sinal, dizem. Um sinal de quê? De que se está contra os lucros
extraordinários das empresas. E
então os unicórnios o que são eles senão empresas que conseguiram lucros
extraordinários? A cada
dia que passa vemos crescer as contradições entre a realidade e o que sobre ela
se diz. Querido nómada digital leva-me para o teu Portugal. Para esse Portugal
dos regimes fiscais especiais, das pessoas sempre a sorrir e em que os lucros
extraordinários não são das nefandas grandes empresas mas sim dos unicórnios.
Na semana que agora acabou, certamente inebriados com o facto de
termos acabado de salvar o Brasil (agora as eleições não são eleições mas sim
operações de salvamento dos países do apocalipse da ultra-direita), e já a
fazermos exercícios de aquecimento motivacional para a salvação dos EUA e do
planeta (salvações para que seremos convocados nos próximos dias), nem
reparámos que pagámos mais um calote da TAP, no que se pode designar como
unicórnio versão Portugal socialista.
O
último unicórnio da variante Portugal Socialista (a mais ruinosa de todas as
variantes de unicórnios lusitanos) é a TAP. Sim, eu sei que no resto do mundo um
unicórnio é uma empresa que num ápice valoriza mil milhões. Mas neste outro
Portugal, o dos contribuintes que não podem fugir, os unicórnios são desígnios
que proporcionam popularidade a curto prazo para pouco depois deixarem buracos
superiores a mil milhões no deve e haver com o contribuinte (português, claro
pois há lá outro capaz de pagar tanto com tamanha resignação?)
A
2 de Novembro fomos informados, como se fosse a coisa mais banal do mundo, que
a “TAP confirma que não irá devolver os 3,2 mil milhões de euros ao Estado”.
Assim, sem mais: a TAP não paga e pronto.
O CFO da companhia (antigamente chamava-se a
esta figura Director Financeiro agora é Chief Financial
Officer), esclareceu que a devolução do
montante cedido pelo Estado não está prevista no modelo do plano de
reestruturação assinado entre a TAP e a Comissão Europeia. Perante esta
declaração, que era absolutamente contrária ao que nos tinha sido garantido, o
ministro Pedro Nuno Santos,
com a desfaçatez com que há meses anunciou um aeroporto à revelia do
primeiro-ministro, declarou que a TAP está a pagar através do apoio à economia
nacional, raciocínio que em si mesmo devemos reivindicar para a demais economia
e para nós mesmos. Por
exemplo, porque havemos nós de pagar o que pedimos emprestado ao
banco? Não contribuímos nós com as nossas
compras para a dinamização da economia? Claro que sim, logo já estamos a pagar,
logo o banco que se dê por satisfeito.
Estes pagamentos à moda de Pedro Nuno Santos são um bom exemplo da variante dos
unicórnios Portugal Socialista: em pouco tempo geram prejuízos extraordinários
a serem suportados invariavelmente pelos contribuintes portugueses.
Há
semanas que andamos nisto: uns auto-denominados activistas pelo clima anunciam ir ocupar escolas na
próxima segunda-feira. Querem o fim do uso dos combustíveis
fósseis até 2030. E basta-lhes querer para se acharem no direito de impor
tal propósitos aos outros. Tudo para salvar o planeta, claro.
Sempre existiram criaturas imbuídas de imaginários apocalípticos. O
que varia é o poder que lhes damos. Eles por eles acham-se com o direito e o
dever de mandar em tudo. Uns acham-se no direito de ocupar escolas e
empresas. Outros de destruir carros e explorações agrícolas. Outros pretendem
que deixemos de comer carne. Ou que comamos insectos. Ou apenas plantas. Outros
que não andemos de avião. Para mais, a invocação do cenário do apocalipse
serve-lhes para legitimar acções que doutro modo seriam tratadas como
vandalismo ou mesmo terrorismo.
A
velha luta de classes juntou-se à urgência da salvação do planeta. O
resultado são acções em nome do ambiente cada vez mais espectaculares e
agressivas, tudo envolto numa prosa em que o místico e a política se combinam
para legitimar a violência. Nos últimos dias, em França, a construção de uma
barragem para fins agrícolas, em Saint Soline, passou a símbolo do fascismo. Consequentemente interrompê-la tornou-se um dever e a
violência uma inevitabilidade. Os resultados foram 91 feridos, 61 dos quais
polícias. Os museus estão de prevenção à espera dos próximos
vandalozinhos apoquentados com o clima.
Os
desmandos da eco-seita beneficiam da hipocrisia dos políticos ávidos de se
colar ao que lhes parece render popularidade e do activismo de jornalistas.
Como é que nos salvamos destes pretensos salvadores?
LUCROS ECONOMIA PROTESTOS SOCIEDADE TAP EMPRESAS WEB
SUMMIT LISBOA PAÍS
COMENTÁRIOS: (De 50)
Pedro Belo > Gustavo Lopes:
Lá fora não está melhor, como pode confirmar pelas
últimas notícias
bento guerra: Acutilante,
Do que eles precisam todos, é uma grande marrada, nas anafadas panças de bem-estar
político. Mas, como a Cristina foi dar uma lição à manada, mais o Marcelo, está
tudo em linha Américo
Silva: Se existisse um
MoMOp, Museum of Modern Opinion pieces, esta crónica deveria lá estar, não
tanto pelo que diz, mais pelo que reflecte duma modernidade cínica, hipócrita,
prepotente, elitista, despropositada e antissocial. Parabéns à autora. O
problema é transnacional com variantes regionais, e sem solução à vista.
José Paulo C Castro: O que caracteriza o fascismo? A criação de milícias de intervenção política,
paralelas ao poder e ordem instituída, que agem livremente para impor a sua
visão política e intimidarem opositores até atingirem o poder. O que são os
eco-terroristas-vândalos ou os 'social justice warriors' (SJW) ?
Anti-fascistas, não são...
Alfaiate Tuga: Quanto
à TAP o que é preciso explicar aos tugas é que se o governo não tivesse metido
lá 3 200 000 000 € poderia ter usado esse dinheiro para enviar um cheque de 320
€ a cada português, independentemente da idade ou condição financeira, é isto
que espero ouvir a oposição a dizer alto e bom som. Já agora, alguém sabe
quanto é que o Estado já meteu na Efacec? Pois…A oposição está caladinha, estou
à espera de um artigo de fundo do Observador sobre o buraco EFACEC. Gustavo Lopes: Tivesse eu idade para emigrar, depois de ler este
artigo, completamente factual, era o que faria!!!! Cá pela “Tugalândia” estamos
conversados… Obrigado HM!!! Lidia Santos: Maravilhosa crónica. Obrigada Helena Matos! João Floriano: Excelente! Não me tinha apercebido do novo
rombo da TAP. Num país em
que não há dinheiro para as escolas e para o SNS, a TAP diz que não paga apesar
das justificações de PNS no passado quando os milhões foram transferidos para a
TAP, sem qualquer proveito porque a companhia vai ser de novo alvo de
privatização. Venham os próximos milhões para a TAP, que agora se torna
mais necessária do que nunca para transportar para Portugal os milhares
de digital nomads e unicórnios que nos vão cair em cima como moscas numa carcaça
em decomposição. Pelo menos temos algo em comum com os banqueiros alemães: PNS
ameaçou que lhes punha as pernas nórdicas a tremer por não pagar. A nós
tremem-nos cada vez mais as peludas pernas mediterrânicas por pagarmos. Tudo em
nome da transição digital. as cadeias de distribuição têm de ser punidas pelos
lucros extraordinários. Aos unicórnios aplica-se o laissez faire, laissez
passer. Um país cada vez mais esquizofrénico que se recusa a tomar a medicação. Francisco Marnoto:
Este desgoverno é um espectáculo! Agora
temos uma fiscalidade que atrai estrangeiros (taxas planas de 10 e 20% no IRS)
e expulsa portugueses (taxas de 50% para o mesmo nível de rendimento). Afinal
onde anda o Princípio da Igualdade plasmado na Constituição, que tanto enche a
boca dos socialistas? Não seria suposto, um PR a sério, enviar este tipo de
marmeladas para o TC? António Rocha Pinto: o imposto, em Portugal, existe sobre os lucros
extraordinários e sobre os prejuízos extraordinários. Os primeiros aplicados às
empresas, os segundos aos contribuintes Maria Tubucci: Muito certeira e realista a HM. Respondendo à sua
pergunta: “Como é que nos salvamos destes pretensos salvadores? Simples, não
nos salvamos. Os “pretensos
salvadores” são vilões, que a comunicação social servil propagandeia como
super-heróis. Quando isto cair em chamas, salvar-nos-emos, tal como a fénix
renasce das cinzas. Isto
acontecerá quando a ralé deslumbrada, como os “pretensos salvadores” chamam aos
salvados, anestesiada sentir, na pele e na carteira, que a realidade do
dia-a-dia não é igual à realidade cor-de-rosa propagandeada pela comunicação
social, aí acordará, passando 8 para 80. Já faltou mais! Nuno Ribeiro: A HM sempre nos tem habituado a esta visão certeira da
realidade, e coloca-a em palavras como poucos. Mas a pergunta é: é esta a visão
ou mesmo a opinião maioritária na sociedade portuguesa? receio que não. Então
onde está a solução? eu só vejo uma: o chamado banho de realidade. Por isso sou
dos que acha que para isto melhorar muita coisa ainda vai ter que piorar muito.
Claro que se vão perder muitos pelo caminho mas é o preço "alto" a
pagar. Se existir alguma crítica que posso hoje fazer ao PPC é o facto de não
ter deixado que o estado tivesse ido mesmo à banca rota. Talvez uns meses sem
salários e alguma fome e desespero nos tivessem livrado deste marasmo que
repetimos à demasiado tempo sem solução à vista. É radical? é. Mas doutra forma
nunca iremos lá. Myname:
Está bem apanhada a expressão
"unicórnio versão Portugal socialista" para designar sorvedouros de
dinheiros públicos como a TAP... Amigo do Camolas: O País podia estar todo a empobrecer durante os últimos
sete anos, as pessoas podiam morrer todas para salvar o melhor SNS do mundo, a
carga fiscal podia chegar à lua e os serviços públicos podiam chegar à nulidade
total, o Costa podia mentir todos os dias, o Pedro Nuno Santos podia estar a
estourar 3 mil milhões todos os dias em empresas falidas, o Costa podia dividir
cada vez mais os portugueses... A nossa velha imprensa enfadonha e seus
paineleiros são fofinhos é para fazer de qualquer ex-presidiário de esquerda em
salvador da democracia e transformar qualquer alvo seletivo da esquerda em
genocida, anti-democrata, populista perigoso, mentiroso, racista, fascista e
claro, vilão do Batman! Mas eles já fizeram tudo isso. Dificilmente poderia haver caso melhor de desprezo pelo
jornalismo e arrogância em acreditar que ele, e somente ele, controla a
realidade. Carlos
Chaves: Caríssima
Helena Matos, o verdadeiro flagelo que descreve nesta crónica, nomeadamente
relativa à parte Portuguesa que diz respeito, não é mais do que alguns dos
resultados práticos das miseráveis políticas socialistas/comunistas dos últimos
sete anos. Preparemo-nos, pois isto é só o princípio, o que aí vem não vai ser
nada bonito de se ver!
Censurado sem razão: Desde
que dado pela esquerda, o povo português até m come. E agradece. O PS faz o que
quer e como quer. Acontece alguma coisa? Alguém se indigna? Acham vocês que
alguém como PPC vai chafurdar no esterco socialista novamente? Porque este
governo ainda se mantém em funções? A estrumeira não está suja o suficiente? É
preciso mais o quê? Pobre povo, nação demente. Lily Lx: Helena Matos, sempre excelente… Miguel Sanches: Depois de ler este chorrilho de ilegalidades e
atropelos aos direitos dos cidadãos decentes, só me ocorre perguntar: onde pára
a Polícia?
2 -NOTICIÁRIO
Em directo/ Armas do Irão deixam Ucrânia mais
longe da paz
23:14 Ponto de situação. O que
aconteceu ao longo do 256.º
dia da guerra?
20:49 Mini-autocarro que transportava seis ucranianos
capotou na Polónia. Rapaz de 13 anos morreu
17:47 Ucrânia: Rússia danificou
mais de mil hospitais desde o início da guerra
17:33 Rússia acusada de raptar 34 crianças na região
sul de Kherson
15:27 Cidade ocupada de Kherson ficou sem água e electricidade
EUA. O que está em causa nas eleições
intercalares
As eleições intercalares de terça-feira são vistas simultaneamente como um
referendo à presidência de Biden e como o contexto que antecipa o regresso de
Trump. O que está em causa?
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