terça-feira, 15 de novembro de 2022

Porque não antes


Solidariedade democrática? Se a corrupção grassa, como se tem visto, a cada passo surgindo um novo caso, que fica impune ou leva tempo a resolver, numa justiça construtivamente lenta, e o PR apresenta uns ameaços de zanga futura apenas para apalhaçar mais um pouco um cargo de dignidade brincalhona, como também se tem visto, o PM não faz mais que proteger os a quem pertence, por escolha própria e alheia, que muitos fomos os que o apoiámos, como se viu, ele não tem que ter medo, nem nós de sentir vergonha por não conseguirmos nunca – pecha antiga – acompanhar o ritmo auto- suficiente dos outros povos. Trata-se de entreajuda fraterna, não isso de medo, que não tem razão de ser, farinha que somos do mesmo saco nobremente solidário, hoje, na democracia …

O Governo não sofre de arrogância, mas de medo

O poder socialista é demasiado vulnerável para ser compatível com a dignidade ou a decência.

RUI RAMOS, Colunista do OBSERVADOR

OBSERVADOR, 11 nov 2022, 00:2550

Há duas semanas que sabemos que o secretário de Estado adjunto do Primeiro-Ministro é suspeito de prevaricação em anterior cargo público. Ontem, foi acusado pelo Ministério Público. Isto quer dizer que houve, desde o princípio, matéria suficiente para ter dúvidas razoáveis sobre a sua continuação no Governo. Até alguns socialistas tiveram essas dúvidas em público. O Primeiro-Ministro, porém, permaneceu inabalável, à espera do curso da justiça. Só ontem, perante a acusação, achou que fazia sentido a demissão.

Acontece que ser formalmente acusado pelo Ministério Público ou estar preso às ordens de um Tribunal não podem ser as únicas razões para alguém não ser governante. Não é o Ministério Público nem são os tribunais que devem decidir quem faz ou não faz parte do Governo. É o Primeiro-Ministro, de acordo com critérios que terão a ver com a sua confiança, mas também com a confiança do público. Um membro do Governo tem de estar acima de suspeitas legítimas. É uma questão de autoridade. Um governante que não é respeitado não tem, de facto, “condições” para governar, esteja ou não acusado.

Nada disto é novo. Desde há anos que António Costa parece empenhado em utilizar as fragilidades dos membros do seu governo como uma espécie de ocasião para, resistindo a todos os apelos, provar que tem força. Quanto mais suspeito ou desprestigiado um governante, mais o Primeiro-Ministro insiste em mantê-lo. Como se temesse que outra atitude pudesse ser entendida como um sinal de debilidade. Esta é uma obstinação que tem uma origem muito óbvia: não vem da convicção da força, mas do receio de parecer fraco. Ora, só os fracos têm medo de parecer fracos. O corrente poder socialista está nesse caso.

Perguntar-me-ão: mas donde lhes vem esse medo, se até uma maioria absoluta têm? O facto é que essa maioria, talvez por demasiado acidental, não lhes deu segurança. A oligarquia socialista ocupa o Estado, controla as grandes instituições e empresas, e orienta a comunicação social. Com isso, consegue frequentemente reduzir a vida pública a uma bolha absurda, em que de repente descobrimos que está toda a gente, com um ar muito sério, a discutir André Ventura como se fosse o principal problema do país. Mas nem por isso a oligarquia socialista perdeu o seu medo do país: está no poder, mas perante uma sociedade com que não se identifica e em que não confia. Mais: devido à dependência financeira externa do Estado, demasiadas coisas estão fora do seu controle. Nunca sabe quando tudo pode mudar. Daí o despudor do seu assalto ao Estado, que encara como único instrumento de poder na sociedade portuguesa. Daí também esta necessidade de exibir força, como meio de esconder a sensação de fraqueza.

Que não há aqui genuína arrogância, viu-se pela reacção do governo àquele que foi até hoje o mais brutal de todos os actos de desrespeito institucional por um governante neste regime: o raspanete público que o Presidente da República se permitiu dar, em termos inaceitáveis, à ministra da Coesão Territorial. Noutros tempos, teria sido – e muito justamente – matéria de crise política: nenhum governante nem nenhum Governo aceitariam ser assim desautorizados em público. Mas a ministra fez que não percebeu, e o Primeiro-Ministro imitou-a, dissertando sobre a “criatividade” presidencial. Porquê? Se me disserem que é porque precisam de ter o Presidente da República do seu lado, ao ponto de serem obrigados a engolir todas as suas excentricidades e insolências, confirmam o que eu disse acima. O poder socialista consiste apenas no controle que um partido exerce sobre a máquina de um Estado que depende totalmente da União Europeia, e por isso é demasiado vulnerável para ser compatível com a dignidade ou a decência.

PS   POLÍTICA   GOVERNO

COMENTÁRIOS (De 50):

Tristão: A propósito do raspanete do presidente à ministra, quando vi as declarações, fiquei com uma impressão muito forte que Marcelo, parafraseando-o, já está “lelé da cuca”. Foram declarações ridículas, no modo e na forma, absolutamente inacreditáveis só entendíveis à luz de algum processo degenerativo cognitivo instalado, será?                  bento guerra: O povo é quem mais ordenha. Saiu o Costa                  Carlos Quartel: Nunca as palavras foram usadas com tanta propriedade. Falta de dignidade e de decência, carapuça que serve a quase todos os membros do governo. Ministros com familiares em negócios com o estado, subsídios atribuídos a maridos de ministras, secretários com processos às costas, nada falta.  A que se junta a insuportável arrogância de Costa, agora copiada pela ministra filha de ex-ministro, que contrata um recém licenciado, pagando-lhe mais do que ganha um director hospitalar, achando tudo isso normal e pondo fim ao assunto, com ar autoritário. Sopram ventos de impunidade   e  todos eles  mostram mau ar , quando interpelados.  Os gorilas estão atrás da porta .................            Maria Clotilde Osório: Bravo. Pela primeira vez vejo um comentário tão revelador da realidade que somos enquanto país. Governados por títeres (bonifrate, fantoche, marioneta) que se servem do Estado.               Filipe Paes de Vasconcellos: 1. Costa é um habilidoso! 2. Costa é um provocador! 3. A maioria absoluta do Costa e do seu PS não foi ganha pelos ditos mas sim oferecida pelo palermoide que supostamente deveria ter sido o líder da Oposição. Portanto, o Costa (e o seu PS) sabe que a maioria absoluta que lhe foi oferecida não a tem no terreno, e daí a dificuldade em a gerir. Costa porque se acha muito habilidoso julga que lançando estes casos e casinhos consegue provocar os portugueses para que se mantenham distraídos dos seus reais problemas. Por último, o artista do nosso governo, porque já torrou tudo o que havia a torrar do que lhe foi deixado por Pedro Passos Coelho, com os juros da dívida a subir e com a inflação a disparar quer provocar uma crise política e saltar fora do barco.               Domingas Coutinho: Ainda bem que o PS teve maioria absoluta para o País ver a realidade. Já diz o ditado “Se queres ver o vilão mete-lhe a vara na mão Eduardo Cunha: excelente artigo.              Diogo Tovar: Obrigado RR pela lúcida reflexão deste seu artigo. Bem haja.               José Paulo C Castro: Medo de não ter um Passos, um PSD ou uma oposição para culpar pela crise que aí vem. Se os próprios eleitores socialistas 'descobrirem' que a culpa é do PS e só do PS, com maioria e sem bloqueios, não sei o que acontecerá... A auto-demissão prévia começa a parecer a única saída. Falta o 'motivo' para explicar a esses eleitores. Se o PR fosse um 'pouquinho' mais criativo, dava jeito. Seria um Passos nesse sentido.             Sérgio: Brutalmente perfeito.

 

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