Já aqui o referi, este verso da poesia “NÓS” de Cesário Verde: a família foi para o campo, para fugir da peste. Uma peste adiada, pois a tuberculose lá estava, a ceifar-lhe a vida bem cedo. Fugir da peste, fugir da selva, fugir da guerra, fugir do perigo, fugir da responsabilidade… É apenas um adiamento. Poupa-se a vida, por vezes a dignidade – verdadeira ou falsa…
Às vezes resulta em brilho: sai-se de um
ministério para outro. E em glória, o que é sempre bonito. Que importância tem
a verdade? O que conta é a glória, sobretudo se traduzida em rupias, libras,
dólares, euros, ienes ou rublos…
A verdade está em cada um de nós, embora
exista uma Justiça modelar... Que só conta para os que não têm euros, nem
rupias, nem escudos nem libras, nem dracmas antigos… Uma Justiça séria,
modelar, carismática, do antigamente… se é que existia mesmo, antigamente...
É essa a verdade. É consoante os
méritos, que não têm que ser os de um ideal abstracto, falacioso. Que a Justiça,
afinal, também tem os seus amigalhaços. Qual Salomão a repartir a criança pelas
duas mães?!... É claro que a mãe boa perdeu o filho, para o poupar à morte,
fugindo à verdade, e à sua felicidade… O que parece bem injusto. Mas só Deus sabe.
O
Dr. Salles bem poderia
dar-nos a sua versão, que tem sempre um toque de picardia, para alegrar as
hostes, e nos tirar deste estado de melancolia, tão autêntica como a actual epidemia
- em todas as frentes…
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO 12.04.21
Antes de ter sido Primeiro
Ministro da Índia, Lal Bahadur
Shastri fora Ministro dos Caminhos de Ferro, cargo de que se
demitiu aquando de um desastre ferroviário que vitimou fatalmente várias
dezenas de passageiros. Os seus correligionários ainda hoje exaltam essa
auto-demissão como gesto de grande dignidade; os adversários apontam a fuga.
Onde estará a verdade?
COMENTÁRIOS
Anónimo 12.04.2021 :
À
bon entendeur..
Adriano Miranda Lima 12.04.2021 13:07: Este caso faz lembrar o do Jorge Coelho, que, infelizmente,
nos deixou há poucos dias. É sempre difícil avaliar o que é um gesto de
natureza genuinamente política, que enobrece a democracia, e o que pode
significar, de facto, a oportunidade para se livrar de um cargo que mais não é
que um fardo. Em minha opinião, a democracia está hoje em dia pelas ruas da
amargura que não é com o simbolismo de gestos desta natureza que ela se
valoriza. Eu, no lugar dos demissionários, preferia enfrentar o
problema para, no meu posto de trabalho, contribuir para minorar as suas
consequências e tomar medidas para que o mesmo não se repita no futuro. Mas
penso assim talvez por ser militar. É que um comandante militar não pode
demitir-se se lhe corre mal uma operação. Tem de assumir as suas
responsabilidades em toda a plenitude.
Anónimo 12.04.2021 :
Medium virtutis - como pratica um
meritíssimo juiz, recentemente célebre.
Miguel
Magalhaes 12.04.2021: Em minha
opinião não terá sido o Shastri o principal e único responsável pelo
desinvestimento na ferrovia indiana. Há décadas que vemos fotografias de como
se viaja nos comboios indianos....
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