terça-feira, 22 de novembro de 2022

Notícias do dia e Crónica


OBSERVADOR, 21/11/22

Vidas! Alheias, nossas. Não é possível relativizar, afinal, no caricato de uma contemporaneidade absurda – em esplendor e chiqueiro.

Uma excelente crónica de PATRÍCIA FERNANDES, Professora na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho e na Faculdade de Letras da Universidade do Porto

I - NOTÍCIAS:

ORÇAMENTO DO ESTADO

Formações e uma "taxa rosa". O dia 1 de votações

PAN lidera nas cedências feitas pelo PS nas votações para o OE, com um projecto-piloto que vai distribuir bens menstruais, um estudo sobre a "taxa rosa" e o "espaço Gisberta". Livre e PSD seguem atrás.

ANTÓNIO COSTA

"Não há condições" para adesão da Ucrânia à UE

Primeiro-ministro comparou entre media e redes sociais com a "direita democrática" e a "direita populista". Defendeu também reforma da ONU e disse que Ucrânia não deve aderir à UE agora.

PARLAMENTO

AR despede-se de Jerónimo, Chega não aplaude.

Jerónimo fica conhecido por "cordialidade e simpatia" e deixa "muitos amigos" no Parlamento, lembrou presidente da Assembleia da República. PSD juntou-se aos aplausos, IL em parte e Chega não.

GUERRA NA UCRÂNIA

Em directo/ Boris: Putin queria assumir-se como "novo czar"

Há 37 minutos: Acordo entre Rússia e Ucrânia seria "sem esperança": "Como é que poderíamos confiar em Putin para manter os seus compromissos?"

Há uma hora: Em Lisboa, Boris Johnson diz que Putin começou a guerra porque queria "reconstruir o império" e assumir-se como "novo czar"

Há 3 horas: Ucrânia diz que Rússia está a mobilizar residentes na Crimeia

Há 3 horas: Ministro dos Negócios Estrangeiros da Hungria visita Rússia pela 2.ª vez em seis semanas

Há 4 horas: AIEA conclui que não há preocupações imediatas sobre segurança na central de Zaporíjia

Há 4 horas: Rússia inicia transferência de activos em territórios anexados.

GUERRA NA UCRÂNIA

Ucrânia "chega à Crimeia em dezembro"

Militar na reserva, adjunto do ministro da Defesa ucraniano, acredita ser possível recuperar a península da Crimeia até ao fim do ano. Um "cisne negro" na Rússia ajudaria Kiev a alcançar os objectivos.

GUERRA NA UCRÂNIA

Rússia patrocina terrorismo? PE diz que sim.

A resolução, debatida na sessão plenária de outubro, tem aprovação garantida pelos dois maiores grupos do PE, o Partido Popular Europeu (PPE) e a Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas.

GUERRA NA UCRÂNIA

Apoio à Ucrânia será necessário por "muito tempo"

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II- CRÓNICA:

 “A Guerra ao Ocidente” e a encruzilhada identitária

Murray assume sem medo a defesa do ocidente e no fim o livro destaca os benefícios que os brancos legaram ao mundo.Resta saber se é possível vencer a guerra quando aceitamos entrar na luta identitária

PATRÍCIA FERNANDES Professora na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho e na Faculdade de Letras da Universidade do Porto

OBSERVADOR, 21 nov 2022, 00:189

Quem está familiarizado com os últimos livros de Douglas Murray (A estranha morte da Europa e A insanidade das massas) não se surpreenderá com A Guerra ao Ocidente, publicado entre nós no mês passado. O estilo jornalístico mantém-se, pelo que não se trata de uma obra de filosofia ou teoria política: embora baseie a sua análise em fontes académicas, Murray propõe-se descrever o que tem vindo a acontecer no Ocidente a partir de exemplos e situações reais. Mantém-se igualmente o principal mérito dos seus livros: o autor referencia todos os exemplos e situações que percorre, possibilitando ao leitor a confirmação das informações e a avaliação externa das suas afirmações.

De um título tão combativo poderíamos esperar que Murray se debruçasse sobre as várias dimensões de ataque aos princípios liberais do sistema ocidental, sob aquilo que temos designado como wokismo. No entanto, este livro circunscreve-se a uma dimensão muito particular desse ataque: aquela que resulta da Teoria Crítica da Raça (TCR), que acusa o projecto ocidental de ser resultado de ideias de homens brancos e assente num racismo socialmente construído.

É então um ataque à “branquitude” que Murray pretende denunciar, considerando, em especial, o que aconteceu nos últimos dois anos. Na verdade, as ideias da TCR já se encontravam em ampla circulação nos meios académicos norte-americanos desde os anos 1980, promovidas por autores como Derrick Bell, bell hooks, Kimberlé Crenshaw e Richard Delgado; mais recentemente, destacam-se Ta-Nehisi CoatesIbram X. Kendi ou Robin DiAngelo. Mas foi o verão de 2020, em resultado da morte de George Floyd, que levou à explosão destas ideias e da popularidade do movimento Black Lives Matter (BLM), naquilo que Murray diagnostica como um ataque cerrado, a partir da perspetiva racial, à cultura, sociedade, conhecimento, princípios e valores ocidentais.

Partindo assim da raça (capítulo 1), Murray debruça-se sobre o ataque da TCR ao ensino da história e ao simbolismo das figuras históricas (capítulo 2), passando pelo tema das reparações. Mas eu destacaria, certamente por defeito de formação, o capítulo 3, dedicado à religião, filosofia e ciência. Aí, Murray debruça-se sobre os autores clássicos que têm sido descredibilizados como racistas – Immanuel Kant, Aristóteles, David Hume, John Stuart Mill –, e sobre o espírito das Luzes que tem estado sob ataque:

 “Porque o sistema que [foi aí estabelecido] é a antítese do sistema que está hoje a ser construído: um sistema inteiramente oposto à ideia de racionalismo e de verdade objectiva; um sistema dedicado a varrer toda a gente do passado, bem como do presente, que não se vergue ao grande deus do presente: “eu”.”

Em particular, destaca a investida que é agora dirigida à mais inesperada das vítimas:

“Isso é precisamente o que foi feito nos últimos anos com o desenvolvimento da “matemática equitativa”. Esta é a ideia de que a matemática é em si mesma problemática. O argumento é que a matemática é elitista, privilegiada, e, é claro, intrinsecamente racista. [Mas] como pode um sistema que deve a sua origem a várias civilizações, e que foi refinado no Ocidente nos últimos milénios, ser visto como sistematicamente racista?”

Para Murray, um dos aspectos mais relevantes desta guerra é o facto de ser promovida a partir de dentro do próprio ocidente e não de potenciais inimigos externos. Pensemos, a título de exemplo, em Robin DiAngelo e o seu livro Fragilidade branca: porque é tão difícil para os brancos falar sobre racismo. Para esta autora, branca, o mundo actual é resultado de decisões que visaram propositadamente a construção de uma sociedade que beneficia os brancos. Nesse sentido, o racismo não carece de prova – o sistema foi construído a partir de bases racistas – e a supremacia branca é um facto – o sistema garante que todos os brancos beneficiem dele. Os brancos devem “entender o racismo como um sistema para o qual [são] socializad[os]” e não como “atos intencionais de discriminação racial cometidos por indivíduos imorais”. E, em prol da justiça racial, devem reconhecer a sua branquitude e o seu consequente privilégio e tornar-se abertamente antirracistas.

(Entre nós, a mais recente polémica sobre os polícias que terão, alegadamente, proferido afirmações discriminatórias e racistas confronta-nos com o âmago deste raciocínio: há responsabilidade individual quanto a esses actos, ou somos todos vítimas pactuantes de um sistema estruturalmente racista? Voltaremos em breve a este livro.)

O argumento que DiAngelo nos apresenta coloca-nos na encruzilhada identitária: ele força-nos à identificação como brancos. Seguindo a tradição liberal, muitos autores tentam fugir ao dilema e recusam autoidentificar-se desse modo. Mas Douglas Murray toma um caminho diferente: “Não penso especialmente em mim como sendo branco e não quero particularmente ser empurrado para pensar nesses termos. Mas se me vão encurralar, então deixem-me dar-vos a melhor resposta de que sou capaz.”

Encostado à parede, assume sem medo a defesa do ocidente, e as últimas páginas do livro são dedicadas a todas as conquistas e benefícios que os brancos legaram ao mundo:

“O bom de se ser branco inclui ter nascido numa tradição que deu ao mundo uma quantidade imensa, se não a maioria, das coisas de que o mundo atualmente beneficia. A lista de coisas que os brancos fizeram pode incluir muitas coisas más, como acontece com todos os povos. Mas as coisas boas não são poucas.” (continua)

Resta saber se é possível vencer a guerra quando aceitamos entrar na luta identitária.

P.S.:Um dos exemplos referidos por Douglas Murray é a luta de Jodi Shaw contra o Smith College por discriminação racial. A experiência de Shaw é sintomática dos nossos tempos e as suas reflexões são muito pertinentes. Destaco, em particular, o documentário realizado por Eli Steele (e o dilema central de tudo isto que é retratado nos dois minutos finais).

RACISMO    DISCRIMINAÇÃO    SOCIEDADE

COMENTÁRIOS:

João Floriano: A Guerra ao Ocidente e a guerra a Ocidente, visto que estamos metidos numa verdadeira guerra de valores. Há uma constatação para a qual não consigo encontrar resposta: trata-se dos grandes movimentos emigratórios. Emigra-se de Africa e Ásia para a Europa e do sul e centro da América para o norte, ou seja, foge-se para a branquitude e não da branquitude. Um mundo cancelado na sua branquitude será um mundo mais pobre e em vez de avançar vai retroceder. Todos os movimentos transportam consigo as sementes da sua destruição. O wokismo não será diferente. Resta saber até que ponto irá na sua destruição da civilização ocidental. Mesmo que eu não esteja doente se alguém junto de mim insistir na minha palidez, olheiras e ar cansado, acabarei por me olhar ao espelho e ver precisamente a imagem que me é descrita. O racismo entre nós está a ser tratado desse modo. todos os dias somos bombardeados com opiniões e convicções sobre o nosso racismo  e mesmo que saibamos que não o somos, acabamos por pensar que afinal talvez estejamos enganados. Quem anda por aí no dia-a-dia encontra inúmeros exemplos deste mal estar plantado e desenvolvido pelo wokismo. Importaram uma praga que tudo consome e agora queixam-se dela e alimentam-se dela.

Rui Lima: O Ocidente comprou o sentimento de culpa que lhe foi vendido por radicais, a autodestruição da nossa civilização vai a bom ritmo. Neste momento é impossível reverter a situação a demografia será implacável seremos minoritários e teremos de prestar contas a outro Deus. O nível de riqueza atingida só foi possível com os valores do povo europeu e com os europeus na Europa ou com os europeus que foram para USA, Canadá ou Austrália …mais nenhum povo teve o nosso sucesso uns nem a roda utilizavam outros nem escrita tinham. Com menos percentagem de europeus na Europa, o caminho é empobrecer nas grandes cidades o que vemos é terceiro mundo, mas para meu espanto andei vendo pequenas localidades na província em França e estou em estado de choque. Os sinos dobram pela minha civilização com a cumplicidade das elites e indiferença do povo manietado pelos políticos.

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