Habituados que a isso estamos. “Quanto é melhor esperar por D. Sebastião…” mesmo sem bruma.
O “traidor”
Ronaldo já dera indícios de perdição. Daí a precipitar-se na Geena
da Casa Branca na comitiva do mafarrico Mohamed Ben Salman para cair nos braços
do Grande Satã seria um passo.
JAIME NOGUEIRA
PINTO Colunista do Observador
OBSERVADOR, 29
nov. 2025, 00:1854
Como sabem todos os que me conhecem, não percebo nada de futebol. Mas
sei que Cristiano Ronaldo é capitão da selecção nacional e um grande jogador de
futebol, talvez o melhor do mundo. E também que é o português mais famoso do globo. Sei ainda que se chama Ronaldo em homenagem a Ronald Reagan, o tal
que, antes do advento de Trump, era “o actor de segunda” preferido da Esquerda,
o representante máximo do mais abjecto
fascismo, da mais extrema das extremas direitas. Um sinal
premonitório, talvez.
Ronaldo já dera indícios de
perdição: caíra na blasfémia de falar da sua fé em Deus, incorrera na heresia
de se manifestar contra a agenda “cultural” das novas esquerdas e cometera o
pecado capital de dizer bem de Trump. Daí a precipitar-se na Geena da
Casa Branca na comitiva do mafarrico Mohamed Ben Salman para cair nos braços do
Grande Satã seria um passo.
“Entrou por terrenos que não
domina” – afirmou doutoralmente um especialista, desses que, se
deixarmos, nos entram em casa para nos explicarem o mundo. Ronaldo
podia ser muito bom nos terrenos relvados, a correr e a dar chutos na bola, mas
não percebia nada dos complexos
terrenos da alta política e estratégia internacional (que eles, especialistas,
dominavam). No fundo, não
passava de um futebolista iletrado de Câmara de Lobos que cometera “o engano”
(ou, menos insultuoso para Ronaldo mas mais grave para Portugal e para o mundo,
“a traição”) de se sentar à mesa com o Hitler norte-americano, a estrela negra
de todos os polígrafos, o símbolo da direita radical e do populismo neo-fascista.
E depois, Ronaldo era um funcionário da Arábia Saudita, um “animal de
companhia” do Xeique, que se deixara passear até à Casa Branca pela trela das
suas obrigações contratuais, a fim de branquear o regime saudita e amaciar o Ogre
norte-americano, que, como é sabido, se alimenta de celebridade e de
celebridades (sendo, de resto o único político que usa e aprecia a iguaria).
Sim, Ronaldo, carente de palco e de
atenção, queria palco e atenção, o pobre queria estar entre bilionários e
ombrear com os poderosos da terra…
Mas se queria palco, enganou-se, porque – sempre segundo os
especialistas nacionais – foi parca a projecção internacional do crack português. Ainda que a sua visita à Casa Branca tivesse saído
com destaque em alguns órgãos de comunicação de somenos (New York Times, Le Figaro, C-News, Paris
Match, 24 heures, El País, ABC, La Razón), o que era essa
efémera glória, perante a gravidade do acto que cometera? Não mais do que os
trinta dinheiros de Judas, a vil recompensa por uma inqualificável traição à
pátria (ou melhor, à boa opinião dos fazedores de opinião da pátria).
Isto e muito mais disseram os media e os comentadores
domésticos que não costumam falhar sobre a América (excepto, talvez, quando da eleição americana de 5 de Novembro de
2024, que afinal Kamala Harris não ganhou, ou quando, nas anteriores
presidenciais, apostaram tudo na Administração Hillary). Engano,
ignorância, ambição, ganância, traição, tudo isso estaria por detrás do abjecto
comportamento de Ronaldo.
Tudo menos a motivação mais simples – a avançada pelo conhecido editor de desporto do New York Times, Henry
Bushnell, em “Ronaldo, Trump, MBS at the White House? This is the world in 2025
(and World Cup in 2026)”.
E o que dizia Bushnell no editorial, depois de elaborar sobre o interesse mútuo de Trump e Ronaldo no
encontro e sobre os vários interesses desportivos, económicos e políticos em
jogo no jantar da Casa Branca? Dizia que, quanto a Ronaldo, devia
conceber-se a explicação mais simples (que é também a mais inconcebível para a
nossa “boa opinião”): que o futebolista português quisera conhecer Trump
porque – imagine-se – admirava Trump, para ele o único capaz de acção, ou da
acção necessária para se pudesse fazer a paz. De resto,
tinha-o dito claramente a Piers Morgan: “Gostava
um dia de o encontrar … Quero mesmo estar com ele, aqui ou onde quer que seja,
porque ele é uma das pessoas que podem fazer as coisas acontecer. E eu gosto de
gente assim”.
Ora Cristiano podia passar entre os pingos da chuva com uma
declaração destas na América, mas não aqui, não em Portugal. Aqui não se
pode gostar de “gente assim”. Aqui, só gostam de “gente assim” os
ignorantes, os enganados, os ambiciosos, os gananciosos, os traidores.
Pensando bem (ou tão bem como os nossos bem-pensantes) deve até ter sido para subir na
consideração geral, começando por subir na consideração doméstica, que Donald
Trump, o odioso pináculo da “gente assim”, quis ter Ronaldo na Casa Branca,
chegando mesmo a confessá-lo no discurso do jantar. Disse o
Presidente norte-americano que quando apresentou Ronaldo a Barron, seu grande fã,
subiu na consideração do filho: “I think
he respects his father a little bit more now” .
Como é sabido, contribuir para
que Donald Trump suba na consideração de quem quer que seja é um pecado capital
e um acto de traição. E vindo de Cristiano Ronaldo, uma das bandeiras
nacionais, a traição é à pátria.
Não admira que o país mediático tenha ficado entre o choque e a incredulidade.
Efeitos do TDS, Trump dérangement
syndrome, que não os poupa.
A SEXTA
COLUNA HISTÓRIA CULTURA CRISTIANO
RONALDO FUTEBOL DESPORTO
COMENTÁRIOS (de 54)
José Cortes: Devia-se ler mais Ayn Rand e perceber o
Objectivismo. Que nunca se lhe canse a pena, Jaime Nogueira Pinto. Antonio Madureira: Excelente análise! Parabéns. Luis Silva > Manuel Gonçalves: Alguns boys pensam, na sua cegueira, que vêem
mais que os outros. João
Floriano: Jaime
Nogueira Pinto escreveu a crónica VERDE. Já tínhamos a canção O Nosso Amor é
Verde. O Cristiano Ronlado é Verde de coração porque foi no Sporting que
começou a sua carreira de grande futebolista. Verde também é a inveja nacional,
esse grande defeito tipicamente nosso. Finalmente é Verde como as uvas
cobiçadas pela raposa que como as não conseguia alcançar, voltou-lhes a cauda felpuda com ar de
desprezo. Mas quando um bago caiu, a raposa cheia de esperança voltou para o
reclamar. São como raposas desdenhosas os que censuraram Ronaldo por se ter
banqueteado com a vinha inteira. Não sou dos que idolatra Ronaldo, mas
reconheço-lhe enormes qualidades de trabalho, persistência, disciplina, amor
pelo que faz, que o tornam um caso de excepção e de exemplo em Portugal e no
mundo. Mas como diz o ditado: «Os cães ladram e a caravana passa». Maria Emília Santos: Óptimo artigo, disse tudo o que era preciso! As
coisas são assim, porque a comunicação social em Portugal pertence à esquerda e
logo, só tem direito a antena quem é de esquerda! Trump e Cristiano Ronaldo são
de direita, por isso é preciso denegri-los! O que Cristiano Ronaldo devia
fazer, era criar um canal de televisão neutra, em Portugal, que defenda a
verdade e informe os portugueses da realidade! Parabéns Cristiano Ronaldo pela coragem
de enfrentar os mentecaptos ideológicos! O mais importante para nós
portugueses, neste momento, era uma comunicação social neutra, que nos
permitisse ser livres! A Cristiano Ronaldo fica o pedido dos portugueses da
criação de um canal de televisão NEUTRO! UM CANAL DE NOTICIAS QUE NOS TORNE
LIVRES! Maria Cordes: O pensamento português, se é que existe, está
espartilhado por uma censura muito mais efectiva e obscurantista, do que a do
lápis azul do Estado Novo. Quem discordar, é condenado à fogueira e no
inconsciente, vai-se forjando uma censura interior. Quem há dois ou três anos,
dizia alto e bom som, numa sala, que votava Chega? O choque era semelhante ao
de anunciar que iria iniciar uma sessão de striptease. Nos muceques que se
criaram em Portugal, o Chega é admirado, sem constragimentos. Lily Lu: Grande Cristiano. Maria Nunes: Excelente artigo JNP. granel cardoso: Na mouche, obrigado, JNP Manuel Gonçalves: O putino-trumpismo é uma realidade muito
perigosa: Já morreram centenas de milhares, provavelmente mais de um milhão de
pessoas, às mãos do ogre Putin, com quem Trump, por si ou pelos seus amigos/
intermediários mais próximos, tem óptimas relações; Corrupção e nepotismo nos
EUA a uma escala nunca vista no mundo ocidental das últimas décadas; Destrate e
traição dos aliados; Veneração dos regimes totalitários - até com a actual
Venezuela ele se entende, se tiver vantagens pessoais, familiares ou de grupo;
Tudo num invólucro de publicidade e propaganda, para enganar os ingénuos. Mas
enfim, há quem não veja nada e se dedique a artigos “ Alberto Gonçalves “ Maria
Helena Oliveira: Hilariante. Manuel
Magalhaes: Cristiano
Ronaldo é uma pessoa completamente independente pois toda a notoriedade que
conquistou foi por mérito próprio e por isso não deve nada a ninguém e está no
seu pleno direito de fazer, dizer e ter as opiniões que muito bem entender, nós
portugueses é que temos de lhe estar agradecidos por, repito, por mérito
próprio ter projectado o nome de Portugal no mundo da forma como o tem feito e
sem nos pedir nada em troca!!!
Sr Leão: JNP, mais um artigo que, sendo de opinião,
também é de verdade. Américo
Silva: Muito
bem! Francisco
Almeida: Não posso
deixar de notar que muitos dos que consideram Ronaldo traidor, não disseram
palavra sobre o silêncio de Marcelo depois do discurso de João Lourenço. Maria
Tubucci: Soberbo,
Sr. JNP. Uma das “especialistas” de entre as muitas que habitam nas TVs até
disse que, “Ronaldo era o cão de mão do príncipe”. Que jumenta, que
valente dor de hastes! Como se a opinião dela contasse para algum coisa, além
do dinheiro que recebe para vomitar baboseiras. Só resta saber se as baboseiras
vieram daquela cabeça woke ou de alguém que lhe ordenava no ouvido para ela as
repetir…. maria
santos: Disse
um ilustre idiota, que não cabe nomear, que Cristiano Ronaldo "entrou em terrenos que não domina"
Eu também, quando sou convidada a ir a casa de alguém e aceito, não domino a casa
alheia, sinto-me é lá bem. Ronaldo é
o exemplo do equilíbrio entre a soberba inteligência e a soberba
força de vontade. Equilíbrio,
desde miúdo. Nuno
Abreu: Gostei.
Oportuno. Uma pedrada no charco da estupidez! L Faria: Eu assisto fervoroso às palestras televisivas
dos nossos comentadeiros com lugar cativo nas tvs. É um espectáculo hilariante.
A certeza com que dizem as coisas. A forma convicta como se consideram
sumidades nas balelas que soltam da boca para fora. Aprecio particularmente uma
comentadora da sic, especialista, imagine-se, em assuntos intencionais, e a
forma, quase orgásmica, como explica a superior inteligência e sabedoria de
quem? Lula da Silva. É de chorar a rir. Assistam, é divertido. Carlos
Chaves: Caríssimo Jaime Nogueira Pinto, obrigado por
esta excelente e certeira crónica, do princípio ao fim! Só é pena admirar-se um
Trump que vai condenar a Europa novamente a uma guerra, é certo que por culpa
própria, por abandono dos seus aliados de quase dois séculos e meio, não dando
valor nenhum aos acordos internacionais e aos valores humanos! Pena, é pouco,
com amigos destes não precisamos de inimigos! Alexandre
Barreira: Pois. Caro
Jaime, Tem toda a razão. E o "rapaz"....está-se "kaghando".
Prá......."pantalha".....! Graciete Madeira: Excelente
crónica. MariaPaula Silva: Excelente
e hilariante relato sobre a invejinha dos tugas (e a muita falta de cultura!!!) Neste
país perdem-se horas infinitas a comentar m&rdices e a discutir tremoços. José Mendes Gil: Acho
que Ronaldo tem todo o direito de ser admirador ou amigo de Trump; o que se
pode questionar é se devia ir integrado numa comitiva do príncipe da Arábia
Saudita que não respeita os direitos humanos. Filipe
Paes de Vasconcellos: Uma
tristeza vê-lo naquela sala de vendedor de gravatas. Isto de fazer acontecer
não é uma qualidade, mas sim, no caso, um defeito. CR7 não precisava disto. MCMCA A > Maria Cordes: A censura inconsciente é muito mais terrível
que a do lápis azul porque escraviza intelectualmente fechando as pessoas num ghetto
ideológico. Vejo pessoas de direita (algumas até inteligentes) regozijando-se
com a vitória de Mandani em NY, desconhecendo a sua agenda ideológica , só
porque é contra Trump. Carlos Carvalho: Fantástico! S N: Nada a obstar quanto ao que é
referido a Ronaldo. Pelo contrário, todas as reservas quanto ao elogio a Trump
e à sua administração. A vitória de há um ano pouco surpreendeu. Apesar dos
Riscos enormes, Kamala era demasiado má. Por isso os próprios democratas
insistiram em manter Biden, porque ele ainda poderia ter hipótese de ganhar a
Trump... Enfim, aí está uma tragédia americana e de todo o mundo, a desvendar
por capítulos, mas inequívoca e assustadora. Mas não para todos. Francisco
Ramos > Maria Emília Santos: Bem dito e melhor pensado.