sexta-feira, 16 de abril de 2021

Desejo


Que a jovem premiada pelo seu trabalho científico sobre o cancro da tiróide – Márcia Faria, de 28 anos – venha a receber a atenção necessária do governo português, no sentido de valorização monetária para um percurso científico em condições. A ela, o contentamento de todos os portugueses, com toda a certeza.

I- BIOMEDICINA: Jovem cientista portuguesa recebe prémio europeu com trabalho sobre cancro da tiróide

Márcia Faria tem 28 anos e recebeu o Young Investigator Award 2021 atribuído pela Sociedade Europeia de Endocrinologia a 12 jovens cientistas.

ANDREA CUNHA FREITAS

PÚBLICO, 15 de Abril de 2021

FOTO: Há um milhão de pessoas no país com distúrbios associados a esta glândula essencial para o metabolismo que tem forma de borboleta e que se encontra na base do pescoço DR

Um estudo que procura encontrar formas de aumentar a eficácia do tratamento de cancro da tiróide com metástases valeu a Márcia Faria, investigadora da unidade de biologia molecular do Serviço de Endocrinologia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, um prémio da Sociedade Europeia de Endocrinologia. Com 28 anos e ainda a fazer o seu doutoramento, a cientista portuguesa foi distinguida com o Young Investigator Award que será entregue em Maio a 12 jovens no início das suas carreiras.

Este prémio diz respeito a apenas uma parte de um trabalho de uma linha de investigação que temos desenvolvido no laboratório nos últimos anos”, começa por explicar Márcia Faria ao PÚBLICO. A linha segue de perto o cancro da tiróide e esta parte do trabalho é especialmente dedicada a uma das etapas do tratamento destes carcinomas e que está associada ao recurso do iodo radioactivo. Começando pelo problema para depois chegarmos à exploração de soluções, o estudo premiado centra-se na “proporção significativa de doentes com cancro avançado da tiróide que não responde à terapia com iodo radioactivoque normalmente é usada após a cirurgia para tratar as metástases e eliminar as células remanescentes.

Para que esta terapia com iodo radioactivo tenha bons resultados, é preciso que as células tenham a capacidade de captar o iodo”, uma competência que depende da presença de uma “porta de entrada” no local certo. A porta chama-se “importador de sódio e iodo” (uma proteína que transporta o iodo do exterior para o interior das células e que é conhecido pela sigla NIS) e o local certo para a encontrar (de forma a garantir a eficácia da terapia) é na membrana das células. O problema é que, realça Márcia Faria, “em alguns casos, em formas mais avançadas dos tumores, as células podem perder esta capacidade de captação do iodo, seja porque deixam de expressar o NIS ou porque esta proteína não está a ser expressa no local certo”. Aí, acrescenta, “as células deixam de responder à terapia com iodo radioactivo e nessa altura as alternativas terapêuticas são escassas”.

FOTO: Investigadora Márcia Faria tem 28 anos e trabalha na unidade de biologia molecular do Serviço de Endocrinologia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte DR

Neste contexto de tumores refractários que deixam de ter a capacidade de captar iodo, o que procuramos saber no laboratório é quais são os mecanismos que regulam a expressão do NIS”, diz a investigadora. Entre os possíveis parceiros que ajudam a criar esta porta de entrada funcional nas células encontram-se diversas proteínas que condicionam esta presença no lugar certo, na membrana da célula.

Este trabalho premiado de Márcia Faria centra-se em apenas um dos muitos alvos identificados e que estão a ser validados, uma proteína conhecida como “Gy12”. O estudo confirmou que esta proteína específica (entre outras) interfere directamente na abundância do NIS na membrana das células.

As proteínas que ajudam a abrir portas

“Neste momento, esta proteína foi uma das que já conseguimos validar, mas obviamente que haverá outras”, confirma a investigadora. A forma encontrada para validar o papel desta proteína foi através da sua retirada. Através de uma técnica específica, foi induzida uma redução (de cerca de 30%) dos níveis desta proteína que foi o suficiente para causar um efeito de diminuição na quantidade do NIS que se encontra especificamente na membrana da célula.

Este é um pequeno passo de um trabalho que, segundo Márcia Faria, tem como objectivo encontrar um alvo que possa ser farmacologicamente controlado para aumentar os níveis de expressão do NIS neste local da membrana – ou seja, um meio que abra estas portas de entrada do iodo radioactivo, numa curta janela de tempo antes da aplicação da terapia, para aumentar a eficácia deste tratamento.

Sobre possíveis efeitos secundários destas manobras para promover esta proteína a cientista explica que o NIS existe noutras células do nosso organismo, mas em níveis muito basais que, à partida, impedem que o iodo radioactivo cause danos noutros locais fora da tiróide, o alvo desta terapia específica.

Os resultados desta investigação premiada serão apresentados no Congresso Europeu de Endocrinologia que se realiza em Maio, durante uma sessão especialmente dedicada aos 12 projectos distinguidos. O prémio vale mil euros, mas Márcia Faria sublinha que “o mais importante é o reconhecimento do trabalho”. Um trabalho que “tem vindo a ser desenvolvido há bastante tempo”, diz a investigadora, que há seis anos se dedica à área de estudo da tiróide.

Desde que detectado precocemente (como em todos os tumores), o cancro da tiróide tem um prognóstico bastante favorável. Nos últimos anos a incidência deste cancro, que afecta mais mulheres do que homens, tem vindo a aumentar e actualmente são detectados cerca de 500 novos casos por ano em Portugal, de acordo com o Registo Oncológico Nacional. Os dados referem ainda que há um milhão de pessoas no país com distúrbios associados a esta glândula essencial para o metabolismo que tem forma de borboleta e que se encontra na base do pescoço.

tp.ocilbup@satierfca

TÓPICOS

CIÊNCIA  BIOMEDICINA  CANCRO  SAÚDE  TIRÓIDE  IODO  TERAPIA

 

COMENTÁRIO:

OGB  INICIANTE: Parabéns à Márcia Faria pelo seu trabalho e pela distinção!

 

 

II - Cancro da tiróide: uma doença silenciosa

O cancro da tiróide pode não causar qualquer sintoma de início, mas ao crescer pode provocar dor ou uma saliência no pescoço. Pode ainda ser causa de alterações na voz, rouquidão ou engasgamento fácil.

FILIPE SÁ SANTOS

PÚBLICO, 24 de Setembro de 2020

Nos últimos anos tem vindo a aumentar o número de casos de cancro da tiróide. Desde 1975, a incidência (aparecimento de novos casos) deste tipo de cancro em Portugal aumentou 10 vezes: de cerca de 50 casos por ano para perto de 500, de acordo com o Registo Oncológico Nacional.

Esta é uma doença muitas vezes silenciosa, pelo que a informação e vigilância são fundamentais. Hoje, Dia da Sensibilização para o Cancro da Tiróide, importa alertar para a importância do diagnóstico precoce desta doença e saber reconhecer os sinais.

A tiróide é uma glândula com várias funções no nosso organismo:  regula o ritmo cardíaco, a tensão arterial, a temperatura corporal, o peso, o humor. São vários os problemas que podem afectar o seu bom funcionamento, entre os quais os de origem cancerígena.

O cancro da tiróide pode não causar qualquer sintoma de início, mas ao crescer pode provocar dor ou uma saliência no pescoço. Pode ainda ser causa de alterações na voz, rouquidão ou engasgamento fácil. A maior parte dos nódulos que podem surgir na tiróide são benignos, e são cerca de quatro vezes mais frequentes no sexo feminino.

Se notar algum destes sintomas ou sinais deve consultar o seu médico. Ele deverá fazer todos os anos uma palpação local e do pescoço, e poderá neste caso requisitar exames como análises de sangue ou ecografia. Só com a avaliação médica saberemos se os nódulos da tiróide em cada caso são benignos ou malignos.

O cancro da tiróide tem tratamentoExige um diagnóstico precoce e orientação por equipas hospitalares diferenciadas, com Endocrinologia, Cirurgia Endócrina, Radiologia, Anatomia Patológica, Patologia Clínica e Medicina Nuclear. O tratamento consiste, em regra, numa cirurgia para remover a glândula tiróide, que na maior parte das vezes será curativa sem necessidade de tratamentos adjuvantes. Pode, contudo, ser necessária uma cirurgia mais extensa para remover também gânglios do pescoço, ou um tratamento médico com Iodo 131, nos casos em que células malignas se tenham disseminado para além da tiróide.

Os resultados são, em geral, muito bons. Comparativamente a outros tipos de cancro, o cancro da tiróide tem uma das melhores taxas de sobrevivência. A taxa de mortalidade é de cerca de 1% aos 25 anos após diagnóstico. Provavelmente já se questionou: “E depois da cirurgia? Ouvi dizer que vou engordar se retirar a tiróide.” Depois de uma cirurgia de remoção completa da glândula tiróide, o doente terá de tomar uma medicação oral (apenas um comprimido por dia) para o resto da vida. Irá ser vigiado regularmente pelo seu médico assistente, e as análises de sangue permitirão aferir a dose adequada de medicação para cada caso, de modo a que não venha a acontecer nenhuma alteração no peso nem na actividade física ou intelectual.

Não é conhecida a causa da maior parte dos tumores malignos da tiróide. As pessoas que vivem num raio de 20 quilómetros de instalações nucleares devem contactar as autoridades de saúde ou de Protecção Civil da área. E deverão ter consigo uma medicação (iodeto de potássio) que bloqueia em parte os efeitos da radiação sobre as células da tiróide, para tomarem na improvável eventualidade de uma fuga nuclear.

O que todos devemos fazer é cuidar sempre da nossa saúde e da dos nossos familiares, estar atentos aos sintomas e sinais, e procurar aconselhamento médico. Mesmo em tempos de pandemia, as outras doenças não esperam. A falta de avaliação ou de tratamento fará que o cancro nos apareça de forma mais grave ou mais disseminada mais tarde, com risco de maiores danos para a saúde. Não adie! Os hospitais são locais seguros, pelo que não deve ter receio de procurar o seu médico. Olhe-se ao espelho. Palpe o seu pescoço.

Cuide da sua tiróide.

Cirurgião Endócrino do Hospital CUF Porto - Unidade de Tumores da Tiroide

 

TÓPICOS

ÍMPAR  OPINIÃO  MEDICINA  CANCRO  SAÚDE  BEM-ESTAR

 

Nenhum comentário: