sexta-feira, 9 de abril de 2021

Pessoa é que sabe


O Dr. Salles, movido pelos seus escrúpulos em apurar a verdade da História pátria – neste caso – pretende que se proceda à exumação de um corpo, para sempre Desejado, na pequenez de uma pátria em vias de perder a sua independência, naquele tempo, e que Pessoa exprime, patrioticamente, nos vários Simbolismos que povoam a sua Mensagem, de glórias e infortúnios, mas de profecias ambiciosas também, que representam um forte sentimento de amor pelo seu país. Transcrevo alguns desses poemas simbólicos, como homenagem a Salles da Fonseca, sempre buscador da verdade, e também patriota, para recordar essa figura de Desejado, num país de mitos – e de grandes poetas - por falta de realidades mais plausíveis.

COISAS QUE POUCOS SABEM

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO,  08.04.21

O elmo de D. Sebastião regressou a Portugal no início de 2011.

O préstito fúnebre que acompanhou o corpo do Rei D. Sebastião de Faro até ao Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, sob a direcção do vedor Francisco Barreto de Lima, era composto pelos seguintes fidalgos nomeados por Filipe I:

Diogo da Silva

Francisco de Castelo Branco

Henrique Correia da Silva

Jerónimo Moniz de Luziñano

João de Castro

Lourenço de Almada

Lucas de Portugal

Ruy Lourenço de Távora

Resta agora saber se o corpo transportado e homenageado era efectivamente o do jovem Rei D. Sebastião ou se tudo não passou duma fantochada para justificar a subida de Filipe II de Espanha ao trono de Portugal. Será então o corpo do Rei, o que está no túmulo? Será mesmo um corpo humano?

E que tal uma exumação para que se dissipem dúvidas?

Não é que isso dê um novo rumo à História mas de certeza que ajudará a esclarecer sobre o carácter do rei espanhol, seja pela positiva ou pela negativa.

Henrique Salles da Fonseca

Tags::história

COMENTÁRIOS:

 Anónimo  08.04.2021  : M/ Caro Dr. Salles da Fonseca, Por cá, as ideias sobre Filipe II de Espanha são pouco claras. 1º Filipe II é o chefe da Casa Habsburgo, ainda que não fosse o Imperador do Sacro Império (esse era Leopold de Áustria). 2º Filipe II travava uma guerra feroz contra as Repúblicas Reunidas (mais ou menos o que é hoje a Holanda), que se recusavam a integrar o Sacro Império Romano-Germânico. 3º Filipe II era o preceptor designado do seu sobrinho D. Sebastião e via-o como mais um membro dos Habsburgos -, bem ao sabor da época, utilizava todos eles segundo as conveniências da sua política europeia. 4º Rodeada por vários reinos Habsburgo, a França movimentava também os seus peões junto da Sede Papal, nas vias que atravessavam os Alpes (por onde circulava a prata de Potosi que sustentava o poder Habsburgo sobre o Sacro-Império) e ao longo do Reno (que ligava por terra o Norte de Itália e o Mediterrâneo à Flandres, onde a guerra  lavrava; a Guerra dos 30 Anos ainda vinha longe, mas muitos historiadores falam da Guerra dos 80 Anos, de que aquela foi o último episódio). 5º Filipe II punha e dispunha sobre D. Sebastião, ainda muito jovem, dando-o hoje em casamento para, mais tarde, o afastar, substituindo-o por outro. A esta luz, é bem provável que D. Sebastião se tenha lançado na aventura de Marrocos para ganhar "leveraged" (como hoje se diz) face a seu tio e, na realidade, Chefe Dinástico.

 Anónimo  08.04.2021  A mim também me parece bem tirar dúvidas. Será que o querem fazer?

Anónimo  08.04.2021  Desconhecia que o elmo de D. Sebastião tinha vindo em época tão recente, 2011. Quanto o à exumação julgo ser um acto que iria desfazer o mito entranhado no peito do povo que um dia ele virá. digo eu agora para nos salvar enviando para o actual Filipe uns tantos portugueses que por cá andam a " comer ". Bem haja pelas suas reflexões históricas e não só
Abraço
Rui Bravo Martins

                        D. Sebastião como mito em Fernando Pessoa

MENSAGEM: (“ARQUIVO PESSOA” (INTERNET)  e  OBRAS DE FERNANDO PESSOA , Vol. I)

I PARTE (BRASÃO):

      III- AS QUINAS (QUINTA): D. SEBASTIÃO  REI DE PORTUGAL

Louco, sim, louco, porque quis grandeza

Qual a Sorte a não dá.

Não coube em mim minha certeza;

Por isso onde o areal está

Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem

Com o que nela ia.

Sem a loucura que é o homem

Mais que a besta sadia,

Cadáver adiado que procria?

II PARTE: MAR PORTUGUÊS

      XI- A ÚLTIMA NAU                                                                                                                                        

Levando a bordo El-Rei Dom Sebastião,

E erguendo, como um nome, alto, o pendão

Do Império,

Foi-se a última nau, ao sol aziago

Erma, e entre choros de ânsia e de pressago

Mistério.

 Não voltou mais. A que ilha indescoberta

Aportou? Volverá da sorte incerta

Que teve?

Deus guarda o corpo e a forma do futuro,

Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro

E breve.

 Ah, quanto mais ao povo a alma falta,

Mais a minha alma atlântica se exalta

E entorna,

E em mim, num mar que não tem tempo ou espaço,

Vejo entre a cerração teu vulto baço

Que torna.

 Não sei a hora, mas sei que há a hora,

Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora

Mistério.

Surges ao sol em mim, e a névoa finda:

A mesma, e trazes o pendão ainda

Do Império.

III PARTE / O ENCOBERTO

OS SÍMBOLOS:

PRIMEIRO / D. SEBASTIÃO

Esperai! Caí no areal e na hora adversa

Que Deus concede aos seus

Para o intervalo em que esteja a alma imersa

Em sonhos que são Deus.

Que importa o areal e a morte e a desventura

Se com Deus me guardei?

É O que eu me sonhei que eterno dura,

É Esse que regressarei.

SEGUNDO / O QUINTO IMPÉRIO

Triste de quem vive em casa,

Contente com o seu lar,

Sem que um sonho, no erguer de asa,

Faça até mais rubra a brasa

Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!

Vive porque a vida dura.

Nada na alma lhe diz

Mais que a lição da raiz —

Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem

No tempo que em eras vem.

Ser descontente é ser homem.

Que as forças cegas se domem

Pela visão que a alma tem!

E assim, passados os quatro

Tempos do ser que sonhou,

A terra será teatro

Do dia claro, que no atro

Da erma noite começou.

Grécia, Roma, Cristandade,

Europa — os quatro se vão

Para onde vai toda idade.

Quem vem viver a verdade

Que morreu D. Sebastião?

TERCEIRO / O DESEJADO

Onde quer que, entre sombras e dizeres,

Jazas, remoto, sente-te sonhado,

E ergue-te do fundo de não-seres

Para teu novo fado!

Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo,

Mas já no auge da suprema prova,

A alma penitente do teu povo

À Eucaristia Nova.

Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido,

Excalibur do Fim, em jeito tal

Que sua Luz ao mundo dividido

Revele o Santo Gral!

(QUARTO…, QUINTO…)

II- OS AVISOS

PRIMEIRO / O BANDARRA

Sonhava, anónimo e disperso,

O Império por Deus mesmo visto,

Confuso como o Universo

E plebeu como Jesus Cristo.

Não foi nem santo nem herói,

Mas Deus sagrou com Seu sinal

Este, cujo coração foi

Não português mas Portugal.

SEGUNDO /ANTÓNIO VIEIRA

O céu estrela o azul e tem grandeza.
Este, que teve a fama e a glória tem,
Imperador da língua portuguesa,
Foi-nos um céu também.
No imenso espaço seu de meditar,
Constelado de forma e de visão,
Surge, prenúncio claro do luar,
El-Rei D. Sebastião.
Mas não, não é luar: é luz do etéreo.
É um dia; e, no céu amplo de desejo,
A madrugada irreal do Quinto Império
Doira as margens do Tejo.

TERCEIRO

Escrevo meu livro à beira-mágoa.

Meu coração não tem que ter.

Tenho meus olhos quentes de água.

Só tu, Senhor, me dás viver.

Só te sentir e te pensar

Meus dias vácuos enche e doura.

Mas quando quererás voltar?

Quando é o Rei? Quando é a Hora?

Quando virás a ser o Cristo

De a quem morreu o falso Deus,

E a despertar do mal que existo

A Nova Terra e os Novos Céus?

Quando virás, ó Encoberto,

Sonho das eras português,

Tornar-me mais que o sopro incerto

De um grande anseio que Deus fez?

Ah, quando quererás, voltando,

Fazer minha esperança amor?

Da névoa e da saudade quando?

Quando, meu Sonho e meu Senhor?

 

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