Solidariedade democrática? Se a
corrupção grassa, como se tem visto, a cada passo surgindo um novo caso, que
fica impune ou leva tempo a resolver, numa justiça construtivamente lenta, e o PR
apresenta uns ameaços de zanga futura apenas para apalhaçar mais um pouco um
cargo de dignidade brincalhona, como também se tem visto, o PM não faz mais que
proteger os a quem pertence, por escolha própria e alheia, que muitos fomos os
que o apoiámos, como se viu, ele não tem que ter medo, nem nós de sentir
vergonha por não conseguirmos nunca – pecha antiga – acompanhar o ritmo auto- suficiente
dos outros povos. Trata-se de entreajuda fraterna, não isso de medo, que não
tem razão de ser, farinha que somos do mesmo saco nobremente solidário, hoje, na democracia …
O Governo não sofre de arrogância, mas de medo
O poder socialista é demasiado vulnerável para ser
compatível com a dignidade ou a decência.
RUI RAMOS,
Colunista do OBSERVADOR
OBSERVADOR, 11 nov 2022, 00:2550
Há duas semanas que sabemos que o
secretário de Estado adjunto do Primeiro-Ministro é suspeito de prevaricação em
anterior cargo público. Ontem, foi acusado pelo Ministério Público. Isto
quer dizer que houve, desde o princípio, matéria suficiente para ter dúvidas
razoáveis sobre a sua continuação no Governo. Até alguns socialistas tiveram
essas dúvidas em público. O Primeiro-Ministro, porém, permaneceu inabalável,
à espera do curso da justiça. Só ontem, perante a acusação, achou que fazia
sentido a demissão.
Acontece que ser formalmente acusado
pelo Ministério Público ou estar preso às ordens de um Tribunal não podem ser
as únicas razões para alguém não ser governante. Não é o Ministério Público
nem são os tribunais que devem decidir quem faz ou não faz parte do Governo. É
o Primeiro-Ministro, de acordo com critérios que terão a ver com a sua
confiança, mas também com a confiança do público. Um membro do Governo
tem de estar acima de suspeitas legítimas. É uma questão de autoridade. Um
governante que não é respeitado não tem, de facto, “condições” para governar,
esteja ou não acusado.
Nada disto é novo. Desde há anos que
António Costa parece empenhado em utilizar as fragilidades dos membros do seu
governo como uma espécie de ocasião para, resistindo a todos os apelos, provar
que tem força. Quanto mais suspeito ou desprestigiado um
governante, mais o Primeiro-Ministro insiste em mantê-lo. Como se temesse que
outra atitude pudesse ser entendida como um sinal de debilidade. Esta é uma
obstinação que tem uma origem muito óbvia: não vem da convicção da força,
mas do receio de parecer fraco. Ora, só os fracos têm medo de parecer
fracos. O corrente poder socialista está nesse caso.
Perguntar-me-ão: mas donde lhes vem esse
medo, se até uma maioria absoluta têm? O facto é que essa maioria, talvez por
demasiado acidental, não lhes deu segurança. A oligarquia socialista ocupa o
Estado, controla as grandes instituições e empresas, e orienta a comunicação
social. Com isso, consegue frequentemente reduzir a vida pública a uma bolha
absurda, em que de repente descobrimos que está toda a gente, com um ar muito
sério, a discutir André Ventura como se fosse o principal problema do país.
Mas nem por isso a oligarquia socialista perdeu o seu medo do país: está no
poder, mas perante uma sociedade com que não se identifica e em que não confia.
Mais: devido à dependência financeira externa do Estado, demasiadas coisas
estão fora do seu controle. Nunca sabe quando tudo pode mudar. Daí o
despudor do seu assalto ao Estado, que encara como único instrumento de poder
na sociedade portuguesa. Daí também esta necessidade de exibir força, como meio
de esconder a sensação de fraqueza.
Que não há aqui genuína arrogância,
viu-se pela reacção do governo àquele que foi até hoje o mais brutal de todos
os actos de desrespeito institucional por um governante neste regime: o
raspanete público que o Presidente da República se permitiu dar, em termos
inaceitáveis, à ministra da Coesão Territorial. Noutros tempos, teria sido – e
muito justamente – matéria de crise política: nenhum governante nem nenhum
Governo aceitariam ser assim desautorizados em público. Mas a ministra fez que
não percebeu, e o Primeiro-Ministro imitou-a, dissertando sobre a
“criatividade” presidencial. Porquê? Se me disserem que é porque precisam de
ter o Presidente da República do seu lado, ao ponto de serem obrigados a
engolir todas as suas excentricidades e insolências, confirmam o que eu disse
acima. O poder socialista consiste apenas no controle que um partido exerce
sobre a máquina de um Estado que depende totalmente da União Europeia, e por
isso é demasiado vulnerável para ser compatível com a dignidade ou a decência.
COMENTÁRIOS (De 50):
Tristão: A propósito do raspanete do presidente à ministra, quando vi as declarações, fiquei com uma impressão muito forte que Marcelo, parafraseando-o, já está “lelé da cuca”. Foram declarações ridículas, no modo e na forma, absolutamente inacreditáveis só entendíveis à luz de algum processo degenerativo cognitivo instalado, será? bento guerra: O povo é quem mais ordenha. Saiu o Costa Carlos Quartel: Nunca as palavras foram usadas com tanta propriedade. Falta de dignidade e de decência, carapuça que serve a quase todos os membros do governo. Ministros com familiares em negócios com o estado, subsídios atribuídos a maridos de ministras, secretários com processos às costas, nada falta. A que se junta a insuportável arrogância de Costa, agora copiada pela ministra filha de ex-ministro, que contrata um recém licenciado, pagando-lhe mais do que ganha um director hospitalar, achando tudo isso normal e pondo fim ao assunto, com ar autoritário. Sopram ventos de impunidade e todos eles mostram mau ar , quando interpelados. Os gorilas estão atrás da porta ................. Maria Clotilde Osório: Bravo. Pela primeira vez vejo um comentário tão revelador da realidade que somos enquanto país. Governados por títeres (bonifrate, fantoche, marioneta) que se servem do Estado. Filipe Paes de Vasconcellos: 1. Costa é um habilidoso! 2. Costa é um provocador! 3. A maioria absoluta do Costa e do seu PS não foi ganha pelos ditos mas sim oferecida pelo palermoide que supostamente deveria ter sido o líder da Oposição. Portanto, o Costa (e o seu PS) sabe que a maioria absoluta que lhe foi oferecida não a tem no terreno, e daí a dificuldade em a gerir. Costa porque se acha muito habilidoso julga que lançando estes casos e casinhos consegue provocar os portugueses para que se mantenham distraídos dos seus reais problemas. Por último, o artista do nosso governo, porque já torrou tudo o que havia a torrar do que lhe foi deixado por Pedro Passos Coelho, com os juros da dívida a subir e com a inflação a disparar quer provocar uma crise política e saltar fora do barco. Domingas Coutinho: Ainda bem que o PS teve maioria absoluta para o País ver a realidade. Já diz o ditado “Se queres ver o vilão mete-lhe a vara na mão Eduardo Cunha: excelente artigo. Diogo Tovar: Obrigado RR pela lúcida reflexão deste seu artigo. Bem haja. José Paulo C Castro: Medo de não ter um Passos, um PSD ou uma oposição para culpar pela crise que aí vem. Se os próprios eleitores socialistas 'descobrirem' que a culpa é do PS e só do PS, com maioria e sem bloqueios, não sei o que acontecerá... A auto-demissão prévia começa a parecer a única saída. Falta o 'motivo' para explicar a esses eleitores. Se o PR fosse um 'pouquinho' mais criativo, dava jeito. Seria um Passos nesse sentido. Sérgio: Brutalmente perfeito.
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