segunda-feira, 12 de abril de 2021

“Nós salvámo-nos na fuga”

 

Já aqui o referi, este verso da poesia “NÓS” de Cesário Verde: a família foi para o campo, para fugir da peste. Uma peste adiada, pois a tuberculose lá estava, a ceifar-lhe a vida bem cedo. Fugir da peste, fugir da selva, fugir da guerra, fugir do perigo, fugir da responsabilidade… É apenas um adiamento. Poupa-se a vida, por vezes a dignidade – verdadeira ou falsa…

Às vezes resulta em brilho: sai-se de um ministério para outro. E em glória, o que é sempre bonito. Que importância tem a verdade? O que conta é a glória, sobretudo se traduzida em rupias, libras, dólares, euros, ienes ou rublos…

A verdade está em cada um de nós, embora exista uma Justiça modelar... Que só conta para os que não têm euros, nem rupias, nem escudos nem libras, nem dracmas antigos… Uma Justiça séria, modelar, carismática, do antigamente… se é que existia mesmo, antigamente...

É essa a verdade. É consoante os méritos, que não têm que ser os de um ideal abstracto, falacioso. Que a Justiça, afinal, também tem os seus amigalhaços. Qual Salomão a repartir a criança pelas duas mães?!... É claro que a mãe boa perdeu o filho, para o poupar à morte, fugindo à verdade, e à sua felicidade… O que parece bem injusto. Mas só Deus sabe.

 O Dr. Salles bem poderia dar-nos a sua versão, que tem sempre um toque de picardia, para alegrar as hostes, e nos tirar deste estado de melancolia, tão autêntica como a actual epidemia - em todas as frentes…

 

PELO TOQUE DA ALVORADA - 3

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO 12.04.21

Antes de ter sido Primeiro Ministro da Índia, Lal Bahadur Shastri fora Ministro dos Caminhos de Ferro, cargo de que se demitiu aquando de um desastre ferroviário que vitimou fatalmente várias dezenas de passageiros. Os seus correligionários ainda hoje exaltam essa auto-demissão como gesto de grande dignidade; os adversários apontam a fuga.

Onde estará a verdade?

 

COMENTÁRIOS

 Anónimo  12.04.2021 : À bon entendeur..

 Adriano Miranda Lima  12.04.2021  13:07: Este caso faz lembrar o do Jorge Coelho, que, infelizmente, nos deixou há poucos dias. É sempre difícil avaliar o que é um gesto de natureza genuinamente política, que enobrece a democracia, e o que pode significar, de facto, a oportunidade para se livrar de um cargo que mais não é que um fardo. Em minha opinião, a democracia está hoje em dia pelas ruas da amargura que não é com o simbolismo de gestos desta natureza que ela se valoriza. Eu, no lugar dos demissionários, preferia enfrentar o problema para, no meu posto de trabalho, contribuir para minorar as suas consequências e tomar medidas para que o mesmo não se repita no futuro. Mas penso assim talvez por ser militar. É que um comandante militar não pode demitir-se se lhe corre mal uma operação. Tem de assumir as suas responsabilidades em toda a plenitude.

Anónimo  12.04.2021  : Medium virtutis - como pratica um meritíssimo juiz, recentemente célebre.

 Miguel Magalhaes  12.04.2021: Em minha opinião não terá sido o Shastri o principal e único responsável pelo desinvestimento na ferrovia indiana. Há décadas que vemos fotografias de como se viaja nos comboios indianos....

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