sábado, 19 de novembro de 2022

Exasperação


Não tenho assim tanto a certeza da inanidade do programa, apesar da zanga que muitas vezes cria. Eu fico-lhes reconhecida por se disporem a vir focar as temáticas da actualidade, cada um a seu modo, com mais ou menos pedantismo crítico, mais ou menos seriedade, maior ou menor capacidade de visionamento, muitas vezes de troça, é certo, e segundo a perspectiva da ideologia individual. Mas é pecha antiga, o nosso humor centrado nas figuras políticas, como já os DDT arremedavam sobretudo as figuras representativas da nação, sem quaisquer sintomas de respeito, e nos fizessem rir, pelo bom desempenho, é certo, mas muitas vezes com a sensação de fadiga e asco, pela deseducação que tal tipo de humor – de troça ou farsa e não de criativa comédia psicológica - cria na nossa sociedade. Entre nós, tudo se tornou motivo de riso, até mesmo programas que se pretendem instrutivos, nada se trata com a seriedade que o saber requer, exceptuando, aqueles programas de outrora, musicais ou históricos, ou mesmo de interesse económico e cultural como o TV Rural do Engenheiro Sousa Veloso que foi abruptamente retirado da TV, quando punha o público preso ao écran, desejoso de saber de técnicas e desenvolvimento agrícola. Hoje em dia prezamos sobretudo a distracção, e as vozes e cantigas são os programas formativos de excelência, acrescentados aos espectáculos futebolísticos prolongados nas discussões de exaltação clubística de estarrecer, ou aos casos pessoais que satisfazem a nossa curiosidade mexeriqueira. Felizmente que o snooker é um programa de seriedade e precisão, estrangeiro, é certo, mas que nos liberta um pouco do estardalhaço das nossas apetências pelo riso fácil. Ou o “Questions pour un Champion”, de um povo que ama aprender e o demonstra, com seriedade, embora também com boa disposição e cordialidade, provocando o nascimento, pelo mundo, de muitos clubes de “Questions…” originadores de real interesse pelo saber. De toda a maneira, cada um sui generis, eu gosto de os ouvir, aos companheiros do “Eixo do Mal”, que trazem a sua visão política com crítica e por vezes gozo nem sempre polido, mas lá está o Luís Pedro Nunes, de quem os companheiros troçam, por ser trapalhão a expor, sendo, todavia, pessoa bem formada, de conceito sério. Sim, são “companheiros do riso”, mas ainda bem que existe, o programa, como outros mais se requeriam, que contribuíssem para alargar a visão do mundo, ou mesmo, talvez,  a interessar os nossos jovens…

 

OS COMPANHEIROS DO RISO

LUIS SOARES DE OLIVEIRA

Fiquei espantado ao constatar hoje, num zape televisivo, que aquele "Eixo do Mal" da Sic, uma chachada completa de uns tantos que se reúnem pela calada da noite para se rirem de tudo e de todos, ainda existe. Dos temas que tratam alguns até são preocupantes, mas eles preferem rir para que as pessoas durmam sossegadas. Hoje falavam dos abusos de poder por parte dos profissionais das polícias. Nada de novo. Já a minha bisavó dizia: se queres conhecer o vilão mete-lhe a vara na mão. Que o assunto merece atenção, sem dúvida; porém não merece chacota. Deve ser tratado a sério, muito a sério. É um perigo que paira sobre todos nós.

LUIS SOARES DE OLIVEIRA

COMENTÁRIOS

Fernando Ramos Machado: Chacota???

Aida Franco Nogueira: Tem toda a razão querido Senhor Embaixador! Vi esse programa uma vez, fiquei a meio e nunca mais o voltei a ver...

Ricardo Montez: Sem dúvida! Preocupante!

Henrique Borges: Só vi (já há muito tempo) ocasionalmente. São mais uns tantos atrasados mentais que desfilam nas nossas TV e que parece que estão convencidos de que têm graça. Hoje em dia todas as TV são sem excepção para pobres de espírito.

Luis Soares de Oliveira: Henrique Borges, Tens razão, se bem que um deles, que conheço pessoalmente, no seu natural nada tenha de bobo. Churchill dizia que, em política, tudo começa por baixo. Eu diria que, em Portugal, tudo acaba em baixo. No caso, o poder desce pela via insurreição. Assim foi também no 25/04. Este desce ainda mais baixo. O ódio instilado é o aperitivo que cria o apetite de mudança e procura tornar legitima a violência. Situação de muito má catadura.

Fernando Figueiredo: O meu avô dizia-me, "desconfia sempre de muros velhos e de poderes novos".

Joaquim Morais: O problema é que o programa é um sucesso nas audiências, ou então os detentores do capital SIC, já o tinham encerrado. Este facto revela bem o país que nós somos.

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