sexta-feira, 30 de abril de 2021

A propósito de um discurso


Um texto de uma jovem - Raquel Abecasis - corajoso e moderado, desejando confiar, talvez, numa visão positiva a respeito da História pátria, já consciente da necessidade de a respeitar, contrariando os malefícios de uma esquerda que a desvirtuou, assustadoramente, numa pseudo elegância moral de condenação do fascismo que mais não é que ambição do poder, subjugando e manietando os povos.

 

O discurso do Presidente e a esquerda caviar /premium

Sim, podemos repetir os mesmos erros do passado. Razões mais do que suficientes para dar atenção ao que nos disse o Presidente da República, que é bem conhecido por saber ler os sinais do presente.

RAQUEL ABECASIS

OBSERVADOR, 27 abr 2021

Conhecer a História torna-nos mais aptos para perceber o presente e olhar para o futuro. Conhecer a História prepara-nos para acusar sinais de alerta que a ignorância desvaloriza. Conhecer a História é a arma mais poderosa para não repetir erros do passado. E eles tendem a repetir-se, porque a natureza   humana é a mesma, no passado, no presente e no futuro.

É por tudo isto que o discurso do Presidente da República no 25 de Abril é muito mais do que um bom discurso. O que Marcelo Rebelo de Sousa nos disse é que as grelhas ideológicas do presente não são a chave de leitura para olhar para o passado, algo que deveria ser óbvio, mas que infelizmente, nos tempos que correm, não é.

Coincidência ou não, foi publicado por estes dias o livro que conta a história das FP-25 de Abril. Um capítulo muito negro da nossa história democrática, que o regime tem feito por esquecer. Só que esquecer, ignorar ou desvalorizar, disse-nos o Presidente, não é o caminho para construir um país mais desenvolvido e uma democracia adulta. Temos que olhar para o que fizemos mal e para o que fizemos bem e daí retirar conclusões que nos fortaleçam.

A verdade é que, como em toda a Europa, os extremismos começam a medrar, aproveitando o desgaste das crises e a crise das ideologias que construíram o velho continente no pós-guerra. Partidos de extrema-esquerda e extrema-direita surgem agora com o discurso fresco de quem traz todas as soluções. Mas os métodos e as ideias são os mesmos e os resultados de tão maravilhosas soluções só podem conduzir aos desastrosos resultados do passado. Conhecer a História é, de facto, a chave para não voltar a cair no abismo.

Na mais famosa vila do pós-25 de Abril, Grândola, esconde-se um saudosista desse passado de má memória com que a extrema-esquerda aterrorizou o país na década de 80. José Ramos é militante do Bloco de Esquerda, foi candidato autárquico pelo BE nas eleições de 2017, é um dos amnistiados das FP-25 e passa grande parte do seu tempo a vangloriar-se nas redes sociais da sua actividade terrorista. Chega mesmo a desejar o regresso desses tempos, que considera gloriosos.

Podemos fazer de conta que daqui não vem nenhum perigo e até fingir que acreditamos que o BE já não é um partido extremista. Mas o José Ramos a valorizar os assassinatos da década de 80 em Portugal, quase vinte pessoas, e o Francisco Louçã a desvalorizar os horrores do estalinismo, aproveitando de caminho para ridicularizar quem os denuncia, são sinais que nos deviam fazer soar todas as campainhas.

Não, não é só passado. Sim, tem importância. Sim, podemos repetir os mesmos erros do passado. São razões mais do que suficientes para dar muita atenção ao que nos disse o Presidente da República, que é bem conhecido por saber ler os sinais do presente. Alguma razão ele terá, para ter escolhido este tema para o discurso dos 47 anos do 25 de Abril. E, já agora, aconselho vivamente a leitura de “Presos por um fio – Portugal e as FP-25 de Abril”, para saber do que é capaz esta esquerda caviar.

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EXTREMISMO   SOCIEDADE   25 DE ABRIL   PAÍS MARCELO REBELO DE SOUSA    PRESIDENTE DA  REPÚBLICA   POLÍTICA   DEMOCRACIA   HISTÓRIA   CULTURA

 

COMENTÁRIOS

António Duarte: Ao Marcelo aconselho a poetisa Sophia, que se imortalizou com os versos “vemos, ouvimos e Lemos, não podemos ignorar”... Ele poderá ver, ouvir e ler, mas é evidente que ignora a natureza dos políticos que nos governam.      Português indignado: Excelente artigo ! Realmente o Bloco de Esquerda ter militantes que foram membros das FP 25 de Abril e responsáveis por actos terroristas, homicídios, roubos, violência extrema é coisa que não me surpreende....que nojo !!!          Clarisse Seca > Português indignado: E são esses radicais de esquerda que chamam fascistas aos outros? Olhem-se no espelho!. O povo tem fraca memória para votar nesses antidemocráticos, alguns até terroristas, oriundos do  LUAR, braço armado do Partido  Comunista. O Pai das manas Mortágua será um deles?       Pedro Castanheira: Mais uma marcelada... diz uma coisa e o seu contrário... nada de novo nos 'discursos' do marselfie ..     .Alberico Lopes > Pedro Castanheira: : E não é que tem razão quanto ao das selfies?      Antes pelo contrário: Cara Raquel, Conhecer a História é de facto muito importante, e exactamente pelas razões que aponta no início - infelizmente temos aqui mesmo em muitos comentários o exemplo de pessoas que por ignorância, e julgando defender a sua liberdade ou a dos outros, na realidade defendem a destruição de tudo o que já foi alcançado, com muito sangue, suor e lágrimas, pelas gerações que nos antecederam. Pois a sua memória não vai além dos últimos 60 ou 70 anos, os mais mediatizados, e o conhecimento que possam ter do que ficou para trás vem-lhes apenas dessa mediatização, feita nas últimas décadas, que tentou "fixar" a narrativa e condicionar não apenas a sua interpretação, mas igualmente a investigação e qualquer tipo de conhecimento que possa ter implicações políticas. Porém, as implicações científicas, sociais e políticas de maior monta, são aquelas que vão surgir à medida que se abandonarem os registos em papel e que vão desaparecendo sem deixar rasto próprios registos informáticos dos acontecimentos - que ainda por cima estão a ser crescentemente substituídos ou submergidos por notícias falsas, opiniões e propaganda. O futuro, vai ser de ignorantes manipulados pelos mitos que se criaram nos últimos anos e se criam hoje em dia. O discurso do Presidente e a esquerda caviar são o sinal do futuro, ou seja - da decadência. Contra isso é que temos de lutar, se não quisermos ser colonizados por gente ainda mais ignorante do que os que já cá andam.           Carminda Damiao: Excelente artigo.         Manuel Magalhães:  Bom artigo e que sobretudo os nossos jornalistas e suas direcções bem como os membros do PS e alguns do PSD  deveriam ler para realizarem o perigo que estão a fazer correr ao país e à nossa actualmente frágil democracia, andam todos a dizer que o perigo está à direita e não entendem que apenas estão a fazer o jogo dos verdadeiros inimigos das democracia! Quanto à interpretação que faz do discurso de Marcelo, até posso concordar com ela, só que Marcelo, se essa era a sua intenção, deveria explicitar muito mais vezes e deixar-se de ambiguidades como tem feito ao longo das suas decepcionantes presidências, o assunto é demasiado importante para não se ser claro!!!          Antes pelo contrário: "o que nos disse o Presidente da República, que é bem conhecido por saber ler os sinais do presente" Por outras palavras, um catavento populista que só diz aquilo que as pessoas querem ouvir... muda o vento, muda o discurso. É o que acontece quando se fala sempre do presente... Ele devia ter continuado como "comentador" em vez de Presidente. Pois um presidente, tem de saber fazer a ponte entre o passado que é a nossa identidade - para isso é que existe a Constituição que é tarefa do presidente defender - e o futuro que é a nossa continuidade. Quem se deve ocupar do "presente", é o poder executivo. E é por isso que há Orçamentos anuais, contas, eleições e legislaturas. Um catavento não é de qualquer utilidade, pois nem sequer serve de barómetro para prever as tempestades. Só indica de onde sopra o vento... Manuel Ferreira21: Excelente artigo, mais importante para os mais novos. Os mais velhos lembram-se bem dos partidos UDP e PSR elementos estruturantes do BE e dos tempos da ocupação da sede da rua da palma em Lisboa. São um perigo!           Zé da Esquina: Estou plenamente de acordo!             Ana Paiva: em toda a razão! Acresça-se, ainda, a esta actividade terrorista, uma outra actividade terrorista que, embora sem mortos, não deixou de ser muito violenta e acabou com a vida de muitas pessoas honestas, trabalhadoras e competentes: os saneamentos à la Mao.          AL MA: É bom haver quem nos alerte para as atitudes de criminosos , que se vangloriam dos seus crimes. O aue não é aceitável é que esses criminosos integrem partidos ditos democráticos e que sustentam este Governo e o anterior.         Esgoto a céu aberto: Sou da opinião que o termo esquerda caviar está ultrapassado. O BE cresceu, já não é um recém-nascido que tinha de ser tratado com mimos. O caviar associa-se mais à  riqueza de berço do que à riqueza intelectual, todavia, a diferença entre os jurássicos e abrutalhados comunistas dos anos 70/80 da prol de Álvaro Cunhal que tinham engolido uma cassete e os dissidentes neo-comunistas bem falantes de Francisco Louçã dos anos 90, faziam da intelectualidade a principal diferença entes novos e velhos comunistas, o tal caviar. Mas os anos passaram, e apesar da cassete poder ser diferente, a música é a mesma.  Hoje, a pintura das unhas está descascada, a maquilhagem esboroada, as sobrancelhas parecem campos de trigo desgovernados e o musgo cresce em abundância nas orelhas. Já não há nada de caviar. O candidato das FP25 a Grândola é a evidente cunhalização do BE. Ainda tentam - em desespero - dizerem-se social-democratas, mas a foice e o martelo pisca-lhes na testa como um alarme de incêndio.

 

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