É fundamental. Tolos os que caem na
esparrela dos discursos do bem-fazer por conta de outrem. Mas o “Avante” e as suas
festas provam a harmonia que ali reina e promete continuar, o capitalismo só
atacado, pelos chefes, nos que o praticam a descoberto. Joracy Camargo e o seu “Deus lhe pague” da mendicidade humilde e sabedora, fundamental
noutros casos, não neste, de jogo, plutôt,
atacante do cinismo alheio, no discurso virtuoso por conta própria. Contradições
na matéria dos cinismos, mas ainda há mais, se bem pesquisarmos.
Das Kapital, sempre! Descapitalizar, nunca!
O PCP é tão bem gerido que tinha
lugar num daqueles índices bolsistas. Podia perfeitamente ser a empresa estrela
do PSICOPATA-20.
JOSÉ DIOGO
QUINTELA Colunista do Observador
OBSERVADOR, 29
nov 2022, 00:2014
Estive
a fazer contas e reparei que há quase 6 meses que não me alivio aqui de um
pouco de anti-comunismo primário. É imenso tempo. De vez em quando, convém
vazar o caixote de anti-comunismo, não vá o mais antigo começar a encrustar-se
nas paredes. Depois só sai com aguarrás. Confesso que não percebo esta minha
preguiça em fazer pouco de comunistas. É capaz de ser fastio. Há demasiadas
razões para ser anti-comunista e eu pareço uma criança no corredor de bolachas
de um supermercado (num país não comunista, claro). É tramado escolher. Por
exemplo, como estamos em Novembro, posso recordar algumas
façanhas do comunismo que se comemoram neste mês, como a Revolução Russa (um
sucesso!), o Holodomor (idem!) ou o 25 de Novembro (não correu tão bem na altura, mas agora diz que évintage). Além dessas efemérides, há a recente
nomeação de Paulo Raimundo para vencedor das eleições para Secretário-Geral, a
que se juntou a polémica em torno da sua biografia e do uso do
termo “operário” para descrever um “burocrata”
– o que, francamente, só escandalizou quem ainda não tinha percebido que o PCP
também usa “operação” para “guerra” e “democracia” para “Coreia do Norte”.
No
frenesim mediático a que Paulo Raimundo
teve de se submeter para passar de “aquele desconhecido careca que é
o novo boneco de ventríloquo da Comissão Política do Comité Central” para “aquele careca chamado Paulo que é o
novo boneco de ventríloquo da Comissão Política do Comité Central”, destacou-se esta afirmação, no podcast “Perguntar não ofende”:
“Não temos qualquer país capitalista no mundo, desde o mais pequeno ao
maior, que tenha tido o objectivo concretizado de acabar com a fome. É um facto. A China, independentemente da forma como
olhamos para ela, este objectivo foi traçado e foi concretizado”. Foi uma declaração que mostrou as dificuldades
que Paulo Raimundo, com pouca experiência em lidar com a comunicação social,
ainda tem em fazer-se entender. Houve quem achasse que Paulo Raimundo tinha
dito que não havia fome na China, o que é uma crítica injusta, pois nem o mais
aldrabão dos comunistas seria capaz de tentar impingir essa peta. Obviamente, o
que Paulo Raimundo pretendia dizer era que a China acabou com
a fome, no sentido em que já não a utiliza como ferramenta política. Essa já é uma declaração aceitável. De facto, há
algum tempo que o PCC não mata de fome
propositadamente. Até porque agora dispõe de outros meios mais
discretos. No, fundo, a China não acabou com a fome. Deixou foi de
causar a fome. Paulo
Raimundo vai aprender a navegar estas subtilezas semânticas que são a base da
comunicação do marxismo-leninismo.
Porém,
se tiver de eleger um predilecto, não é nenhum destes temas que hoje anima o
meu anti-comunismo primário. É antes esta notícia do Expresso, de dia 18:“Cortes de pessoal ajudam
finanças do PCP”.
Trata-se
de uma notícia tão favorável para o PCP, que podia perfeitamente estar no
caderno de Economia. Começa logo pelo título. “Cortes de pessoal ajudam
finanças do PCP” é jargão financeiro para o habitual estribilho “o
capital expropria o trabalho”. Só que,
desta vez, apresentado como aspecto positivo.
Depois, logo a abrir, somos informados que “o PCP gastou, no ano passado, €2,6
milhões para pagar os salários dos seus funcionários, o que representa uma
quebra de 17% face ao ano anterior”. Ou seja, o PCP está a despedir gente. Por
outro lado, “(…) foi também graças a esta redução que as contas do PCP
apresentaram, em 2021, um recorde estatístico e um saldo positivo de €1,6
milhões”. Ou seja, o
PCP está a despedir gente e isso é muito bem jogado. Incrível. Está
explicado porque é que o patronato nunca votaria nos comunistas para liderarem
o país: os patrões querem os comunistas livres de incumbências, para os poderem
contratar para as suas empresas. Uma companhia gerida pelo camarada responsável
pelas contas do PCP não só dá lucro, como não tem contestação laboral.
O máximo que se ouviu a um
funcionário do PCP foi, curiosamente, ao próprio Paulo Raimundo, na RTP, a
lamentar o que o aumento da prestação da casa vai fazer ao seu orçamento
doméstico. Recorde-se
que o salário de um colaborador do
PCP anda à volta dos 750 euros líquidos. Quer dizer, na realidade é
um pouco menos. Segundo o Expresso, “Este ano, o partido vai mais
longe e propõe, «com a mesma audácia e confiança», que os militantes entreguem
«um dia de salário ao partido», a somar à quota habitual que já pagam (e que tem como referência 1% do ordenado),
mais a contribuição sindical (com o mesmo valor de referência) e a obrigatória
assinatura do «Avante!», que custa €64 por ano ou €65 para quem preferir a
versão digital.” Ora, se um dia de salário são 34 euros (750 euros a
dividir por 22 dias úteis), 1% do ordenado são 7,5 euros e a assinatura do
Avante! vale 5 euros por mês, tudo somado dá 46,5 euros. Logo, na realidade, um
funcionário do PCP, responsável por andar a entregar panfletos a exigir o
aumento do salário mínimo para o valor digno de 850 euros, acaba por receber
uns indignos 703,5 euros. Conseguir que um funcionário funcione assim é uma
medida de gestão que tem de ser ensinada num daqueles MBA caros na Nova School
of Business and Economics and Stuff. O CFO do PCP devia andar a fazer palestras
sobre liderança motivacional. Se pensar no dízimo que pode sacar dos cachês, de
certeza que o Partido não se opõe.
A
mestria da gestão comunista também se vê nestes indicadores económicos: embora
a redução da despesa com funcionários entre 2005 (primeiro ano da liderança de
Jerónimo) e 2021 tenha sido de 41% (de 4,5 para 2,6 milhões de euros), a
redução do património global do PCP no mesmo período foi de apenas 19% (de 23,3
para 18,7 milhões de euros – atenção, que estes valores são aquelas ninharias
que aparecem na factura do IMI, nem sequer são os valores que se obtêm no
mercado. Na realidade, estes 18 milhões devem ser alguns 180 milhões que o
PCP tem em prédios). O que quer dizer que, sem levantar ondas, o PCP foi
mandando malta para a rua em vez de descapitalizar um bocadinho só para preservar
postos de trabalho. Aqui se vê o génio dos comunistas. Mantêm a fortuna
ao mesmo tempo que correm com empregados – que, ainda por cima, são famosos por
serem particularmente contestatários. Por exemplo, bastava o PCP vender
um imóvel por 750 mil euros (valor patrimonial de 100 mil euros), ainda ficava
com muitos milhões, e só essa operação dava para pagar a 71 funcionários
durante um ano. Era muito giro, mas o que é que o Partido ganhava com
isso? Assim, consegue fazer o mesmo trabalho com menos gente e, ao mesmo tempo,
aumenta o número de desempregados para poder atirar à cara do Governo. É juntar
o útil ao agradável.
O PCP é tão bem gerido que, se quisesse, tinha lugar num daqueles
índices bolsistas, tipo NASDAQ-100 ou S&P-500. Podia perfeitamente ser a
empresa estrela do PSICOPATA-20.
COMENTÁRIOS (de 14):
Fernando Cascais: A brincar, a brincar, o macaco não sei o quê, não sei que mais. Assim está
o caríssimo José Diogo Quintela com o PCP. A brincar a brincar mas com
verdades claríssimas como a urina de quem bebe 4 litros de água por dia.
Faltou esmiuçar a política dos IMI’s, que por alguma razão é
apenas entendida pelos deputados da AR, que a isentaram de pagamento pelos
partidos políticos. A ideia inicial - digo eu - seria permitir a sobrevivência
existencial e económica dos partidos políticos, e, assim, não serem corridos da
sua própria sede pela AT por não pagarem a tributação autarca, o que seria algo
devastador para a sua imagem. O PCP, no seu papel de empresário de charuto
cubano nas beiças, fato cinzento às riscas com colete e respectiva corrente
para o relógio de bolso, viu aqui uma oportunidade de oiro para construir
património. Com a ajuda do dízimo e subvenções do estado foi adquirindo
património, e hoje, não se fica atrás em património imobiliário de nenhum dos
nossos capitalistas de primeira linha. Agora a sério 1: que
os partidos estejam isentos de pagar IMI das suas sedes principais é uma coisa,
agora que aproveitem a medida para fazer negócio é outra ao estilo das
peculiares subvenções vitalícias. Agora a sério 2: mais uma crónica excelente
do Diogo Quintela, como já é habitual. Luis Freitas O PCP não passa de um partido político imensamente pior que os
partidos fascistas pois é um partido político nazi-estalinista que defende ditaduras sanguinárias
, em relação aos trabalhadores portugueses o PCP é um excelente exemplo de
como escraviza os seus funcionários com salários de miséria e ainda lhes saca
1% do salário para pagar as quotas de filiação no partido. É do mais
ordinário e hipocrisia que há, ver o PCP a dizer que defende os
trabalhadores portugueses do pratonato.: João
Floriano: Excelente! «Assim
se vê a força do PC» uma palavra de ordem muito gritada ao descer a avenida, pode ser substituída
por «Assim se vê a hipocrisia do PC». Mas já o Bloco tinha
feito ou anda a fazer algo parecido. A esquerda é impagável, mas há
gente que ainda vai na conversa.
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