quinta-feira, 15 de abril de 2021

Enfim sós?


Veremos o que vai seguir-se.

DEFESANATO anuncia o fim da sua missão no Afeganistão

Aliança atlântica dá por concluída a operação Apoio Firme. Retirada das tropas da coligação vai começar a 1 de Maio, em coordenação com a saída dos militares dos EUA do país.

RITA SIZA BRUXELAS

PÚBLICO, 14 de Abril de 2021

A NATO decidiu pôr fim à sua missão Apoio Firme (Resolute Support) no Afeganistão, e retirar as suas tropas do país a partir do dia 1 de Maio. A decisão foi anunciada esta quarta-feira, no final de uma reunião extraordinária dos ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros da aliança atlântica, que decorreu por videoconferência, mas que contou com a presença dos secretários de Estado e da Defesa dos Estados Unidos no quartel-general de Bruxelas.

Os aliados decidiram dar por concluída a sua intervenção no Afeganistão ao fim de vinte anos depois de reconhecer que “não existe uma solução militar para os desafios que o Afeganistão enfrenta”. Uma decisão idêntica foi anunciada pela Administração norte-americana: como aponta a NATO , no comunicado em que anuncia o fim da operação no Afeganistão, a operação de retirada — “ordeira, coordenada e deliberada” — das tropas dos Estados Unidos e da coligação será conduzida em simultâneo, e deverá ficar concluída no prazo de “alguns meses”.

Actualmente, Portugal tem 118 militares integrados na 6.ª Força Nacional Destacada para o Afeganistão, que no âmbito da missão Apoio Firme tem a responsabilidade pela segurança do Aeroporto Internacional Hamid Karzai, em Cabul. O destacamento português partiu para o país em Janeiro, com regresso previsto em Maio.

Segundo se lê no comunicado, a conclusão da missão de apoio da NATO no Afeganistão ocorre num contexto de “renovado apoio regional e internacional aos progressos políticos para a paz” no país, nomeadamente o diálogo em curso entre o Governo de Cabul e os taliban. “Continuaremos a apoiar o processo de paz afegão, e nesse sentido congratulamo-nos com a [realização] da Conferência de Istambul. como uma oportunidade para fazer avançar o processo e reforçar os progressos alcançados em Doha”, garantem os aliados.

Em 2001, a NATO montou uma das maiores coligações militares de sempre para intervir no Afeganistão, depois de os Estados Unidos terem invocado o artigo 5.º do Tratado de Washington, na sequência dos ataques terroristas de 11 de Setembro. Foi a primeira e única vez que um aliado invocou este artigo relativo à defesa mútua, e que diz que um ataque contra um país membro é um ataque contra todos, e foi também a primeira vez que a NATO se envolveu numa operação militar fora do seu território do Atlântico Norte.

A NATO “foi para o Afeganistão com um objectivo claro: confrontar a al-Qaeda e todos aqueles que atacaram os Estados Unidos a 11 de Setembro e evitar que terroristas utilizassem o Afeganistão como base para outros ataques”, recorda o comunicado.

A Força Internacional de Apoio À Segurança (ISAF) estabeleceu-se no Afeganistão em Janeiro de 2002 como uma operação de capacetes azuis, mas rapidamente transformou-se numa verdadeira missão de guerra, com centenas de milhares de tropas de 50 países. Em 2014, a bandeira da ISAF, sempre liderada pelos EUA, foi hasteada, e a missão da NATO no país mudou de natureza, deixando o combate para o Exército e as forças de segurança afegãs, e assumindo a responsabilidade pela formação e treino e ainda por acções de contraterrorismo.

Segundo o comunicado divulgado esta quarta-feira, a retirada das tropas internacionais e a conclusão da missão Apoio Firme não põem fim ao envolvimento da NATO no país, mas “abrem um novo capítulo”. “Os aliados e parceiros da Nato continuarão a acompanhar o Afeganistão, o seu povo e as suas instituições, na promoção da segurança e dos ganhos conseguidos nos últimos 20 anos. A paz sustentável terá de se basear num acordo abrangente e inclusivo que ponha fim à violência e salvaguarde os direitos humanos de todos os afegãos, particularmente as milhares, crianças e munirias, e o respeito pelo Estado de direito”, diz a aliança.

tp.ocilbup@azis.atir

TÓPICOS

MUNDO  DEFESA  AFEGANISTÃO  NATO  EUA

COMENTÁRIOS:

Antonio Oliveira Mesquita  INICIANTE: O melhor seria o Durão Barroso, o Bush, o Aznar e o Blair deslocarem-se para o Afeganistão e presidirem à cerimónia de despedida. Foram eles que deram o tiro de partida e injusto seria que não participassem na despedida. Depois a próxima escala seria Bagdad para inaugurarem o Museu das Armas de Destruição Massiva, com toda a pompa!

Joao  MODERADOR: O pelotão para todos os serviços sujos dos USA decidiu … o que os USA decidem claro. Já não é sem tempo, deixem aquela gente em paz, andam por lá a matar à fartazana, até matam mais que aqueles a que chamam terroristas … NewYorkTimes 24/4/2019 “U.S. and Afghan Forces Killed More Civilians Than Taliban Did, Report Finds”

Freitas  EXPERIENTE: E qual o país que a Nato irá invadir, na sequência da saída do Afeganistão?

Joao  MODERADOR: Ah Ah exactamente a pergunta que me surgiu, que país é que o Biden lhes prometeu deixar invadir e saquear?

NOTAS DA INTERNET:

Um texto de 2014

ÁSIA

Missão da NATO despede-se do Afeganistão no fim do ano mais mortífero

Uma operação para treinar a aconselhar as forças afegãs vai deixar no país 12 mil militares estrangeiros.

SOFIA LORENA

PÚBLICO, 28 de Dezembro de 2014

Nos últimos 12 meses, pelo menos 4600 membros das forças de segurança afegãs morreram a combater os taliban – as perdas foram crescendo à medida que a NATO ia entregando a segurança de diferentes regiões ao novo Exército e polícia do Afeganistão. A ONU diz que até ao fim de Novembro morreram 3188 civis. A ISAF, que chegou ao país em Janeiro de 2002, viu morrer 3485 soldados nestes 13 anos.

A missão da NATO foi inicialmente pensada como uma força de capacetes azuis para proteger Cabul e ajudar os novos líderes, mas rapidamente evoluiu para uma operação de combate aos taliban espalhada por todo o país. Em 2011, chegou a ter 130 mil tropas oriundas de 50 países diferentes, incluindo Portugal.

Com o fim da ISAF, que teve sempre liderança dos Estados Unidos, ficarão no país 12 mil militares estrangeiros – a maioria, norte-americanos, poderá prestar apoio às novas unidades de contraterrorismo afegãs e envolver-se em combate; os soldados das restantes nacionalidades vão treinar e aconselhar as forças locais.

Juntos, afastámos os afegãos das trevas e do desespero e demos-lhes esperança no futuro”, afirmou em Cabul o comandante da missão da NATO, o general norte-americano, John Campbell, depois da retirada da bandeira da ISAF. “A segurança do Afeganistão ficará inteiramente nas mãos dos 350.000 soldados e polícias do país”, disse o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, num comunicado.

“É preciso uma ajuda contínua e isso será prestado através da Apoio Firme”, a nova missão, afirma o adjunto de Campbell, o tenente-general alemão Carsten Jacobson, citado pelo Wall Street Journal. Alguns avisam que isso não chega: “Sem apoio aéreo, não haverá muitas diferenças entre nós e os taliban”, disse ao diário um responsável afegão.

O que também não ajuda é a incerteza política – após trocas de acusações de fraude, o acordo para a formação de um Governo de consenso permitiu a Ashraf Ghani tomar posse como Presidente, em Setembro, mas as negociações com o antigo rival, Abdullah Abdullah, estão bloqueadas e o país continua sem vários ministros importantes, incluindo o do Interior.

tp.ocilbup@anerols

 

3º Texto: UMA AVALIAÇÃO DA MISSÃO DA NATO NO AFEGANISTÃO

MARIA DO CÉU PINTO, Professora na Universidade do Minho

Resumo

O presente estudo visa avaliar sumariamente os resultados atingidos pelos Aliados no Afeganistão. Entre 2001 e 2007, os EUA e a NATO abandonaram gradualmente a abordagem militar do “light footprint”, inicialmente adoptada para evitar um envolvimento militar semelhante ao da URSS no Afeganistão. Vários factores, endógenos e exógenos, conduziram inadvertidamente a um reforço militar a partir de 2004, o que levou igualmente os militantes afegãos a mobilizaram-se para fazer frente à crescente presença estrangeira. O aumento das forças de combate pôs em relevo as limitações e efeitos contraprodutivos da abordagem militar para combater a guerrilha. Apesar de algumas PRTs terem obtido sucesso na implementação dos respectivos programas de intervenção, outras evidenciam uma nítida escassez de iniciativa e recursos logísticos e financeiros, contribuindo para um panorama geral insatisfatório e revelador de ausência de uma estratégia global clara e sustentável para o desenvolvimento do país. A tendência repercute-se, aliás, no cenário macro da missão da NATO, na medida em que a inexistência de coordenação estratégica entre os diversos contingentes nacionais é agravada por problemas internos do Afeganistão, tais como a economia do ópio, as divergências étnicas e políticas, a difícil relação com os vizinhos e corrupção endémica, entre outros.

 

«…A aparente incapacidade da NATO em gerir estes obstáculos tem, com efeito, provocado sérios debates sobre a sustentabilidade da Aliança em cenários de guerras de quarta geração, ao ponto de colocar o seu futuro sob questão.»

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