A esperança vai morrendo. Esperança no bom senso. Bom texto de José Diogo Quintela. Oxalá fosse lido pelos
tais. Talvez nas escolas, como peça moralista… Mas seria arriscado.
Sim, é demasiada areia … nem chegam a ler … não dão pelo ridículo de actuações de exibicionismo artificial e puramente espalhafatoso, que não se enxerga nas suas transgressões de egoísmos, com a preguiça e gula próprias, fabricantes do homem novo, cada vez mais “novo”, cada vez mais inconsciente, onde os outros, os colegas que realmente trabalham e estudam talvez não tenham força para travar tanta imbecilidade, que os adultos de hoje deveriam condenar, não permitindo tais palhaçadas … Mas os adultos são os principais responsáveis, pela educação que dão, pelos governos que imprimem directivas por conveniência própria, para as selfies do amor, que não exigem moral. Nem estudo, afinal. Falo disto aqui.
Colados com cuspo
É inegável que se trata de gente com grandes preocupações
ecológicas, como se vê por reciclarem todas as profecias do fim do mundo jamais
feitas.
JOSÉ DIOGO QUINTELA Colunista do Observador
OBSERVADOR, 22
nov 2022, 00:191
As
recentes manifestações pelo clima fizeram-me pôr tudo em causa. Ao ver os
jovens trancados em escolas, colados a portas ou a atirar comida a quadros,
enquanto gritam slogans sobre o fim dos tempos, tive uma epifania: eu sou igual
a eles. Sim, eu, José Diogo Quintela, identifico-me com estes activistas pelo
clima. Tal como eles, também sou um cobardolas.
Também
eu, mesmo que achasse que a humanidade corria um perigo existencial caso não se
parasse imediatamente com o uso de combustíveis fósseis, o máximo que conseguiria
fazer era este género de birras inconsequentes. Sou como estes jovens, não
tenho valentia para mais. Partilhamos a mesma miúfa.
Eu
sei que a tese corrente, avançada em dezenas de artigos escritos por pessoas da
minha geração, é que estes jovens estão a ser corajosos. Mas para se achar
isso é preciso ter-se um entendimento muito estranho do que é a coragem.
Vamos lá ver: se estão mesmo convencidos que, se não pararmos já! agora!
imediatamente! de emitir CO2, morremos todos nos próximos meses, o máximo que
se dispõem a fazer é atirar sopa a pinturas? Isso não é coragem, é
irrelevante. É o mesmo que fazer jejum intermitente em protesto contra a fome
no mundo. Coragem implica um sacrifício proporcional à causa.
Ora, se a causa é o salvamento de 8 mil milhões de seres humanos, o máximo a
que estes paladinos estão dispostos a renunciar é a 3 horas de liberdade,
passadas numa confortável esquadra ocidental?
Estas
manifestações são uma espécie de “agarrem-me, senão vou-me a eles!” Como
ninguém os agarra, agarram-se eles próprios, colando-se a coisas. O que até
poderia ser uma atitude corajosa, se usassem cola a sério, em vez de mistelas
aguadas que as crianças utilizam em trabalhos manuais. Querem ter impacto a
sério? Fixem-se às entradas de prédios com cimento. Ou então, melhor ainda,
barrem-se com alcatrão, acendam um fósforo e deixem-se ficar sossegados a arder
no mesmo sítio. A gordura derretida deixa uma pasta viscosa grudada no chão,
impossível de raspar mesmo com uma espátula gigante. Isso, sim, é um tipo de
colagem que exige bravura. Senão, é só traquinice juvenil com material de
bricolage.
Segundo João Camargo, um dos
adultos que inspira este movimento em Portugal,“a sucessão e velocidade de
fenómenos de escala histórica a que estamos a assistir não tem paralelo: é como
se o degelo final do Lago Agassiz, na América do Norte, a Peste Negra, a
Primeira Guerra Mundial e a ascensão o nazismo na Itália e na Alemanha
estivessem a acontecer todas na mesma década”.
Escreveu-o
no Expresso e já o tenho visto repetido por jovens em manifestações. Bom, se é
isso que julgam que se está a passar, que em apenas dez anos acontecerá o
equivalente a: i) o degelo de um lago do tamanho do Mar
Negro, que aumentou o nível das águas vários metros e alterou o clima,
espoletando o período frio Dryas recente; ii) a maior pandemia alguma vez
registada, que matou quase metade da população da Europa e do Norte de África;
iii) uma guerra que matou 22 milhões de pessoas e estropiou outras tantas; iv)
a chegada ao poder de ideologias que mataram, entre perseguições e guerras, 80
milhões de pessoas – Camargo
aqui não fala do comunismo, deve ser
para não estragar o jantar de Natal da família Louçã; então, nesse caso, os
activistas têm mesmo de atinar e começar a agir como se quisessem evitar esta
catástrofe. Não chega faltar às aulas.
Então
o armagedão chega na 5ª feira e a garotada ocupa uma escola? Estão a brincar às
extinções, ou quê? Afinal é urgente, ou não é? Trata-se do apocalipse, mas mais
parece o apoqueselixe.
Apesar
disso, é inegável que se trata de gente com grandes preocupações ecológicas,
como se vê por reciclarem todas as profecias do fim do mundo jamais feitas,
desde os Maias ao Malthus. Só não anunciam a segunda vinda de Cristo porque
estão tão angustiados com o excesso de população que se recusam a admitir a
chegada de mais uma pessoa que seja.
Com tanta conversa sobre o fim da humanidade, o mínimo que se espera é que
comecem a matar pessoas para chamar a atenção. Saiam à rua com uma caçadeira e
comecem a disparar. Arranjem um carro eléctrico e passem meia dúzia de peões a
ferro. Afinal, o que são algumas vidas em troca de 5 ou 6 mil milhões de almas
que deixam de morrer neste evento cataclísmico para o qual não há qualquer
evidência na literatura científica publicada pelo IPCC, mas imensa na cabeça de
Camargo e seus acólitos? Homicídio é o mínimo, pá. Menos que isso é ser
caguincha.
Se,
como Camargo afirma, é evitável a inundação colossal + a pandemia que dizima
metade da humanidade + as duas guerras que arrasam o resto, vale a pena fazer o
que for preciso. (Eu ainda não descobri como anular um programa de lavagem na
máquina da roupa, tenho de o deixar correr até ao fim, estou particularmente
curioso para ver como é que se pára uma gigantesca cheia do pé para a mão).
Parece-me óbvio que o problema desta geração é não conhecer a
filmografia de Bruce Willis. Tivessem visto os Die Hard ou o Armageddon e
sabiam que as suas pífias atitudes de protesto não são compatíveis com
corajosos salvamentos em situação limite.
Quando faltam 17 segundos para uma bomba rebentar, John McClane ocupa
cobardemente uma escola? Não, corta o fio vermelho e evita a explosão. E,
quando o avião da sua mulher Holly está sem combustível, mas a pista de
aterragem não tem luz, McClane cola-se medrosamente à entrada do aeroporto?
Não, incendeia o avião dos maus para que as labaredas dos destroços guiem o
piloto no escuro. Yippee-Ki-Yay, motherfucker! Mais: quando o asteróide se vai
espatifar contra a Terra, Harry Stamper quer reunir-se com o Ministro da
Economia como um poltrão? Claro que não! Deixa-se ficar para trás e detona
manualmente a bomba nuclear, sacrificando a sua vida para salvar a humanidade.
Ponham os olhos nisto, jovens. Se vivemos mesmo em estado de emergência, então,
biológicos ou não, exigem-se tomates.
ALTERAÇÕES
CLIMÁTICAS CLIMA AMBIENTE CIÊNCIA PROTESTOS SOCIEDADE
COMENTÁRIO:
Miguel Sanches: Começar o dia a rir até às lágrimas. Soberba
ironia do JDQ. Se a rapaziada dos protestos ler isto, e se tiver
ombridade e rir como eu, estão perdoados.
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