sábado, 26 de novembro de 2022

O barro humano

 

O barro humano

Cada vez mais barrento. Ainda bem que Alberto Gonçalves pega no tema, com a habitual destreza intelectual, mau grado a insanidade mental destes tempos, que não impedirá o aborto de prosseguir e se enraizar neste espaço terráqueo, indiferente à indignação, suponho que geral, descontando as tais acefalias das competências falsamente apiedadas do costume, apenas desejosas de saliência…

O assassino que era “eles”

A militância LGBT&Cia. reconhece, sem reparar, o favorecimento que a sua cultura da vitimização suscita. Tanta lamúria contra o privilégio acabou por produzir peculiares nichos de privilegiados.

ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador

OBSERVADOR, 26 nov 2022, 00:224

Há dias, numa cidade do Colorado, um sujeito armado entrou numa discoteca gay, matou cinco pessoas e feriu dezoito. O acontecimento tinha tudo para excitar os “media”, que à questão do controlo das armas podiam acrescentar o “crime de ódio”, protagonizado pelo típico fanático de extrema-direita, motivado pela “homofobia”, o “fascismo”, o “trumpismo”, o “divisionismo”, o “racismo”, a “supremacia branca” e a reacção conservadora ao avanço das políticas “identitárias”. As redes sociais já acendiam fogueiras e preparavam a festança. Estava a caminho um drama nacional, quiçá global.

Infelizmente, os advogados do homicida tornaram pública a informação de que este se diz “não-binário” e que atende pelos pronomes “they/them”. Ou seja, que em princípio integra a popular “comunidade” LGBTPlus. Num ápice, a maioria dos “media” moderou o assunto quase ao ponto do sumiço. Quanto às redes sociais, e a uma minoria rija dos “media”, aproveitaram as fogueiras entretanto acesas para, inabaláveis, prosseguir o berreiro contra a “homofobia”, o “fascismo”, o “trumpismo”, etc. E para colocar em causa que o assassino seja de facto aquilo que diz ser.

Aqui é que a história começa a ficar interessante. O primeiro mandamento nas Novas Tábuas da Lei ordena: “Nunca duvidarás da forma pela qual um indivíduo se identifica, ou do género que adopta, opções que respeitarás cega e inequivocamente”. Sucede que, no caso do homicida do Colorado, houve quem desatasse a duvidar. Para inúmeros simpatizantes da “causa” LGTBExtra, o homicida é mentiroso e os advogados do homicida são mentirosos. Dando voz aos gritos de milhares de anónimos, uma transsexual convidada pela CNN diz que viu imagens e concluiu de imediato tratar-se de um homem, e dos “binários”.

Não sei se a tal transsexual da CNN também não seria apenas um moço com peruca. Sei que, a partir do instante em que se manda às malvas o direito à “auto-identificação” de acordo com interesses circunstanciais, a arbitrariedade do exercício é exibida às claras. Urge, pois, reescrever o primeiro mandamento: “Nunca duvidarás da forma pela qual um indivíduo se identifica, ou do género que adopta, opções que respeitarás cega e inequivocamente, excepto se isso criar engulhos aos delírios que gostamos de espalhar”. De repente, a possibilidade de se poder fingir ser o que não se é torna-se real. E, com uma crueldade que só se conhecia no heteropatriarcado branco, passe o pleonasmo, despacha-se o pobre homicida com os pronomes “he/him”.

O empenho em recusar a alegada escolha do homicida é engraçado. O argumento subjacente tem mais graça: o homicida, garantem, mente para ser beneficiado na Justiça. Vamos admitir que a conversa do “não-binário”, por parte do atirador, é mesmo conversa, como aliás costuma acontecer. O ponto não é o logro, e sim as consequências do logro. A militância LGBT&Cia. reconhece, sem reparar que reconhece, o favorecimento que a sua cultura da vitimização suscita. Tanta lamúria contra o privilégio acabou por produzir peculiares nichos de privilegiados, uma piada cuja “punch line” se perde logo que percebemos o respectivo perigo.

A cartilha “identitária” pode ser primitiva, cómica, infantil e, conforme provam as reacções ao trágico episódio do Colorado, facilmente exposta ao ridículo. É ridículo definir indivíduos segundo traços privados, socialmente irrelevantes e frequentemente inventados. E é de um ridículo maior impor a todos a categorização determinada por cada um. Mas sobretudo a cartilha “identitária” é perigosa, e perigosíssima no estranho universo da propaganda “trans”.

Uma coisa é uma criatura – uma criatura que não sofra de rara disforia de género – imaginar ser o que evidentemente não é, desde um espécime do sexo oposto a um exemplar de espécie diferente, passando por uma personagem de ficção ou um objecto inanimado. Outra coisa é sermos compelidos a participar na farsa, sob pena de acusações de intolerância e, não se riam, “bullying”. Outra coisa ainda é transformar (com trocadilho) a farsa em programa, o programa em lei, a lei em crime, o crime em negócio. O inexplicável subsídio de 1200 dólares mensais que, na semana passada, a cidade de São Francisco entendeu distribuir entre uma quantidade por enquanto reduzida de transsexuais é praticamente um gesto inócuo, se comparado com a mutilação hormonal e física de menores de idade. Nos EUA e no Canadá, milhares de meninos e meninas que anteontem acharam “giro” declararem-se meninas e meninos são hoje submetidos a “tratamentos” para uma doença de que não padecem. E há pais, escolas, televisões, médicos e autoridades que, excitados por dinheiro, ideologia ou distúrbio mental, incentivam e patrocinam a atrocidade.

Por cá, estamos nos primórdios de tamanho impulso civilizacional. Temos partidos mortinhos por trocar o sexo de fedelhos. Temos escolas com casas de banho à vontade do freguês. Temos um hospital público com “redução do tempo de espera das intervenções” à “população transgénero”. E teremos a proposta do Livre, que agora se enfiou no OE e prevê um plano “interseccional” de “formação” em “direitos humanos” aos funcionários públicos. E que inclui uma atenção natural aos “conteúdos” sobre “pertença étnica”, “multiculturalidade” e, não falha, “LGBT”, com peso enorme do “T”. Às sumidades que aprovaram isto, a AR em peso com o voto contra do Chega e a abstenção do PSD, não ocorre a fundamentação nula destes “avanços”, não ocorre que os cidadãos são iguais perante o Estado, e não ocorre que a discriminação, negativa ou positiva, é sempre negativa para alguém. Ou ocorre, o que é bem pior. Dividir para reinar, hierarquizar para oprimir.

Até ver, do circo de horrores montado nos enclaves “progressistas” da América do Norte separa-nos o espaço do oceano e o tempo da periferia que somos. Mas a coisa faz-se. No que toca à importação de demências, os portugueses são submissos. Embora não se identifiquem assim.

IDENTIDADE DE GÉNERO   SOCIEDADE   JUSTIÇA

COMENTÁRIOS:

Alcides Longras: À imagem de inúmeros "activismos" e "revoluções" que se promovem ad aeternum, a identidade de género auto-alimenta-se e, infalivelmente, auto-destruir-se-á. Lamento as vítimas que, no tempo em que duram estas corridas em círculos, irão tombar ao ciclo vicioso que a super-humanidade insiste em promover.                     Manuel Martins: Este caso, e outros que temos por cá, são a consequência da tendência de proteger e beneficiar as minorias. O problema está na discriminação invertida que, se é óbvia na comunicação social, já atingiu a justiça: qualquer crime é mediatizado e tem pressão política para a condenação pesada se for cometido por homens branco heteros, mas se for cometido por mulher, alguém lgbt ou minoria, tal não ocorre ou então ocorre no sentido da desculpabilização (a tal culpa da sociedade que " obrigou" a " vitima da sociedade " a cometer crimes)                    Fernando Cascais: Quando Deus construiu Adão e Eva no seu laboratório celestial estes não tinham sexo, eram anjas. Foi o Diabo disfarçado de falo rastejante que tentou Adão a colocar o acessório. Assim que Adão adulterou a obra de Deus começou a olhar para o rabo de Eva com intuitos maliciosos. Eva gostou de ser observada e adulterou-se também para acolher Adão. Deus zangou-se com os dois e disse à anja Gabriela para os expulsar do reino. As famosas anjas caídas são Adão e Eva, que com os acessórios malignos e géneros diferentes reproduziram a Terra. Bem, ou isto ou os Anunnakis, os deuses astronautas, que quando chegaram ao nosso planeta precisaram de uma pilinha para fecundarem algumas primatas mais evoluídas para criarem a raça humana. Em qualquer dos casos o acessório ficou. Não obstante, a fórmula de Deus ou dos deuses astronautas ficou inscrita no nosso ADN, e hoje, com o nosso desenvolvimento evolucional, demos conta que nos podemos livrar do acessório e voltarmos ao estatuto de anjas ou de seres universais. Os movimentos LGBT são o primeiro passo para ultrapassarmos a fronteira do homem-macaco e aproximarmo-nos dos deuses. Felizmente que não vai ser no meu tempo, porque, sempre dei muita importância ao meu acessório. Num futuro breve, a reprodução será laboratorial, e, se num futuro mais distante descobrirmos a imortalidade, deixamos de ter necessidade de nos reproduzirmos. BFS                    Alcides Longras > Fernando Cascais: Se para uns, o "acessório" diz-se ter sido "mal distribuído", para outros torna-se evidente que faltam certos acessórios. Como aquela protuberância entre os ombros. Ou então estamos perante um caso de "identidade cerebral" e, neste, a opção pretendida seja pelo "acéfalo"...

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