A um POVO
que ficará para sempre lembrado.
O POVO, mas também o HINO composto sobre ele. É de Miguel Esteves Cardoso e reponho-o na
íntegra, porque nos aquece o coração, pelo pensamento coincidente, mas de uma
prosa bela e justa que relemos e amamos. Quem dera que muitos fossem os seus
leitores, pela nobreza das palavras, condizente com a nobreza dos responsáveis
por esse heroísmo que “se serve vivo”
e não “morto”, como o tal da “Receita
para se fazer um herói” do nosso Reinaldo Ferreira. Neste caso, são aos
milhares – milhões – os heróis. Como um exemplo eterno.
Estamos gratos ao PÚBLICO que o publicou já em tempos e que só hoje
lemos, num jornal de empréstimo.
OPINIÃO
O lado bom da guerra
Temos de lutar pelo que é nosso porque os outros
gostam mais de pensar que é deles. É lutando que uma terra se torna nossa. A
Ucrânia fez-se respeitar. E isso é lindo.
PÚBLICO, 11 de Novembro de 2022, 23:23
A
recuperação
de Kherson, depois de tanto esforço, desespero, sacrifício; depois
de tanto tempo, cepticismo, sofrimento; depois de tanta coragem, mortandade,
esperança; depois de tanto disparate que se disse, de tanta mentira, de tanta
propaganda; a recuperação de Kherson pelo Exército ucraniano é uma festa
e uma prova de que vale a pena lutar pelo que é nosso.
Disseram
aos ucranianos — e ainda estão a dizer agora — que eles não podiam ganhar, que
a Rússia era grande demais e poderosa demais, e que mais valia deixaram que a
Rússia levasse o que quisesse e se contentassem com o que deixassem.
A
Ucrânia luta como gente grande. A Ucrânia é um país muito grande. Há muitos
amigos que se esquecem disso. Do que não fazíamos ideia era da grandeza dos
ucranianos. Não de este e de aquele ucraniano, mas da grandeza de todos os
ucranianos que lutam uns pelos outros como se lutassem pelo país deles, e lutam
pelo país deles como se lutassem uns pelos outros.
Este
é o momento — agora— em que a Ucrânia mostrou ao mundo e a si própria que
é mesmo um país independente. Não só independente da Rússia como da preguiça de
pensar no “Leste” como se fosse uma amálgama cinzenta e fria em que a Ucrânia era um Ucranistão qualquer.
As
independências conquistam-se através da guerra porque cada independência se faz
à custa de uma dependência que deixa de existir. E a potência maior da qual
dependia luta sempre para manter essa dependência, porque julga que a
engrandece, por ser ela que manda.
Todos
os seres humanos ganham em estudar os ucranianos durante os primeiros trinta
dias depois da invasão, quando ninguém acreditava neles. E depois os segundos
trinta dias, e os terceiros, até chegar à recuperação de Kherson.
Temos
de lutar pelo que é nosso porque os outros gostam mais de pensar que é deles. É
lutando que uma terra se torna nossa. É fazendo que os outros pensem duas vezes
antes de tentar invadi-la.
A
Ucrânia fez-se respeitar. E isso é lindo.
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