O Dr. Salles, movido pelos seus escrúpulos em apurar a verdade da História pátria – neste caso – pretende que se proceda à exumação de um corpo, para sempre Desejado, na pequenez de uma pátria em vias de perder a sua independência, naquele tempo, e que Pessoa exprime, patrioticamente, nos vários Simbolismos que povoam a sua Mensagem, de glórias e infortúnios, mas de profecias ambiciosas também, que representam um forte sentimento de amor pelo seu país. Transcrevo alguns desses poemas simbólicos, como homenagem a Salles da Fonseca, sempre buscador da verdade, e também patriota, para recordar essa figura de Desejado, num país de mitos – e de grandes poetas - por falta de realidades mais plausíveis.
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO,
08.04.21
O elmo de D. Sebastião regressou a Portugal no início de 2011.
O préstito fúnebre que acompanhou o
corpo do Rei D. Sebastião de Faro até ao Mosteiro dos Jerónimos, em
Lisboa, sob a direcção do vedor Francisco Barreto de Lima, era composto pelos seguintes fidalgos
nomeados por Filipe I:
Diogo da Silva
Francisco de Castelo Branco
Henrique Correia da Silva
Jerónimo Moniz de Luziñano
João de Castro
Lourenço de Almada
Lucas de Portugal
Ruy Lourenço de Távora
Resta agora saber se o corpo
transportado e homenageado era efectivamente o do jovem Rei D. Sebastião ou se
tudo não passou duma fantochada para justificar a subida de Filipe II de
Espanha ao trono de Portugal. Será então o corpo do Rei, o que está no túmulo?
Será mesmo um corpo humano?
E que tal uma exumação para
que se dissipem dúvidas?
Não
é que isso dê um novo rumo à História mas de certeza que ajudará a esclarecer
sobre o carácter do rei espanhol, seja pela positiva ou pela negativa.
Henrique Salles da Fonseca
Tags::história
COMENTÁRIOS:
Anónimo 08.04.2021 : M/ Caro Dr. Salles da Fonseca, Por cá, as ideias
sobre Filipe II de Espanha são pouco claras. 1º Filipe II é o chefe da Casa
Habsburgo, ainda que não fosse o Imperador do Sacro Império (esse era
Leopold de Áustria). 2º Filipe II travava uma guerra feroz contra as
Repúblicas Reunidas (mais ou menos o que é hoje a Holanda), que se recusavam a
integrar o Sacro Império Romano-Germânico. 3º Filipe II era o preceptor
designado do seu sobrinho D. Sebastião e via-o como mais um membro dos
Habsburgos -, bem ao sabor da época, utilizava todos eles segundo as
conveniências da sua política europeia. 4º Rodeada por vários reinos
Habsburgo, a França movimentava também os seus peões junto da Sede Papal, nas
vias que atravessavam os Alpes (por onde circulava a prata de Potosi que
sustentava o poder Habsburgo sobre o Sacro-Império) e ao longo do Reno (que
ligava por terra o Norte de Itália e o Mediterrâneo à Flandres, onde a guerra lavrava; a Guerra dos 30 Anos ainda vinha
longe, mas muitos historiadores falam da Guerra dos 80 Anos, de que aquela foi
o último episódio). 5º Filipe II punha e dispunha sobre D. Sebastião,
ainda muito jovem, dando-o hoje em casamento para, mais tarde, o afastar,
substituindo-o por outro. A esta luz, é bem provável que D. Sebastião se tenha
lançado na aventura de Marrocos para ganhar "leveraged" (como hoje se
diz) face a seu tio e, na realidade, Chefe Dinástico.
Anónimo 08.04.2021 A
mim também me parece bem tirar dúvidas. Será que o querem fazer?
Anónimo 08.04.2021 Desconhecia
que o elmo de D. Sebastião tinha vindo em época tão recente, 2011. Quanto o à
exumação julgo ser um acto que iria desfazer o mito entranhado no peito do povo
que um dia ele virá. digo eu agora para nos salvar enviando para o actual
Filipe uns tantos portugueses que por cá andam a " comer ". Bem haja
pelas suas reflexões históricas e não só
Abraço Rui Bravo Martins
D.
Sebastião como mito em Fernando Pessoa
MENSAGEM: (“ARQUIVO
PESSOA” (INTERNET) e “OBRAS
DE FERNANDO PESSOA , Vol. I)
I PARTE (BRASÃO):
III- AS
QUINAS (QUINTA): D. SEBASTIÃO REI DE PORTUGAL
Louco, sim,
louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a
não dá.
Não coube
em mim minha certeza;
Por isso onde
o areal está
Ficou meu ser
que houve, não o que há.
Minha loucura,
outros que me a tomem
Com o que nela
ia.
Sem a loucura
que é o homem
Mais que a
besta sadia,
Cadáver adiado
que procria?
II PARTE: MAR PORTUGUÊS
XI- A ÚLTIMA NAU
Levando a
bordo El-Rei Dom Sebastião,
E erguendo,
como um nome, alto, o pendão
Do Império,
Foi-se a
última nau, ao sol aziago
Erma, e entre
choros de ânsia e de pressago
Mistério.
Não
voltou mais. A que ilha indescoberta
Aportou? Volverá
da sorte incerta
Que teve?
Deus guarda o
corpo e a forma do futuro,
Mas Sua luz
projecta-o, sonho escuro
E breve.
Ah,
quanto mais ao povo a alma falta,
Mais a minha alma
atlântica se exalta
E entorna,
E em mim, num
mar que não tem tempo ou espaço,
Vejo entre a
cerração teu vulto baço
Que torna.
Não sei
a hora, mas sei que há a hora,
Demore-a Deus,
chame-lhe a alma embora
Mistério.
Surges ao sol
em mim, e a névoa finda:
A mesma, e
trazes o pendão ainda
Do Império.
III PARTE / O ENCOBERTO
OS SÍMBOLOS:
PRIMEIRO / D. SEBASTIÃO
Esperai! Caí no areal e na hora adversa
Que Deus concede aos seus
Para o intervalo em que esteja a alma imersa
Em sonhos que são Deus.
Que importa o areal e a morte e a desventura
Se com Deus me guardei?
É O que eu me sonhei que eterno dura,
É Esse que regressarei.
SEGUNDO / O QUINTO IMPÉRIO
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz —
Ter por vida a sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa — os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
TERCEIRO / O DESEJADO
Onde quer que,
entre sombras e dizeres,
Jazas, remoto,
sente-te sonhado,
E ergue-te do
fundo de não-seres
Para teu novo
fado!
Vem, Galaaz
com pátria, erguer de novo,
Mas já no auge
da suprema prova,
A alma
penitente do teu povo
À Eucaristia
Nova.
Mestre da Paz,
ergue teu gládio ungido,
Excalibur do
Fim, em jeito tal
Que sua Luz ao
mundo dividido
Revele o Santo
Gral!
(QUARTO…, QUINTO…)
II- OS AVISOS
PRIMEIRO / O BANDARRA
Sonhava,
anónimo e disperso,
O Império por
Deus mesmo visto,
Confuso como o
Universo
E plebeu como
Jesus Cristo.
Não foi nem
santo nem herói,
Mas Deus
sagrou com Seu sinal
Este, cujo
coração foi
Não português
mas Portugal.
SEGUNDO /ANTÓNIO VIEIRA
O céu estrela
o azul e tem grandeza.
Este, que teve a fama e a glória tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.
No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de forma e de visão,
Surge, prenúncio claro do luar,
El-Rei D. Sebastião.
Mas não, não é luar: é luz do etéreo.
É um dia; e, no céu amplo de desejo,
A madrugada irreal do Quinto Império
Doira as margens do Tejo.
TERCEIRO
Escrevo meu livro à beira-mágoa.
Meu coração não tem que ter.
Tenho meus olhos quentes de água.
Só tu, Senhor, me dás viver.
Só te sentir e te pensar
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?
Quando virás a ser o Cristo
De a quem morreu o falso Deus,
E a despertar do mal que existo
A Nova Terra e os Novos Céus?
Quando virás, ó Encoberto,
Sonho das eras português,
Tornar-me mais que o sopro incerto
De um grande anseio que Deus fez?
Ah, quando quererás, voltando,
Fazer minha esperança amor?
Da névoa e da saudade quando?
Quando, meu Sonho e meu Senhor?
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