Um autêntico festival de luz, pela
elegância de exposição, na digressão intencional pela epopeia viageira dantesca.
Na nossa pasmaceira confinante, que nos lembra um passado mais mexido e ressoante,
falta só concluirmos como a tal Francesca, que tanto comoveu o desmaiado Dante:
Nessun maggior dolore che ricordarsi del
tempo felice nella miseria…
Das trevas à luz. Com Dante, em Sexta-Feira Santa /premium
Nada de menos neutro do que este mundo
além-mundo erguido por Dante – mas nada também de mais próximo e de mais
verdadeiramente inclusivo.
JAIME NOGUEIRA
PINTO, Colunista do Observador
OBSERVADOR, 02
abr 2021 Nesta Semana da Paixão de
2021, ano em que se celebram os 700 anos da morte de Dante Alighieri (1265-1321), voltei à fabulosa e acidentada viagem das trevas à luz em que
o poeta florentino se lançou no ano de 1300, da noite de Quinta-feira Santa a Quarta-Feira de Páscoa. E a esta
viagem, odisseia ou expedição, Dante chamou A Divina
Comédia. Ou só comédia, porque divina foi
já um qualificativo acrescentado por Boccaccio em meados do século XIV. E Comédia porque,
por oposição à Tragédia, é
uma história que acaba bem.
Nada de menos neutro do que este mundo além-mundo
erguido por Dante – mas
nada também de mais próximo e verdadeiramente inclusivo. Dante percorre o Inferno casa a casa, círculo a
círculo, fossa a fossa, pecado a pecado, tormento a tormento, do mais alto ao
mais profundo, de mal a pior. Não vai só, o poeta Virgílio, o poeta da Roma do Século do Ouro e de Augusto,
acompanha-o, elucida-o, protege-o, guia-o. Depois do Inferno, das profundas e
quintos do Inferno, sobe a Montanha do Purgatório. E no último dos terraços do
Purgatório dispensa Virgílio e é Beatriz quem passa a guiá-lo (aprendi com Martim de
Albuquerque que Beatriz é mais um mito ou um símbolo de beleza e de esperança,
mais um sinal de que ninguém se salva sozinho, do que a real “Beatriz
Portinari” que Dante terá conhecido aos 9 anos e por quem se terá apaixonado).
Virgílio volta então ao Limbo, de onde viera expressamente para a missão, e
Beatriz desce dos céus, para acompanhar quem muito a tinha amado até ao ar mais
rarefeito dos ciclos celestiais.
Um mundo em imagens
O meu primeiro contacto com Dante, com a Comédia e o seu Inferno,
aconteceu num Verão, numa quinta velha do Douro, que tresandava a Camilo e ao
pó de outros livros. Chegou-me numa edição do século XIX, em francês, ilustrada de Gustave
Doré. Já conhecia Doré das ilustrações da Bíblia, das histórias dos Profetas,
dos Juízes e dos Reis, de Daniel, de Gedeão, de Nabucodonosor, histórias de
violência, de sexo, de amor e de morte; romances absurdos e cercos tremendos,
cheios do som e da fúria do Antigo Testamento ou dos nossos caminhos e
descaminhos terrenos rumo à terra prometida (quando estes fariseus – e fariseias – da nova
linguagem se lembrarem de acertar contas com o Livro, não vai ficar página
sobre página).
Mas, tal como na Bíblia o que primeiro me fascinou
foi o misterioso e violento Velho Testamento, também na Divina Comédia foi o Inferno, ilustrado por Doré, que logo me espicaçou a
curiosidade. O mundo real do Velho Testamento e dos seus horrores, um mundo misterioso
e intrincado, feito de quedas a caminho da salvação e do Graal, parecia-me
então mais próximo do mundo dos homens do que as difíceis e descarnadas glórias
do Graal propriamente dito, do Novo Testamento, do mundo ideal de piedade,
humanidade e paz que Cristo trazia ao necessitado mundo antigo. Assim,
também o Inferno de Dante, ou mesmo o Limbo ou o Purgatório, me cativavam mais
do que os ciclos celestes. Há uma famosa reflexão de Orwell que fala do desgosto dos socialistas
que, ao verem os filhos brincarem com soldadinhos de chumbo, sucumbem à
impossibilidade de os animarem com hipotéticos pacifistazinhos de chumbo
(agora, que aos pacifistas sobrevieram os activistas, renasce a esperança para
os filhos do Socialismo).
Quando, mais tarde, voltei à Commedia, já tinha lido mais
alguma coisa sobre a vida de Dante, sobre a Itália fragmentada tardo-medieval,
os Gibelinos, os Guelfos, os
Médicis, os Pazzi, os Albizzi. E já tinha visto as ilustrações da Commedia de William Blake, bem mais fundas e
transcendentes do que as de Doré.
A Comédia e a vida
Para entender
a universalidade e intemporalidade de Dante é preciso não esquecer que a
universalidade e a intemporalidade quando se alcançam, só se alcançam descendo
ao pormenor, mergulhando de cabeça até ao fundo do próprio ser e do próprio
tempo. Por isso, ajuda conhecer e entender a vida e o tempo do autor da Comédia: a Itália fragmentada da
transição do século XIII-XIV. No início da Comédia, Dante,
ou a personagem Dante que protagoniza a viagem, encontrava-se “Nel mezzo del
cammin di nostra vita”; teria, pois, 35 anos e estava a partir para o exílio. Nascera em 1265, numa família
da burguesia florentina, com pretensões nobiliárquicas; uma família de Guelfos, isto é, de partidários do Papa de Roma, em
luta pela primazia contra o Imperador. Os Gibelinos, os partidários do
Imperador, foram vencidos pelos Guelfos e
afastados de Florença; mas os Guelfos dividiam-se em Brancos e Negros, e foram
os Negros, que eram radicais papistas, que ganharam. Ora, Dante era um Guelfo branco, um papista moderado que
respeitava o poder espiritual do Papa mas admitia o poder temporal do Imperador
em tudo o que não pusesse em risco a alma dos cristãos. O Papa Bonifácio VIII, com o apoio dos franceses
de Carlos de Anjou, e os Guelfos Negros, ligados ao “grande capital” local,
dominavam Florença, e Dante, que não mostrara simpatia por Bonifácio, seria expulso e condenado ao exílio.
A partir daí, vive sempre exilado, até porque recusa
as condições humilhantes que lhe oferecem para voltar à sua cidade. Vive
em Verona, Bolonha, Lucca. Quando volta a Verona é Cangrande della Scala, chefe dos Gibelinos do
Norte de Itália, quem o recebe e apoia. Mais tarde, já em 1318, é a vez de
Guido da Polenta, senhor de Ravena, o convidar para a sua cidade. E é aí que
morre, em 13-14 de Setembro, talvez de malária.
A Divina Comédia é escrita em
“Língua Vulgar”, por isso se diz que funda a língua literária italiana; e o abandono do Latim e o recurso à Terza rima, que Dante inventa,
avisam-nos desde logo que não é de uma suma teológica ou filosófica que se
trata mas de um edifício poético; um edifício poético com aspectos teológicos e
filosóficos mas com o claro propósito de levar um público alargado numa viagem
das trevas à Luz – e que por isso e para isso se socorre das artes e dos
engenhos próprios da poesia. É uma viagem enciclopédica em
que se misturam este mundo e o outro, desespero e esperança, Teologia,
Filosofia e experiência quotidiana, pessoas concretas, personagens históricas e
seres mitológicos, santos e pecadores de tradições populares e eruditas, mas
uma viagem em que a Fé e a ortodoxia resplandecem entre a heterodoxia de
algumas escolhas arbitrárias, e em que a Justiça e a Misericórdia Divina se
sobrepõem ao colorido das pequenas vinganças pessoais. O passado e presente, a
terra e o céu, a mistura de trevas e de brilho de que se faz a Humanidade,
caminham com Dante e connosco na Comédia,
até porque se radicam na certeza de que foi Deus, ao encarnar, quem aboliu a distância
entre o humano e o divino, o sagrado e o secular, franqueando o caminho para a
Redenção.
A viagem de Dante pelo Inferno, Purgatório e Paraíso
está dividida em três partes e 100 cantos (33+33+34). As referências,
os protagonistas e os lugares cobrem a mitologia greco-romana, os clássicos, a
Bíblia, a história do Cristianismo e a Europa e a Itália do tempo de Dante.
O Poeta é também teólogo, filósofo, geógrafo e cosmógrafo, e ao longo dos Cem
Cantos vai arrumando as personagens reais e míticas, cristãs ou pagãs, vivas ou
mortas, segundo os seus méritos e pecados. Com excepções e
arbitrariedades. Às vezes ficamos surpreendidos com quem nos aparece no
Inferno e com quem de lá vemos escapar: por exemplo, enquanto a maioria dos
grandes filósofos e poetas pagãos (não baptizados) está no Limbo, Aristóteles é
relegado para o Inferno.
A descida aos
Infernos
Dante e Virgílio passam primeiro por uma espécie de terra de ninguém, onde estão aqueles
que o Céu não aceita mas que o Inferno também não quer, como os anjos que, no
grande combate de Deus com Lúcifer, não tomaram partido. Mas o Primeiro Círculo Infernal é o Limbo, onde estão as almas dos
justos que morreram sem baptismo. Sempre pensei que devia ser um lugar
excelente, pelo menos em termos de conversa, já que lá estariam os grandes
filósofos, poetas e heróis da Antiguidade – mas não deixaria de ser só
conversa, e com o alto preço de não se chegar nunca a contemplar Deus.
No Segundo
Círculo, estão os luxuriosos, “os pecadores da carne,
que subordinaram a razão ao desejo”. Paolo e Francesca, os famosos amantes de Rimini, mortos pelo marido de
Francesca e irmão de Paolo, Gianciotto, lá andam, ou melhor, por lá voam.
Também por lá esvoaça toda uma colecção de amantes, mulheres e homens: Semíramis,
Dido, Helena, Cleópatra, Guinevere, Aquiles, Paris, Tristão e Lancelote. Um
elenco fabuloso.
No Terceiro Círculo, no Lago da Lama, ficam os pecadores da Gula, que esbracejam na lama e não
comem. No
Quarto, os avarentos, que empurram sacos com barras de ouro. No Quinto Círculo, seguindo sempre os pecados
mortais, agitando-se num rio de sangue, o Rio Estige, estão os coléricos. No Sexto Círculo, o Cemitério de Fogo, estão os
hereges, os que negam Deus. No
Sétimo, os violentos, incluindo os suicidas e os sodomitas. Entre os sodomitas, Dante
encontra, com surpresa, Brunetto
Latini, que foi seu mestre e modelo. E três notórios sodomitas de Florença – Iacopo
Rusticucci, Guido Guerra e Tegghiaio Aldobrandi – homens políticos que
Dante trata com cortesia e humanidade: “De vossa terra sou e sempre amei/
vossas acções e vosso honrado nome…”
Uma das
grandes virtudes e genialidades do Poeta e do Poema são as permanentes contradições e enigmas, a dúvida crítica e a criatividade e
recriação a que se permite no caminho
de pecado, queda, expiação, redenção, que o leva do Inferno ao Purgatório e
do Purgatório ao Céu. Um caminho que faz a pé, de barco, montado num centauro
ou levado por um gigante.
Depois de visitarem o Oitavo Círculo do
Inferno, arrumado em
dez fossas e por várias categorias de pecadores – simoníacos, ladrões,
hipócritas, corruptos, falsários, semeadores de discórdia –, Dante e
Virgílio chegam ao Nono
Círculo, o Lago Cocite, o Lago dos traidores – à família, à pátria, aos
amigos, aos benfeitores, aos hóspedes –, o Lago de todos os que quebraram laços
de fraternidade e confiança. Contrastando com as altas temperaturas dos
círculos anteriores este último lago é um lago gelado, de lágrimas petrificadas.
E, por fim, agiganta-se Lucifer, o Rei da
cidade de Dite (o Príncipe das Trevas que Doré imortalizou num desenho
assustador): cabeça de três caras, seis olhos, seis asas de morcego, a chorar
lágrimas e visco, com um traidor em cada uma das suas três bocarras: primeiro
Judas, que traiu Cristo, depois Bruto e Cássio, que traíram César. A
Igreja e o Império.
Depois de deslizar, com Virgílio, pelas penas de
Lúcifer, Dante sobe por uma via estreita para o Purgatório que, na geografia
da Comédia está situado numa
ilha onde existe uma montanha
cónica, dividida em terraços.
O mundo do meio
No Purgatório estão as almas que, no momento da morte,
ainda não estavam prontas para o Céu, sem que merecessem o Inferno. Embora Santo Agostinho e
Gregório Magno já falassem de uma redenção além-túmulo destas almas e,
portanto, de um lugar intermédio entre o Céu e o Inferno, só em 1274, na
segunda metade do século XIII (logo, no tempo de Dante), com o Segundo Concílio
de Lyon, há um reconhecimento oficial do Purgatório.
É, assim, interessantíssima e originalíssima a
descrição dantesca de um Purgatório dividido em terraços; dividido, mais
uma vez, por categorias, como os “arrependidos de última hora”, ou como os que,
perante o Amor, se mostraram incapazes ou incompetentes (os que o perverteram,
os que o não praticaram, os que se excederam na prática). E volta também a haver aqui
uma classificação dos pecadores em função dos sete pecados mortais,
contrapostos pelas virtudes correspondentes a que, para ascenderem às esferas
celestes, os habitantes do Purgatório aspiram. Depois, é a hora de Virgílio
deixar Dante (Virgílio está no Limbo e não pode entrar no Céu) para que ao
poeta romano suceda a musa florentina.
Nas esferas celestes e nas cartas apostólicas
Se o Inferno está dividido em Círculos e o Purgatório em Terraços, o Paraíso está dividido em Esferas. Esferas que se arrumam
segundo uma astronomia com raízes em Ptolomeu e até em Aristóteles – que,
entretanto, lembro, Dante deixou arrumado no Inferno, quando poderia tê-lo
deixado no Limbo, como lhe competia, ou até, numa daquelas suas imprevistas
generosidades, tê-lo levado para o Céu, como levou Josué e o rei David (que
ficou com Betsabé e mandou o marido da amada, Urias, para a frente de batalha e
para a morte), ou o imperador Trajano, que pode ter sido um “moderado”, mas que
não deixou de perseguir cristãos.
A nossa perplexidade perante
esta prática dantesca, não deixa de espelhar, no mundo da Comédia, a perplexidade humana
no mundo real perante os misteriosos desígnios do Supremo Autor de todas as
coisas. E Dante foi bastante livre, mesmo dentro dos seus cânones, na arrumação
desta recriação da Criação. Como diz Vasco Graça Moura, grande tradutor da Commedia e
saudoso amigo, Dante “escreve o guião, encena, ensaia, faz as marcações,
puxa a cortina, apupa e aplaude, pune e salva, o que torna o espectáculo ainda
mais intrinsecamente complicado: um homem arroga-se o lugar, senão de Deus, de
lugar-tenente e intérprete autorizado de Deus, e fala em nome dele”.
No entanto, no passado dia 25 de Março, a propósito da
Anunciação da Virgem Maria, o Papa Francisco consagra a Dante, ao “nosso
Dante”, uma carta Apostólica, Candor Lucis Aeternae, ligando a celebração dos 700
anos da morte do poeta, em Ravena, à Anunciação, com o início do Canto XXXIII e
último do Paraíso e da Comedia:
“Nel
ventre tuo si raccese l’amore
per lo cui caldo ne l’etterna pace
cosi è germinato questo fiore”
Ou na tradução de Vasco Graça Moura (que é a do texto
português da Carta):
“No
ventre teu reacendeu-se amor
e em paz eterna fez que germinasse
a seu calor assim tão bela flor”.
A
extraordinária peregrinação de Dante, ou a sua prodigiosa odisseia, é de
difícil compreensão sem que se considere a rocha em que assenta o caos e cosmos
do poeta florentino: o mistério da Encarnação, de um Deus que, pelo sim livre
de Maria, se fez Homem e Caminho, assumindo a nossa humanidade para a redimir. Talvez por isso e pela
proveitosa companhia que o poeta nos faz no sinuoso caminho do pecado para a
redenção, o Papa
Francisco e os seus predecessores dos dois últimos séculos – Pio X, Leão XIII,
Bento XV, Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI – tenham vindo a integrar Dante no
magistério da Igreja.
Francisco lembra ainda na Candor Lucis Aeternae, que ele mesmo, na sua
primeira Encíclica, quando dos 750 anos do nascimento de Dante, propôs que
se lesse a Divina Comédia como “um
grande itinerário, aliás, como uma verdadeira peregrinação, tanto pessoal e
interior como comunitária, eclesial, social e histórica”.
Pensando que
Dante pôs no Inferno um Papa, Nicolau III (1277-1280), e anunciou a chegada de
mais dois – Celestino V, beneditino, depois canonizado como S. Celestino
(1294-1294) e Bonifácio VIII (1294-1303) –não se pode dizer que a Igreja seja
rancorosa. Dante acusava Nicolau III de duas práticas
pecaminosas, hoje mais comuns entre a classe política, a classe que detém o poder
temporal: o nepotismo, isto é, protecção dos familiares e sua colocação em
lugares vantajosos; e a simonia, ou a corrupção pelo ouro e pela prata. É disso
que acusa os Pontífices, que, no seu papel de “lugar-tenente” do Altíssimo,
atira para o Inferno.
Mas a denúncia, acrescenta o Papa Francisco na Carta, é também um dever cristão. E todos sabemos que para o
Mal e para os males da Igreja – os tempos terríveis de corrupção e simonia em Roma, do Cisma do
Ocidente, dos Bórgias, todas as passadas e presentes práticas pecaminosas e
denúncias cegas, prepotentes e pouco caridosas –, há
sempre o contrapeso da justa denuncia e o poder do Bem e do Amor – com os santos, anónimos e
canonizados, com os grandes reformistas, como S. Francisco de Assis (a quem
Dante reserva um lugar privilegiado no Paraíso, frente à Virgem, a quem sucede
na humildade), ou contra-reformistas, como Santo Inácio, depois da denúncia e
da cisão de Lutero. Sem isso, sem a mão de Deus nas etapas desta dialéctica
também misteriosa, já não haveria Igreja.
É sabendo-nos num mundo de trevas e luz que se deve
ler a Commedia e que devem ler-se
e entender-se as sucessivas mensagens papais de confirmação da ortodoxia do
heterodoxo Dante Alighieri, um filho crítico da Igreja que nunca a renegou e
que soube misturar criativamente o humano e o divino sem que nunca os
confundisse. Um filho crítico que pôs todo o seu engenho e arte numa viagem que
deu ao mundo, numa Via Sacra para que nos convida e que vai do desespero das
Portas e Cantos do Inferno à glória do Paraíso, da solidão austera e triste do
Limbo e da companhia reservada de Virgílio, à visão da paradisíaca
bem-aventurança, à volta do inimaginável brilho supremo do Criador, na
companhia de Beatriz, de Santa Luzia e de São Bernardo. E, acima de todas as graças, à contemplação da
“humilde e alta mais que criatura” que tanto nobilitou a natureza humana:
“Virgem e mãe,
que és filha de teu filho, humilde e alta mais que criatura, de eterno querer
terno fixo e brilho aquela és que a humanal natura tanto nobilitaste, que o
factor não desdenhou fazer de si feitura.”
Quinta-Feira Santa
de 2021
Nota bibliográfica. Para
melhor entendimento de Dante e da Commedia,
além do texto da Carta papal “Candor
Lucis Aeternae”, ver: Dante Alighieri, A Divina Comédia (tradução de Vasco Graça Moura), Quetzal,
Textos Clássicos, Lisboa 2011; e Martim de Albuquerque, Dante: A Divina Comédia e a Fé,
Aletheia Editores, Lisboa, 2013
ASEXTACOLUNA CRÓNICA OBSERVADOR PÁSCOA SOCIEDADE LITERATURA CULTURA CATOLICISMO
CRISTIANISMO RELIGIÃO
COMENTÁRIOS:
Manuel Silva: Épico. Obrigado Dr. J.N.P. Francisco Tavares de Almeida: Obrigado. Apenas estava
habituado a presentes de Natal mas este "ovo Pascal" excedeu tudo o
que pudesse imaginar.
Gil Lourenço : Excelente e perfeito texto. Hel_Marques Marques: " (quando estes
fariseus – e fariseias – da nova linguagem se lembrarem de acertar contas com o
Livro, não vai ficar página sobre página)." Espero que nunca se venha a
concretizar. S
Belo: Obrigada pelo seu
admirável e oportuno artigo. Maria Correia: Texto lindíssimo. José Paulo C Castro: É este tipo de Cultura
Ocidental que querem dar por extinta as mesmas universidades onde ela floresceu
há muito tempo ? Ricardo
Saldanha: Texto magnífico
sobre uma figura incontornável da cultura Ocidental. Joaquim Almeida: Belíssima evocação. Obrigado J.N.P.. (E a fenomenal tradução de Vasco da
Graça Moura!) Manuel
Ferreira21: Cultura a conta
gotas. Boa Páscoa a todos.
Ana Paiva: Haja pessoas cultas. E haja pessoas que pensam e escrevem textos com
interesse, de facto. Que nos ensinam. Que partilham com o público a sua cultura
e o seu conhecimento. Muito bom e muito interessante. (Assim se vê como vão as nossas universidades: JNP foi
impedido de entrar na Nova, enquanto incendiários ignorantes são elevados a
heróis da nação.) Joaquim
Almeida > Ana Paiva: Cafres! Joaquim Moreira: Só a grandeza de um homem culto
e adulto, pode trazer, nesta altura, um texto desta envergadura. Trata-se dum
documento que põe a nu muito encobrimento. Mas também nos ajuda a descobrir o
talento, muitas vezes até escondido através do vento. Dos que sopram ou bufam,
para ver se o levam para o alto do firmamento. No fundo, são uns camelos que
seguem outros modelos. Os que acusam, quem pensa pela sua própria cabeça, e que
se recusam a seguir as suas teorias, que mais não são do que simples heresias!
Ou, mais simplesmente, anomalias de muito fraca gente. Quinta Sinfonia: Mais uma aula extraordinária e
quase de graça ... um luxo 🙂 Nunca li, mas tinha (tenho ainda) ideia muito vaga
sobre a obra, pois uma vez interessei-me sobre a frase que é muitas vezes usada
para descrever um cenário aterrador, medonho, cá está, “dantesco”... António Gouveia: Fantástica digressão pela
Divina Comédia, mais um excelente contributo de Jaime Nogueira Pinto à cultura,
para ele e todos, todos cabemos no inferno, no purgatório e no paraíso (a ordem
está invertida, assim é melhor) uma boa Páscoa, santa para os cristãos. advoga
diabo: Não fosse
reconhecida a enorme atracção de espíritos amantes das trevas por uma certa
estética, porque não essencialmente dantesca?, estes escritos de JNP
constituiriam o enorme perigo de mascararem as opções invariavelmente obscuras
que aqui recorrentemente defende!
josé maria: No mundo das trevas, o André Ventura, grande ídolo político do Jaime
Nogueira Pinto, faria muito bem o papel de diabo dantesco e ainda passaria por
Salvador, divinamente inspirado, da Pátria. Gil Lourenço > josé maria: Mas você só vem aqui para achincalhar as pessoas? Você
leu realmente o texto sobre a Divina Comédia? Você alguma vez leu a Divina
Comédia? Logo você que defende o Holodomor e os crimes comunistas.
Depois de uma
pessoa ler um texto magnifico dá-se com este tipo de comentários de fanáticos
comunistas que nem a mais prosaica das literaturas conseguem entender quanto
mais a Divina Comédia. Bem gostaria você de calar JNP. Bem gostaria você que o
PREC viesse outra vez. A rataria está em cada esgoto de Portugal e ainda têm
a alarvidade de falar em Pátria!
Manuel Magalhães: Fantástico, Jaime, é sem dúvida um enorme prazer ler
às 6as feiras os teus artigos, infelizmente Dante não será facilmente acessível
ao comum dos mortais mas tu aqui deste uma grande ajuda nesse sentido! Um
abraço e Boa Páscoa!!! Rolando
Lima: Excelente!!!
Mário Miranda: JNP tem a capacidade de tornar
lhano o que é transcendente, de dar luz ao que é escuro. Excelente crónica que
desencripta um poema difícil e desconhecido da enorme maioria de nós Maria Nunes: Obrigada JNP, por mais uma
excelente crónica. Boa Páscoa. Ricardo Corte: Que Tratado!
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