segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Como sempre


Jaime Nogueira Pinto pondo os pontos nos ii. No desassombro da sua sapiência e do seu destemor.

Brasil: um país partido a meio

Para muitos, o problema é que a Direita se afirma agora nas urnas e nas ruas contra uma Esquerda instalada nas burocracias do poder e da influência mediática.

JAIME NOGUEIRA PINTO, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 05 nov 2022, 00:1937

A primeira e óbvia conclusão a tirar da segunda volta da eleição presidencial brasileira é que o Brasil é um país dividido. E dividido por várias linhas e razões.

Dividido a meio: 50,87% para o vencedor, Lula, com 60 milhões de votos, e 49,13% para o vencido, Bolsonaro, com 58 milhões de votos. Isto depois de os institutos de sondagens terem dado Lula por eleito à primeira volta com grande folga e o darem depois como vencedor à segunda volta com uma margem que oscilaria entre 6% e 2%.

Mas não é só por aqui que passa a divisão. Enquanto as presidenciais deram a vitória tangencial a Lula, as eleições para o Congresso foram claramente ganhas pela Direita, com o partido de Bolsonaro em primeiro lugar. E como foi também a Direita que ganhou a maioria dos governos estaduais, a Esquerda, embora tenha progredido no Congresso, tirando lugares ao centro, ficou ali minoritária. Assim, várias publicações têm vindo a classificar este Congresso como “o mais à direita da História do Brasil”, em democracia.

O Nordeste contra o Resto

A divisão no Brasil é também geoeconómica e geopolítica. O mapa da votação por regiões e Estados é esclarecedor: no Nordeste, Lula vence Bolsonaro com 70% dos votos contra 30%, mas, no Norte, Bolsonaro consegue 51% contra os 49% de Lula e vence-o também no Sul, com 62% contra 38%, bem como no Sudeste (54% contra 46%) e no Centro Oeste (60% contra 40%). Assim, o Centro e o Sul do Brasil – São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, os Estados mais ricos, desenvolvidos e industrializados e mais produtivos – votaram Bolsonaro. Em Minas Gerais, houve empate. O Nordeste, antiga terra de coronéis e peões, zona dependente dos subsídios e ajudas estatais que corresponde, economicamente, a 15% do PIB brasileiro, votou Lula. E como sublinha a Limes, a revista italiana de geopolítica, esta divisão territorial tem vindo a verificar-se em todas as eleições nos últimos vinte anos, estendendo-se, sempre segundo a Limes, a grupos ideológicos e sócio-profissionais:

“Além da comunidade evangélica, os empresários, os profissionais liberais, os agricultores e os membros das forças de segurança votaram em massa em Bolsonaro. Professores, jornalistas, intelectuais, desempregados, população carcerária e favelados votaram por Lula.”

Estes dois Brasis não vão ser fáceis de reconciliar pelo Presidente eleito Lula da Silva – como o não seriam por Bolsonaro, caso tivesse vencido a eleição.

De qualquer forma, levando em conta a hostilidade e o discurso de ódio a que foi sujeito o Presidente vencido, o seu governo e o seu mandato, é surpreendente o resultado de Bolsonaro, o bloco de apoio que manteve e o voto popular que resistiu a semelhante pressão.

Os nossos media domésticos limitaram-se a fazer o que quase sempre fazem, na ânsia de pertenceram à comunidade informativa internacional liberal chic ou radical chic: uma cópia servil zelosamente exagerada até à caricatura da autoproclamada imprensa de referência, já de si com proverbiais tiques de  “imparcialidade jornalística”.

O coro da “imprensa de referência”

No tempo dos “outros senhores”, na “longa noite fascista”, com o controle censório da televisão, da rádio e da imprensa, o discurso mediático era uniforme. A proeza dos media da nossa democracia – pivots, jornalistas, comentadores, “especialistas” – é a de, sendo tantos e tão livres, conseguirem dizer, com pequenas variantes, a mesma coisa sobre quase tudo o que é importante.

Por isso, quanto às eleições brasileiras, o discurso foi o do costume. Há sempre uns “bons” e uns “maus”, que a comunicação social responsável e livre sabe já quem são. Os “bons” são sempre fantásticos, como Biden, os “maus” são sempre péssimos, como o Trump. Quando o “bom” tem, apesar de tudo, o currículo do Lula, disfarça-se e diz-se mais mal do “mau”, de Bolsonaro.

Se não, veja-se a imprensa de referência, os grandes diários da Euro-América: para o The Guardian, “o presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro” enfrentava “o seu rival esquerdista Lula da Silva”. Para o mesmo The Guardian, os grandes apoiantes de Bolsonaro eram “as elites brancas endinheiradas e a comunidade evangélica”. Para o El País, o Brasil, “o futuro do mundo”, voltava “à cena internacional com Lula, e reforçava a democracia frente às derivas iliberais”. Também aí, “el ultra-derechista Jair Bolsonaro” desafiava “el esquerdista” Lula da Silva. Bolsonaro era, também para o diário espanhol “o culpado de centenas de milhares de mortes, graças a uma campanha de desprestígio da Ciência e da Medicina e de negacionismo das máscaras e vacinas durante a pandemia do Covid-19”. Já Lula era um modelo de “moderação, pragmatismo e espírito de concórdia”. Nem uma palavra sobre o governo Lula, com o ministro José Dirceu e os provados e comprovados subornos, biliões roubados e negócios sujos com grandes empresas públicas e privadas brasileiras com ramificações em Portugal. E que ramificações. Mas disso, nem uma linha.

Para o New York Times, Bolsonaro era réu dos 700 000 mortos por Covid e o grande destruidor da floresta amazónica.

O Le Monde, previsivelmente, pintava as eleições como o grande duelo entre “l’icone de la gauche” e “le président de l’extrême droite”; e o La Repubblica, italiano, puxava para título “Brasile: la notte della liberazione” (como se a presidência de Bolsonaro fosse uma ditadura ou uma ocupação estrangeira), congratulando-se com o regresso ao poder do “ex-metalomecânico idealista e pragmáticoLula da Silva. Sobre o mecanismo de corrupção do PT, os ministros do PT e os milhões de Reais que receberam, anos a fio, das grandes construtoras brasileiras, nada.

A vitória de Lula teve, ao menos, o mérito de unir dois inimigos figadais e assanhados – Joe Biden e Vladimir Putin. Biden dirigiu felicitações a Lula pela sua vitória “na sequência de eleições livres, justas e credíveis”, mostrando-se ansioso por trabalhar com Lula “para prosseguir a colaboração entre os nossos dois países”. E rivalizando em calor com Biden, Putin escreveu: “os resultados da eleição confirmaram a sua grande autoridade política”; “faremos esforços conjuntos para uma cooperação russo-brasileira em todos os domínios”.

A América do Sul toda à esquerda

Com a vitória de Lula, completa-se o domínio da esquerda radical na América do Sul, da Venezuela chavista ao Chile, onde o Presidente Gabriel Boric viu recentemente rejeitado em referendo popular um projecto constitucional alternativo.

A proposta constitucional de Boric, considerada uma das mais progressistas do mundo, tinha mais de uma centena de “direitos” e destinava-se a substituir a Constituição de 1980, do tempo de Augusto Pinochet. No entanto, o “Não” ganhou por uma votação expressiva – 62% contra 38% (facto que a comunicação social de referência, de lá e de cá, fez por esquecer).

A vaga esquerdista na América Latina acentuou-se entre 2018 e 2020 com as vitórias de candidatos da nova esquerda no México, na Argentina e na Bolívia; em 2021 o desfecho repetiu-se no Peru e nas Honduras; este ano foram três grandes países da América do Sul: o Chile, a Colômbia e o Brasil. Em quatro anos, da eleição de Andrés Lopéz Obrador no México à vitória tangencial de Lula, a vaga invadiu as seis maiores economias da América Latina – Brasil, México, Argentina, Chile, Colômbia e Peru –, agora governadas por presidentes de esquerda.

É uma esquerda com a nova agenda, desde o fim dos combustíveis fósseis ao direito pleno ao aborto. Se bem que a realidade possa corrigi-la (Boric viu a sua Constituição progressista derrotada e o peruano Castillo enfrenta uma baixa de popularidade, com 62% dos inquiridos a avaliarem negativamente o seu desempenho e 60% a considerarem-no corrupto), o índice de pobreza está a agravar-se e estas seis economias e os seus povos vão com toda a certeza passar um mau bocado.

A Direita na rua e nas urnas

O Brasil pós-eleitoral – que ameaçava grande tensão, com muitos partidários de Bolsonaro nas ruas a protestar contra o que consideram uma fraude lulista e os camionistas a bloquearem estradas – parece em vias de acalmar, depois de o Presidente ter dado início à transição e ter apelado aos seus partidários para desimpedirem o tráfego que prejudicava a economia e muitos cidadãos inocentes.

Nestas intervenções, Bolsonaro tem-se mostrado sereno e disciplinado, com ar de quem aprendeu a lição. Dada a proximidade dos resultados, a sua derrota (como a de Donald Trump) fica sobretudo a dever-se ao modo leviano e à retórica rude e depreciativa com que lidou com a Pandemia. Na campanha, a sua argumentação contra Lula centrou-se na corrupção do adversário e associados. Mas o que era um tema vivo e quente em 2018, com a investigação do Juiz Moro, com o processo Lava-Jato, com o desfile dos corruptos e dos seus cúmplices e delatores nos órgãos de informação a todas as horas, tinha já arrefecido. A operação de esquecimento e branqueamento já fora posta em marcha em nome do projecto principal de afastar Bolsonaro do poder; um projecto que reunia esquerdas fanáticas e direitas globalistas. Porque são o globalismo e o soberanismo que hoje dividem o mundo.

Mesmo assim, Bolsonaro e a Direita brasileira podem considerar-se em forma e em força, passada esta prova de fogo. Com a hostilidade geral dos media, dos comentadores, dos “especialistas” e dos observatórios (que aguardam ansiosos os generosos subsídios do Forum de São Paulo e afins), e estando “o “fascista Bolsonaro” a enfrentar um “homem de esquerda”, mas com muita abertura e apoio ao centro e até à direita da esquerda, é extraordinário que tenha tido tanto apoio – e não só de “deploráveis”.

Para muitos, o problema é que a Direita se afirma agora nas urnas e nas ruas contra uma Esquerda instalada nas burocracias do poder e da influência mediática. Deve ser por isso – como alguém escrevia aqui e bem – que os jornalistas, “especialistas” e comentadores tanto se agitam, alertando em coro para o “perigo fascista”, num despropósito de tal forma caricato que até do próprio “campo socialista” chegam denúncias.

ELEIÇÕES NO BRASIL   BRASIL   MUNDO

COMENTÁRIOS:

Ark NabuL > Alberico Lopes: Então saíu da frigideira para o fogo!              Pedro: "No tempo dos “outros senhores”, na “longa noite fascista”, com o controle censório da televisão, da rádio e da imprensa, o discurso mediático era uniforme. A proeza dos media da nossa democracia – pivots, jornalistas, comentadores, “especialistas” – é a de, sendo tantos e tão livres, conseguirem dizer, com pequenas variantes, a mesma coisa sobre quase tudo o que é importante". Está aqui tudo, brilhante! Uma imprensa comprometida, parcial e absolutamente sem vergonha.                   Coronavirus corona: Quando o Observador foi criado pensei para mim que o domínio e o controlo da esquerda sobre todos os órgãos de comunicação social estava a acabar. Por intermédio de um mistério qualquer, o Observador - à excepção dos seus cronistas, que mantêm a diversidade - também embalou pela mesma pauta. Gostava mesmo muito de saber o que se passou com este jornal.  Parabéns pela crónica. Eu compreendo que o não faça, mas o jornal em que escreve é a mesmíssima coisa.            Maria Nunes: Excelente. A imprensa, como é habitual, teve um desempenho vergonhoso. Não me canso de dizer que, um dos motivos pelo qual assino o Observador, são os artigos de JNP.               Zé Telhado: Muito bom! Bolsonaro e Trump os únicos “ditadores fascistas” derrotados em eleições democráticas! Pena a comunicação social, especialistas e ativistas não estarem preocupados com a magnífica qualidade da democracia da Venezuela, China, Rússia, Irão, Turquia, etc…, com a mesma paixão que demostram nos casos supracitados! Fernando Prata: Excelente artigo. É evidente que os povos da América Latina vão afundar na pobreza e na corrupção. O mesmo aconteceria cá, caso não estivéssemos no Euro. Mesmo assim, é o que é!                     Zé Colmeia: "...a sua derrota (como a de Donald Trump) fica sobretudo a dever-se ao modo leviano e à retórica rude e depreciativa com que lidou com a Pandemia". É verdade. Mas como é que se lida com uma pandemia que matou 0,01% (ou menos) dos infectados? É para levar a sério? Se acham que estou a exagerar, os números são estes: n.° de infectados, 632 350 000; n.° de mortos, 6 600 000 - e não estão contabilizados os que tiveram a doença e não foram diagnosticados (já para não falar dos que morreram por outras causas, mas como espirraram antes de morrer foram contabilizados nos mortos por covid).         Rui Lima: Nisto de direita esquerda só há um aspecto que me interessa segurança /liberdade que estão ligadas quando não temos segurança não temos liberdade . Vamos ver o nível de criminalidade que espera os brasileiro, porque não é notícia o brutal aumento do crime nos USA, os habitantes Chicago devem ter saudades dos tempos de Al Capone a violência era mais previsível . Com o “fim” da polícia, que  desde o movimento Black Lives Matter, não se atreve mais a intervir  nos bairros ou a perseguir criminosos, o crime bate recordes vitimando em 1.º lugar os mais pobres que a esquerda diz proteger da polícia. O Lula , Partido Democrata e toda a esquerda   ainda não percebeu  que muito do  voto no Bolsonaro, Republicanos ou na direita não é ideológico é para não ter medo de sair de casa .                Joaquim Almeida: Parabéns, JNP :  haja alguém que faça  luz contra a mentira e a  mistificação  reinantes  nos media a respeito do Brasil. Também   valeria a pena lembrar a acção totalitária do Trib. Constitucional (STF), que é urgentíssimo o novo Congresso  travar  mediante  "impeachment" do tirano  juiz Alex. de Moraes e  de mais dois ou três comparsas. -  aí reside um eficacíssimo aliado da esquerda e  um descarado cínico  inimigo do povo e das suas liberdades constitucionais.                       Maria Alva: Excelente. A imprensa "progressista" é realmente dominante e pretende classificar os actores políticos em bons e maus. Penso que grande parte é resultado do domínio absoluto da esquerda (e extrema esquerda) nos cursos de comunicação em todo o mundo.                    Miguel Sanches: Clarinho como água. Mas há, e de que maneira, quem não veja. Lá chegaremos.                  Ark NabuL > Fernando Prata: A taxa de pobreza na Venezuela é superior a 90%, com violência estratosférica. Ainda assim, tem a bênção da esquerda.                     João Floriano: Jaime Nogueira Pinto arrumando  a casa e pondo bastante gelo no ardor da esquerda. De facto em democracia tão importante é o governo como  a oposição e os números e o Senado vão permitir o escrutínio dos Lulistas mesmo com uma CS assanhada a favor de Lula da Silva. Por outro lado, Lula chega à presidência numa altura muito sensível da economia e finança mundial. Há clientelas à espera de serem servidas. Vai ser difícil contentar todos e a corrupção vai novamente subir em flecha. Embora a vingança não seja geralmente um sentimento nobre, a direita vai ter motivos para gozar o tal prato que se serve frio.                Maria Emília Ranhada Santos: O que vai ainda dando um pouco de Oxigénio à humanidade são as redes sociais, porque pela grande comunicação social, já estava tudo asfixiado! Temos todos que apagar as televisões, a minha já está, e procurar informação em redes fiáveis, porque os corporativistas apenas desejam matar, levar à falência, destruir, desmantelar, enfim libertarem-se dos seres humanos que consideram a mais, para povoarem o planeta com monstros criados por eles com as novas tecnologias, Deus não vai permitir! A tempo e horas Ele vai intervir e mostrar a esses capangas miseráveis qual é o lugar deles! Tenhamos coragem!                  Mário TC: Excelente, sem sombra de dúvida uma das melhores (se não a melhor) análise às eleições no Brasil. Parabéns pela sua objectividade e conhecimento.                 José Paulo C Castro > Coronavirus corona. As escolas de comunicação social estão nas faculdades cada vez mais woke e passam para as redações. Quem não alinhar, não tem carreira. E ambicionam uma carreira paga por dinheiros públicos, como se isso garantisse a sua independência e não fosse já uma opção ideológica implícita e limitadora dessa independência. Qualquer projecto tem de trabalhar com jornalistas destes. Por isso é que a opinião é importante. É o que resta de pluralismo. Por exemplo, quando conduzo e ouço notícias, na TSF ou qualquer órgão do mesmo grupo, parece que tudo aquilo sai directamente da agenda dos assessores mediáticos do PM e do PR. Faz sentido, pois é o Estado que  de recados.                     Alberico Lopes: Fantástico artigo! A realidade nua e crua do que é uma imprensa e comentadores pagos para assim doutrinar o povo! Nas nossas televisões chegou a ser obsceno o que se ouviu! Claro que passei a ver o Netflix!                Maria Melo: Obrigada, Jaime, pelo óptimo artigo. Haja alguém que aponte a verdade e a vergonha de um grande país como o Brasil ter um Presidente presidiário, solto com recurso a esquemas, “erro processual”….  A Comunicação Social, em Portugal e por toda a Europa, não é séria na abordagem, quando dá as notícias, sempre que se trata de “Esquerda e Direita”. Há um complexo esquerdista que se está a alastrar devido às suas “metamorfoses”. Em Portugal, existe falta de imparcialidade. O jornalismo, por definição, deve ser isento.          José Paulo C Castro: A democracia passa hoje, totalmente, pelo controlo do quarto poder. Garantir que é isento passaria pelas faculdades e pelo regulador mas não se consegue tirar de lá quem tomou aquilo de assalto.  O problema também está relacionado com o financiamento, cada vez mais institucional e menos dependente das audiências e da qualidade do trabalho. Quanto à direita no Brasil, tem agora uma posição fácil e inteligente para pôr em prática. Com o controlo estadual dos estados ricos e do Congresso, basta propor uma redução substancial do orçamento federal nas áreas sociais e devolver essas competências a cada estado. Lula ficará sem verbas para satisfazer a sua massa eleitoral e o impacto será maior nos estados 'pedintes' da sua maioria.

 

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