quarta-feira, 16 de novembro de 2022

“Entregas”


Julgava eu que seria geral a concordância dos comentadores com os considerandos de Raquel Abecasis sobre Zelensky e o povo ucraniano numa guerra criminosamente desencadeada por um criminoso unanimemente assim considerado, pensava eu - e afinal defensor também, Zelensky e o seu povo, deste Ocidente inerte (que, apesar de tudo, o apoia com armas e bagagens, pelo menos até ver). O asqueroso comentário de Bento Guerra provou que não era unânime esse pensamento e havia entre nós cá, como já se provara meio século antes, aliás, os defensores das entregas pátrias aos agressores apoiados pelos putins da época. Felizmente, houve quem desmascarasse o Guerra (Bento). Repito, pois, os respectivos comentários – de Bento Guerra e NLB que nos ensinam sobre nós próprios, com os cobardes pedantes “do costume” arrasados pelos íntegros sabedores e respeitadores de antigas regras:

bento guerra: Esta também caiu no espectáculo da entrada em Kherson, cidade abandonada pelos russos por óbvios motivos tácticos. Antes de começar a destruição da Ucrânia (não tão grande como as televisões comandadas mostram) teria sido possível uma negociação, apoiada nos Acordos de Minsk, de 2014, sob o patrocínio de vários líderes. Mas o ego do actor de comédia não resistiu e tem sido esta "mercearia de guerra" diária. O país está com uma baixa do Pib superior a 30 por cento e vai viver da caridade alheia, por décadas, além de perdas de vidas de ambos os lados  e milhares de milhões de destruição. Não ofendam o Churchill.

NLB  > bento guerra: Para os apoiantes do criminoso do Kremlin, os russos recuam e retiram-se sempre vitoriosamente. Cidade a cidade, aldeia a aldeia, saqueiam, destroem, matam, violam, raptam e depois retiram-se vitoriosamente até à "vitória" final. E ainda tem a distinta lata de dizer que a destruição "não é tão grande como as televisões comandadas mostram"! Devem os ucranianos ficar enternecidos e agradecidos aos invasores por tamanho comedimento? E continua a falar nos Acordos de Minsk, mas a omitir convenientemente o Memorando de Budapeste de 1994 (21 anos antes daqueles!), em que a Ucrânia aceitou entregar o seu arsenal nuclear à Rússia em troca da garantia do respeito pela sua integridade territorial. Tivesse este sido respeitado e nunca teria havido a anexação da Crimeia em 2014, nem esta criminosa agressão à Ucrânia agora. Melhor teria sido mesmo a Ucrânia nunca ter entregado o seu arsenal nuclear ao regime russo. Mas disso não fala, claro. O costume...

Volodymyr Zelensky, o Churchill do século XXI

No dia 24 de fevereiro estávamos nas mãos do ditador russo. Hoje esse cenário está afastado. Foi Volodymyr Zelensky que nos salvou do triste realpolitik que nos deixava paralisados há muitas décadas.

RAQUEL ABECASIS Jornalista e ex-candidata independente pelo CDS nas eleições autárquicas e legislativas

OBSERVADOR, 15 nov 2022, 00:1742

No dia 24 de fevereiro de 2022, o mundo viu-se outra vez envolvido numa guerra com contornos perigosos e com potencial para transformar o conflito numa guerra global. De um dia para o outro, a Europa voltou a viver a destruição provocada pelas armas. Cidades arrasadas, valas comuns, trincheiras cavadas e milhares de mortos e refugiados. Um cenário impensável para um continente que, depois do fim da Segunda Guerra Mundial, tinha feito um compromisso de paz duradoura.

A história repete-se. Infelizmente, o tempo vai esbatendo a memória e o enfraquecimento das instituições e de quem as representa faz o resto. Quando esquecemos a história e as raízes acabamos por abrir espaço à repetição dos erros.

Felizmente, o horror que vivemos no tempo presente trouxe-nos uma surpresa. Também é sempre assim na história, as crises revelam o carácter daqueles que nos podem ajudar a sair delas.

Volodymyr Zelensky é sem dúvida o homem providencial deste início do século XXI. Há poucos meses, o mundo conheceu um homem corajoso e determinado. A coragem e determinação de Zelensky, aliadas ao seu sentido estratégico e à sua fantástica capacidade de comunicação, estão a servir não só para um sucesso totalmente imprevisível no desenrolar desta guerra, como na descoberta de um líder que, aconteça o que acontecer, já ganhou e já garantiu o seu lugar na história.

Ao longo destes meses, vi muitos comentadores de bancada desvalorizarem as pretensões de Zelensky e gozarem com as comparações entre o Presidente Ucraniano e o herói europeu da Segunda Guerra Mundial, Winston Churchill. A todos eles digo que é fácil destruir, difícil é construir em cima de ruínas e Zelensky está a fazê-lo.

A começar no primeiro dia em que recusou o exílio dourado oferecido pelos Estados Unidos e a acabar nesta luta incansável e inteligente que há nove meses trava, dia após dia, contra a invencível Rússia, Zelensky está a dar a todo o mundo a lição de que é urgente que todos compreendamos que o poder não está nem no dinheiro nem na chantagem das armas, está na irredutibilidade dos princípios e dos valores.

É bom termos consciência de que no dia 24 de fevereiro estávamos nas mãos do ditador russo, Vladimir Putin. Hoje esse cenário está afastado porque em Kiev está e nunca deixou de estar Volodymyr Zelensky. Foi ele, com a sua coragem, determinação e inteligência que nos salvou do triste realpolitik que nos deixava paralisados há muitas décadas.

Agora que estamos a entrar no Inverno e que a guerra vai surtir os seus efeitos mais diretamente no nosso modo de vida, é bom não esquecermos que a nossa liberdade e o nosso modo de vida estão dependentes do sacrifício de Zelensky e de milhões de ucranianos que dão a vida para que continuemos a viver a nossa vidinha. Qualquer sacrifício que tenhamos de fazer é uma anedota comparado com o que o bravo povo ucraniano está a viver.

A conquista de Kherson traz-nos uma esperança, necessária para ganhar coragem para os horrores que ainda aí vêm. Saibamos aproveitar para recarregar energias no apoio a um povo e ao seu líder, que estão a fazer pelo mundo e pela Europa o que poucos de nós seríamos capazes.

Sim, Volodymyr Zelensky é o Churchill do século XXI. E que precisados que estamos de um homem assim à escala global.

GUERRA NA UCRÂNIA   UCRÂNIA   EUROPA   MUNDO

COMENTÁRIOS:

Manuel Cardozo; Bravo. Todos devemos estar espantados com a resiliência (esta sim) coragem e bravura do povo ucraniano e sem dúvida Zelenski é quem melhor a representa. Independentemente do que virá a seguir pode e deve ser já considerado o maior defensor da liberdade e das liberdades dos indivíduos e dos povos, deste século. Falta que lhe entreguem e ao povo ucraniano o Nobel da Paz.             Maria Tejo: Completamente de acordo consigo. Zelenski foi o Homem no sitio certo à hora certa que se revelou espantosamente um grande líder e um grande defensor do seu país e do seu povo. Convenceu os líderes gelatinosos europeus e mesmo mundiais com um simples argumento: o de ter razão e legitimidade. Tal como Churchill fez lutando contra ventos e marés. A Europa livre deve muito a Churchill, tal como o futuro deverá muito a Zelenski. Obviamente nunca poderemos esquecer a ajuda preciosa do amigo americano.                Tiago Manso: Excelente artigo. Tenho repetido inúmeras vezes que a geração europeia dos nossos avós (ou bisavós, consoante o caso) estaria agora envergonhada com o que se passa na Europa. Sim, eles combateram e morreram para salvar a Europa de Hitler. O que faz a Europa hoje? Que líderes e estadistas tem, com determinação e coragem  para enfrentar o "Hitler do Sec. XXI" ? Nenhum!  E por isso a comparação de Zelensky a Churchill é mais do que justa: é factual.          bento guerra: Esta também caiu no espectáculo da entrada em Kherson, cidade abandonada pelos russos por óbvios motivos tácticos. Antes de começar a destruição da Ucrânia (não tão grande como as televisões comandadas mostram) teria sido possível uma negociação, apoiada nos Acordos de Minsk, de 2014, sob o patrocínio de vários líderes. Mas,o ego do actor de comédia não resistiu e tem sido esta "mercearia de guerra" diária. O país está com uma baixa do Pib superior a 30 por cento e vai viver da caridade alheia , por décadas, além de perdas de vidas de ambos os lados  e milhares de milhões de destruição. Não ofendam o Churchill          Fernando CE: Comungo consigo a apreciação que faz de Zelensky. É um Herói que não abandonou o seu povo. Um exemplo para a Humanidade. Com ele, o valoroso povo ucraniano que não se rende nem se verga. E uma palavra também para o apoio corajoso da presidente da comissão europeia Úrsula von der Leyen  e da presidente do parlamento europeu Roberta Metsola, que se mostraram irredutíveis na ajuda à Ucrânia.              Rui Lima: A Churchill deram o Nobel da literatura parecia mal dar o da Paz, mas os heróis foram os ingleses e os seus militares tal como hoje o é o povo e as suas forças armadas da Ucrânia, dão a vida pela sua nação.  Como no Ocidente querem matar a nação que já estão moribunda nas escolas ensinam como eram maus os nossos heróis no meu tempo Afonso de Albuquerque era um herói hoje até dizem que era um criminoso. A consequência desta nova ideologia anti-nação aparece nas sondagem ninguém está disposto a dar a vida pelo seu país                Luís Maria Gonçalves: Em 1938, Neville Chamberlain entendeu que a negociação seria melhor forma de lidar com Hitler. Sem consultar a Checoslováquia, acordou com os Nazis a cedência à Alemanha dos Sudetas (parte daquele país onde a maioria da população era de origem germânica) achando que assim apaziguaria Hitler e asseguraria a paz na Europa. Em resultado destes acordo de Munique, o menosprezo de Hitler pelo Governo Britânico aumentou de tal forma que, passado menos de um ano, aliou-se a Stalin e à União Soviética (através do Pacto Molotov-Ribbentrop) percebendo que tinha as mãos livres para redesenhar a Europa a seu belo prazer, invadiu a Polónia e desencadeou a II Guerra Mundial. Tal como Hitler, Putin subiu ao poder com legitimidade eleitoral, mas já confessou que o desmembramento da União Soviética foi uma tragédia. Putin nunca pararia na Ucrânia: a Abkhazia, a Ossétia do Sul, a Moldova e os países bálticos seriam os próximos objectivos. Até onde vamos deixar? Obrigado Volodymyr Zelenskyy, obrigado Jens Stoltenberg.        Miguel Araújo: Churchill era um democrata...dizer o mesmo de Zelensky é criar um novo conceito de democrata.....             NLB  > bento guerra: Para os apoiantes do criminoso do Kremlin, os russos recuam e retiram-se sempre vitoriosamente. Cidade a cidade, aldeia a aldeia, saqueiam, destroem, matam, violam, raptam e depois retiram-se vitoriosamente até à "vitória" final. E ainda tem a distinta lata de dizer que a destruição "não é tão grande como as televisões comandadas mostram"! Devem os ucranianos ficar enternecidos e agradecidos aos invasores por tamanho comedimento? E continua a falar nos Acordos de Minsk, mas a omitir convenientemente o Memorando de Budapeste de 1994 (21 anos antes daqueles!), em que a Ucrânia aceitou entregar o seu arsenal nuclear à Rússia em troca da garantia do respeito pela sua integridade territorial. Tivesse este sido respeitado e nunca teria havido a anexação da Crimeia em 2014, nem esta criminosa agressão à Ucrânia agora. Melhor teria sido mesmo a Ucrânia nunca ter entregado o seu arsenal nuclear ao regime russo. Mas disso não fala, claro. O costume...

 

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