Dos desaires políticos e sociais, neste caso reportado por Luis Soares
de Oliveira, 16 h, na carta a um amigo, rica de pormenor analítico, com o
respectivo sentido de humor abrangendo estes tempos de tanta destruição e falta
de ética, sem o recurso, provavelmente, aos valores estéticos reconstrutivos
que dominaram os tempos humanistas. Um bonito texto, que, por via de
ignorâncias pontuais, me fez consultar a internet, para esclarecimento próprio.
CARTA
A UM AMIGO SOBRE COUSAS MUITO SÉRIAS.
Meu caro. Decidiste então introduzir a moralidade dos governantes na
análise da política externa dos Estados Unidos. Pois abriste amplo campo de
estudo que poderá levar a constatações de interesse. Eu sempre entendi que
os chefes da diplomacia americana de séculos anteriores a este eram sábios mas
nunca cuidei de apurar a sua santidade. Tenho que a ética é um instrumento
eficaz para destruir ordens e sistemas políticos mas incapaz de os construir.
Já a estética permite resultados importantes tanto na
destruição como na construção. O Vaticano deu-se conta disso quando deitou mão
ao Barroco mas era tarde; já Descartes tinha feito do racional a referência por
excelência. Palmerston
aproveitou-se disso e fabricou uma ordem
internacional profundamente injusta mas que durou um século. Nos States, após o cataclismo da
queda da bolsa (1929), a mafia foi tomando conta do poder. Só FDR a conseguiu banir de tais
paragens mas teve que se valer da guerra externa - a pátria em perigo. Nisto
Salazar foi melhor. Conseguiu liquidar a Camorra sem recorrer a guerra internas
ou externas. (É sobre isto que estou a escrever)
O momento unipolar americano (1989) a que te referes como ponto de
viragem não foi fenómeno endógeno. Foi o Gorbachev que se deu conta de que o modelo URSS produzia
pobreza . Os americanos só tiveram que tomar conhecimento do facto que a
opinião pública considerou vitória liberal. Os responsáveis aprenderam no nine/eleven que o
unipolarismo não significava a derrota do rival mas sim a multiplicação dos
mesmos: -
árabes fanáticos, chineses pacientes, europeus inconformistas, um coreano
maluco e russos imperialistas substituíram a URSS.
Perante isto, os americanos
responderam em espécie: armaram-se
até aos dentes.
O centro de decisões passou da Casa Branca, do Congresso e do Foggy Bottom para
o Pentágono.
Que o presidente faça gaffes não tem a menor importância. Claro, cabe aos
representantes no Congresso aprovar as verbas para a indústria dos armamentos
mas há varias maneiras de os persuadir a votarem na direção conveniente. É isto que tu consideras que foi a tomada de
poder pelos gangsters? Não digo que não. Digo apenas que tal modo não veio de
dentro. Foi a
política externa que o forçou.
O que daqui resulta? As
estatísticas permitem admitir que, do ponto de vista militar, os EUA poderão manter a unipolaridade por 3
ou mais décadas. Putin tem pressa, precipitou-se; XI Ping tem paciência de
chinês. Será ele provavelmente quem decidirá.
Isabel Themudo Gallego: Que grande texto e que maravilha de análise. Obrigada Luís e vou levar!
Henrique Borges: Não foi o 9/11 que motivou a nova estratégia ofensiva dos EUA, foi esta
que precipitou o 9/11. Há dois desenvolvimentos convergentes que o explicam: o armamento dos combatentes islâmicos
no Afeganistão para expulsar de lá os russos; o estacionamento de forças militares americanas na Arábia
Saudita aquando da primeira invasão do Iraque em 1991. Quando estive em Riade (2004-2007) ainda me
falavam do choque dos sauditas ao verem militares americanos (e sobretudo
mulheres militares) pisarem o "solo sagrado do Islão". Com as
investidas desastrosas no MO os americanos deitaram pela janela fora todo o
capital de simpatia que tinham angariado com o 9/11 (não esquecendo que o Putin
foi então o primeiro líder mundial a disponibilizar o seu apoio ao Bush). Dito
isto, evidentemente que o 9/11 não ajudou a moderar o irredentismo americano.…
Luis Soares de Oliveira: Obrigado. Boas achegas.
NOTAS DA INTERNET:
Wikipédia:
1 - Henry John Temple, 3º Visconde Palmerston (Londres, 20 de
outubro de 1784 — Hatfield, 18 de
outubro de 1865), também chamado Lorde
Palmerston, foi
um estadista britânico, que serviu duas vezes como Primeiro-ministro do Reino Unido em
meados do século XIX. Palmerston dominou a política externa
britânica durante o período de 1830 a 1865, no auge do poder imperial da nação. Ele serviu o país em
cargos públicos praticamente de forma ininterrupta de 1807 até sua morte em
1865. De facto, Palmerston começou a sua carreira parlamentar no
partido Tory,
antes de se mudar para os Whig em 1830 e depois tornou-se o
primeiro líder do seu país do Partido Liberal, em 1859. Durante
boa parte do seu governo, ele desfrutou de boa popularidade com o povo
britânico. O biógrafo David Brown argumentou que "uma parte importante do
apelo de Palmerston estava em seu dinamismo e vigor."…..
Palmerston controlava a
opinião pública ao estimular ideias do nacionalismo
britânico. Embora a Rainha Vitória e
a maioria da liderança política não confiasse nele, Palmerston era apoiado pela
imprensa e pela população em geral, que costumavam chamá-lo "Pam".
A sua alegada fraqueza incluía a sua inabilidade de lidar com assuntos
pessoais e as suas desavenças com a rainha sobre o dever da Coroa em política
externa.
Historiadores colocam Palmerston como um dos melhores Secretários do
Exterior devido a forma como ele lidou com várias crises, seu comprometimento
com o equilíbrio de poder na Europa e no Mundo (que forneceu à
Grã-Bretanha uma agência decisiva em muitos conflitos), as suas habilidades
analíticas e o seu comprometimento em defender os interesses do Reino Unido. As suas políticas em relação à
Índia, China, Itália, Bélgica e Espanha tiveram consequências benéficas
extensas e duradouras para a Grã-Bretanha. As consequências de suas políticas
para a França, o Império Otomano e os Estados Unidos foram mais efémeras,
especialmente com este último, já que Palmerston considerou intervir na Guerra Civil
Americana, mas não o fez, preferindo focar em
assuntos europeus e não se associar com escravidão.
2 - FDR:
Franklin D. Roosevelt
32º presidente dos Estados Unidos
Franklin
Delano Roosevelt, também conhecido como FDR foi um advogado e político
norte-americano que serviu como o 32º presidente dos Estados Unidos de 1933 até
sua morte em 1945. Wikipédia
Nascimento: 30 de janeiro de
1882, Hyde Park,
Nova York, EUA
Falecimento: 12 de abril de 1945, Little White
House Historic Site, Geórgia, EUA
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