São os dois versos finais d’ OS LUSÍADAS, de apelo ao combate épico em
Marrocos, que Camões se dispõe a exaltar em nova epopeia, o rei
servindo de exemplo ao próprio Alexandre Magno, sem necessidade de este invejar
Aquiles,
já que, superior a esse, é o próprio Sebastião, segundo esses versos épicos, naturalmente,
pura exaltação hiperbólica de mais um deserdado valioso, em busca das sopas
pátrias, ingratamente e mesquinhamente - (invejosamente também) - arredias, como
já lembrou Almada Negreiros, a respeito d’ “a
pátria onde Camões morreu de fome e onde todos enchem a barriga de Camões!”
Mas é de ruindade real que se trata, no caso putiniano, superior, isso
sim, a tantos mais monstros reais que habitaram o mundo, até mesmo superiores
em perfídia desumana a esses heróis da criatividade artística, tirando as
figuras e ambientes sinistros desses “1984” e C.ia, que nos afundam a mente.
Invejoso, Putin? Raivoso, apenas. Como pode julgar seus, países de
outras línguas e costumes?... Dá vómitos.
Quanto aos que o admiram e sua doutrina abjecta, julgo que mais do que
invejosos lhes chamaria “deslumbrados”. Deslumbrados do poder, digo embora sem
grande convicção, tantas razões haverá…
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 09.11.22
Inveja é, tendo ou não tendo,
querer que o próximo não tenha - e desse pecado tanto se serve por
grosso como a retalho: por grosso, a inveja nacional; a retalho, a inveja
individual. Como dose intermédia, sirva-se a inveja partidária.
* * *
É no «panegírico lusitano» que o
Épico nos enrola nas malhas da mitologia clássica concluindo que os deuses
olímpicos derramaram sobre nós toda a sua inveja.
E aí está a «inveja» como a
última palavra d’ «Os Lusíadas», tal qual como presente envenenado legado para
a nossa eternidade…
Da inveja por grosso refiro a da
Rússia desde sempre, a da Alemanha desde Bismarck até Hitler se sumir, a de
Castela desde que entrou na História; da inveja a retalho refiro com especial
ênfase a que se estende a sul de Pas de Calais até ao Mediterrânio e, já com
sotaque camoniano mas sem a sua pujança épica, a nossa, a invejinha lusitana,
miudinha como os arrozinhos, as sopinhas e outras miudezas que tais…;da dose intermédia
não posso citar um Partido em especial porque todos são invejosos mas uns há
que o são por doutrina e outros apenas por estratégia. Cuidemos, pois, da
inveja doutrinária e deixemos a outra no campo das coisas desprezíveis.
A inveja doutrinária é a que
resulta da condição miserável a que os «servos da gleba industrial» no séc. XIX
a que foram conduzidos. Miséria essa sobre que Marx construiu uma doutrina
«salvadora» que acabou por levar à escravidão hordas de miseráveis que
acreditaram em Lenine. E agora, passado mais de um século sobre a revolução
russa e demostrada a substância falaciosa da receita marxista e da prática
leninista, ainda há quem siga essa cartilha como se ela fosse a chave das
portas celestiais. Contudo, é hoje sabido que é a das portas infernais.
Então, como se explica que,
depois de tanta evidência de ruína, ainda haja gente inteligente a seguir esses
ideais? Porque essa é a teorização do sentimento mais íntimo de quem «não pode
ver uma camisa lavada a um pobre» e isto é a essência da inveja.
Eis como a instituição da
inveja como fundamento de conceito político levou ao Inferno parte substancial
da Humanidade.
Na hora em que Jerónimo de Sousa
sai da liderança do PCP, não quero deixar de assinalar que a «débacle» do seu
Partido não aconteceu apesar da sua óbvia simpatia pessoal, mas apenas porque o
mundo já percebeu que essa não é a Via da Salvação.
E quem diz Marx e Lenine diz
também todos os intérpretes dessa pauta da inveja.
Então, sonho por sonho, mais vale
sonharmos com Camões e louvarmos «os barões assinalados» que, esses sim, deram
novos mundo ao mundo.
Até porque esta é uma boa hora
para, sem invejas nem complexos de superioridade, praticarmos a amizade entre
todos os que já fizeram Portugal em qualquer parte do mundo.
Novembro de 2022 Henrique Salles da Fonseca
Tags: política
COMENTÁRIOS
Antonio
Fonseca 09.11.2022 15:19: ... praticarmos a amizade entre todos os que
já fizeram Portugal em qualquer parte do mundo", são os meus votos também,
para mais 450 anos pelo menos. Muito obrigado.
Anónimo 09.11.2022 15:26:
Sabes, Henrique, os deuses
abandonaram o Monte Olimpo e residem agora por aí, principalmente em Bruxelas,
Berlim e Frankfurt, e vejo mais por essas bandas Baco do que Júpiter, Vénus ou
Marte (na tua linguagem, diria que vejo mais os frugais do que os perdulários a
decidirem). É lindo o apelo contido no último parágrafo do teu post, mas
começo a recear (e por natureza sou optimista) que se estejam a aprofundar as
clivagens na Sociedade do burgo, que comece a lavrar algum sentimento de
revolta, não tanto por razões inerentes à inveja ou à cobiça, mas sim mais por
razões referentes às privações que começam a abranger muitos (cujas causas
salto por cima) e estes vêem em seu redor, ou acima deles, privilégios
injustificados ou até indiciariamente ilícitos, seja sob a forma de corrupção,
seja de incompetência, seja de conflito de interesses, pelo menos no plano
ético, seja na estafada figura de “jobs for boys”. Espero que os deuses, a
Democracia e o Estado de Direito nos acudam a tempo, para que a nossa viagem
chegue a bom porto, com os fundos vindos daquelas paragens, bem atempada e
transparentemente aplicados, com a inflação controlada, com o PIB a crescer e
sem que ninguém tenha de perguntar, em algum momento, “É uma revolta?” e um
qualquer Duque Liancourt tenha de responder: “Não, é uma revolução.” Abraço. Carlos
Traguelho
antónio pinho
cardão 09.11.2022 17:10: Caro Henrique, também o marxismo puro e duro de Lenine, Estaline e
outros seguidores, verificado o seu falhanço, está a evoluir para uma doutrina
porventura ainda mais perigosa devido a uma fácil aceitação dos seus
pressupostos, o "marxismo cultural", com grande difusão nos meios
académicos norte-americanos e na Europa, que confunde e mistura política
ambiental, movimentos estudantis, pacifistas, política identitária, feminismo,
movimento LGBT, procurando reescrever a história e criando novas prioridades
políticas avessas ao desenvolvimento da economia e criação de insatisfação
colectiva. Pior do que tudo isto, é que os evangelizadores vão criando um
ambiente que leva a banir quem não pense da mesma maneira, o que já vem sendo
nítido na comunicação social. O movimento é larvar, mas por vezes os menos
preparados escorregam, como agora aconteceu com a Greta, a santa da nova
religião ambiental, que referiu expressamente que a luta pelo ambiente é a luta
contra o capitalismo.
Henrique Salles da Fonseca 09.11.2022 22:06: M/ Caro, Na mouche! Já dizia Ludwig
Feuerbach que "(...) no fundo, os portugueses são invejosos e
mesquinhos." Estávamos, então, por meados do séc. XIX, logo após as lutas liberais, creio. Escreveu-o
não por ouvir, mas de experiência feita. Tinha passado uns tempos connosco. E
apesar de se passear pelos salões da nobreza lusitana que lhe deu hospitalidade
e o estragou com mimos,
topou-nos à légua. Abraço APM
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