terça-feira, 15 de novembro de 2022

As causas das cousas


Dos desaires políticos e sociais, neste caso reportado por Luis Soares de Oliveira, 16 h, na carta a um amigo,  rica de pormenor analítico, com o respectivo sentido de humor abrangendo estes tempos de tanta destruição e falta de ética, sem o recurso, provavelmente, aos valores estéticos reconstrutivos que dominaram os tempos humanistas. Um bonito texto, que, por via de ignorâncias pontuais, me fez consultar a internet, para esclarecimento próprio.

CARTA A UM AMIGO SOBRE COUSAS MUITO SÉRIAS.

Meu caro. Decidiste então introduzir a moralidade dos governantes na análise da política externa dos Estados Unidos. Pois abriste amplo campo de estudo que poderá levar a constatações de interesse. Eu sempre entendi que os chefes da diplomacia americana de séculos anteriores a este eram sábios mas nunca cuidei de apurar a sua santidade. Tenho que a ética é um instrumento eficaz para destruir ordens e sistemas políticos mas incapaz de os construir. Já a estética permite resultados importantes tanto na destruição como na construção. O Vaticano deu-se conta disso quando deitou mão ao Barroco mas era tarde; já Descartes tinha feito do racional a referência por excelência. Palmerston aproveitou-se disso e fabricou uma ordem internacional profundamente injusta mas que durou um século. Nos States, após o cataclismo da queda da bolsa (1929), a mafia foi tomando conta do poder. Só FDR a conseguiu banir de tais paragens mas teve que se valer da guerra externa - a pátria em perigo. Nisto Salazar foi melhor. Conseguiu liquidar a Camorra sem recorrer a guerra internas ou externas. (É sobre isto que estou a escrever)

O momento unipolar americano (1989) a que te referes como ponto de viragem não foi fenómeno endógeno. Foi o Gorbachev que se deu conta de que o modelo URSS produzia pobreza . Os americanos só tiveram que tomar conhecimento do facto que a opinião pública considerou vitória liberal. Os responsáveis aprenderam no nine/eleven que o unipolarismo não significava a derrota do rival mas sim a multiplicação dos mesmos: - árabes fanáticos, chineses pacientes, europeus inconformistas, um coreano maluco e russos imperialistas substituíram a URSS.

Perante isto, os americanos responderam em espécie: armaram-se até aos dentes. O centro de decisões passou da Casa Branca, do Congresso e do Foggy Bottom para o Pentágono. Que o presidente faça gaffes não tem a menor importância. Claro, cabe aos representantes no Congresso aprovar as verbas para a indústria dos armamentos mas há varias maneiras de os persuadir a votarem na direção conveniente. É isto que tu consideras que foi a tomada de poder pelos gangsters? Não digo que não. Digo apenas que tal modo não veio de dentro. Foi a política externa que o forçou.

O que daqui resulta? As estatísticas permitem admitir que, do ponto de vista militar, os EUA poderão manter a unipolaridade por 3 ou mais décadas. Putin tem pressa, precipitou-se; XI Ping tem paciência de chinês. Será ele provavelmente quem decidirá.

COMENTÁRIOS:

Isabel Themudo Gallego: Que grande texto e que maravilha de análise. Obrigada Luís e vou levar!

Henrique Borges: Não foi o 9/11 que motivou a nova estratégia ofensiva dos EUA, foi esta que precipitou o 9/11. Há dois desenvolvimentos convergentes que o explicam: o armamento dos combatentes islâmicos no Afeganistão para expulsar de lá os russos; o estacionamento de forças militares americanas na Arábia Saudita aquando da primeira invasão do Iraque em 1991. Quando estive em Riade (2004-2007) ainda me falavam do choque dos sauditas ao verem militares americanos (e sobretudo mulheres militares) pisarem o "solo sagrado do Islão". Com as investidas desastrosas no MO os americanos deitaram pela janela fora todo o capital de simpatia que tinham angariado com o 9/11 (não esquecendo que o Putin foi então o primeiro líder mundial a disponibilizar o seu apoio ao Bush). Dito isto, evidentemente que o 9/11 não ajudou a moderar o irredentismo americano.… 

Luis Soares de Oliveira: Obrigado. Boas achegas.

 

NOTAS DA INTERNET:

Wikipédia:

1 - Henry John Temple, 3º Visconde Palmerston (Londres20 de outubro de 1784 — Hatfield, 18 de outubro de 1865), também chamado  Lorde Palmerston, foi um estadista britânico, que serviu duas vezes como Primeiro-ministro do Reino Unido em meados do século XIXPalmerston dominou a política externa britânica durante o período de 1830 a 1865, no auge do poder imperial da nação. Ele serviu o país em cargos públicos praticamente de forma ininterrupta de 1807 até sua morte em 1865. De facto, Palmerston começou a sua carreira parlamentar no partido Tory, antes de se mudar para os Whig em 1830 e depois tornou-se o primeiro líder do seu país do Partido Liberal, em 1859. Durante boa parte do seu governo, ele desfrutou de boa popularidade com o povo britânico. O biógrafo David Brown argumentou que "uma parte importante do apelo de Palmerston estava em seu dinamismo e vigor."…..

Palmerston controlava a opinião pública ao estimular ideias do nacionalismo britânico. Embora a Rainha Vitória e a maioria da liderança política não confiasse nele, Palmerston era apoiado pela imprensa e pela população em geral, que costumavam chamá-lo "Pam". A sua alegada fraqueza incluía a sua inabilidade de lidar com assuntos pessoais e as suas desavenças com a rainha sobre o dever da Coroa em política externa.

Historiadores colocam Palmerston como um dos melhores Secretários do Exterior devido a forma como ele lidou com várias crises, seu comprometimento com o equilíbrio de poder na Europa e no Mundo (que forneceu à Grã-Bretanha uma agência decisiva em muitos conflitos), as suas habilidades analíticas e o seu comprometimento em defender os interesses do Reino Unido. As suas políticas em relação à Índia, China, Itália, Bélgica e Espanha tiveram consequências benéficas extensas e duradouras para a Grã-Bretanha. As consequências de suas políticas para a França, o Império Otomano e os Estados Unidos foram mais efémeras, especialmente com este último, já que Palmerston considerou intervir na Guerra Civil Americana, mas não o fez, preferindo focar em assuntos europeus e não se associar com escravidão.

2 - FDR:

Franklin D. Roosevelt

32º presidente dos Estados Unidos

Franklin Delano Roosevelt, também conhecido como FDR foi um advogado e político norte-americano que serviu como o 32º presidente dos Estados Unidos de 1933 até sua morte em 1945. Wikipédia

Nascimento: 30 de janeiro de 1882, Hyde Park, Nova York, EUA

Falecimento: 12 de abril de 1945, Little White House Historic Site, Geórgia, EUA

 

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