Nos procedimentos teóricos, que tudo
emperram e retardam, em nome da convenção, limitando, por vezes, uma prática de
trabalho mais honestamente activa e eficiente, sendo, quanto a mim, um
verdadeiro cancro social. É o caso, por exemplo, do que se passa na Educação: Nunca, como depois do 25 de Abril, os
professores tiveram tanta papelada – monocórdica, megalómana e as mais das
vezes inútil e falsa – a preencher, bla bla bla esgotante e castrador, que
pretendendo ser mais controlador e rigoroso, na realidade, pela perda
massacrante de tempo, é obstáculo a uma formação científica docente mais apurada,
com reflexos, certamente, sobre a formação discente. Mas é apenas um exemplo
desta “burrocracia” que, alastrando, vai empatando, numa prática atulhadora de
vazio, impeditiva de um real desenvolvimento nos vários níveis trabalho, para o
progresso real de uma nação.
Os rezingões
da vida /premium
O problema da burocracia não é a burocracia. É o mau uso que se faz
dela. E a forma como, amiúde, é vista, como o “lado A” da corrupção.
EDUARDO SÁ
OBSERVADOR, 18 abr 2021
É claro que há sempre um formulário.
Um código de conduta. Uma avaliação de desempenho. Um protocolo. Uma prova
concursal. Um provedor do cliente. Um livro de reclamações. Um questionário de
qualidade. Uma curva normal. Um manual de boas práticas. Ou uma comissão
técnica. E mil
coisas mais que fazem da burocracia uma rede de procedimentos criada para que o
mundo se torne mais transparente. E, por inerência, mais justo; claro. Mas,
depois, fica-nos a sensação que nem sempre estes instrumentos
estarão, todos eles, aliados com a verdade. E que este ideal burocrático talvez
nem sempre bata tão certo assim.
Porque, doutro modo, não haveria tantas pessoas a reclamar pela humanização (da
saúde), pela equidade (na justiça) ou pela transparência (na política), por
exemplo. Ou seja, nem sempre a burocracia parece ter-se tornado o “atalho”
mais seguro para se chegar até à honestidade e à justiça. E para que o mundo se
torne mais humano.
Mas,
nem por isso, a vida parece ser inseparável daquilo que é burocrático. A ponto
de ela ser pontuada por uma nova categoria de pessoas — os burocratas — que se
tomam como “os donos da verdade”. Que
parecem ter os mesmos trejeitos. Que adoram as reuniões intermináveis. Que, muitas
vezes, falam para se ouvirem. Que confundem clarividência com populismo. E que
olham para quem não burocratiza a vida, em todos os seus pormenores, como se
essas pessoas fossem, sobretudo, “habilidosas”.
O que faz com que elas estejam, quase permanentemente, sob um sufrágio (severo)
por “mau comportamento”. Como se os “bem-comportados” fossem aqueles que
aceitam as “regras da burocracia”, sem as questionar. (E esses se
tomassem como os mais “honestos” entre os mais honestos.) E os
“inadaptados” aqueles que entendem que os formatos esdrúxulos dos procedimentos
burocráticos são, em muitos momentos, obstáculos feitos de meias-verdades
que parecem alimentar uma atmosfera com que se corrompe, muitas vezes, a
verdade. “Arredondando-a”. Que faz com que as coisas, tal como as vemos e como
as sentimos, por vezes, “não existam”, exactamente como elas nos tocam.
Seja
como for, os exageros ou as mentiras da burocracia serão o
exemplo das “más práticas” dum instrumento que nasceu para trazer paridade e
honestidade ao mundo das pessoas. E que se ancora numa ideia de justiça. Logo,
o problema da burocracia não é a burocracia. É o mau uso que se faz dela. E a
forma como, amiúde, é vista, como o “lado A” da corrupção.
A verdade é que aqueles que
transfiguraram um ideal de honestidade e de justiça numa rede de procedimentos
que espartilham a liberdade e a verdade fazem parte duma categoria de pessoas
que não nasceu com a burocracia; existiu desde sempre. Que se dissemina pela política, pela
educação, pela justiça, por exemplo. E que são uma espécie de “rezingões da
vida”. Que entendem que o mundo das
pessoas carece de espartilhos. De unicidade. E de “bom comportamento”. Os
“rezingões da vida” incomodam-se com a vida! Com a pluralidade e com o
contraditório. Com as pessoas que acreditam. Com aquelas que se desassossegam.
Ou com as que batalham, que se insurgem e que reclamam. Ou, ainda, com aquelas
que, com a sua luz, pensam e interpelam. E, talvez por isso,
os “rezingões da vida” se dêem mal com a cultura. Com a educação. Com a
justiça. E com a liberdade, claro.
Como
pode um mundo, tantas vezes afundado em ideias pré-fabricadas de bom
comportamento, ser a casa comum de todas as pessoas? — será esse o desafio que
temos em mãos. E como pode, em nome da inteligência e do bom senso,
ter um rosto humano? E uma dimensão de equilíbrio para com a verdade que a
todos nos una? E como pode, enfim, ser mais justo e mais honesto?
O mundo que inventou a burocracia (e
que, em muitos momentos, se atolou nela) não seria, em muitos momentos, diferente
do nosso. Era um mundo que se queria a si próprio mais justo. Mais honesto. E
transparente. E que, mesmo com outras limitações, não se intimidou nem com os
“donos da verdade”. Nem com os obstáculos feitos de meias-verdades que parecem
alimentar uma atmosfera com que se corrompe, muitas vezes, a verdade. O mundo
que não aprende com os seus erros não é o mundo da burocracia. É um mundo
esdrúxulo feito de “rezingões da vida”. Que perdem a noção de perspectiva. E
que entendem que o seu olhar é uma verdade tão inatacável que não carece de
contraditório para ser verdade.
ESTADO POLÍTICA CORRUPÇÃO JUSTIÇA
COMENTÁRIOS
Francisco
Tavares de Almeida
A
necessidade de administração pública preenche-se com funcionários, que em tempo
foram chamados servidores públicos. Burocratas são já uma classe corporativa
que coloca os seus interesse acima dos do público - ou dos cidadãos - que devia
servir. Uma das mais naturais (no sentido de previsíveis)
evoluções para quem serve interesses de grupo é começar a privilegiar o
"seu" grupo; é o
nepotismo. O estádio seguinte é passar a
servir-se a si próprio; é
a corrupção. O autor não tem razão quando diz que a burocracia
era originariamente boa; isso era o serviço público. A burocracia nasceu
má, evoluiu para muito má e culminou péssima.
bento guerra:
A velha "cunha" não é do seu tempo?
josé maria: Burocracia e
ajustes directos potenciam a corrupção. É aí que reside o ovo da serpente...
NOTAS DA INTERNET
Burocracia
Origem:
Wikipédia, a enciclopédia livre.
De
acordo com a sociologia das organizações, a burocracia é
uma organização ou estrutura organizativa caracterizada por regras e
procedimentos explícitos e regularizados, divisão de responsabilidades e
especialização do trabalho, hierarquia e relações impessoais. Em
princípio, o termo pode referir-se a qualquer tipo de organização - empresas
privadas, públicas, sociais, com ou sem fins lucrativos.
Popularmente, o termo é também usado
com sentido pejorativo, significando uma administração com muitas divisões,
regras, controles e procedimentos redundantes e desnecessários ao funcionamento
do sistema, veja por exemplo, em red tape.
Etimologia
O
termo grego antigo πυρρός, translit. purrós ("cor
de fogo") deu origem à palavra latina burrus ("marrom
avermelhado"), da qual se originou, em latim vulgar,
o termo bura(m), que designa um pano grosseiro de lã de cor marrom
avermelhado, que, em francês, era chamado burel.
Esse tecido (geralmente pardo, marrom ou preto), usado para confeccionar
a vestimenta dos monges e penitentes, era também empregado para forrar a
superfície sobre o qual se faziam contas e passou a designar a própria mesa de
trabalho. O
termo acabou por se estender às escrivaninhas das repartições públicas. Daí
deriva a palavra bureau, que inicialmente se referia às mesas de trabalho
cobertas com esse tecido e, posteriormente, por sinédoque, passou a designar todo o
escritório.
A
um negociante e funcionário do governo francês
do século XVIII, Jacques Claude Marie
Vincent, Seigneur de Gournay (1712-1759, economista), atribui-se a criação do
termo bureaucratie, por volta de 1740. O
termo se aplicava a todas as repartições públicas e tinha um sentido bem
crítico e irônico. Embora Gournay não tenha deixado registro escrito da
palavra, isso foi feito em uma carta de seu contemporâneo, o enciclopedista Barão von Grimm:
O
falecido M. de Gournay (...) costumava dizer: "Temos […] uma
doença que faz muitos estragos; essa doença se chama buromania. Às vezes ele se
referia a isso como uma quarta ou quinta forma de governo, com o nome de
burocracia."
Assim,
"burocracia" é um termo híbrido, composto pelo francês, bureau (escritório) e pelo grego, krátos (poder ou regra),
significando uma forma de dominação exercida por funcionários de escritórios.
O Modelo de Max
Weber
De
acordo com Max Weber, os atributos da burocracia
moderna incluem a impessoalidade, a concentração dos meios da administração, um
efeito de nivelamento entre as diferenças sociais e econômicas e a execução de
um sistema da autoridade que é praticamente indestrutível.
A
análise weberiana da burocracia relaciona-se a:
As
razões históricas e administrativas para o processo da burocratização (especialmente na civilização ocidental);
O
impacto do domínio da lei no funcionamento de organizações burocráticas;
A
orientação pessoal típica e a posição ocupacional dos oficiais burocráticos
como um grupo de status;
Os
atributos e as consequências mais importantes da burocracia na organização
burocrática no mundo moderno.
Princípios da Burocracia
Uma organização burocrática é
governada por sete princípios:
O
negócio oficial é conduzido em uma base contínua de conhecimento empírico;
O
negócio oficial é conduzido estritamente de acordo com as seguintes regras:
O
dever de cada funcionário ao fazer certo tipo de trabalho é delimitado em
termos de critérios impessoais;
O
funcionário tem a autoridade necessária para realizar suas funções tal como
definidas;
Os
meios de coerção à sua disposição são estritamente limitados e seu uso é
estritamente definido.
A
responsabilidade e autoridade de cada funcionário são partes de uma hierarquia
de autoridade vertical, com respectivos
direitos de supervisão e apelação;
Os
funcionários não são proprietários dos recursos necessários para desempenho das
funções a eles atribuídas mas são responsáveis pelo uso desses recursos;
A renda e
os negócios privados são rigorosamente separados da renda e negócios oficiais;
O escritório não pode ser apropriado
pelo seu encarregado (herdado, vendido, etc.);
O negócio oficial é conduzido na base de
documentos escritos.
Um funcionário burocrático:
é
pessoalmente livre e nomeado para sua posição com base na sua habilitação para
o cargo;
exercita
a autoridade delegada a ele de acordo com regras impessoais, e sua lealdade é
relacionada à execução fiel de seus deveres oficiais;
sua
nomeação e a designação de seu local de trabalho dependem
de suas qualificações técnicas;
seu
trabalho administrativo é uma ocupação de tempo integral;
seu
trabalho é recompensado por um salário regular e a perspectiva de
avanço em uma carreira por toda a vida.
Um funcionário deve exercitar seu
julgamento e suas habilidades, colocando-os, porém, a serviço de uma autoridade
mais elevada. Em última instância, é responsável somente pela execução
imparcial de tarefas atribuídas e deve sacrificar seu julgamento, caso esteja
em conflito com seus deveres oficiais.
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